Cena do curta brasileiro Ainda Restarão Robôs nas Ruas do Interior Profundo
Criado em 1979 e organizado pela Sauve qui peut le court métrage, o Festival de curta-metragem de Clermont-Ferrand, que acontecerá entre os dias 27 de janeiro e 4 de fevereiro de 2023 na França, é considerado o maior evento de curtas-metragens do mundo.
Neste ano, o cinema brasileiro aparece com diversas produções na programação. Na Competição Internacional, que recebeu 6.353 inscrições e traz 78 filmes, de 52 países, destacam-se: Ainda Restarão Robôs nas Ruas do Interior Profundo, de Guilherme Xavier Ribeiro, que se passa na periferia do interior, onde Luquinha tenta recuperar sua égua enquanto convive com o crime e o barulho ensurdecedor de uma cidade conservadora; Escasso, de Gabriela Gaia Meirelles e Clara Anastácia, que mostra Rose, uma passeadora de pets, que apresenta seu novo lar para uma equipe documental enquanto celebra a realização do sonho da casa própria, mesmo que ocupada; e Takanakuy, de Vokos, uma coprodução entre Brasil e Peru, ambientada em uma comunidade tradicional no alto dos Andes peruanos, que conta a história de um relacionamento terno entre dois adolescentes, Fausto e Chaska.
O curta-metragem Big Bang, de Carlos Segundo, com Giovanni Venturini e Aryadne Amancio no elenco, aparece na Competição Nacional, já que o filme é uma coprodução entre França e Brasil. A trama conta a história de Chico, um homem com nanismo que trabalha consertando fornos. Vale lembrar que na edição passada, o diretor foi premiado com Sideral nesta mesma mostra e recebeu o Prêmio Canal+/Ciné+, que garante a aquisição do filme.
Neste ano, o cartaz do festival foi assinado pela ilustradora e cineasta portuguesa Regina Pessoa, que apresentou uma surpreendente, atrevida e liberada Alice no País das Maravilhas com um olhar travesso voltado para o futuro.
Colin Farrell no filme Os Banshees de Inisherin: oito indicações
Foram revelados na manhã desta segunda-feira, 12/12, os indicados ao 80º Globo de Ouro, um dos prêmios mais conhecidos do cinema e da TV. O anúncio foi realizado no The Beverly Hilton, em Beverly Hills, pelas atrizes Mayan Lopez e Selenis Leyva ao lado de Helen Hoehne, presidente da HFPA, Hollywood Foreign Press Association.
Neste ano, Os Banshees de Inisherin, dirigido por Martin McDonagh, lidera a lista com oito indicações; Tudo em Todo o Lugar ao Mesmo Tempo, de Dan Kwan e Daniel Scheinert, aparece na sequência com seis indicações. Entre as categorias televisivas, Abbott Elementary, The Crown, Dahmer: Um Canibal Americano, Only Murders in the Building, Pam & Tommy e The White Lotus se destacam.
Para esta edição comemorativa de 80 anos, o ator Eddie Murphy será homenageado com o Cecil B. deMille Award; o produtor e roteirista Ryan Murphy será honrado com o Carol Burnett Award. A cerimônia de premiação acontecerá no dia 10 de janeiro de 2023.
Depois de muitas polêmicas envolvendo o Globo de Ouro, um novo Código de Conduta Profissional e Ética foi aprovado. Neste ano, os indicados foram votados por 96 membros e, pela primeira vez, 103 eleitores internacionais. Os novos membros foram recrutados em organizações internacionais da indústria, festivais de cinema estrangeiros e profissionais de jornalismo. Este grupo de votação representa 62 países diferentes ao redor do mundo.
Combinado com os membros atuais, o total de votantes do Globo de Ouro agora é: 52% feminino, 51,8% racial e etnicamente diverso, com 19,6% latino-americanos, 12,1% asiáticos, 10,1% negros e 10,1% do Oriente Médio.
Neste ano, mais de 100 longas, de diversos países, foram considerados elegíveis para a categoria de melhor filme em língua não inglesa; o Brasil estava representado por Carvão, de Carolina Markowicz; Fogaréu, de Flávia Neves; e Marte Um, de Gabriel Martins. Porém, infelizmente, nenhum dos três títulos foi indicado.
Conheça os indicados ao Globo de Ouro 2023 nas categorias de cinema:
MELHOR FILME | DRAMA Avatar: O Caminho da Água, de James Cameron Elvis, de Baz Luhrmann Os Fabelmans, de Steven Spielberg Tár, de Todd Field Top Gun: Maverick, de Joseph Kosinski
MELHOR FILME | COMÉDIA/MUSICAL Babilônia, de Damien Chazelle Glass Onion: Um Mistério Knives Out, de Rian Johnson Os Banshees de Inisherin, de Martin McDonagh Triângulo da Tristeza, de Ruben Östlund Tudo em Todo o Lugar ao Mesmo Tempo, de Dan Kwan e Daniel Scheinert
MELHOR ATOR | DRAMA Austin Butler, por Elvis Bill Nighy, por Living Brendan Fraser, por The Whale Hugh Jackman, por The Son Jeremy Pope, por The Inspection
MELHOR ATRIZ | DRAMA Ana de Armas, por Blonde Cate Blanchett, por Tár Michelle Williams, por Os Fabelmans Olivia Colman, por Império da Luz Viola Davis, por A Mulher Rei
MELHOR ATOR | COMÉDIA OU MUSICAL Adam Driver, por Ruído Branco Colin Farrell, por Os Banshees de Inisherin Daniel Craig, por Glass Onion: Um Mistério Knives Out Diego Calva, por Babilônia Ralph Fiennes, por O Menu
MELHOR ATRIZ | COMÉDIA OU MUSICAL Anya Taylor-Joy, por O Menu Emma Thompson, por Boa Sorte, Leo Grande Lesley Manville, por Sra. Harris vai a Paris Margot Robbie, por Babilônia Michelle Yeoh, por Tudo em Todo o Lugar ao Mesmo Tempo
MELHOR ATOR COADJUVANTE Barry Keoghan, por Os Banshees de Inisherin Brad Pitt, por Babilônia Brendan Gleeson, por Os Banshees de Inisherin Eddie Redmayne, por O Enfermeiro da Noite Ke Huy Quan, por Tudo em Todo o Lugar ao Mesmo Tempo
MELHOR ATRIZ COADJUVANTE Angela Bassett, por Pantera Negra: Wakanda para Sempre Carey Mulligan, por Ela Disse Dolly De Leon, por Triângulo da Tristeza Jamie Lee Curtis, por Tudo em Todo o Lugar ao Mesmo Tempo Kerry Condon, por Os Banshees de Inisherin
MELHOR DIREÇÃO Baz Luhrmann, por Elvis Dan Kwan e Daniel Scheinert, por Tudo em Todo o Lugar ao Mesmo Tempo James Cameron, por Avatar: O Caminho da Água Martin McDonagh, por Os Banshees de Inisherin Steven Spielberg, por Os Fabelmans
