Elenco: Alice Marcone, Helena Albergaria, Carol Duarte, Joana Castro.
Ano: 2021
Sinopse: 1979. As máquinas desligam para o horário do almoço dentro de uma metalúrgica de São Bernardo do Campo. Quatro operárias comem dentro do banheiro feminino. Entre risos e conflitos, cada uma guarda o seu segredo.
*Clique aqui e leia a entrevista exclusiva com a diretora.
*Filme visto no 10º Olhar de Cinema – Festival Internacional de Curitiba.
O filme reprisa na quinta-feira, 14/10, na programação do festival.
Com atuação nas áreas de roteiro, assistente de direção, consultoria de projetos e preparação de elenco, Nina Kopko estreia na direção com o curta-metragem Chão de Fábrica, exibido, pela primeira vez, na mostra competitiva da décima edição do Olhar de Cinema – Festival Internacional de Curitiba.
Com roteiro escrito em colaboração com Tainá Muhringer e produzido por Letícia Friedrich, o filme começa em 1979 quando as máquinas desligam para o horário do almoço dentro de uma metalúrgica de São Bernardo do Campo. Quatro operárias comem dentro do banheiro feminino. Entre risos e conflitos, cada uma guarda um seu segredo. O elenco conta com Alice Marcone, Helena Albergaria, Carol Duarte e Joana Castro.
Nina, que foi diretora assistente dos filmes A Vida Invisível, de Karim Aïnouz, e O Silêncio do Céu, de Marco Dutra, é tutora do Laboratório de Roteiros da Escola Porto Iracema das Artes desde 2018. Além disso, está em pré-produção de seu primeiro longa, Ranço de Amor, vencedor do edital Start Money da Spcine e produzido pela RT Features.
Para falar mais sobre Chão de Fábrica, seu primeiro curta-metragem, entrevistamos a diretora por e-mail. Confira:
Chão de Fábrica retrata quatro operárias de uma metalúrgica de São Bernardo do Campo. Como surgiu a ideia desse roteiro e quais foram suas referências?
A ideia começou quando vi a peça O Pão e a Pedra, da Companhia do Latão. O curta é inspirado numa cena curtinha da peça. Lembrei dos filmes que tinha visto na faculdade, sobre a greve do ABC, e como a presença de mulheres era ínfima. Me perguntei onde elas estavam na greve, se quase 30% da força operária nesse momento no ABC era de mulheres. Conversei com a atriz Helena Albergaria e com a pesquisadora Maria Lívia, e descobri que muitas mulheres operárias desse momento eram obrigadas a almoçar dentro do banheiro feminino. Então, por curiosidade, vi o filme Trabalhadoras Metalúrgicas, da Olga Futemma, e entendi que as mulheres estiveram na greve em menor número por conta da dificuldade da jornada dupla de trabalho (fábrica e casa/família) – a jornada tripla, incluindo aí as atividades sindicais, eram poucas que podiam fazer. Mas elas estiverem lá na grande greve, ainda que a gente veja pouco. E eu quis falar sobre isso.
O filme da Futemma se tornou uma grande referência, não só de pesquisa mas de inspiração cinematográfica. Depois disso foi um longo percurso de pesquisas e escritas de roteiro ao lado da Tainá Muhringer. São muitas as referências que eu visitei durante esse processo. Acredito muito nos filmes como uma espécie de constelação, onde você conversa, responde e resgata muitas obras. Vou citar aqui as mais importantes pra mim, por diferentes razões: A Dupla Jornada, de Helena Solberg; Eles Não Usam Black-Tie, de Leon Hirszman; Wanda, de Barbara Loden; o cinema todo do Carlos Reichenbach; um episódio daquela série A Família Dinossauros que me marcou ainda na infância e que fala de uma dinossaura operária assediada e que sofre para conquistar seus direitos; os textos da Simone Weil e da Silvia Federici; e a própria obra da Companhia do Latão, que foi um lugar que estudei muito em várias oficinas com o Sergio Carvalho e a Helena Albergaria.
A diretora nos bastidores das filmagens.
Com uma carreira consolidada no cinema, em diversas áreas, Chão de Fábrica é seu primeiro curta-metragem como diretora. Para você, qual a importância de ter sido selecionada para um festival tão prestigiado como o Olhar de Cinema? Como tem sido a repercussão do público?
