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28º Festival Mix Brasil anuncia longas brasileiros selecionados

por: Cinevitor

mixbrasil2020ventosecoRafael Teophilo em Vento Seco, de Daniel Nolasco: selecionado.

28ª edição do Festival Mix Brasil de Cultura da Diversidade acontecerá entre os dias 11 e 22 de novembro. Neste ano, entre os longas brasileiros, nove produções foram selecionadas e estão na disputa pelo Troféu Coelho de Ouro. A seleção de curtas-metragens nacionais e filmes internacionais será divulgada em breve.

O Festival Mix Brasil é o maior evento cultural sobre a diversidade sexual da América Latina e um dos maiores do mundo. Desde 1993 traz para o Brasil os destaques da produção cinematográfica do gênero e leva para dezenas de festivais, em todo o mundo, filmes nacionais.

Em junho deste ano, a organização anunciou que o evento seria em formato on-line por conta da pandemia de Covid-19, porém, não descartou a possibilidade de acontecer em salas de cinema se as orientações dos órgãos públicos locais permitissem tais atividades no período do evento.

Conheça os longas brasileiros selecionados para o Mix Brasil 2020:

COMPETITIVA BRASIL | LONGAS

A Torre, de Sérgio Borges (MG)
Alfabeto Sexual, de André Medeiros Martins (SP)
Limiar, de Coraci Ruiz (SP)
Mães do Derick, de Dê Kelm (PR)
Meu Nome é Bagdá, de Caru Alves de Souza (SP)
Para Onde Voam as Feiticeiras, de Eliane Caffé, Carla Caffé e Beto Amaral (SP)
Valentina, de Cássio Pereira dos Santos (MG/DF)
Vento Seco, de Daniel Nolasco (GO)
Vil, Má, de Gustavo Vinagre (SP)

MOSTRA VOZES DO BRASIL REAL

Cinema de Amor, de Edson Bastos e Henrique Filho (BA)
Homens Pink, de Renato Turnes (SP/SC)
Prazer em Conhecer, de Susanna Lira (RJ)
Quem Pode Jogar?, de Marcos Ribeiro (RJ)

*Clique aqui e conheça os curtas-metragens brasileiros selecionados.

Foto: Divulgação/Olhar Distribuição.

9º Olhar de Cinema: elenco de Vento Seco, dirigido por Daniel Nolasco, fala sobre a primeira exibição no Brasil

por: Cinevitor

ventoseco1olhardecinemaProtagonista: Leandro Faria Lelo em cena.

Depois de passar pelo Festival de Berlim, Queer Lisboa, Outfest Los Angeles LGBTQ Film Festival, entre muitos outros, Vento Seco, dirigido por Daniel Nolasco, foi exibido pela primeira vez no Brasil na nona edição do Olhar de Cinema – Festival Internacional de Curitiba.

O longa faz parte da Mostra Foco, que este ano destaca o cineasta goiano Daniel Nolasco. Nascido em Catalão, o realizador escreveu e dirigiu mais de nove curtas-metragens e dois documentários; todos os filmes participaram e foram premiados em diversos festivais. Além de Vento Seco, a programação traz também outros dois títulos do diretor: Mr. Leather e Paulistas.

Usando o artificialismo como proposta estética, Vento Seco procura estabelecer um diálogo direto entre alguns elementos do melodrama e do filme erótico, buscando uma reflexão sobre a vida cotidiana dos trabalhadores de uma fábrica de fertilizantes. Além disso, busca levar ao cinema o ambiente pouco representado do interior do centro-oeste brasileiro com todas as suas complexidades. O filme também se debruça sobre a representação do desejo homoerótico buscando um diálogo com filmes que procuraram pensar uma forma de representação que rompesse com a tentativa de enquadrar os laços homoafetivos, exclusivamente, dentro de códigos estabelecidos por uma cultura que nunca teve como preocupação entender os relacionamentos homoeróticos sobre outro prisma, além daquele estabelecido pela moral vigente.

Com reprise na quarta-feira, 14/10, na programação on-line do Olhar de Cinema, o filme foi muito procurado pelo público e gerou bastante repercussão: “Ainda é muito recente nossa estreia por aqui. Mas tenho recebido muitas mensagens de amigos e também de pessoas que me procuram nas redes sociais. Isso tem me deixado muito feliz, pois estava ansioso em ver o filme no Brasil. As pessoas têm recebido de uma maneira muito positiva. Não é um filme fácil e pode ser levado para um lado superficial, porém, tenho recebido o carinho e olhares sensíveis das pessoas que conseguiram ser tocadas pela beleza e sutilezas do longa. É muito bom ver o filme percorrer o mundo”, disse o ator Rafael Teophilo, que interpreta o personagem Maicon, em entrevista ao CINEVITOR.

ventoseco2olhardecinemaRafael Teophilo em cena do filme.

A atriz Renata Carvalho também comentou a estreia nacional: “O filme está fazendo um caminho lindo por festivais no mundo todo, mas quando vem para o nosso país tem um gostinho especial. O público, de uma forma geral, inclusive no exterior, sempre manda mensagens carinhosas a respeito do filme. Estou muito feliz que a minha estreia no cinema tenha sido com Vento Seco”.

Leandro Faria Lelo, que interpreta o protagonista Sandro, também falou ao CINEVITOR sobre as primeiras impressões do público brasileiro: “Eu estava super ansioso pela repercussão do filme e tem sido muito bacana. O público tem se identificado e, até o momento, e o retorno tem sido de manifestações de carinho e agradecimento. As pessoas se reconhecem em alguma característica do Sandro”.

Recentemente, Leandro levou o prêmio de melhor ator no Iris Prize LGBT+ Film Festival: “Ser reconhecido por um trabalho que você fez é sempre muito bacana. Nesse caso, especialmente, é um trabalho no qual foi o mais intenso da minha carreira; de maior entrega, de maior cuidado no sentido de olhar para cada milésimo do personagem, cada respiração, movimento, cada expressão que passava pelo rosto. Foi um personagem muito trabalhado. Eu lembro que no set eu sempre ficava mais isolado porque precisava dessa concentração maior. Eu precisava entrar nesse clima introspectivo que é totalmente ao contrário da minha personalidade. Então, receber esse prêmio é incrível porque mostra que esse trabalho árduo valeu a pena, ter encarado todas as dificuldades do personagem (e não são nem as cenas de nudez). O prêmio vem para coroar esse encontro brilhante orquestrado pelo Daniel Nolasco. Um prêmio de ator nunca é só do ator porque ele não faz sozinho. Eu devo a todo mundo da equipe”, disse.

Allan Jacinto Santana, que além de interpretar o personagem Ricardo, também assinou a preparação de elenco, falou sobre sua relação com o filme: “Eu acho a proposta muito interessante e de como esse projeto foi se formando junto com a ideia do Nolasco, da equipe toda. Eu tenho um caso de afeto com a história e com o espaço em geral por ser goiano. Acho fenomenal participar disso porque, principalmente, é uma forma de catarse. Poder falar sobre isso, da forma que estamos falando, e observar esses corpos é fundamental para me entender. Conseguimos fazer um retrato muito bonito e muito artístico sem perder a força e o peso que tem de você desejar, amar e querer coisas que são fora da caixinha dessa sociedade que vivemos”.

ventoseco3olhardecinemaAlém de atuar, Allan Jacinto Santana também foi responsável pela preparação do elenco.

Sobre as filmagens e o entrosamento com a equipe, Renata Carvalho comentou: “Passamos quase dois meses em Catalão, que foi importante para conseguir unir o elenco. As relações foram daquelas que ficam guardadas para sempre no coração e na memória. E o Daniel Nolasco eu guardo num lugar muito especial, pois foi através dele que realizei um dos maiores sonhos da minha vida: fazer cinema”.

Rafael Teophilo também falou sobre o set e sua amizade com o diretor: “Eu já conhecia o Dani há um tempo quando morei no Rio de Janeiro. Fiz uma peça que ele escreveu e um dia ele me falou que tinha um filme e que teria um personagem para mim; alguns anos depois veio o Vento Seco. Hoje estamos aqui vivenciando todas essas conquistas. Fiquei dois meses em Catalão entre ensaios e filmagens. Não conhecia ninguém, além do Daniel. E foi mágico, foi uma delícia, muitos aprendizados pessoais e profissionais. Não poderia estrear no cinema da melhor forma! O Dani conversou muito conosco e sempre deixou claro que não precisaria fazer nada que não quisesse. Trabalhamos com muita generosidade e respeito”.

“O Nolasco tem uma forma muito sincera de lidar com tudo. Eu achei muito fácil entender o que ele queria pela forma de lidar com muita sinceridade e uma consciência de necessidade de saber o que fazer. Isso ajudou muito a entender as personagens, a história e aquele universo que se passa. Daniel era sempre muito direto no que queria e no que pedia. E isso faz todo sentido, sem grandes elucubrações, sem grandes filosofias porque estávamos ali para realizar uma prática. A filosofia está no filme, na forma como o filme carrega. O Daniel tem talento para falar sobre a realidade que é fenomenal. A sinceridade dele é o que mais me comove”, refletiu Allan Jacinto Santana.

ventoseco4olhardecinemaRenata Carvalho e Leandro Faria Lelo: colegas de cena.

Questionado sobre a importância de fazer parte deste trabalho, ainda mais em um momento no qual o audiovisual brasileiro passa por diversas ameaças, Leandro Faria Lelo comentou: “O meu último trabalho autoral é uma peça chamada Subcutâneo, realizada em 2015, que falava de um Brasil distópico, dominado por um governo fundamentalista religioso com dois personagens gays que viviam escondidos e reprimidos porque não podiam sair à rua sob ameaça de serem mortos. Então, desde já, eu venho trabalhando dentro desse universo, desses questionamentos. Quando eu entrei em contato com o Daniel, essa sinergia foi a primeira coisa que me atraiu. Então, vamos trazer à tona questões que são necessárias. E, obviamente, com toda essa relação com o governo atual, acho que se torna ainda mais necessário. Precisamos falar. Não podemos nos deixar calar por essa onda conservadora, tradicionalista e extremista que o Brasil tem enfrentado. Eu acho que a gente não conseguiria produzir um filme como Vento Seco hoje em dia; sem verba do governo e sem apoio privado. Seria quase inviável. Mas eu fico muito feliz de ter participado e muito honrado de dar minha cara para esse tipo de questionamento e discussão, que eu acho essenciais para esse momento”.