MELHOR ROTEIRO Os Banshees de Inisherin, escrito por Martin McDonagh Os Fabelmans, escrito por Steven Spielberg e Tony Kushner Tár, escrito por Todd Field Tudo em Todo o Lugar ao Mesmo Tempo, escrito por Dan Kwan e Daniel Scheinert Women Talking, escrito por Sarah Polley
MELHOR FILME EM LÍNGUA NÃO INGLESA Argentina, 1985, de Santiago Mitre (Argentina) Close, de Lukas Dhont (Bélgica/França/Holanda) Decisão de Partir, de Park Chan-wook (Coreia do Sul) Nada de Novo no Front, de Edward Berger (Alemanha) RRR: Revolta, Rebelião, Revolução, de S.S. Rajamouli (Índia)
MELHOR LONGA DE ANIMAÇÃO Gato de Botas 2: O Último Pedido, de Joel Crawford e Januel Mercado Inu-oh, de Masaaki Yuasa Marcel the Shell with Shoes On, de Dean Fleischer-Camp Pinóquio, de Guillermo del Toro e Mark Gustafson Red: Crescer é uma Fera, de Domee Shi
MELHOR TRILHA SONORA ORIGINAL Babilônia, por Justin Hurwitz Os Banshees de Inisherin, por Carter Burwell Os Fabelmans, por John Williams Pinóquio, por Alexandre Desplat Women Talking, por Hildur Guðnadóttir
MELHOR CANÇÃO ORIGINAL Carolina, por Taylor Swift (Um Lugar Bem Longe Daqui) Ciao Papa, por Alexandre Desplat, Roeban Katz e Guillermo del Toro (Pinóquio) Hold My Hand, por Lady Gaga, BloodPop e Benjamin Rice (Top Gun: Maverick) Lift Me Up, por Tems, Rihanna, Ryan Coogler e Ludwig Göransson (Pantera Negra: Wakanda para Sempre) Naatu Naatu, por M.M. Keeravani, Kala Bhairava e Rahul Sipligunj (RRR: Revolta, Rebelião, Revolução)
Premiados: Rebeca Linhares e Rafael Anaroli com a apresentadora Mayara Millane
Foram anunciados neste domingo, 11/12, os vencedores da quarta edição do Curta na Serra – Festival de Cinema ao Ar Livre, que aconteceu em Serra Negra, Bezerros, agreste pernambucano. Contemplando produções audiovisuais de todo o país, o festival exibiu presencialmente filmes nas categorias curta-metragem nacional, pernambucano e videoclipe; as exibições on-line seguem até 26 de dezembro.
A cerimônia de encerramento, que aconteceu no Anfiteatro de Serra Negra e foi apresentada por Mayara Millane, também foi marcada pela homenagem à coreógrafa Mileide Santos e seu grupo Folcpopular, além de exibições especiais fora de competição da Mostra VerOuvindo, realizada em parceria com o Festival de Filmes com Acessibilidade Comunicacional do Recife.
Idealizado pelo cineasta Marlom Meirelles, que também assina a produção executiva, e com curadoria assinada pelo crítico Vitor Búrigo, o júri desta edição, que aconteceu pela primeira vez em caráter competitivo, foi formado por: Amanda Mansur, João Maria e Cynthia Falcão no Panorama Nacional; as mostras Pernambuco e Videoclipes contaram com Henrique Arruda, Raildon Lucena, Túlio Rodrigues e Bruna Tavares (somente em videoclipes).
Conheça os vencedores do IV Curta na Serra:
PANORAMA NACIONAL
Melhor Filme: Quinze Primaveras, de Leão Neto (CE) Melhor Direção: Leão Neto, por Quinze Primaveras Melhor Roteiro: Ela Mora Logo Ali, escrito por Fabiano Barros e Rafael Rogante Melhor Fotografia: Nicinha Não Vem, por Igor Cabral Melhor Direção de Arte: Aqueles que Estamos Esquecendo Melhor Trilha Sonora: Aqueles que Estamos Esquecendo, por Luã Brito Melhor Edição: Quinze Primaveras, por Alan Sousa Menção Honrosa | Melhor Atriz: Agrael de Jesus, por Ela Mora Logo Ali
PANORAMA PERNAMBUCO
Melhor Filme: Quebra Panela, de Rafael Anaroli (Condado) Melhor Direção: Rafael Anaroli, por Quebra Panela Melhor Roteiro: Quebra Panela, escrito por Rafael Anaroli Melhor Fotografia: Quebra Panela, por João Carlos Beltrão Melhor Direção de Arte: Rio Mar, por Carlos Medrado Melhor Trilha Sonora: Adeus, Carnaval de Olinda Melhor Edição: Adeus, Carnaval de Olinda, por Igor Pimentel
VIDEOCLIPES
Melhor Videoclipe: Chorar, de Karola Nunes & Pacha Ana feat. Curumin (MT) Melhor Direção: Juliana Segóvia, por Chorar Melhor Roteiro: Claudio, escrito por Calebe Lopes Melhor Fotografia: Chorar, por Rosano Mauro Jr. Melhor Direção de Arte: Lamento de Força Travesti, por Bianca Feitoza Melhor Edição: Abaixa que é tiro, por Rodrigo Rímoli
Cena do curta Quando Chegar a Noite, Pise Devagar, de Gabriela Alcântara: premiado
Foram anunciados neste domingo, 11/12, em uma live no Instagram, apresentada pelo documentarista João Paulo Diogo, os vencedores da segunda edição do Cine Terreiro – Filmes que ligam ao Sagrado, que tem como objetivo fortalecer a preservação da memória e identidade das culturas de matriz afro-brasileira e indígena através da exibição de produções audiovisuais cinematográficas.
O júri deste ano foi formado por Luciana Oliveira, cineasta e pesquisadora, e Herison Pedro, artista sonoro e também pesquisador; os vencedores receberam um troféu confeccionado pelo artista José Roberto. Na Mostra Grão, direcionada a realizadores iniciantes, o curta-metragem pernambucano Quando Chegar a Noite, Pise Devagar, de Gabriela Alcântara, foi eleito o melhor filme: “Por sua bela construção por meio do suspense e por um elenco tão plural”, disse a justificativa.
A Menção Honrosa foi para Onde Aprendo a Falar com o Vento, de André Anastácio e Victor Dias: “Por que será que a história do negro aqui não está? É a pergunta feita pelo grupo Reinadinho composto por crianças e jovens do Reinado de Oliveira em Minas Gerais. A partir da performance do corpo e da oralidade, narram um saber sobre o povo negro de seu território que não é ensinada na escola. É por meio dos saberes dos mais velhos que conhecem sobre si e sobre quem veio antes. Decolonizar o saber é preciso e é um debate fortemente presente em nossa geração atual. Por trazer para a tela essa questão, parabenizamos e agradecemos ao elenco e equipe, que partilharam esses saberes”, comentou o júri.