Acho que toda a minha trajetória no cinema é uma espécie de grande percurso para me tornar diretora. Comecei como montadora, depois trabalhei com desenvolvimento de projetos, passei para assistência de direção e hoje sou roteirista e preparadora de elenco, além de ter feito duas direções assistente, que é uma função que você contribui e cria bastante ao lado da direção. Acho que todas essas experiências me deram uma noção do todo do que é realizar um filme. E, no fim, é tudo sobre criar histórias. Acho que a melhor maneira de me autodefinir é como contadora de histórias.
Mas eu demorei para entender que realmente queria dirigir também, para ter a coragem de investir nesse caminho até chegar no Chão de Fábrica. Mas eu não queria realizar um filme para provar para mim mesma que era capaz. Isso não fazia sentido. Eu queria contar uma história sobre um tema que me perturbasse, queria dividir algo com o público que eu achasse muito importante, que conversasse com as inquietações do presente. E foi assim que Chão de Fábrica surgiu, quando meses depois de ver a peça do Latão eu ainda não conseguia parar de pensar nessas mulheres e no quanto isso falava das mulheres trabalhadoras de hoje, da história delas e quem são (somos) hoje.
Estrear nesse festival de repercussão internacional é algo lindo, me sinto muito sortuda com essa estreia. A repercussão está sendo ótima, ontem foi a primeira sessão desse filme no mundo e recebi muito carinho e retornos emocionados das pessoas que assistiram. Estou numa alegria gigante hoje. Sinto que o que eu mais queria com esse curta começou a acontecer: as pessoas se conectaram com essas quatro personagens de forma muito íntima.
As atrizes Joana Castro e Carol Duarte em cena.
Sobre o elenco, como surgiu a ideia de trabalhar com essas atrizes? Como foi o processo de preparação e o entrosamento no set?
Complementando a pergunta anterior, eu também queria aproveitar a condução da direção de um filme para experimentar algo que venho pesquisando há um tempo: escrever o roteiro na sala de ensaio, junto do processo com as atrizes. Algo semelhante com que algumas companhias fazem no teatro e alguns raros diretores de cinema fizeram, como o John Cassavetes, Mike Leigh, Rainer Werner Fassbinder. E assim chegamos na sala de ensaio dois meses antes de filmar com uma V3 do roteiro, onde a estrutura estava bem sólida, mas havia lacunas e espaço de construção das personagens, dos diálogos, das ações e desenhos de cenas. Durante duas semanas investigamos e experimentamos muitas coisas juntas e no fim do processo eu escrevi a versão final do roteiro que é essa filmada. A minha experiência de roteirista e de preparadora de elenco trabalhando juntas, sabe? Foi dos processos mais bonitos em criação que já vivi.
E para fazer esse filme eu precisava de atrizes excelentes e que também fossem minhas amigas, porque o filme não tem nenhum financiamento, não existia cachê. Então, desde o início eu sabia que seriam elas quatro as atrizes do filme, e eu e a Tainá fizemos o primeiro desenho das personagens pensando muito nelas. Na verdade, só a Joana Castro eu não conhecia muito bem pessoalmente, mas era completamente apaixonada pela interpretação dela. E por sorte ela também topou, mesmo antes de ficarmos amigas. O entrosamento foi total. Inclusive porque tivemos esse longo período na sala de ensaio. Eu acredito que preparar um elenco é, em grande medida, criar o ambiente necessário para que os atores criem intimidades e se construam as relações.
Como você acredita que Chão de Fábrica possa dialogar com o público e com o Brasil atual?
O filme fala de muitas coisas sobre o presente, apesar de ser um filme sobre o passado. Ele chega até o presente, até os dias de hoje, tem alguns saltos temporais. Eu falo do passado com pés totalmente cravados no presente. Eu chego com essas personagens nos dias de hoje. Acho que só por esses apontamentos de futuro já fica um pouco evidente sobre o que eu estou querendo falar; sobre essa trajetória da mulher trabalhadora no Brasil nos últimos quarenta anos. Estamos vivendo um momento de perdas de direito; os poucos direitos conquistados pelos trabalhadores nesses últimos quarenta anos estão sendo soterrados, jogados fora e estrangulados. Acho que o filme fala muito disso também. Eu gostaria de conversar sobre isso, sobre a vida dos trabalhadores em geral, não só os de fábrica. Dessa nova grande escala de serviço terceirizado onde você não tem um vínculo empregatício. Estamos falando realmente de um abandono e de um desamparo muito grande para quem trabalha. Eu acho que essa é uma das facetas que o filme pretende conversar com o momento atual.