Rafael também comentou: “Sim, o filme é explícito em todos os sentidos. Quebra qualquer preconceito e conservadorismo e não está apenas nas falas em si, mas nas ações. É um filme que é! É corajoso, ousado, assumido, forte e, hoje, mais do que nunca, nós devemos ser e estar atentos e fortes. O Dani merece esse reconhecimento todo e serei eternamente grato a ele pelo Maicon. A arte denuncia, reflete seu tempo, quebra paradigmas, sensibiliza; é caos e beleza. Sempre existirá e nós estamos aqui para servi-la. Tenho orgulho em ser artista, amo meu ofício. Isso basta. Ameaça nenhuma me fará deixar de acreditar. Somos muitos e vamos continuar fazendo, sempre”.

“Estar nesse projeto me deixa muito orgulhosa. O filme, desde sua equipe técnica e elenco, é composto por LGBTs em sua maioria. Essa história ser realizada neste momento onde a cultura e o cinema estão sofrendo grandes ataques de um governo fascista, é uma espécie de farol e respiro para conseguir contar essa história”, finalizou Renata Carvalho.

Vento Seco tem estreia comercial prevista para o primeiro semestre de 2021.

Fotos: Divulgação/Olhar Distribuição.

Cineasta Paula Gaitán fala sobre Luz nos Trópicos, exibido no 9º Olhar de Cinema

por: Cinevitor

luznostropicos1O ator português Carloto Cotta em cena.

Depois de passar pelo Festival de Berlim, em fevereiro deste ano, Luz nos Trópicos, de Paula Gaitán, foi exibido na Mostra Competitiva da nona edição do Olhar de Cinema – Festival Internacional de Curitiba.

O longa atravessa diferentes épocas galopando como um cavalo selvagem, culminando em uma homenagem às florestas e rios da América do Norte e do Sul e aos povos indígenas que as habitam: “Luz nos Trópicos é um projeto expandido e continua acontecendo. Ele está em movimento, mesmo tendo sido concretizado numa obra. Esse processo do filme abre uma perspectiva não só existencial e filosófica em torno do homem, do estado desse homem no geral, mas nesse momento de tanta violenta e ao mesmo tempo extraordinário porque estamos no combate. O filme, de certa maneira, foi um pouco premonitório”, comentou a diretora em conversa virtual, no canal do YouTube do festival, mediada por Camila Macedo.

Inspirado em uma expedição europeia do século XIX e mobilizado pela busca de Igor, interpretado por Begê Muniz, por sua ancestralidade kuikuro no momento presente, o filme revisita e reinventa, entre Nova York e o Pantanal, imagens, parcerias e procedimentos que atravessam a obra da artista.

O ator Carloto Cotta, em conversa com a equipe do Olhar de Cinema, falou sobre seu trabalho no longa: “Foi a primeira vez que trabalhei com a Paula e não tinha ideia do que ia fazer. Foi realmente um teste de adaptação muito intenso e foi uma experiência de antíteses”. Begê Muniz também comentou: “Foi uma experiência incrível. O filme acabou criando uma linguagem de um lugar onde tudo se encontre e talvez seja o começo de uma nova era ou o fim de tudo. Criou também uma espécie de memória da vida real e um novo sentido a partir dessa nova realidade que vivemos”.

luznostropicos2Kanu Kuikuro em Luz nos Trópicos.

Ainda no mesmo bate-papo virtual, a atriz Clara Choveaux destacou sua personagem: “Foi uma experiência muito forte, principalmente ao que se toca em relação ao corpo. A minha personagem é a única mulher da expedição e ela traduz uma certa emancipação da mulher. Ela tem essa representação. A Paula me indicou muita coisa de filosofia para estudar e eu me inspirei na mulher do Lévi-Strauss, nas falas dela. Sinto que a minha personagem tem uma transformação visceral. Esse filme foi um grande presente para mim”.

Paula Gaitán, que é artista plástica, fotógrafa, poeta e cineasta franco-colombiana, mudou-se para o Brasil em 1977 e logo ingressou na sétima arte. Começou como figurinista de A Idade da Terra, de Glauber Rocha, com quem foi casada e teve dois filhos: o cineasta Eryk Rocha e a cantora Ava Rocha. Com o então marido, também assinou o pôster de seu filme Cabeças Cortadas.

Seu primeiro longa-metragem, Uaka, foi lançado em 1988. Desde então, Paula realizou diversas obras, como: Diário de Sintra, VidaExilados do Vulcão (grande vencedor do Festival de Brasília, em 2013), Agreste, Sutis Interferências e É Rocha e Rio, Negro Leo, exibido recentemente na Mostra de Cinema de Tiradentes e no Festival ECRÃ. Além dos curtas Kogi, exibido no Festival de Tribeca; e Elza Soares: A Mulher do Fim do Mundo.

paulagaitantiradentesA cineasta na Mostra de Cinema de Tiradentes, em janeiro.

Em entrevista ao CINEVITOR, por e-mail, Paula Gaitán falou sobre a participação de Luz nos Trópicos em competição: “Sempre desejei participar do Olhar de Cinema porque considero uma das melhores curadorias atualmente no circuito de festivais: criteriosa e criativa. Porque a seleção de um grupo de filmes específicos do panorama mundial e brasileiro, permeada por um conceito estético intelectual e político, determina o quanto esses filmes/constelações irão dialogar entre si por afinidade e contraste; e, finalmente, um filme sempre ilumina um outro permitindo essa conexão sensível do espectador com aquilo que irá assistir”, declarou. E completou: “Assistir filmes é como ler e estudar. Também é prazeroso ou sofrido. Tem filmes que são mais difíceis, portanto, vão exigir um pouco mais do espectador. Provavelmente, é o que eu mais gosto do cinema: encontrar essas dificuldades para depois aderir totalmente ao filme. Ou ao contrário: ficar à deriva”.

Sobre esse novo formato virtual do festival, a cineasta também comentou: “Sinto muito interesse por novas possibilidades de circulação dos filmes. No caso de É Rocha e Rio, Negro Leo foi uma experiência positiva no Festival ECRÃ. O filme abrangeu um público variado e foi maravilhosa a repercussão; lembrando que o filme tinha estreado no começo do ano na Mostra Tiradentes, na tenda, em uma sessão especialíssima. No caso de Luz nos Trópicos, até agora tem sido muito bom também, porém, acredito que esse filme trabalha com a escala do cinema e não de qualquer cinema porque tem um tom épico e intimista. A composição dos planos, o ritmo, texturas, luz e som… tudo fica muito mais potente no ritual de assistir esse filme em sala. Em Berlim, foi exibido em salas deslumbrantes com som e imagem perfeitos. Foram cinco sessões impecáveis tecnicamente e um público respeitoso e concentrado. Foi emocionante”, finalizou.

Luz nos Trópicos reprisa na programação do Olhar de Cinema nesta terça-feira, 13/10.

Fotos: Divulgação/Netun Lima/Universo Produção.

44ª Mostra de São Paulo: conheça os filmes selecionados, destaques da programação e homenageados

por: Cinevitor

dafoesiberiamostraspWillem Dafoe em Siberia, de Abel Ferrara: drama, fantasia e terror.

A 44ª edição da Mostra Internacional de Cinema em São Paulo acontecerá entre os dias 22 de outubro e 4 de novembro. A seleção de filmes deste ano traz 198 títulos, de 71 países, que serão apresentados nas seções Perspectiva Internacional, Competição Novos Diretores, Mostra Brasil e Apresentação Especial.

Por conta da pandemia de Covid-19, pela primeira vez, a Mostra Internacional de Cinema em São Paulo ocorrerá majoritariamente de forma virtual, por meio de uma plataforma exclusiva, a Mostra Play. Todos os filmes desta edição poderão ser acessados pelo site da Mostra, que irá direcionar para as plataformas. Os títulos disponibilizados na Mostra Play custarão R$ 6,00 por visualização. Este ano, dada as diferentes formas de exibição (plataformas Sesc Digital e Spcine Play também) e ao valor reduzido dos ingressos, a Mostra não oferecerá pacotes e haverá número limitado de visualizações por filme.

Também ocorrerão sessões no Belas Artes Drive-in e no CineSesc Drive-in (na unidade Sesc Parque Dom Pedro II). Tendo em vista que, este ano, a Mostra não trará seus convidados para São Paulo, a presença dos diretores e profissionais da área se dará por meio de vídeos enviados previamente, entrevistas especiais gravadas e lives.

Dentre os 198 títulos da seleção, cerca de 25% contam com mulheres assinando a direção, entre eles: Gato na Parede (Cat In the Wall), de Vesela Kazakova e Mina Mileva, exibido nos festivais de Locarno e Sarajevo; Impedimento em Cartum (Khartoum Offside), de Marwa Zein, que passou no Cairo International Film Festival; A Arte de Derrubar (The Art of Fallism), de Aslaug Aarsæther e Gunnbjörg Gunnarsdóttir; o brasileiro Mulher Oceano, de Djin Sganzerla; Rebeldes de Verão (Summer Rebels), de Martina Saková; Irmãs Separadas (Sisters Apart), de Daphne Charizani; entre outros.

gatonaparedemostra2020Irina Atanasova no drama Gato na Parede, de Vesela Kazakova e Mina Mileva.