Já na Mostra Mar, indicada para realizadores experientes, Mineiro de Mina, de Helder da Paixão, foi escolhido o melhor filme: “Uma proposta cheia de desafios e tamanha ousadia. Fazer filmes de animação no Brasil sempre é bastante desafiador. A abordagem deste rompe com os padrões técnicos e estéticos, através da expertise e sagacidade, trazendo um olhar diferenciado ao animar uma ideia que ao final se concretiza com exuberância na tela. A musicalidade belíssima, convida o espectador a sentir de fato a expressão cultural proposta, possibilitando experienciar uma obra de sotaque, carregada de regionalismo e expressividade. Ousem! Usem todas as ferramentas e instrumentos possíveis para contar suas histórias. Vida longa para toda equipe!”, disse o júri.
A Menção Honrosa da Mostra Mar foi para Senhor da Terra, do Coletivo Ficcionalizar: “Nesta obra, percebe-se mais uma vez as expressões religiosas tendo destaque e ocupando o seu lugar no audiovisual em mostras e festivais no Brasil e no exterior. O filme apresenta a diversidade das formas de pensar a ancestralidade, usando por princípio a sustentabilidade humana, a natureza, a terra, o barro, a medicina não convencional. E isso é transformado diante dos olhos do espectador em cura e muitas outras possibilidades. A coletividade é algo ancestral e o filme já carrega consigo essa forma do pensar e do fazer cinema negro, presenteando-nos com uma obra fascinante de grande importância para o cinema negro nacional”, comentou o júri.
O Cine Terreiro, idealizado por Rodrigo Sena, que realiza ao lado de João Paulo Diogo, com produção de Arlindo Bezerra, é um festival que procura enaltecer e prestigiar o patrimônio imaterial de matriz afro-brasileira e indígena, abraçando também vertentes como o neo xamanismo, e utiliza a exibição de filmes relacionados a essas temáticas como motor para enriquecer o respeito e pertencimento a essas culturas. Dessa maneira, forma-se um público interessado em assistir e discutir filmes sobre esses assuntos, que envolvem mito, religiosidade e cultura de terreiros, podendo contribuir para diminuição da segregação e preconceito contra esses grupos.
A homenageada desta edição foi a atriz mossoroense Tony Silva, que desde 1980 já participou em mais de 50 espetáculos, além de filmes e documentários, e também atuou como oficineira de teatro, em palestras animadas e palhaça.
Conheça os vencedores do Cine Terreiro 2022:
MOSTRA MAR Melhor Filme: Quando Chegar a Noite, Pise Devagar, de Gabriela Alcântara (PE) Menção Honrosa: Onde Aprendo a Falar com o Vento, de André Anastácio e Victor Dias (MG)
MOSTRA GRÃO Melhor Filme: Mineiro de Mina, de Helder da Paixão (MG) Menção Honrosa: Senhor da Terra, de Coletivo Ficcionalizar (PE)
Edelfan, Dell e Delly: três personas dentro de uma mesma história
A 26ª edição do Cine PE – Festival do Audiovisual começou nesta sexta-feira, 09/12, no Teatro do Parque, no Recife, em uma cerimônia apresentada pela atriz pernambucana Nínive Caldas. Considerado uma das maiores vitrines da produção audiovisual brasileira, o evento traz uma programação plural com diversidade de linguagens e narrativas.
A noite de abertura contou com uma homenagem ao cineasta Sergio Rezende, que recebeu o Calunga de Ouro, e com a projeção de Vermelho Monet, de Halder Gomes, primeiro filme da mostra competitiva de longas. Além disso, foi exibido, fora de competição, da Mostra Hors-Concours, o curta-metragem documental A Vida Secreta de Delly, do cineasta pernambucano Marlom Meirelles. Produto final de uma oficina do Cine PE, o filme conta a história de Edelfan Batista, que enfrentou o preconceito e o abandono antes de se tornar a voz dos catadores de Nova Vila Claudete, no Cabo de Santo Agostinho.
O curta-metragem, filmado ao longo de dois dias, descortina uma história real que dialoga com boa parcela da comunidade LGBTQIA+: “Essa história que vai ser contada aqui é a historia de uma personagem muito interessante”, disse Sandra Bertini, diretora geral do festival, no palco do Teatro do Parque. Ela também falou da oficina que rendeu o filme: “Eu encontrei no Complexo Industrial Portuário de Suape uma parceria muito forte para que a gente desenvolvesse essa oficina de documentário em duas comunidades do Cabo de Santo Agostinho: Massangana e Nova Vila Claudete. Tivemos aulas ministradas pelo professor Marlom Meirelles, que passou uma semana lecionando; depois, criamos um roteiro com os participantes da oficina e fomos filmar”.
Edelfan Batista, também conhecido como Delly, subiu ao palco para apresentar o documentário: “A existência desse filme significa muito para nós que somos da Associação de Catadores e Artesãos da Nova Vila Claudete. Eu sou um catador de material reciclável e através da minha história eu espero que todos acreditem que a existência e a significância de catadores na nossa sociedade é muito importante. Espero que vocês vejam e observem de uma maneira mais simples e mais amorosa essas pessoas que fazem com que nosso planeta se torne um mundo melhor para habitar”. E completou: “É muito importante para mim e para nossa associação essa visibilidade de todos que estão aqui e espero que enxerguem o real significado desse filme”.
No dia seguinte à exibição, Delly participou de um debate com o público e jornalistas, mediado pelo crítico Edu Fernandes, que lhe rendeu diversos elogios: “As travestis costumam ser tratadas como lixo, mas você foi no lixo para resgatar a sua dignidade”, disse o cineasta Luiz Carlos Lacerda. Sergio Rezende, Mariza Leão e Halder Gomes também elogiaram a obra.
Durante a conversa, Delly emocionou o público ao falar da sensação de ver sua história contada em um filme: “Tenho 35 anos de idade e eu nunca tinha ido ao cinema. Então, a primeira vez que eu entrei em uma sala de cinema eu me vi na tela. Foi muito forte pra mim. Foi relembrar todas aquelas histórias, mas agora com mais força. Eu chorei, mas eu chorei de alegria. Não como eu chorei de tristeza no dia da gravação. Depois de ver minha história sendo contada eu já não choro mais de tristeza ou de lembranças ruins”.