O que me interessa muito é que as pessoas criem uma relação com essas personagens, com essas quatro mulheres. Claro que estou falando das mulheres trabalhadoras como um todo, das mulheres metalúrgicas, das trabalhadoras em geral, mas, elas não representam todas. Elas são quatro e são específicas, contraditórias e únicas. Meu desejo é sempre que, da maneira como eu construo, como eu escrevo historias, do que eu espero atingir no publico, é que se crie essa relação íntima e provocativa também com essas quatro personagens.
*Chão de Fábrica reprisa na quinta-feira, 14/10, na programação do Olhar de Cinema.
Entrevista e edição: Vitor Búrigo Fotos: Carol Aó e Dayse Barreto
Hello, Sidney: Neve Campbell e Courteney Cox em cena.
Dirigido por Wes Craven e lançado em dezembro de 1996, Pânico arrecadou mais de 600 milhões de dólares no mundo todo. Sucesso de público e de crítica, o terror foi eleito pela conceituada Cahiers du Cinéma como um dos dez melhores filmes do ano.
Depois disso, Pânico 2 foi lançado em 1997, seguido por Pânico 3, que chegou aos cinemas em fevereiro de 2000. O quarto filme da franquia estreou onze anos depois, em abril de 2011. A trama principal segue em torno da personagem Sidney Prescott, interpretada por Neve Campbell, uma jovem que se torna vítima de uma sucessão de assassinos que adotam o disfarce de Ghostface para perseguir e atormentar suas vítimas.
Agora, vinte e cinco anos após uma série de assassinatos brutais chocar a tranquila cidade de Woodsboro, um novo assassino se apropria da máscara de Ghostface e começa a perseguir um grupo de adolescentes para trazer à tona segredos do passado mortal da cidade.
O novo longa, dirigido por Matt Bettinelli-Olpin e Tyler Gillett, traz novamente no elenco papéis icônicos da franquia: Neve Campbell, como Sidney Prescott; Courteney Cox, como Gale Weathers; e David Arquette, como Dewey Riley.
O novo Pânico, que chegou a receber o título provisório de Scream 5 (ou Pânico 5), tem estreia marcada para 13 de janeiro de 2022 e traz também uma nova geração de atores promissores de Hollywood como: Jack Quaid, Jenna Ortega e Melissa Barrera, além de Kyle Gallner, Mason Gooding, Mikey Madison, Dylan Minnette, Marley Shelton, Jasmin Savoy Brown e Sonia Ammar.
Sinopse: Um grupo de garotas, com idades entre 7 e 19 anos, guiam o filme pela histórica coleção de arte do Museum der bildenden Künste, de Leipzig, na Alemanha. Entre uma obra de arte e outra, de século a século, as meninas contam o que elas enxergam.
Crítica: A ideia da cineasta Shelly Silver em documentar um grupo de garotas, entre 7 e 19 anos, analisando uma exposição em um museu da Alemanha é muito interessante. Cada percepção faz um contraponto instigante em relação ao mundo atual com a data das obras de arte. Aqui, falam de poder, ganância, classes sociais, inocência infantil, inveja, machismo, opressão, objetificação, entre tantos outros temas relevantes. A comparação entre as obras e artistas também ganha destaque no filme. Outro ponto que deixa o documentário ainda mais atraente é como algumas delas analisam as pinturas e esculturas de acordo com suas vivências e realidades. Enquanto uma compreende a perturbação do artista, outra analisa a evolução da arte ao longo dos anos. Há espaço também para debater como as mulheres eram retratadas em outras épocas. Ao desenrolar da narrativa, o espectador cria uma certa intimidade com cada personagem, que logo imprime sua personalidade em cena: entre elas, há aquela que compara todas as pinturas com a sua vida, a outra que percebe a forte presença masculina entre os artistas e também a que traz uma visão sobre desigualdade social. São muitas e interessantes visões e análises. Tais observações também dão espaço a reflexões sobre novas percepções artísticas diante de olhares diversos. Porém, o documentário de Shelly Silver perde força no ritmo. Ainda que apresente uma proposta curiosa com debates importantes, a narrativa torna-se repetitiva e não apresenta outras opções de abordagem. Mas, ainda assim, o conteúdo de suas entrevistadas domina a projeção. Garotas | Museu é, ao mesmo tempo, provocativo e estimulante. Com isso, apresenta-se como uma obra repleta de discussões profundas e necessárias. (Vitor Búrigo)
*Filme visto no 10º Olhar de Cinema – Festival Internacional de Curitiba.