Neste ano, o filme de abertura será Nova Ordem (Nuevo orden), do cineasta mexicano Michel Franco. Vencedor do Grande Prêmio do Júri (Leão de Prata) e do Leoncino d’Oro Agiscuola no Festival de Veneza deste ano e exibido nos festivais de San Sebastián, Toronto e Chicago, o thriller é ambientado em uma Cidade do México que ferve com protestos, em que uma revolta inesperada abre caminho para um violento golpe de Estado. Na história, um casamento luxuoso da classe alta dá errado. Visto pelos olhos de Marian, a jovem e simpática noiva, e dos criados que trabalham para, e contra, sua família rica, o filme traça o colapso de um sistema político enquanto uma substituição mais angustiante surge em seu rastro.

A seleção da 44ª edição da Mostra conta também com filmes premiados e exibidos em festivais internacionais, além de títulos inéditos como: o documentário Kubrick por Kubrick (Kubrick by Kubrick), de Gregory Monro, exibido em Tribeca; o português O Ano da Morte de Ricardo Reis, de João Botelho, baseado no livro homônimo de José Saramago e protagonizado pelo brasileiro Chico Díaz; Berlin Alexanderplatz, de Burhan Qurbani, que disputou o Urso de Ouro no Festival de Berlim e foi premiado em Roterdã; Araña, do chileno Andrés Wood, indicado ao Prêmio Goya e apresentado em San Sebastián e Toronto; o drama Vencidos da Vida, de Rodrigo Areias; O Paraíso da Serpente (El Paraiso de La Serpiente), de Bernardo Arellano, exibido no Festival de Beijing; o português Ordem Moral, de Mário Barroso e protagonizado por Maria de Medeiros; entre outros.

Do Festival de Veneza, a Mostra exibe filmes como: o documentário Sportin’ Life, de Abel Ferrara, também diretor de Sibéria, protagonizado por Willem Dafoe e apresentado na Competição Oficial de Berlim; o documentário City Hall, de Frederick Wiseman; Entre Mortes (In Between Dying), de Hilal Baydarov; A Herdade, de Tiago Guedes; além dos premiados Crianças do Sol (Khorshid), de Majid Majidi, que rendeu a Rouhollah Zamani o prêmio de melhor ator jovem; Miss Marx, de Susanna Nicchiarelli; Gênero, Pan (Lahi, Hayop), de Lav Diaz; Zanka Contact, de Ismaël El Iraki; e o documentário Notturno, de Gianfranco Rosi.

novaordemmostraspNaian González Norvind em Nova Ordem, de Michel Franco: filme de abertura.

A seleção do Festival de Cannes também marca presença com diversos títulos que receberam um selo especial do festival, como: Fevereiro (February), de Kamen Kalev; Nadia, Borboleta (Nadia, Butterfly), de Pascal Plante; a animação Josep, de Aurel, também exibida no Festival de Annecy; Dezesseis Primaveras (Spring Blossom), de Suzanne Lindon; Suor (Sweat), de Magnus von Horn; o brasileiro Casa de Antiguidades, de João Paulo Miranda Maria; Mães de Verdade (True Mothers), de Naomi Kawase; A Morte do Cinema e do Meu Pai Também (The Death of Cinema and My Father Too), de Dani Rosenberg; Caminhando Contra o Vento (Ye Ma Fen Zong), de Wei Shujun; e Ao Entardecer (In the Dusk), de Sharunas Bartas.

Do Festival de Berlim, integram a programação da Mostra os premiados: Não Há Mal Algum (Sheytan vojud nadarad), de Mohammad Rasoulof e vencedor do Urso de Ouro; Fábulas Ruins (Favolacce), de Fabio e Damiano D’Innocenzo, premiado como melhor roteiro; Sem Ressentimentos (Wir), de Faraz Shariat, vencedor do Teddy Award de melhor filme; Malmkrog, de Cristi Puiu; Nossa Senhora do Nilo (Notre-Dame Du Nil), de Atiq Rahimi, vencedor do Urso de Cristal da mostra Geração 14plus; Pai (Otac/Father), de Srdan Golubović, consagrado na mostra Panorama; Dias (Rizi), de Tsai Ming-Liang, também exibido no IndieLisboa e San Sebastián; Welcome To Chechnya, de David France e vencedor do prêmio do público de melhor documentário da mostra Panorama; Mamãe, Mamãe, Mamãe (Mamá, Mamá, Mamá), de Sol Berruezo Pichon-Rivière; O Problema de Nascer (The Trouble With Being Born), de Sandra Wollner; Desenterrar (Digger), de Georgis Grigorakis; e O Século 20 (The Twentieth Century), de Matthew Rankin.

Além dos premiados, a Mostra também conta com títulos exibidos na Berlinale, entre eles: o espanhol Lua Vermelha, de Lois Patiño; Animais Nus (Nackte Tiere), de Melanie Waelde; Minha Jovem Irmã (Schwesterlein), de Stéphanie Chuat e Véronique Reymond; A Deusa dos Vagalumes (Goddess Of The Fireflies), de Anaïs Barbeau-Lavalette; o nigeriano Eyimofe (Esse É o Meu Desejo), de Arie Esiri e Chuko Esiri; A Pastora e as Sete Canções (Laila Aur Satt Geet), de Pushpendra Singh; As Veias do Mundo (Die Adern Der Welt), de Byambasuren Davaa; A Saída dos Trens (Ieşirea Trenurilor Din Gară), de Radu Jude e Adrian Cioflâncă

E mais de Berlim: a coprodução entre Argentina, Brasil e Suíça, Um Crime em Comum (Un Crime Común), de Francisco Márquez; Números (Nomery), de Oleg Sentsov e Akhtem Seitablaev; Assim Como Acima, Abaixo (Kama Fissamaa’ Kathalika Ala Al-ard), de Sarah Francis; o drama Pari, de Siamak Etemadi; o indiano Eeb Allay Ooo!, de Prateek Vats; Casulo (Kokon), de Leonie Krippendorff; O Charlatão, de Agnieszka Holland, representante da República Tcheca para a categoria de melhor filme internacional do Oscar; e Dau Degeneration, de Ilya Khrzhanovskiy e Ilya Permyakov e Dau Natasha, de Ilya Khrzhanovskiy e Jkaterina Oertel, projeto de Ilya Khrzhanovskiy que simula o sistema soviético, combinando cinema, ciência, performance, espiritualidade, experimentação social e artística, literatura e arquitetura para falar do uso totalitário do poder.

naohamalalgummostra2020Baran Rasoulof em Não Há Mal Algum: Urso de Ouro no Festival de Berlim.

A 44ª edição da Mostra de São Paulo, como de costume, fortalece o olhar para o cinema brasileiro. Mais de 30 títulos nacionais integram a seleção da Mostra Brasil. Os longas estão divididos nas seções Apresentação Especial, Competição Novos Diretores e Perspectiva Internacional. Destacam-se na programação: o documentário Candango: Memórias do Festival, de Lino Meireles; Filho de Boi, de Haroldo Borges e exibido no Festival de Busan, na Coreia do Sul; #Eagoraoque, de Jean-Claude Bernardet e Rubens Rewald; Entre Nós um Segredo, de Beatriz Seigner e Toumani Kouyaté; a animação O Pergaminho Vermelho, de Nelson Botter Jr; Cidade Pássaro, de Matias Mariani e exibido em Berlim; Glauber, Claro, de César Meneghett sobre o cineasta Glauber Rocha e os tempos de exílio na Itália; Um Dia com Jerusa, de Viviane Ferreira; Verlust, de Esmir Filho; Todas as Melodias, de Marco Abujamra sobre Luiz Melodia; entre outros.

Os diretores com filmes selecionados para a Mostra Brasil poderão concorrer a uma vaga na Incubadora Paradiso, programa de apoio ao desenvolvimento de longas de ficção do Projeto Paradiso, iniciativa filantrópica de apoio ao audiovisual do Instituto Olga Rabinovich, que é parceiro da Mostra pelo terceiro ano consecutivo.

A Mostra de São Paulo conta também com uma seleção de cerca de 25 títulos produzidos ou coproduzidos por outros países latino-americanos, como Argentina, Bolívia, Chile, Colômbia, México, Cuba e Uruguai, entre os quais alguns que participaram e foram premiados em festivais internacionais, como: Nem Herói, Nem Traidor, de Nicolás Savignone; Piedra Sola, de Alejandro Telémaco Tarraf e exibido em Roterdã; Chico Ventana Também Queria Ter um Submarino, de Alex Piperno, exibido em Berlim; Uma Máquina para Habitar, de Yoni Goldstein, documentário americano rodado em Brasília; Uivos São Ouvidos, de Julio Hernández Cordón, exibido no FID Marseille; Entre Cão e Lobo, de Irene Gutiérrez, seleção da mostra Forum de Berlim; Entre Mortes, de Hilal Baydarov; e Panquiaco, de Ana Elena Tejera, exibido em Roterdã.

mulheroceanomostraspCena do filme brasileiro Mulher Oceano, de Djin Sganzerla.

Outros eventos internacionais importantes também marcam presença na 44ª edição da Mostra de São Paulo. Do Festival de Sundance, destacam-se: Shirley, de Josephine Decker e protagonizado por Elisabeth Moss, que recebeu Menção Especial do Júri e também foi exibido em Berlim; A Terra é Azul como uma Laranja, de Iryna Tsilyk, vencedor do prêmio de melhor direção e também exibido em Berlim; o drama Farewell Amor, de Ekwa Msangi; Feels Good Man, de Arthur Jones, vencedor do Prêmio Especial do Júri de melhor documentário de diretor estreante; de Lesoto, o drama Isso Não É um Enterro, É uma Ressurreição, de Lemohang Jeremiah Mosese, vencedor do Prêmio Especial do Júri da seção World Cinema Dramatic; Jantar na América, de Adam Rehmeier; do Egito, o drama Luxor, de Zeina Durra, também exibido no Karlovy Vary; a comédia musical Summertime, de Carlos López Estrada; Verão Branco, de Rodrigo Ruiz Patterson; entre outros.