Delly apresenta o filme ao lado de alguns integrantes da equipe
No bate-papo, também falou sobre algumas inseguranças do passado: “Eu guardei Delly dentro daquele guarda-roupa porque eu tinha sofrido muito. Passei por várias situações que nunca tinha passado. Eu achava que era muito agressivo estar Delly, participar sendo Delly. Então, eu criei Dell, que acabou entrando na minha mente, dentro do meu corpo, pois você não controla seus pensamentos e nem quem você é intelectualmente. Eu nunca abri mão de ser Delly. Eu gosto de ser Delly, eu nasci Delly e vou morrer Delly. Ser Delly hoje é menos complicado do que antes”.
Delly também falou do processo de realização do documentário e do apoio que recebeu: “Pensei em desistir muitas vezes porque minha vida não era o que eu queria apresentar. Eu achava que essa vida não poderia ser mostrada porque me tiraria do eixo de formação no qual eu estava entrando. Mas, durante a gravação, eu tive muito apoio. O professor Marlom me ajudou muito. Ele é uma pessoa muito sensível que sabe lidar com as pessoas. Tive muito apoio de Sandra [Bertini] também”.
E continuou sobre as filmagens: “Passamos horas gravando e tivemos muitas pausas porque eu chorava muito, incontrolavelmente. A equipe de filmagem foi formada por pessoas da nossa convivência, catadores que participaram no som, na claquete. Todo mundo era amador, menos o professor Marlom”.
Durante o debate, Sandra Bertini fez uma declaração: “Eu fico muito feliz por estarmos aqui para conversar sobre o filme. Eu não imaginava que ia me deparar com uma história com tanta significância para mim. Marlom é incrivelmente sensível, uma pessoa que foi predestinada a fazer esse tipo de trabalho. Ele comanda a oficina Documentando, que já conta com mais de cem filmes realizados por pessoas sem experiência no audiovisual. O filme tem um diálogo muito importante e uma historia de vida também muito importante. Delly, você é uma pessoa que venceu e vai vencer ainda mais. Você agora é daqui pra frente”.
Ao final da conversa, Delly revelou: “Ninguém sabia dessa parte da minha historia, nem minha mãe que está aqui comigo. As pessoas me conheciam como Dell, uma pessoa com aparência feminina, mas não travestida de mulher. A filmagem foi muito forte e a única pessoa centrada que conseguia controlar aquele ambiente era o professor. Eu via as lágrimas nos olhos dele, mas ele se controlava. Foi muito impactante. Quando eu comecei a contar e queria parar, ele me falou uma frase que eu jamais vou esquecer: respire e olhe para você porque a sua vez chegou. Essa frase, desde o dia da oficina até hoje, fez com que eu tirasse Delly daquele guarda-roupa”.
O diretor Marlom Meirelles, que não conseguiu marcar presença no debate por estar envolvido em outro projeto, a quarta edição do Curta na Serra, festival de cinema que acontece em Serra Negra, Bezerros, agreste pernambucano, falou com o CINEVITOR por mensagem: “Eu me segurei diversas vezes para não chorar de tão profunda e impressionante que é essa história; com muitas situações envolvidas e desdobramentos. Quando começamos a compartilhar as ideias, eu fui descobrindo mais sobre a vida de Delly. É uma pessoa fantástica. E foi também muito importante criar uma conexão com a comunidade e ver que todos esses agentes locais acabaram sendo protagonistas dessa história”.
A Vida Secreta de Delly já está disponível no site oficial da Oficina Documentando: clique aqui e assista.
*O CINEVITOR está no Recife e você acompanha a cobertura do evento por aqui, pelo canal do YouTube e pelas redes sociais: Twitter, Facebook e Instagram.
Foram anunciados neste sábado, 10/12, os vencedores da 13ª edição do Festival de Cinema de Triunfo em cerimônia realizada no Theatro Cinema Guarany, no Sertão do Pajeú, em Pernambuco. Ao longo do evento, foram exibidas dezenas de filmes, tanto os da Mostra Sesc, uma novidade deste ano, como os 38 participantes, vindos de 12 estados do país nas mostras competitivas com sessões gratuitas e voltadas para todos os públicos.
O Troféu Caretas é concedido aos filmes escolhidos pelos júris oficial e popular, uma referência às tradicionais figuras dos Caretas, manifestação da cultura popular triunfense: “Foram seis dias de exibições com debates, seminários e exibição de obras com temas bastante necessários. Um festival desse tamanho não é possível sem uma equipe competente e queria deixar meu agradecimento a todos os que estiveram envolvidos. Quero agradecer também aos realizadores e a todo mundo da cidade de Triunfo que recebe tão bem esse festival”, comemorou Luciana Poncioni, coordenadora do Audiovisual da Secult-PE e do Festival de Cinema de Triunfo.
Filmes e realizadores de vários estados brasileiros participaram da programação: Pernambuco, Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Bahia, Santa Catarina, Distrito Federal, Goiás, Amazonas, São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais, promovendo um intenso intercâmbio de pensamentos e ideias sobre o audiovisual.
Além dos troféus, também foram distribuídos prêmios aos melhores filmes nas categorias melhor longa-metragem nacional (R$ 4 mil), melhor curta-metragem nacional (R$ 2 mil), melhor curta-metragem pernambucano (R$ 2 mil), melhor curta-metragem infantojuvenil (R$ 2 mil) e melhor curta-metragem dos Sertões (R$ 2 mil). Também foram entregues o Troféu Fernando Spencer, concedido para o melhor personagem da categoria longa-metragem. Já o Troféu Cineclubista, criado pela FEPEC, Federação Pernambucana de Cineclubes, foi para o melhor filme para reflexão.
O time de jurados foi formado por: Maurício Correia, Mísia Coutinho e Samara Almeida na competitiva de longas; e Carlos Kamara, Milena Evangelista e Roberta de Andrade na mostra competitiva de curtas. Além disso, o festival contou com o tradicional Júri Popular, formado por estudantes, professores e produtores culturais do Sertão do Pajeú. Participam desta edição: Luiz Felipe, Kate Saraiva, Bárbara Lino, Douglas Henrique, Eduardo Costa, Nayane Nayse Silva e Júlio César.