Neste ano, a programação conta com 130 filmes, representando 30 países e divididos em sete mostras. Dando os primeiros passos para a retomada da normalidade, o festival acontecerá em formato híbrido com transmissão on-line pela Festhome TV e projeções presenciais na tradicional sala Estação NET Botafogo.
O festival é exclusivamente dedicado à exibição e à promoção de obras audiovisuais de curta-metragem. O evento exibe trabalhos finalizados em suportes digitais, com duração máxima de 30 minutos, e tem caráter competitivo e informativo. Além disso, é qualificador para importantes prêmios da indústria audiovisual, como o Oscar, BAFTA, Prêmio Goya e Grande Prêmio do Cinema Brasileiro.
Conheça os filmes selecionados para o Curta Cinema 2021:
COMPETIÇÃO NACIONAL
A Destruição do Planeta Live, de Marcus Curvelo (BA) A Fome de Lázaro, de Diego Benevides (PB) Afetadas, de Jean Oliveira (PE) Aonde Vão os Pés, de Débora Zanatta (PR) Ato, de Bárbara Paz (MG) Belos Carnavais, de Thiago Mendonça (SP) Cantareira, de Rodrigo Ribeyro (SP) Carta ao Magrão, de Pedro Asberg (RJ) Céu de Agosto, de Jasmin Tenucci (SP) Colmeia, de Maurício Chades (DF) Como Respirar Fora d’Água, de Júlia Fávero e Victoria Negreiros (SP) Custódia, de Vinícuis Sassine (DF) Eco de um Soco no Osso, de Gabriela Giffoni (RJ) Enterrado no Quintal, de Diego Bauer (AM) Foi um Tempo de Poesia, de Petrus Cariry (CE) Hawalari, de Cássio Domingos (SP) Henriqueta, de Anna Azevedo (RJ) Igual/Diferente/Ambas/Nenhuma, de Adriana Barbosa e Fernanda Pessoa (SP) Ilha do Sol, de Lucas Parente e Rodrigo Lima (RJ) Impermanentes, de Manoel Batista e Júlio Castro (RN) Lençol Branco, de Rebecca Moreno (MG) Meus Santos Saúdam Teus Santos, de Rodrigo Antônio Silva (AM) O Durião Proibido, de Txai Ferraz (PE) Quando o Vento Bate ao Sul, de Pedro Henrique Ferreira (RJ) Rafameia, de Nanda Félix e Mariah Teixeira (PB) Serrão, de Marcelo Lin (MG) Sideral, de Carlos Segundo (RN) Tom, de Felippe Steffens (DF) Vagalumes, de Léo Bittencourt (RJ)
COMPETIÇÃO INTERNACIONAL
Abisal, de Alejandro Alonso (Cuba) Anxious Body, de Yoriko Mizushiri (Japão) Apallou, de Niko Avgoustidi (Grécia/França) Bestia, de Hugo Covarrubias (Chile) Crisis, de Leopold Maurer (Áustria) Cumbres y Cenizas, de Fernando Criollo (Peru) Dad’s Sneakers, de Olha Zhurba (Ucrânia) Daily Massacre in Tehran, de Hessam Hamidi (Irã) Det Er i Jorden, de Casper Kjeldsen (Dinamarca) Ella i Jo, de Jaume Claret (Espanha) Fanmi, de Carmine Pierre-Dufour e Sandrine Bourdeur-Desrosier (Canadá) Hair Tie, Egg, Homework Books, de Runxiao Luo (China) Haut Les Coeurs, de Adrian Moyse Dullin (França) Hilum, de Don Josephus e Raphael Eblahan (EUA/Filipinas) I Gotta Look Good For The Apocalypse, de Ayce Kartal (Turquia) In Flow Of Words, de Eliane Esther Bots (Holanda) Inherent, de Nicolai G.H. Johansen (Dinamarca) Lili Alone, de Jing Zou (China) Love, Dad, de Diana Cam Van Nguyen (República Checa) Noite Turva, de Diogo Salgado (Portugal) Piko i Brunatny, de Przemek Węgrzyn (Polônia) Planuri de Vacanta, de