Do Festival de Roterdã, a programação traz: Calazar (Kala Azar), de Janis Rafa, vencedor do Prêmio KNF; Cozinhar F*der Matar (Cook F**k Kill), de Mira Fornay; o português Mosquito, de João Nuno Pinto; O Despertar de Fanny Lye, de Thomas Clay e protagonizado por Maxine Peake, também exibido no Festival de Londres; o drama dinamarquês Problemas com a Natureza, de Illum Jacobi; e Quando Anoitece, de Braden King, também exibido em Sundance.

O prestigiado Festival de Busan também traz representantes entre os selecionados da Mostra, como: Assim Desse Jeito (Aise Hee), de Kislay; e Correndo para o Céu (Jo Kuluk), de Mirlan Abdykalykov, vencedor do Prêmio da Crítica. Do Festival de Tóquio, destaque para Cavaleiro de Verão, de Xing You. Já o drama O Nome Encravado em Seu Coração, de Kuang-Hui Liu, foi exibido nos festivais de Taipei e Golden Horse, e é baseado em uma história real sobre a luta pelo amor verdadeiro e as mudanças emblemáticas em Taiwan, o primeiro país asiático a legalizar o casamento gay.

shirleymostrasp2020Michael Stuhlbarg e Elisabeth Moss em Shirley, de Josephine Decker.

A seleção da Mostra também apresenta títulos do Festival de Cinema de Tribeca, entre eles: 17 Quadras (17 Blocks), de Davy Rothbart, indicado ao Spirit Awards e também exibido em Zurique, Telluride e Melbourne; 499, de Rodrigo Reyes, premiado como melhor fotografia e vencedor do Prêmio Especial do Júri no Festival Hot Docs; Lorelei, de Sabrina Doyle; Meu Coração Só Irá Bater se Você Pedir, de Jonathan Cuartas, que recebeu Menção Especial do Júri em fotografia; e Stardust, de Gabriel Range, com Jena Malone e Johnny Flynn como David Bowie.

O renomado Visions du Réel, festival de documentários realizado na Suíça, está representado com: A Arte de Derrubar (The Art of Fallism), de Aslaug Aarsæther e Gunnbjörg Gunnarsdóttir; e Anerca, Respiração da Vida, de Johannes Lehmuskallio e Markku Lehmuskallio, vencedor do prêmio de longa-metragem mais inovador.

O Festival de Cinema de Animação de Annecy também marca presença na 44ª edição da Mostra com: o polonês Mate-o e Deixe Esta Cidade (Zabij To I Wyjedz Z Tego Miasta), de Mariusz Wilczynski, vencedor do Prêmio Especial do Júri e exibido em Berlim; e O Nariz ou a Conspiração dos Dissidentes, de Andrey Khrzhanovskiy, também vencedor do Prêmio Especial do Júri e exibido em Roterdã.

Além disso, a seleção traz mais destaques internacionais, como: Beans, de Tracey Deer, vencedor do Rising Stars Award no Festival de Toronto; Contos da Prisão, de Ábel Visky, exibido no FIPA e no Hot Docs; De Volta para Casa – Marina Abramovic e Seus Filhos, de Boris Miljkovic; Espacate, de Christian Johannes Koch, exibido nos festivais de Zurique e San Sebastián; o drama canadense Estava Chovendo Pássaros, de Louise Archambault, exibido em Toronto e San Sebastián; Exílio, de Visar Morina, premiado nos festivais de Sarajevo e Taipei e exibido nos festivais de Sundance e Berlim; Mãe de Aluguel (The Surrogate), de Jeremy Hersh, que participou do SXSW; o holandês Meu Rembrandt, de Oeke Hoogendijk, exibido no IDFA, Festival Internacional de Documentários de Amsterdã.

E mais: Murmúrio, de Heather Young, da seleção de Toronto; Nariz Sangrando, Bolsos Vazios, de Bill Ross IV e Turner Ross, premiado no Champs-Élysées Film Festival e exibido em Sundance e Berlim; o português Prazer, Camaradas!, de José Filipe Costa, exibido no Festival de Locarno; Rose Interpreta Julie, de Joe Lawlor e Christine Molloy, destaque do Festival de Londres; o francês Walden, de Bojena Horackova, exibido no Festival de Locarno e parte da seleção da L’ACID do Festival de Cannes; e o curta-metragem Os Caçadores de Coelhos, de Evan Johnson, Galen Johnson e Guy Maddin, com Isabella Rossellini, em homenagem ao centenário de Federico Fellini.

stardustmostra2020Johnny Flynn é David Bowie em Stardust, de Gabriel Range.

Há 17 anos, a Mostra presta homenagens a grandes nomes do cinema com o Prêmio Humanidade. Nesta edição, duas desta honraria serão entregues: a primeira será aos funcionários da Cinemateca Brasileira e a segunda ao conceituado documentarista americano Frederick Wiseman. O Prêmio Leon Cakoff será entregue à produtora Sara Silveira. Em homenagem a ela, a Mostra irá exibir sua mais recente produção, o longa Todos os Mortos, de Marco Dutra e Caetano Gotardo, no CineSesc Drive-in (unidade Sesc Parque Dom Pedro II) no dia 2 de novembro, onde a produtora receberá o prêmio.

E mais: o documentário Coronation, do artista Ai Weiwei, que retrata o confinamento em Wuhan, na China, durante o início do surto de Covid-19 no começo do ano, será exibido durante o evento. Ai Weiwei apresenta um segundo filme na Mostra: o longa Vivos, sobre um grupo de estudantes mexicanos que foram brutalmente atacados por forças policiais e outros agressores mascarados.

Também ganha sessão especial o curta Escondida (Hidden), do iraniano Jafar Panahi, que segue o cineasta, sua filha e seu amigo a uma remota vila curda para visitar uma cantora sobrenaturalmente talentosa, que é proibida de se apresentar publicamente. Outro curta que integra a programação é Uma Noite na Ópera, do renomado diretor ucraniano Sergei Loznitsa. Baseado em imagens de arquivo dos anos 1950 e 1960, o filme revisita as noites de gala na Ópera de Paris.

Além disso, Jia Zhangke, que assina o pôster desta edição, apresenta seu longa Nadando até o Mar Se Tornar Azul e também o seu mais recente trabalho, o curta A Visita (Visit), gravado com o celular. O filme retrata uma reunião entre dois parceiros de trabalho que acaba revelando os rígidos protocolos de cuidados impostos pela epidemia do novo coronavírus.

noitegalaopera2mostraspCena do curta Uma Noite na Ópera, de Sergei Loznitsa.

O brasileiro Fernando Coni Campos (1933-1988) ganha homenagem póstuma nesta edição do evento com a apresentação especial de três de seus sete longas-metragens: Viagem ao Fim do Mundo (1968), vencedor do Leopardo de Prata no Festival de Locarno; Ladrões de Cinema (1977); e O Mágico e o Delegado, melhor filme no Festival de Brasília, em 1983. A Mostra proporciona uma rara oportunidade de revisitar o universo desse autor original e originário do Recôncavo Baiano.

O júri deste ano será formado por: Cristina Amaral, uma das principais e mais importantes montadoras do país; Felipe Hirsch, diretor, dramaturgo, cenógrafo e produtor de teatro; e Sara Silveira, nome fundamental da produção cinematográfica brasileira.

Além dos filmes, a 44ª edição da Mostra de São Paulo apresenta diversas atividades paralelas, como: a segunda edição do Fórum Nacional Lideranças Femininas no Audiovisual; o Fórum Mostra, que será virtual; o evento Memórias do Cinema, que reúne depoimentos de artistas e personalidades sobre os filmes que exerceram alguma influência em suas vidas (e estarão disponíveis na plataforma e no site da Mostra); e um curso de cinema com o cineasta Ruy Guerra e participação do historiador Adilson Mendes.

Fotos: Cosmopol Film/Divulgação.

Entrevista: cineasta Dea Ferraz fala sobre Agora, exibido no 9º Olhar de Cinema

por: Cinevitor

agoradeaferrazolhardecinemaAgora: único longa pernambucano na programação do festival.

Exibido na mostra Novos Olhares da 9ª edição do Olhar de Cinema – Festival Internacional de Curitiba, Agora, dirigido pela cineasta pernambucana Dea Ferraz, foi rodado com o apoio e a energia de parceiros que acreditam no cinema brasileiro, sem verba de edital algum. Em um país que extingue as janelas de financiamento para a cultura, o filme é, também, o testemunho da arte como resistência.

Depois das eleições de 2018, com a vitória de um presidente de extrema direita, declaradamente racista, misógino e LGBTQfóbico, a cineasta sentiu o ímpeto de registrar o incômodo que a atravessava. Já durante a campanha, o candidato apresentara sua agenda de desmonte para políticas públicas desenhadas nas últimas décadas. A partir daí, Dea convida artistas ativistas para um mergulho corporal em uma caixa cênica, numa tentativa de resposta à agonia e, também, em mais uma investigação fílmica a explorar os limites da linguagem cinematográfica; vide suas obras anteriores, como Câmara de Espelhos (2016), Modo de Produção (2017) e Mateus (2019).

Atrizes, músicos, poetas, bailarinos, corpos negros, corpos brancos, pessoas trans, gente jovem, gente mais velha: a partir da individualidade de cada uma e cada um, Agora fabrica um tecido social e político, uma bandeira deflagrada em composição humana com a qual é possível indagar: qual o gesto possível de um tempo como esse? Passado, presente e futuro, portanto, flutuam e se fundem no longa. Ao forjar uma temporalidade própria, alinhavando sensações íntimas a um turbulento horizonte político no país (seja no pós-eleição de 2018, seja durante a pandemia de 2020), o documentário sublinha a importância do cinema como ferramenta de reflexão.