Conheça os vencedores do Festival de Cinema de Triunfo 2022:
JÚRI OFICIAL | LONGA-METRAGEM
Melhor Filme: O Bem Virá, de Uilma Queiroz (PE) Melhor Direção: Uilma Queiroz, por O Bem Virá Melhor Atriz: Suzana Castelo, por Delicadeza Melhor Ator: Luciano Pedro Jr, por Carro Rei Melhor Roteiro: O Bem Virá, escrito por Uilma Queiroz Melhor Som: Germino Pétalas no Asfalto, por Julio Matos Melhor Trilha Sonora: Carro Rei, por DJ Dolores Melhor Direção de Arte: Delicadeza, por Mônica Martins Melhor Produção: Carro Rei, por Sérgio Oliveira Melhor Montagem: Germino Pétalas do Asfalto, por Luiza Fagá Melhor Fotografia: O Povo Pode?, por Aldo Ribeiro e Ricardo Stuckert Troféu Fernando Spencer: Jack Celeste, de Germino Pétalas no Asfalto Menção Honrosa: O Povo Pode?, de Max Alvim (DF)
JÚRI OFICIAL | CURTA-METRAGEM
Melhor curta-metragem Nacional: Poder Falar: Uma Autoficção, de Evandro Manchini (RJ) Melhor curta-metragem Pernambucano: Inabitável, de Matheus Farias e Enock Carvalho (Recife) Melhor curta-metragem Infantojuvenil: Capitão Tocha, de Matheus Amorim (GO) Melhor curta-metragem Sertões: Dentra, de Bruna Florie (PE) Melhor Direção: Matheus Farias e Enock Carvalho, por Inabitável Melhor Roteiro: Inabitável, escrito por Matheus Farias e Enock Carvalho Melhor Ator: Evando Manchini, por Poder Falar: Uma Autoficção Melhor Atriz: Luciana Souza, por Inabitável Melhor Fotografia: Andrômeda, por Petrônio Neto Melhor Montagem: Poder Falar: Uma Autoficção, por Evandro Manchini Melhor Produção: Vale do Vento Eterno, por Catarina Doolan, Geórgia Hacradt e Pedro Medeiros Melhor Direção de Arte: Lamento de Força Travesti, por Bianca Feitoza Melhor Trilha Sonora: Vale do Vento Eterno, por Ronaldo Lafayer e Steve Patuta Melhor Som: Nonna, por Jean Gengnagel e Cicero Bordignon Menção Honrosa: Um Filme com Celso Marconi, de Helder Lopes e Paulo de Sá Vieira (Recife); Cabocolino, de João Marcello (Surubim); e Da Boca da Noite à Barra do Dia, de Tiago Delácio (Condado)
JÚRI POPULAR
Longa-metragem Nacional: O Bem Virá, de Uilma Queiroz (PE) Curta-metragem Nacional: Time de Dois, de André Santos (RN) Curta-metragem Infantojuvenil: Rua Dinorá, de Natália Maia e Samuel Brasileiro (CE) Curta-metragem Pernambucano: Inabitável, de Matheus Farias e Enock Carvalho (Recife) Curta-metragem Sertões: Voz do Relho: Um filme sobre Joaneide Alencar, de Leonardo Soares e Raquel Medeiros (PE)
TROFÉU CINECLUBISTA Melhor filme para reflexão: Nossas Mãos São Sagradas, de Júlia Morim (Território Indígena Pankararu e Recife) Menção Honrosa: Poder Falar: Uma Autoficção, de Evandro Manchini (RJ)
PRÊMIOS ABD/APCI Melhor curta-metragem Sertões: Dentra, de Bruna Florie (PE) Melhor curta-metragem Pernambucano: Da Boca da Noite à Barra do Dia, de Tiago Delácio (Condado) Melhor curta-metragem Nacional: Andrômeda, de Lucas Gesser (DF) Melhor curta-metragem Infantojuvenil: Rua Dinorá, de Natália Maia e Samuel Brasileiro (CE)
Cena do documentário All That Breathes, de Shaunak Sen: premiado
Os vencedores da 38ª edição do IDA Documentary Awards, premiação realizada pela International Documentary Association, que elege os documentários mais inovadores do ano na TV, no cinema e em outras plataformas, foram anunciados neste sábado, 10/12, no Paramount Theater, em Los Angeles, em cerimônia apresentada pela atriz e comediante Jenny Yang.
Neste ano, o documentário indiano All That Breathes, dirigido por Shaunak Sen, foi eleito o melhor filme. Na trama, em meio a um cenário cada vez mais sombrio do ar apocalíptico de Deli, capital da Índia, e da violência crescente, dois irmãos se dedicam a proteger uma vítima dos tempos turbulentos: um pássaro conhecido como Black Kite.
O IDA Documentary Awards é considerado o evento de maior prestígio do mundo dedicado ao gênero documentário, celebrando os melhores filmes e programas do ano. Além disso, procura representar a excelência no campo documental de todo o mundo por documentaristas emergentes e também já consagrados.
Conheça os vencedores do IDA Documentary Awards 2022:
MELHOR DOCUMENTÁRIO All That Breathes, de Shaunak Sen (Índia/EUA/Reino Unido)
MELHOR DOCUMENTÁRIO | CURTA-METRAGEM Haulout, de Evgenia Arbugaeva e Maxim Arbugaev (Reino Unido)
MELHOR DOCUMENTÁRIO | MUSICAL Louis Armstrong’s Black & Blues, de Sacha Jenkins
MELHOR DOCUMENTÁRIO PARA TV OU MINISSÉRIE Fannie Lou Hamer’s America: An America ReFramed Special, de Joy Elaine Davenport
MELHOR DIREÇÃO Shaunak Sen, por All That Breathes
MELHOR ROTEIRO Vulcões: A Tragédia de Katia e Maurice Krafft (Fire of Love), escrito por Sara Dosa, Erin Casper, Jocelyne Chaput e Shane Boris
MELHOR FOTOGRAFIA Vulcões: A Tragédia de Katia e Maurice Krafft, por Maurice Krafft, Katia Krafft e Pablo Alvarez-Mesa
MELHOR EDIÇÃO All That Breathes, por Charlotte Munch Bengtsen e Vedant Joshi
MELHOR TRILHA SONORA The Melt Goes On Forever: The Art & Times of David Hammons, por Ramachandra Borcar
PRÊMIO ABC NEWS VIDEOSOURCE Riotsville, U.S.A., de Sierra Pettengill
PRÊMIO PARE LORENTZ All That Breathes, de Shaunak Sen Menção Especial: Nuisance Bear, de Jack Weisman e Gabriela Osio Vanden
PRÊMIO DAVID L. WOLPER | STUDENT DOCUMENTARY Requiem for a Whale, de Ido Weisman (Israel)
MELHOR SÉRIE DOCUMENTAL | CURADORIA POV (PBS)
MELHOR SÉRIE DOCUMENTAL | EPISÓDIOS Origins of Hip Hop (A&E)
MELHOR SÉRIE DOCUMENTAL | CURTA-METRAGEM POV Shorts (PBS)
MELHOR DOCUMENTÁRIO | ÁUDIO Documenting a Death by Euthanasia (The New York Times)
MELHOR DOCUMENTÁRIO DIVIDIDO EM VÁRIAS PARTES We Need to Talk About Cosby, de W. Kamau Bell
MELHOR DOCUMENTÁRIO E/OU SÉRIE DIVIDIDO EM VÁRIAS PARTES | ÁUDIO Stolen: Surviving St. Michael’s (Spotify)
Entre exibições especiais, mostra competitiva e discursos, a noite de abertura da 26ª edição do Cine PE – Festival do Audiovisual, que aconteceu no Teatro do Parque, no Recife, contou também com uma homenagem especial ao cineasta Sergio Rezende.