Alexandru Mironescu (Romênia) Playa Chica, de Ignacio Vuelta (Espanha) Ronde de Nuit, de Julien Regnard (França) Silent Storm, de Grace Hsia (China) Soft Animals, de Renee Zahn (Reino Unido) Some Kind of Intimacy, de Toby Bull (Reino Unido) Swallow The Universe, de Nieto (França) New Abnormal, de Sorayos Prapapan (Tailândia) Trumpets in The Sky, de Rakan Mayasi (Palestina) Tundra, de José Luis Aparicio (Cuba) Vodka Rusi, de Seyed Payam Hosseini (Irã) We Won’t Forget, de Edgar Morais e Lucas Elliot Eberl (EUA) Zahlvaterschaft, de Mortiz Siebert (Alemanha)
PANORAMA CARIOCA
1º Turno, de Clementino Júnior Alágbedé, de Safira Moreira Atira-te ao Rio, de Carla Bohler Ava, de Stella Brajterman As Canções de Amor de uma Bicha Velha, de André Sandino Dois Meninos na Sala, de Felipe Nepomucemo Entreaberta, de Bruna Amorim Gargaú, de Bruno Ribeiro Intervalo, de Ludmila Curi Janelas Daqui, de Luciano Vidigal e Arthur Sherman Milton Freire, um Grito para Além da História, de Vitor Abreu Murada, de Ralph Campos Pytuhem: Uma Carta em Defesa dos Guardiões da Floresta, de Mariana Villas-Bôas Quando o Sol Se Põe, de Constancia Laviola Carreiro Teatro Iguaçuano: Arcádia, de Gabriel Fontoura e Gabriel Ribeiro Tudo Bem, de Caio Cézar Dias Oliveira Um Acidente, de Gabriel Medeiros
PANORAMA LATINO-AMERICANO
Año Sabático, de David David (Colômbia) Barrio Frontera, de Reed Purvis (Argentina/EUA) Bobbin, de Virginia Scaro (Argentina) Cinco de Junio, de Humberto Flores Jáuregui (México) La Tarea, de Juan Diego Aguirre Gómez (Colômbia) La Esperanza, de Edna Sierra Duque e Wilson Aranco (Colômbia) Las Partes Perdidas, de Iñaki Dubourg (Argentina) Los Pajaros Vuelan de a dos, de Juan Felipe Grisales (Colômbia) No nos Soltemos Más, de Alkisti Efthymiou (Chile) Olote, de Lau Charles (México) Son of Sodom, de Theo Montoya (Colômbia) Tierra, de Gustavo Gamero (México) Todo es Culpa de La Sal, de María Cristina Pérez (Colômbia)
PRIMEIROS QUADROS | NACIONAL
Cacicus, de Gabirela Dullius e Bruno Cabral (RS) Dance, de Jorja Dias de Moura (PB) Deus Me Livre, de Carlos Henrique de Oliveira e Luis Ansorena Hervés (PR/Espanha) Dois, de Guilherme Jardim e Vinícius Fockiss (MG) Eric, de Letícia Castanheira (DF) Fale Conosco, de Fábio Costa Prado (GO) Gael: Seu Motorista Está a Caminho, de Roney Giah (SP) Inch, de Laércio Ribeiro e Ricardo Vieira (RJ) Meu Nome é Saudade, de Ana Graziela Aguiar (DF) O Andar de Cima, de Tomás Fernandes Silva (SP) Pai Nosso, de Jonas Chadarevian (SP) Pandelivery, de Antônio Silva Matos e Guimel Salgado (SP) Quantos Mais, de Lucas de Jesus (BA) Sonho de Verão, de Luan Dias (RJ) Tecido Sigilo, de Lucílio Jota (RJ) Troca de Pele, de Débora Garcia (RJ)
PRIMEIROS QUADROS | HISPÂNICO
Animales de Guerra, de Eduardo Bustos (Colômbia) Hacersce El Muerto, de David Bustos (Espanha) Invasión, de Alejandro Cervantes (México) Madri, Mala Vida, de Pablo Adiego Almudevar, Isabela Bianchi, Ignacio Ruiz e María Gómez (Espanha) Si Amanece, Nos Vamos, de Álvaro Feldman e Laura Obrador (Espanha) Sombra do Mar, de Sergio Pereda (Espanha)