Para falar mais sobre Agora, entrevistamos a diretora Dea Ferraz por e-mail. Confira:

O filme foi realizado em 2018, depois das eleições presidenciais com a vitória de um candidato de extrema direita, machista, homofóbico e preconceituoso. Hoje, dois anos depois, o cenário artístico brasileiro segue ameaçado e sem perspectiva de melhora. Como você enxerga seu filme nos dias de hoje e de que maneira ele pode reverberar no público?

O filme nasce naquele momento de país e como resultado de algumas angústias sobre a imagem, que, para mim parecia perder o seu potencial de liberdade, e surge também a partir de um desejo de registrar corpos em conexão com aquele tempo. Artistas que têm na arte suas formas de vida e que sempre se colocaram em oposição a qualquer tipo de projeto fascista. O que essas pessoas estariam sentindo? E o que seus corpos poderiam nos dizer? Não me interessava tanto acionar a racionalidade dos discursos da palavra, porque naquele momento as palavras pareciam esvaziadas. Não conseguíamos dialogar na diferença. Acho que ainda não conseguimos. Então, a minha questão era falar com o corpo. Acionar o corpo como portal que se abre ao tempo externo e interno, coletivo e pessoal. O corpo como presença a ser resgatada no mundo. Porque, em certa medida, sinto que nossos corpos estão adormecidos e o que o filme tenta fazer é justamente acionar outras dimensões de nossas sensibilidades. Os gestos que surgem naqueles corpos, naquele momento, são gestos que nos remetem a história da humanidade. Gestos carregados de sentimentos que reconhecemos e que carregamos em nós. Se, como sugerem algumas cosmologias africanas e indígenas, observarmos o tempo como uma espiral, entendemos que esses gestos vão e voltam em nós mesmos, reatualizando quem somos e de onde viemos. Por isso, pra mim, o filme, apesar de ser um registro daqueles corpos naquele tempo histórico, ele se atualiza a cada ‘agora’, a cada exibição, diante de quem o assiste. No encontro. Difícil imaginar como o filme vai reverberar nas pessoas. A gente nunca sabe ao certo e isso é o que torna a arte tão importante e tão livre. Deixar que cada um sinta o que vê, em conexão com o que carrega dentro de si. A gente não controla e nem pode prever, mas o meu desejo é de que as pessoas, através do filme, acionem seus próprios corpos, ou, como diz Suely Rolnik, que a arte seja capaz de acordar nosso corpo vibrátil, esse que não enxerga só com o olhos, mas com todos os sentidos. Porque eu acredito que acordar nosso corpo é acordar uma dimensão de nossa existência imprescindível para as transformações que tanto desejamos.

Como você chegou nesse grupo de artistas para o filme? Como foi a pesquisa e a escolha desses personagens?

Depois das eleições, naquele limbo entre a vitória desse projeto de desmonte do Brasil e sua posse, eu pensei que não voltaria a filmar tão cedo. Porque, de fato, entrei em crise com a imagem, suas potências artísticas e libertárias. No entanto, um dia, ao me levantar da cama, bem no meio desse gesto, uma imagem se desprendeu do meu corpo e era uma imagem muito simples: uma mulher, numa caixa, tentando me dizer o que sentia, utilizando apenas o seu corpo. É muito simbólico, pra mim, que tenha sido uma imagem que nasce do gesto e isso já me disse muito do que gostaria de fazer. Um corpo em improviso, acionando seus sentimentos a partir de uma provocação muito simples, mas não por isso fácil. O dispositivo, pra mim, já sinalizava um recorte, pois acionar o corpo em presença pede pessoas que já conheçam caminhos internos para isso. Convidei Bruna Leite, produtora de elenco, parceira e companheira de militância, para fazer a pesquisa e, naquele momento, tudo que eu sabia era que gostaria de construir um corpo coletivo composto por pessoas que fossem artistas ativistas, ou seja, pessoas que têm na arte suas formas de existência, pessoas que unificam uma ideia de corpo/existência/arte. E Bruna, num trabalho primoroso, me trouxe os treze nomes que compõem essa constelação. O mais incrível disso é que são artistas muito potentes, com suas agendas e compromissos, e que naquele momento toparam sem titubear. O filme parecia estar marcado antes mesmo da ideia. As agendas se encontraram e em 45 dias conseguimos pré produzir e filmar o longa.

deaferrazagoraA cineasta pergunta: no Brasil de hoje, qual o gesto possível do agora?

A reação de cada corpo apresentada no filme diz muito sobre aquela pessoa, naquele lugar vazio e que realiza sua performance diante do questionamento sobre como é esse corpo e onde ele queria estar. Com isso, as apresentações se tornam muito pessoais e potentes. Como aconteceu a preparação de elenco? Os artistas também contribuíram com outras ideias além de suas performances?

Quando começamos a entender o dispositivo e os desejos que nos conduziam, percebemos que precisávamos criar um ambiente acolhedor e amoroso para receber esses artistas. Tanto do ponto de vista da produção, quanto da técnica. No entanto, mais do que isso, era preciso pensar como ajudar essas pessoas a se conectarem consigo, com a caixa, com o país, tudo em pouco tempo, já que tínhamos, entre chegada, preparação e filmagem, uma média de 3h com cada artista. Eu já tinha trabalhado em duas ocasiões com Livia Falcão e Silvia Góes, que além de irmãs, são artistas incríveis e também terapeutas da alma e do corpo. Já havíamos experimentado alguns caminhos tendo em vista essa construção de presença, então pra mim foi como uma continuidade, não tinha como fazer esse filme se não fosse com elas ao lado. O trabalho que elas fazem, na verdade, pra mim, nem sei se a gente pode chamar de ‘preparação de elenco’. Livia deixa sempre isso muito claro. Porque não tinham personagens a serem construídos, não tinha narrativa a ser pesquisada, o desejo que havia estava mais próximo de uma desconstrução a ser empreendida. Então, do ponto de vista mais prático, elas trabalhavam com as pessoas durante no máximo 1h e depois a equipe entrava na caixa pra filmar, numa tentativa de não quebrar a conexão estabelecida. Eu acho que só Silvia e Livia podem falar dos caminhos internos que elas empreenderam para o filme, de minha parte, o que posso dizer é que quando eu entrava na caixa já havia um campo estabelecido e os corpos pareciam abertos para o salto. Foi muito intensa a experiência. Cada pessoa um mundo. Cada pessoa muitas pessoas, porque eles e elas pareciam exceder quem eram. É claro que são artistas com bagagem e conhecimento dos mecanismos pessoais que dispõem para acionar seus corpos em criação e improviso, mas o trabalho de Livia e Silvia foi imprescindível, para que houvesse entrega, amor e confiança. Para que houvesse, inclusive, a possibilidade de desconstrução desses caminhos conhecidos. Abertura e salto.

Cada artista expõe seu sentimento de uma maneira; seja em uma performance musical, em um desenho, em gargalhadas ou lágrimas, na dança, em textos. Fato é que a arte está presente nesses personagens e, com ela, é possível perceber uma forte conexão entre corpo, mente e indivíduo. Hoje, já com o filme finalizado e com esses discursos apresentados ao público, você observa sua obra como uma forma de registro de um momento sombrio do nosso país? E você acredita que essa proposta narrativa (de um lugar vazio e liberdade de expressão) vista no filme também foi importante e necessária para esses artistas?

Sim, eu acho que é o registro de um tempo específico, mas também acho que o ultrapassa. Como disse antes, acho que os gestos empreendidos são gestos carregados de muitos tempos e por isso não se fixam. Pra mim, a ideia da caixa – esse espaço vazio e livre, por que descontextualizado de qualquer pressuposto – tem a ver com minha pesquisa sobre a linguagem cinematográfica. Diz de um desejo de quebra do simulacro, de uma performatividade assumida, de uma quebra da 4a parede, de uma espacialidade que ao mesmo tempo que é circunscrita e também aberta e cheia de preenchimentos. Não saberia dizer se isso foi importante para as pessoas que improvisaram. Talvez só elas possam falar sobre isso. O que sei é que muitas, ao final, usavam palavras como cura, catarse, liberação. E naquele momento de país que vivíamos poder experimentar todas essas sensações dentro dessa caixa e juntes, foi transformador. Pra mim, foi um processo de muitas curas, de reativação de uma certa crença em nós e na arte. Um retorno à crença na imagem, essa que cria um espaço de movência, como diz Marie-José Mondzain, por onde o espectador pode imaginar, criar, fabular e completar o que vê com sua liberdade.

*O filme reprisa na terça-feira, 13/10, na programação do Olhar de Cinema.

Entrevista e edição: Vitor Búrigo
Fotos: Divulgação/Cecília da Fonte

9º Olhar de Cinema: filmes brasileiros ganham destaque na programação e repercussão on-line

por: Cinevitor

cabecadenegoolhardecinemaLucas Limeira em Cabeça de Nêgo, de Déo Cardoso.

O Olhar de Cinema – Festival Internacional de Curitiba tem como objetivo destacar e celebrar o cinema independente realizado em todo mundo e apresenta filmes que se arriscam em novas formas de linguagem cinematográfica, que estão abertos ao experimentalismo e que possuem um grande potencial de comunicação com o público. Com isso, forma-se uma programação de grande diversidade temática e estética, que não rejeita gêneros, formatos e durações.

Neste ano, por conta da pandemia de Covid-19, sua nona edição teve que ser adaptada ao formato virtual. Sendo assim, a seleção com aproximadamente 130 filmes, como acontece de costume, teve que ser reduzida por diversos motivos. Mas, nem por isso, a programação perdeu qualidade. Mesmo sem algumas tradicionais mostras, como Olhares Clássicos, Olhar Retrospectivo e Pequenos Olhares, o festival também conseguiu atrair seu público com outras atividades, além dos filmes, e ganhou uma abrangência ainda maior por conta das sessões on-line.