Nascido no Rio de Janeiro, em 9 de abril de 1951, Sergio cresceu no meio cinematográfico carioca e seus filmes começaram a ser premiados logo cedo, rodando o mundo em festivais. Estreou na ficção em 1982 com O Sonho Não Acabou. Desde então, dirigiu 16 longas metragens, marcados por um forte olhar sobre a sociedade brasileira.
Alternando o tom entre o épico, com Guerra de Canudos, O Homem da Capa Preta, Zuzu Angel e Salve Geral, com o poético, em Quase Nada, Onde Anda Você? e O Cinema é meu Jardim, seus filmes receberam acolhida popular e prêmios nacionais e internacionais. Lançou recentemente O Paciente – O Caso Tancredo Neves, protagonizado por Othon Bastos, em 2018, e O Jardim Secreto de Mariana, com Andreia Horta, em 2021.
Sua filmografia conta também com: Pra Não Dizer que Não Competi, Doida Demais, Até a Última Gota, A Child From The South, Lamarca, Mauá: O Imperador e o Rei, Em Nome da Lei, a série Questão de Família, entre outros.
No palco do Teatro do Parque, ovacionado pelo público, recebeu o troféu Calunga de Ouro das mãos do amigo, e também cineasta, Luiz Carlos Lacerda: “Vinte e cinco anos atrás começou o festival. E 25 anos atrás eu tive aqui na cidade do Recife uma das grandes emoções da minha vida, que foi a primeira sessão pública de Guerra de Canudos. Na plateia, num sábado de manhã, no Cine São Luiz, estava o grande Ariano Suassuna. Estar aqui, 25 anos depois, comemorando a volta do festival presencial e do cinema brasileiro, que sofreu tão amargamente nesses tempos sombrios, é emocionante. Eu sou do cinema, do filme, da sala escura. Eu tenho esperança que isso volte com a força que merece”, disse Rezende em seu discurso.
Na ocasião, foi exibido o curta-metragem Leila Para Sempre Diniz, realizado em 1975, em parceria com sua esposa, a produtora Mariza Leão: “Quando fizemos esse filme, ainda não tínhamos a nossa família. E quando resolvemos fazer esse curta, nós descobrimos a família do cinema. Bigode [apelido do cineasta Luiz Carlos Lacerda] foi uma das pessoas que nos ajudou e aconteceram coisas incríveis. Depois fizemos a nossa própria família, que também é do cinema. Aqui estão: minha filha Julinha [a cineasta Julia Rezende], a caçula, que também é diretora; a Maria, que é montadora; a Mariza, que produziu nossos filmes; e tem o Tiago também, que não está aqui hoje. Agradeço ao festival e por essa sensibilidade desse público de cinema. É um prazer gigantesco estar aqui”, finalizou Sergio.
Amigos no cinema e na vida: Rezende e Bigode
Luiz Carlos Lacerda também discursou: “Eu queria agradecer ao povo do Nordeste, tão querido, por ter garantido ao povo brasileiro a volta da democracia. Há muitos anos atrás, dois jovens bateram na minha porta: esse aqui e a Mariza, querendo fazer um filme sobre a Leila Diniz, que foi minha grande amiga. E eu fiquei espantado com a ousadia deles. Sergio é um grande cineasta que reescreve a história brasileira através dos seus filmes”.
No dia seguinte à homenagem, Rezende participou de uma coletiva de imprensa, que foi mediada pelo crítico Edu Fernandes: “Nos últimos tempos, eu pensei muito. Não em parar, mas em ser parado. De repente eu comecei a ver as coisas se fechando, se afunilando. Porque eu vejo que no Brasil de hoje em dia há uma coisa contraditória: o audiovisual está bombando loucamente, mas o cinema está num buraco. Para a minha geração, o telefona não toca muito. Mas, nada pode me impedir de fazer cinema. E mantenho assim. Eu farei cinema, ninguém vai me impedir. Mas, dessa maneira, eu não consigo mais fazer um Guerra de Canudos. Eu quero me expressar até o fim da vida”.
Mariza Leão, que também estava presente na coletiva, conversou com o público: “Tenho visto com muita alegria um investimento mais pensado na diversidade, pensado em corrigir essa quantidade de filmes de mulheres que é muito pequena em relação aos homens. Mas eu também estava pensando que não tem um edital para os mestres: a Tizuka [Yamasaki], o José Joffily, Hermanno Penna, os irmãos Carvalho. Isso quer dizer alguma coisa, ou seja, um certo etarismo, que eu acho muito cruel. Não será através do mercado ou plataformas que isso será corrigido. É preciso que tenha um olhar institucional, de Estado, que diga que terá um edital para os mestres, por exemplo. Os que já fizeram e querem continuar fazendo”, finalizou.
*O CINEVITOR está no Recife e você acompanha a cobertura do evento por aqui, pelo canal do YouTube e pelas redes sociais: Twitter, Facebook e Instagram.
Sol Miranda no longa brasileiro Regra 34, de Julia Murat: filme premiado
Foram anunciados nesta sexta-feira, 09/12, os vencedores da 43ª edição do Festival Internacional del Nuevo Cine Latinoamericano, também conhecido como Festival de Havana, realizado pelo ICAIC, Instituto Cubano del Arte e Industria Cinematográficos.
O evento, que acontece desde 1979, surgiu com a intenção de se tornar uma continuação dos festivais de Viña del Mar, Mérida e Caracas, reunindo filmes e cineastas que representam as tendências cinematográficas mais inovadoras da América Latina.
Os filmes em competição, que concorrem ao Prêmio Coral, são divididos em categorias: ficção, documentário e animação. O cinema brasileiro ganhou destaque na premiação: Regra 34, de Julia Murat, recebeu o Prêmio Especial do Júri; Mato Seco em Chamas, de Adirley Queirós e Joana Pimenta, foi consagrado nas categorias de melhor fotografia e trilha sonora, além de ter sido eleito o melhor filme pelo júri da FIPRESCI, Federação Internacional de Críticos de Cinema.
Entre os curtas-metragens, Chão de Fábrica, de Nina Kopko, levou o Prêmio Coral de melhor filme; a animação documental Cadê Heleny?, de Esther Vital, recebeu Menção Honrosa do júri. Bob Cuspe – Nós Não Gostamos de Gente, de Cesar Cabral, foi eleito o melhor longa de animação; e A Noite do Fogo, de Tatiana Huezo, coprodução entre México, Alemanha, Brasil e Qatar, recebeu Menção Honrosa na competição de filme de estreia.