Mesmo sendo um festival internacional, o Olhar de Cinema sempre valorizou o cinema brasileiro e também paranaense, ao garimpar o que há de mais precioso e urgente nessas cinematografias, garantindo cuidado especial ao programar tais obras. Além da mostra Olhares Brasil, que apresenta um panorama de curtas e longas brasileiros, o festival busca compor mostras que mesclam filmes brasileiros e estrangeiros possibilitando o diálogo e a troca entre todos esses universos.

Neste ano, 78 títulos completam a programação, entre longas e curtas, sendo 41 filmes brasileiros. As produções nacionais também ganham destaque na mostra Foco, que celebra a trajetória do diretor Daniel Nolasco.

Sobre a forte presença brasileira na programação, conversamos com Eduardo Valente, que é membro da equipe de programação do Olhar de Cinema desde 2016. Neste ano, ao lado de Aaron Cutler, Carla Italiano e Camila Macedo, assinou a curadoria de longas-metragens: “Eu acho que um festival que acontece no Brasil tem obrigação, tanto ética e moral, de estar envolvido no todo que significa o cinema brasileiro. Temos uma produção tão vasta hoje em dia, tão ampla de possibilidades e tão interessante. Tem oferta de todos os tipos”, ressaltou.

ventosecoqueerlisboa2020Leandro Faria Lelo em Vento Seco, de Daniel Nolasco: sessões disputadas.

Fato é que os festivais realizados em formato on-line ganharam uma abrangência maior. Filmes que antes ficavam limitados ao público presencial, agora estão disponíveis para o Brasil todo. Com isso, a repercussão ganha outras proporções, principalmente nas redes sociais, com comentários diversos (não só de críticos, mas do público em geral) e uma divulgação ainda maior por parte das equipes dos filmes: “Claro que os realizadores e produtores têm feito um movimento muito grande de mobilizar atenção e público. Eu não tenho esses dados exatos, porque quem coleta isso é a produção em Curitiba, mas pelo que eu soube de cinco ou seis sessões lotadas nesse formato on-line, quase 70% ou 80% foram de filmes brasileiros. Além das informações e do interesse das pessoas sobre o festival e os filmes em geral, os próprios produtores e realizadores fazem uma divulgação muito específica”, comentou Valente.

Esse novo formato também tem agradado os realizadores: “O feedback do público foi muito incrível nas redes sociais depois da primeira sessão”, disse Henrique Arruda ao CINEVITOR, diretor do premiado curta Os Últimos Românticos do Mundo, que será exibido novamente nesta segunda-feira, 12/10.

Pedro Diogenes, diretor do longa Pajeú, que reprisa na quarta-feira, 14/10, destacou o alcance da primeira sessão virtual do filme: “Estou surpreendido e feliz com a repercussão do Pajeú. Estou recebendo muitos retornos calorosos. Ler sobre o filme e as experiências com o Pajeú está suprindo um pouco as trocas dos corredores e debates dos festivais. Várias pessoas que viram o filme estão fazendo questão de escrever alguma coisa, mandar uma mensagem e conversar. Os filmes, os espectadores, o festival, nós (os diretores e diretoras), vocês (crítica), todos estamos tentando se adaptar ao momento e, de alguma forma, estamos sobrevivendo”.

Sobre esse novo formato, Henrique Arruda completou: “Tem sido absurdamente diferente de todas as minhas experiências anteriores. É muito lindo sentir que o filme tem sido um respiro bom para as pessoas a cada nova sessão; e pela primeira vez eu vejo que a obra em si vai formando um público fiel que nos acompanha e divulga a cada nova exibição online. Isso tem sido muito carinhoso, apesar de não substituir o calor do encontro que uma sala de cinema de festival proporciona”.

romanticosdomundomexicoCarlos Eduardo Ferraz no curta Os Últimos Românticos do Mundo, de Henrique Arruda.

Com um público fiel de várias partes do Brasil, alguns festivais virtuais também precisam limitar o número de ingressos e visualizações por conta de contratos de exibição com produtoras, distribuidoras, entre outros. Algo parecido com o que acontece no formato presencial, no qual as salas possuem um número exato de ingressos, sujeito a lotação máxima; algo que quase sempre acontece. “Existe muito interesse pelas obras, mas também existe a dificuldade do acesso aos filmes e o on-line quebra um pouco isso”, comenta Eduardo Valente.

Outro lado positivo destes festivais virtuais é o acesso aos filmes brasileiros, que, mesmo premiados e muito comentados durante tal evento pelo público presente, acabavam perdendo força até o lançamento, seja pela pequena janela de exibição comercial ou dificuldades de conseguir uma distribuição. Com essa propagação da divulgação constante nas redes sociais, filmes que talvez não conseguissem tal alcance anteriormente, agora estão sendo vistos e falados por mais tempo por espectadores diversos. A disponibilidade dessas obras em vários festivais que adotaram esse novo formato, faz com que elas fiquem em evidência em um prazo maior, gerando interesse de outras pessoas que talvez não teriam acesso a esses títulos.

Sobre esse assunto, Eduardo Valente cita dois exemplos: Cabeça de Nêgo [de Déo Cardoso] foi exibido em Tiradentes, em janeiro, no formato tradicional. Teve uma recepção muito forte na sala, na sessão, nos textos. Semana passada, ficou disponível on-line na Mostra Tiradentes SP e teve uma quantidade enorme de pessoas do país inteiro que acabaram vendo o filme, que não tinham como ver antes, mas que já tinham ouvido falar em um momento inicial. Os festivais chamam atenção para os filmes, despertam interesse e curiosidade, mas como e quando as pessoas vão assistir? Nos cinemas, muitas vezes, demora muito e quando chega passa muito rápido. Então, a Mostra Tiradentes SP trouxe o filme de volta, com uma reação ainda maior. E agora entrou no Olhar e está sendo muito procurado”.

“Mesma coisa com Sertânia [de Geraldo Sarno]. Passou em Tiradentes e no Ecrã e teve uma reação incrível; no Letterboxd, por exemplo, tem quase mil visualizações. Depois de ter ficado também de graça quase dez dias no mês passado, agora está no Olhar com sessões cheias e as pessoas interessadas porque as informações estão circulando e os filmes estão disponíveis”.

pajeuolhardecinemaYuri Yamamoto e Fátima Muniz em Pajeú, de Pedro Diogenes.

A disputa por um destaque digno no circuito comercial destes filmes brasileiros, considerados independentes, não é de hoje e torna-se quase impossível conseguir um lugar ao sol entre tantos títulos de super-heróis e outros blockbusters que dominam as bilheterias. “Claro que ninguém acha que Sertânia ou Canto dos Ossos vai ter 3 milhões de espectadores como Minha Mãe é uma Peça. Isso não é da natureza destes filmes. Mas, agora, estão mais acessíveis para muita gente, que inclusive sabem que eles existem. Mas aí vem a questão: e depois dos festivais? Quanto tempo leva para esses filmes estarem disponíveis efetivamente para as pessoas? Essa oportunidade de ocupar um lugar quase de serviços de streaming, com extrema curadoria e divulgação, tem comprovado como tem demanda, principalmente por esses filmes brasileiros”.

Por conta de festivais como o Olhar de Cinema, títulos nacionais, não só premiados internacionalmente, têm sido enaltecidos pelo público e pela crítica; principalmente os curtas, que, geralmente, possuem uma janela de exibição quase que restrita a esses eventos e não chegam ao grande público. “Eu senti que a equipe do festival encontrou uma forma bacana de deixar o filme acessível para o Brasil inteiro. Dessa forma, conseguimos atingir novos públicos e estou recebendo muito feedback bacana, de pessoas do Brasil todo. Mesmo não estando lá presencialmente para comentar sobre, temos encontrado novas formas de chegar ao número máximo de pessoas possíveis. É isso que a gente quer, na verdade, que o filme seja visto”, disse Sávio Fernandes, que divide a direção de Noite de Seresta com Muniz Filho. O curta, em competição, reprisa na terça-feira, 13/10.

sertaniacenaexclusivaVertin Moura em Sertânia, de Geraldo Sarno: sucesso de público.

A imprensa, acostumada a cobrir os festivais de cinema de forma presencial, também precisou se adaptar ao novo formato e analisa, para os próximos anos, edições multiplataforma: “A pandemia nos trouxe muitos desafios que foram parcialmente contornados pela virtualização das coisas. Há um lado muito positivo com os festivais on-line. Filmes que nem todos veriam nascer nesse eventos pela incapacidade de deslocamento acabaram alcançando um público vasto ao serem disponibilizados na internet e isso colabora fortemente com o acesso e a democratização dessas obras e desses eventos de cinema. Acredito que temos muito a aprender com essa experiência, mas também devemos ter em mente que esse é um ano de exceção”, declarou Diego Benevides, jornalista, crítico, curador e pesquisador de cinema, membro da Abraccine, Associação Brasileira de Críticos de Cinema, e da Aceccine, Associação Cearense de Críticos de Cinema.

E completou: “Os festivais de cinema são, per si, eventos que agregam muito mais do que a simples exibição de filmes. Um festival se dá nos debates, nas conversas pós-sessão, nos encontros, nas relações que se estabelecem em sua vivência presencial a partir de um ritmo próprio que esses eventos impõem a quem participa deles. Talvez seja a hora de, a partir dessa experiência pandêmica, propor novos formatos para o futuro, apostando na união tanto da programação presencial quanto online e na ampliação do alcance dessas obras, que é o mais importante”.

noitedeserestaolhardecinemaKatia Blander no curta Noite de Seresta.

A curadoria da nona edição do Olhar de Cinema tem sido elogiada com frequência nas redes sociais, tanto pelo público como pelos realizadores: “Sempre desejei participar do Olhar de Cinema porque considero uma das melhores curadorias atualmente no circuito de festivais: criteriosa e criativa”, disse a cineasta Paula Gaitán, em entrevista ao CINEVITOR. Seu filme Luz nos Trópicos, exibido no Festival de Berlim, está na mostra competitiva e reprisa na terça-feira, 13/10.