Além disso, o cinema brasileiro também marcou presença com outros títulos, como: Três Tigres Tristes, de Gustavo Vinagre, na competição de longas de ficção; os curtas Fantasma Neon, de Leonardo Martinelli, e Manhã de Domingo, de Bruno Ribeiro; os documentários Edna, de Eryk Rocha, e Amigo Secreto, de Maria Augusta Ramos; os longas Carvão, de Carolina Markowicz, e Fogaréu, de Flávia Neves, na competição deprimeiro filme; o curta Uma Paciência Selvagem me Trouxe Até Aqui, de Érica Sarmet, na mostra Latinoamérica en Perspectiva; Estamos Bem, de Maria Emília Oliveira de Azevedo e Marcelo Rodrigues Esteves, na competição de roteiros inéditos; as animações Cadim, de Luiza Pugliesi Villaça; O Autor, de Luiz Máximo; Tarsilinha, de Celia Catunda e Kiko Mistrorigo; Todos Já Foram para Marte, de Telmo Carvalho; Perlimps, de Alê Abreu; e La otra forma, de Diego Felipe Guzmán Ramírez, uma coprodução entre Colômbia e Brasil.
E mais: os longas Carro Rei, de Renata Pinheiro; Lutar, Lutar, Lutar, de Sérgio Borges e Helvécio Marins Jr.; Quem tem Medo?, de Dellani Lima, Henrique Zanoni e Ricardo Alves Jr.; Um Outro Francisco, de Margarita Hernández; e Deserto Particular, de Aly Muritiba, na Latinoamérica en Perspectiva. Na disputa pelo melhor cartaz, obras brasileiras também concorreram, como: As Portas Abertas, de Damian Alferez; Kevin, de Binho Barreto; Los cuerpos resisten, de Jorge Luiz; Lágrima Negra em Pele de Loba, de Guilherme Bonini; Madrugada, de Anna Livia T. Monahan; Memória Sufocada, de Thiago Lacaz; e Fragments à Céline, de Diego Cordero, uma coprodução entre Brasil e Chile.
O time de jurados deste ano foi formado por: Roberto Perpignani, Bárbara Díez, Víctor Fowler Calzada, Iván Molina Velásquez e pelo brasileiro Gabriel Mascaro nos longas de ficção; José Ramón Mikelajáuregui, Joserraul Ortiz e Tahimí Alvariño na competição de primeiro filme; María Campaña Ramia, Juan Carlos Vázquez Velasco e Velia Díaz de Villalvilla nos documentários; Tommaso Santambrogio, Eduardo del Llano Rodríguez e a brasileira Alana Simões nos curtas-metragens; José Ignacio Navarro, Antonio Enrique González Rojas e a brasileira Nara Normande nos filmes de animação; Norge Espinosa, Mónica Lozano Serrano e a brasileira Eleonora Loner nos roteiros inéditos; Lyly Díaz, Concha Fontela San Juan e o brasileiro Felipe Taborda nos cartazes; e Alfonso Aguilar, Daniel Céspedes Góngora e Carlo Gentile no Prêmio FIPRESCI.
Conheça os vencedores da 43ª edição do Festival de Havana:
FICÇÃO | LONGA-METRAGEM | PRÊMIO CORAL
Melhor Filme: El gran movimiento, de Kiro Russo (Bolívia/França) Prêmio Especial do Júri: Regra 34, de Julia Murat (Brasil/França) Melhor Direção: Kiro Russo, por El gran movimiento Melhor Atriz: Julia Chávez, por El otro Tom Melhor Ator: Ricardo Darín, por Argentina, 1985 Melhor Roteiro: Argentina, 1985, escrito por por Santiago Mitre e Mariano Llinás Melhor Fotografia: Mato Seco em Chamas, por Joana Pimienta Melhor Direção de Arte: Argentina, 1985, por Micaela Saiegh Melhor Edição: El gran movimiento, por Kiro Russo e Pablo Paniagua Melhor Trilha Sonora Original: Mato Seco em Chamas, por Muleka 100 Calcinha Melhor Som: El gran movimiento, por Mercedes Tenina e Mauricio Miguel Quiroga
DOCUMENTÁRIO | LONGA-METRAGEM | PRÊMIO CORAL
Melhor Filme: Eami, de Paz Encina (Paraguai/Argentina) Prêmio Especial do Júri: El silencio del topo, de Anaís Taracena (Guatemala)
CURTAS-METRAGENS | PRÊMIO CORAL
Melhor Filme | Ficção: Chão de Fábrica, de Nina Kopko (Brasil) Prêmio Especial do Júri | Ficção: Estrellas del desierto, de Katherina Harder (Chile) Melhor Filme | Documentário: Abisal, de Alejandro Alonso (Cuba/França) Prêmio Especial do Júri | Documentário: Cadê Heleny?, de Esther Vital (Brasil/Espanha)
PRIMEIRO FILME | PRÊMIO CORAL
Melhor Primeiro Filme: Amparo, de Simón Mesa Soto (Colômbia/Suécia/Alemanha/Qatar) Prêmio Especial do Júri: 1976, de Manuela Martelli (Chile/Argentina) Prêmio Contribuição Artística: La jauría, de Andrés Ramírez Pulido (Colômbia/França) Menção Honrosa: Clara Sola, de Nathalie Álvarez Mesén, e A Noite do Fogo, de Tatiana Huezo
ANIMAÇÃO | PRÊMIO CORAL
Melhor longa: Bob Cuspe – Nós Não Gostamos de Gente, de Cesar Cabral (Brasil) Melhor curta: Bestia, de Hugo Covarrubias (Chile) Prêmio Especial do Júri: Mi casa está en otra parte, de Carlos Hagerman e Jorge Villalobos (México)
OUTROS PRÊMIOS
Prêmio Coral de pós-produção: La suprema, de Felipe H. Caro (Colômbia) Prêmio Arrecife: Un varón, de Fabián Hernández (Colômbia/França/Holanda/Alemanha) Prêmio SIGNIS: Argentina, 1985, de Santiago Mitre (Argentina) Prêmio FIPRESCI: Mato Seco em Chamas, de Adirley Queirós e Joana Pimenta (Brasil/Portugal) Melhor Cartaz: Agua, de Gonzalo Fontano (México) Prêmio Roteiro Inédito: Micaela, de José Fernández Del Río (Peru) Prêmio Coral Honorário: Silvio Rodríguez
Aos 92 anos, o ator emocionou o público com seu discurso
Além da premiação, a noite de encerramento da 17ª edição do Fest Aruanda do Audiovisual Brasileiro também foi marcada pela homenagem ao consagrado ator e cantor Tony Tornado pelo conjunto da obra em mais de seis décadas de trajetória artística.
Ovacionado pelo público, o artista recebeu o Troféu Aruanda das mãos do amigo José Maria Pereira Lopes, jornalista com mais de 50 anos de experiência na televisão brasileira cuidando da preservação e conservação do audiovisual. Na ocasião, também foi exibido um VT produzido pelo Canal Brasil e um trecho do programa Som Brasil, da TV Tupi, veiculado em 1979, com imagens de Tony.
Em seu discurso, emocionou o público: “Vou parodiar William Shakespeare: tudo é bom quando termina bem. Por isso eu estou aqui agora. A luta foi insana, foi dura. Mas nós conseguimos. Hoje eu posso me dar ao luxo de ver na maioria dos produtos a presença de dois ou três pretos. Era essa a nossa intenção. Ser visto, valorizado. Precisávamos de espaço e agora estamos ganhando esse espaço. Eu me sinto muito recompensado com tudo isso. Isso aqui é por todos nós, por toda nossa luta. Conseguimos, irmãos! E vamos conseguir mais. Porque esse espaço nos pertence. É um direito nosso. E eu vou lutar por isso até o fim da minha vida. Eu prometo!”.
Ainda sob muitos aplausos do público, Tony finalizou seu discurso muito emocionado: “Nasci no dia 26 de maio de 1930. São 92 anos! Eu fico muito emocionado e grato por esse carinho. Nunca me fizeram uma homenagem dessas. Obrigado!”.
Antônio Viana Gomes nasceu na cidade de Mirante do Paranapanema, no estado de São Paulo. Iniciou sua carreira artística nos anos 1960 com o nome artístico de Tony Checker, dublando e dançando no programa Hoje é dia de Rock, de Jair de Taumaturgo. Nessa época, Tony fazia cover dos cantores Chubby Checker e Little Richard. Morou em Nova York com o cantor Tim Maia e foi influenciado pela soul music. Foi vencedor do V Festival Internacional da Canção com a música BR-3, fato que marcou sua carreira como músico no Brasil.
No cinema, estreou como ator em Tô na Tua, Ô Bicho, em 1971, comédia de Raul Araujo, no qual atuou ao lado de Costinha, Agildo Ribeiro e Nair Bello. Ficou conhecido por seu inúmeros trabalhos em longas da pornochanchada, entre os anos 1970 e 1980, além de atuar em filmes consagrados como Pixote: A Lei do Mais Fraco e Carandiru, ambos de Hector Babenco.
Na TV também ganhou destaque em diversos trabalhos, como: Roque Santeiro, Tenda dos Milagres, Vamp, Sex Appeal, Quatro por Quatro, Caça Talentos, O Beijo do Vampiro, A Diarista, Cordel Encantado, Amor Eterno Amor, Carcereiros, entre muitos outros.
Para celebrar esse momento especial, registramos os melhores momentos da homenagem, da entrega do Troféu Aruanda e do discurso emocionante.
Aperte o play e confira:
*O CINEVITOR esteve em João Pessoa e você acompanha a cobertura do evento por aqui, pelo canal do YouTube e pelas redes sociais: Twitter, Facebook e Instagram.
A 73ª edição do Festival de Berlim, que acontecerá entre os dias 16 e 26 de fevereiro de 2023, anunciou nesta sexta-feira, 09/12, que a atriz, roteirista e diretora norte-americana Kristen Stewart será a presidente do Júri Internacional do próximo ano.
Ao lado de outros nomes consagrados, que serão anunciados em breve, Kristen terá a missão de escolher os grandes vencedores do Urso de Prata e do Urso de Ouro, considerados os prêmios mais importantes do evento.
Em comunicado oficial, os diretores do festival, Mariette Rissenbeek e Carlo Chatrian, disseram: “Estamos empolgados com Kristen Stewart assumindo essa tarefa distinta. Ela é uma das atrizes mais talentosas e multifacetadas de sua geração. De Bella Swan à Princesa de Gales, ela deu vida a personagens eternos. Jovem, brilhante e com um trabalho impressionante, Kristen Stewart é a ponte perfeita entre os Estados Unidos e a Europa”.
Kristen Stewart é considerada um dos maiores jovens talentos de Hollywood e estreou nas telonas em 1999, aos nove anos. Na sequência, em 2022, protagonizou, ao lado de Jodie Foster, o suspense O Quarto do Pânico, de David Fincher, que a fez alcançar um maior reconhecimento público. Sua descoberta internacional veio com a saga Crepúsculo em cinco partes. Em 2010, participou da Berlinale com a produção independente Corações Perdidos (Welcome to the Rileys), de Jake Scott. Neste mesmo ano, recebeu um prêmio de revelação no BAFTA.
Em 2014, atuou ao lado de Juliette Binoche em Acima das Nuvens, do cineasta francês Olivier Assayas, e em 2015 tornou-se a primeira americana a receber o Prêmio César por sua atuação no longa. Ela continuou seu trabalho com Assayas em 2016 como protagonista de Personal Shopper. No ano seguinte, comemorou sua estreia como diretora e roteirista no curta Come Swim. Em 2018, integrou o júri da Competição Oficial do Festival de Cannes.
Em 2019, fez uma incursão no gênero de ação em As Panteras, filme dirigido por Elizabeth Banks, e teve uma atuação elogiável na cinebiografia Seberg, de Benedict Andrews, sobre a atriz Jean Seberg, que teve sua estreia mundial no Festival de Veneza. Em 2020, apresentou seu novo trabalho como diretora: o curta Crickets. Recentemente, encantou o público como a princesa Diana no drama Spencer, de Pablo Larraín, recebendo indicações ao Oscar e ao Critics Choice de melhor atriz. Também atuou em Crimes of the Future, de David Cronenberg, e finalizou os longas Love Me, no qual contracena com Steven Yeun, e Love Lies Bleeding, de Rose Glass.
Kristen Stewart se tornou uma das mais eminentes atrizes internacionais, emocionando o público e a crítica. Atualmente está na pré-produção de seu primeiro longa-metragem como diretora, que será uma adaptação cinematográfica do best-seller The Chronology of Water, de Lidia Yuknavitch.
Elenco: Gregory Mann, Ewan McGregor, David Bradley, Burn Gorman, Ron Perlman, John Turturro, Finn Wolfhard, Cate Blanchett, Tim Blake Nelson, Christoph Waltz, Tilda Swinton, Tom Kenny, Alfie Tempest, Anthea Greco, Francesca Fanti, Sandro Carotti, Rio Mangini, Benjamin Valic, Sky Alexis, Ariana Molkara, Roy Halo, Luciano Palmeri, Peter Arpesella, Alessia Bonacci, Luca Manganaro, Giuseppe Russo.
Ano: 2022
Sinopse: Uma versão mais sombria do clássico conto de fadas infantil, de Carlo Collodi, onde um boneco de madeira, em um passe de mágica, ganha vida para trazer esperança ao coração de um homem chamado Gepeto. Ambientado na Itália, nos anos 1930, Pinóquio embarca em uma jornada de aventuras e confusões para se tornar um menino de verdade.