O cineasta cearense Pedro Diogenes também falou sobre isso: “Sempre tive vontade de participar do Olhar de Cinema. Acompanhei de longe as edições anteriores com muita curiosidade, pois o festival sempre prezou por uma curadoria corajosa e instigante. Me mantinha atento para ver os filmes que tinham passado no Olhar pois sempre era garantia de uma boa experiência. Os outros realizadores e realizadoras com quem conversava sobre o festival sempre falaram com muito carinho do Olhar. Então, a vontade de passar aqui sempre foi enorme. Neste ano, esse desejo se tornou realidade. Um ano atípico, com um festival virtual. Mas mesmo à distância estou conseguindo sentir toda a potência do festival e o carinho com eles tratam os filmes”.

“Outra coisa que eu percebi é que todos os meus amigos estavam marcando os mesmos filmes no Letterboxd, todos do Olhar. E achei isso incrível. Mesmo cada um em suas casas conseguimos preservar esse espírito de coletividade”, comentou Sávio Fernandes.

Como de costume, um festival de cinema é pensado para acontecer dentro da sala de cinema. Porém, vale destacar o esforço dos organizadores em manter esses eventos de forma virtual por conta de sua importância, principalmente para o setor audiovisual brasileiro. “Os festivais estão, ao mesmo tempo suprindo uma série de demandas e trazendo uma série de coisas interessantes, mas também demonstrando como ainda há gargalos e dificuldades; como esse mercado é difícil de enfrentar algo que parece tão simples que é o interesse das pessoas pelos filmes e a capacidade de acessá-los ou não”, finaliza Eduardo Valente.

Ainda que nossa cultura esteja sob ameaça constante, é preciso resistir e tentar olhar para frente com esperança. O desmonte da cultura brasileira é assustador, mas é na arte que retratamos nossas histórias e personagens. Esses registros, que se multiplicam em diversas telas e formatos, ficam marcados para sempre e ajudam a enaltecer nossos profissionais e suas obras. Assim como os festivais de cinema e seu público fiel. Seja virtual ou presencial.

Entrevistas e edição: Vitor Búrigo
Fotos: Divulgação.

Conheça os filmes selecionados para o 9º Festival Curta Brasília

por: Cinevitor

abarcacurtabrasiliaAne Oliva no curta alagoano A Barca, de Nilton Resende.

Foram anunciados nesta segunda-feira, 12/10, os selecionados para a 9ª edição do Festival Curta Brasília, que acontecerá entre os dias 17 e 20 de dezembro, em formato digital por conta da pandemia de Covid-19.

Ao longo de oito edições, o festival recebeu 7.053 filmes inscritos de 26 estados e do Distrito Federal, com 1.356 inscrições só em 2019. Em oito anos, foram exibidos quase 700 filmes, sendo 440 curtas nacionais, 125 curtas do DF e 153 curtas internacionais. Neste ano, foram 1.114 filmes inscritos, cuidadosamente analisados pela comissão de curadoria, que selecionou 15 produções para a Mostra Nacional e Tesourinha.

Além disso, nesta edição a Tesourinha se tornou um selo dos filmes do DF que compõem a programação, ou seja, participarão da mostra competitiva nacional e também concorrem a prêmios específicos para a produção local.

Ao se aproximar de uma década de existência, o Curta Brasília está consolidado no calendário de festivais de cinema do Distrito Federal e do Brasil. O número de inscrições recebidas cresce a cada ano e é comparável a outros grandes festivais nacionais e internacionais. Cada vez mais conhecido por realizadores de todo o país, o evento carrega o nome da capital e busca valorizar de maneira expressiva a identidade local.

Ao expandir para a versão on-line, o festival reforça sua missão de valorizar o cinema local, regional e nacional em maior amplitude, dando destaque para obras cinematográficas recentes por meio de inscrições gratuitas e curadoria feita por profissionais da área; sendo de vital importância num momento delicado para as artes no Brasil, no contexto de isolamento social, impedimento de eventos presenciais e tornando o espaço virtual uma vitrine para o cinema atual.

Conheça os filmes selecionados para o Curta Brasília – Festival Internacional de curta-metragem 2020:

MOSTRA NACIONAL E TESOURINHA

A Barca, de Nilton Resende (Maceió/AL)
À Beira do Planeta Mainha Soprou a Gente, de Bruna Barros e Bruna Castro (Salvador/BA)
A Terra das Muitas Águas, de Catu Rizo (Nilópolis/RJ)
A Terra em que Pisar, de Fáuston da Silva (Estrutural/DF)
Ainda Te Amo Demais, de Flávia Correia (Maceió/AL)
As Rendas de Dinho, de Adriane Canan (Florianópolis/SC)
Exu Matou um Pássaro, de Vinicius Sassine (Brasília/DF)
Filme de Domingo, de Lincoln Péricles (São Paulo/SP)
Inabitáveis, de Anderson Bardot (Vila Velha/ES)
Inabitável, de Matheus Farias e Enock Carvalho (Recife/PE)
Joãosinho da Goméa – O Rei do Candomblé, de Janaina Oliveira ReFem e Rodrigo Dutra (Duque de Caxias/RJ)
Mãtãnãg, A Encantada, de Shawara Maxakali e Charles Bicalho (Belo Horizonte/MG)
Mundo Pequeno, de Gustavo Amora e Cícero Fraga (Brasília/DF)
Os Últimos Românticos do Mundo, de Henrique Arruda (Recife/PE)
Quantos Eram Pra Tá?, de Vinícius Silva (São Paulo/SP)

Foto: Vanessa Mota.

Bacurau, de Kleber Mendonça Filho e Juliano Dornelles, é consagrado no Grande Prêmio do Cinema Brasileiro 2020

por: Cinevitor

bacurauvenceGPdocinemaThomás Aquino e Bárbara Colen em Bacurau: seis prêmios.

Foram anunciados neste domingo, 11/10, os vencedores da 19ª edição do Grande Prêmio do Cinema Brasileiro. A cerimônia, transmitida pela TV Cultura e também pelo YouTube e Facebook da emissora, foi apresentada por Marina Person e Adriana Couto. Diferente dos outros anos, o evento não contou com a presença do público por conta da pandemia de Covid-19.

A noite começou com a participação especial do artista Paulinho Moska, que abriu o evento em uma apresentação virtual. Joyce Moreno e Francis Hime também participaram, assim como Pedro Luís e Teresa Cristina. Além disso, o 19º Grande Prêmio do Cinema Brasileiro homenageou não apenas uma personalidade, mas todos os profissionais do setor audiovisual coletivamente.

Os finalistas ao Troféu Grande Otelo concorreram em 32 categorias e foram escolhidos em votação pelos sócios da Academia, além da categoria voto popular, que, por abarcar produções de todo o setor, este ano passa a se chamar Academia Brasileira de Cinema e Artes Audiovisuais.

Bacurau, dirigido por Kleber Mendonça Filho e Juliano Dornelles, que liderava a lista de indicações (dezessete em 15 categorias), foi o grande vencedor deste ano com seis prêmios, entre eles, melhor filme de ficção e melhor ator para Silvero Pereira, que dividiu a estatueta com Fabrício Boliveira, de Simonal. A Vida Invisível, de Karim Aïnouz, também se destacou com cinco prêmios, entre eles, o de melhor atriz coadjuvante para Fernanda Montenegro.

Conheça os vencedores do 19º Grande Prêmio do Cinema Brasileiro:

MELHOR LONGA-METRAGEM | FICÇÃO
Bacurau, de Kleber Mendonça Filho e Juliano Dornelles

MELHOR LONGA-METRAGEM | DOCUMENTÁRIO
Estou me Guardando Para Quando o Carnaval Chegar, de Marcelo Gomes

MELHOR LONGA-METRAGEM | COMÉDIA
Cine Holliúdy 2: A Chibata Sideral, de Halder Gomes

MELHOR LONGA-METRAGEM | INFANTIL
Turma da Mônica – Laços, de Daniel Rezende

MELHOR LONGA-METRAGEM | ANIMAÇÃO
Tito e os Pássaros, de Gustavo Steinberg, Gabriel Bitar e André Catoto

MELHOR DIREÇÃO
Kleber Mendonça Filho e Juliano Dornelles, por Bacurau

MELHOR PRIMEIRA DIREÇÃO DE LONGA-METRAGEM
Leonardo Domingues, por Simonal

MELHOR ATRIZ
Andrea Beltrão, por Hebe: A Estrela do Brasil

MELHOR ATOR (empate)
Fabrício Boliveira, por Simonal e Silvero Pereira, por Bacurau

MELHOR ATRIZ COADJUVANTE
Fernanda Montenegro, por A Vida Invisível

MELHOR ATOR COADJUVANTE
Chico Diaz, por Cine Holliúdy 2: A Chibata Sideral

MELHOR DIREÇÃO DE FOTOGRAFIA
Hélène Louvart, por A Vida Invisível

MELHOR ROTEIRO ORIGINAL
Bacurau, escrito por Kleber Mendonça Filho e Juliano Dornelles

MELHOR ROTEIRO ADAPTADO
A Vida Invisível, escrito por Karim Aïnouz, Inés Bortagaray e Murilo Hauser

MELHOR DIREÇÃO DE ARTE
A Vida Invisível, por Rodrigo Martirena

MELHOR FIGURINO
A Vida Invisível, por Marina Franco

MELHOR MAQUIAGEM
Hebe: A Estrela do Brasil, por Simone Batata

MELHOR EFEITO VISUAL
Bacurau, por Mikaël Tanguy e Thierry Delobel

MELHOR MONTAGEM | FICÇÃO
Bacurau, por Eduardo Serrano

MELHOR MONTAGEM | DOCUMENTÁRIO
Estou me Guardando para Quando o Carnaval Chegar, por Karen Harley

MELHOR SOM
Simonal, por Marcel Costa, Alessandro Laroca, Eduardo Virmond, Armando Torres Jr. e Renan Deodato

MELHOR TRILHA SONORA
Simonal, por Wilson Simoninha e Max de Castro

MELHOR FILME INTERNACIONAL
Parasita (Gisaengchung), de Bong Joon-Ho (Coreia do Sul)

MELHOR LONGA-METRAGEM IBERO-AMERICANO:
A Odisseia dos Tontos (La Odisea de los Giles), de Sebastián Borensztein (Argentina/Espanha)

MELHOR CURTA-METRAGEM | FICÇÃO
Sem Asas, de Renata Martins (SP)

MELHOR CURTA-METRAGEM | DOCUMENTÁRIO
Viva Alfredinho!, de Roberto Berliner (RJ)

MELHOR CURTA-METRAGEM | ANIMAÇÃO
Ressurreição, de Otto Guerra (RS)

MELHOR SÉRIE ANIMAÇÃO TV PAGA/ OTT
Turma da Mônica Jovem (1ª temporada) (Cartoon Network)

MELHOR SÉRIE DOCUMENTÁRIO TV PAGA/OTT
Quebrando o Tabu (2ª temporada) (GNT)

MELHOR SÉRIE FICÇÃO TV PAGA/ OTT
Sintonia (1ª temporada) (Netflix)

MELHOR SÉRIE FICÇÃO TV ABERTA
Cine Holliúdy (1ª temporada) (Globo)

MELHOR LONGA-METRAGEM | VOTO POPULAR
Eu Sou Mais Eu, de Pedro Amorim

A Academia Brasileira de Cinema e Artes Audiovisuais, criada no dia 20 de maio de 2002, foi reconhecida este ano pela AMPAS, Academy of Motion Picture Arts and Sciences, como a única entidade credenciada para indicar o filme que representa o cinema brasileiro na categoria de melhor longa-metragem internacional no Oscar, sem qualquer tutela do governo que esteja no poder.

Profissionais do setor, das mais diversas áreas, podem se associar à Academia, adquirindo assim não apenas o direito de votar no Grande Prêmio do Cinema Brasileiro, mas de participar das assembleias e eventos que acontecem ao longo do ano, como a eleição para a comissão que escolhe o filme brasileiro indicado para representar o país no Oscar.

A Academia Brasileira de Cinema e Artes Audiovisuais é presidida por Jorge Peregrino e a diretoria é composta por Paulo Mendonça (diretor vice-presidente), Alexandre Duvivier, Bárbara Paz, Iafa Britz e Renata Almeida Magalhães.

Foto: Divulgação/Vitrine Filmes.

Letra Maiúscula

por: Cinevitor

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Direção: Radu Jude

Elenco: Șerban Lazarovici, Bogdan Zamfir, Ioana Iacob, Șerban Pavlu, Robert Arsenie, Bogdan Romedea, Alexandru Potocean, Silvian Vâlcu, Constantin Dogioiu, Ruxandra Maniu, Ilinca Harnut, Eduard Cirlan, Nicodim Ungureanu, Iosif Pastina, Alexandru Bîscoveanu, Marian Râlea, Doru Catanescu, Ion Rizea, Florin Kevorkian, Rareș Hontzu, Eugen Ciurtin, Claudia Ieremia, Ilinca Manolache, Doriana Talmazan, Gabriel Spahiu, Gianina Cărbunariu, Irina Vacarciuc, Gheorghe Mezei, Gabriel Răuță, Ilie Gâlea, Ștefan Crudu.

Ano: 2020

Sinopse: A união de um jovem opositor e a história oficial da Romênia de Ceausescu traz à luz um herói desconhecido 30 anos após a queda do comunismo.

*Filme visto no 9º Olhar de Cinema – Festival Internacional de Curitiba.

Nota do CINEVITOR:

nota-3,5-estrelas

Entre Nós Talvez Estejam Multidões

por: Cinevitor

entrenosmultidoesposter1Direção: Pedro Maia de Brito, Aiano Bemfica.

Elenco: Poliana Souza, Madu Carvalho, Sandro Alberto, Indianara Conceição, Joyce Felipe Pinho, Rosemary Luzia de Souza (Meire), Luana Dias de Souza, Lorrayne Antonielle de Souza Rodrigues, Kenia Pereira, Adriel Cassio Pereira, Kauan Pereira, Leonardo Péricles Vieira, Cadu, Jr Magrin, Matheus, Wandin, Alexsandro Ribeiro dos Santos (Gordinho), Eldis Dias Costa, Ricardo P. da Fonseca (Mano Próprio), Cristiane Verissimo da Silva, Ederson Santiago de Souza (Dedé), Ana Paula Rodrigues de Souza D’assunção, Cleber Nunes Batista (DJ Kleber BH), Marcela Martins Leocádio, Samuel Pereira de Corte, Lôra, Juliano Tiago de Souza.

Ano: 2019

Sinopse: Filmada na Ocupação Eliana Silva, em Belo Horizonte, ao longo das eleições que levaram Bolsonaro ao poder, a obra propõe uma jornada experiencial ao compartilhar experiências existenciais de seus moradores na busca pela vida em tempos de morte.

*Filme visto no 9º Olhar de Cinema – Festival Internacional de Curitiba.

Nota do CINEVITOR:

nota-3,5-estrelas

Longa Noite

por: Cinevitor

longanoiteposter1Direção: Eloy Enciso

Elenco: Misha Bies Golas, Manuel Pumares, Celsa Araujo, Nuria Lestegás, Suso Meilan, Verónica Quintana, Alberto Albite, Fernando García, Luís Martínez, Cristian Díaz, Antón Sampaio, Rafael de la Fuente, Ramón Portas, Simón Onteniente, Carlos Meixide, Manuel Pozas, Zé Paredes.

Ano: 2019

Sinopse: Anxo regressa à sua cidade natal na zona rural galega. Ao chegar, ele é saudado com preocupação pelos vencedores e pelos derrotados, que enxergam nele o perigo de mergulharem de volta em suas memórias silenciadas.

*Filme visto no 9º Olhar de Cinema – Festival Internacional de Curitiba.

Nota do CINEVITOR:

nota-3-estrelas

A Metamorfose dos Pássaros

por: Cinevitor

metamorfosepassarosposter1Direção: Catarina Vasconcelos

Elenco: Manuel Rosa, João Móra, Ana Vasconcelos, Henrique Vasconcelos, Inês Campos, Catarina Vasconcelos, José Manuel Mendes, João Pedro Mamede, Cláudia Varejão, Luísa Ministro, José Maria Rosa, Ana Margarida Vasconcelos, José Vasconcelos, João Vasconcelos, Nuno Vasconcelos, Teresa Vasconcelos, Pedro Vasconcelos, Henrique Serpa de Vasconcelos, Burak Agan, Ana Sofia Domingues Cabeça, Anita Carvalho, Ana Fernandes da Silva, Pedro Fernandes Duarte, Pedro Farinha, Tiago Gaio, João Guimarães, Laura Guimarães, Leonor Macedo, Manuel Molarinho, Damien Monteau, Henrique Móra, Elisa Costa Pinto, Francisco Rosa, Margarida Rêgo, Francisco Vasconcelos, Maria Vasconcelos, Pedro Maia Vasconcelos.

Ano: 2020

Sinopse: Beatriz casou-se com Henrique no dia de seu aniversário de 21 anos. Henrique, oficial da Marinha, passava longos períodos no mar. Em terra, Beatriz, que aprendeu tudo com a verticalidade das plantas, cuidou muito bem das raízes dos seis filhos.

Crítica: Depois de receber o Prêmio FIPRESCI, Federação Internacional de Críticos de Cinema, no Festival de Berlim, o belíssimo A Metamorfose dos Pássaros, da cineasta portuguesa Catarina Vasconcelos, também foi consagrado no IndieLisboa, San Sebastián e Taipei. Logo nos primeiros minutos de projeção, o longa arrebata o espectador com a sensibilidade do texto narrado. A história de uma família, contada de maneira comovente e apaixonante, traz o passado à tona, realoca-se no presente e vislumbra o futuro. Trata a saudade como um ofício e faz isso da maneira mais sublime e poética que poderia ser vista em uma obra tão particular, mas ao mesmo tempo tão ampla e universal. Catarina mergulha em suas memórias para falar de almas que transbordam e detalha com preciosidade o amor que envolve aquele clã. Tudo em A Metamorfose dos Pássaros é sobre saudade e também sobre transformações; daquelas relações, de cada época vivida, daquele país, de cada pessoa. A nostalgia marca presença constante na narrativa, seja na lembrança de uma coleção de selos, as recordações infantis, o crescimento dos filhos. As cartas narradas trazem angústias, mas também alívio; as metáforas, perfeitamente aplicadas, desvendam a percepção de cada objeto destacado; e tudo que é falado ganha relevância: as plantas, as flores, as árvores, a oração, a música, as penas de um pavão. Cada detalhe traz uma lembrança para exemplificar aquele amor retratado em belíssimas palavras. A história da formiga, da baleia, do cavalo-marinho; tudo é recordação. O futuro imaginado naquelas cartas vem premeditado com traços de melancolia e Catarina transita, com tons de fabulação, por gerações familiares com afeto que extravasa: como esses entes queridos lidam com seus contemporâneos e com o legado que lhe deixaram, seja ele emocional ou material? A Metamorfose dos Pássaros é encantador e amoroso; é poesia transformada em cinema; é afeto, na sua mais pura essência, que ganha vida em uma obra tão linda, única e sentimental. É arrebatador, inebriante e sublime. (Vitor Búrigo)

*Filme visto no 9º Olhar de Cinema – Festival Internacional de Curitiba.

Nota do CINEVITOR:

nota-5-estrelas