ABERTURA
Dajla – Cine y Olvido, de Arturo Dueñas Herrero (Espanha) Por La Razón o La Fuerza, de Giarella Araya Vega (Chile)
PROGRAMAS ESPECIAIS
REALIZADORAS FRANCESAS DE CURTA METRAGEM
Hot Spot, de Anaïs Couet-Lannes Jouir, de Ananda Safo L’effort Commercial, de Sarah Arnold Toutes Les Nuits, de Laitfa Saïd Shakira, de Noémie Merlant
SHORT EXPORT ALEMANHA
Der Schornsteinsegler, de Frédéric Schuld Der Übers Meer Kam, de Jonas Riemer Inndependence, de Michael Schwarz Masel Tov Cocktail, de Arkadij Khaet e Mickey Paatzsch Seepferdchen, de Nele Dehnenkamp Wochenbett, de Henriette Rietz
Elenco: Siniya Boy, Bawo, Ramsess, Celouba, Cikara, Solo Guy, Américain, PGG, Hercule, Sodja, Goska, Le Grand, Patchantuass, Kebi, Cash Money, DJ Khaled, Loukouti, Nazcoba, Ibrahim Malam Tchilo, Sanda Olisey, Moustapha Elh Adam.
Ano: 2021
Sinopse: Na cidade de Zinder, no Níger, na região empobrecida de Kara-Kara, outrora o distrito dos leprosos, reina uma cultura de violência entre gangues. Um grupo de jovens tenta se libertar dessa violência.
Crítica: Zinder, a segunda maior cidade do Níger, é a terra natal da cineasta Aicha Macky. Neste seu segundo documentário, que leva o nome do local que nasceu, o espectador é apresentado a um território marcado pela violência e pelo desprezo do Estado. Em um processo que levou oito anos, desde a ideia até a finalização do filme, a diretora relata o cotidiano de seus personagens entre depoimentos dolorosos e brutais, porém com esperança de uma vida melhor. Por conta de uma pesquisa em campo, realizada antes das filmagens, Aicha criou uma certa relação de confiança com seus entrevistados. Durante as conversas, é possível perceber a participação da diretora em alguns momentos. Fato interessante que cria ainda mais intimidade com o espectador. Em Zinder, a violência não é vista literalmente; ela está nas memórias. Ainda que traga relatos assustadores de brigas entre gangues e prostituição infantil, por exemplo, o longa se deixa levar por seus personagens e por suas cicatrizes (físicas e mentais). Aqui, é possível perceber também o quanto a decadência e a precariedade daquele lugar interferem na vida de todos. Em certo momento, um dos entrevistados diz: “Zinder é a ovelha negra do país”. Sendo assim, Aicha Macky consegue mostrar a força dessa complexa comunidade, que acredita em esperança, e dar voz a quem nunca conseguiu ser ouvido, sem romantizar a violência ou tentar justificá-la de qualquer maneira. (Vitor Búrigo)
*Filme visto no 10º Olhar de Cinema – Festival Internacional de Curitiba.
Sinopse: No dia 3 de novembro de 1995, a emblemática Fábrica de Munições Militares Río Tercero, na Argentina, explodiu na cidade natal da diretora, que tinha 12 anos na época. Enquanto milhares de projéteis foram disparados contra a cidade, Natalia Garayalde gravava a devastação com uma câmera de vídeo. Vinte anos depois, ela encontra essas fitas.
Crítica: Nos anos 1990, uma pequena cidade localizada na província de Córdoba, na Argentina, chamada Río Tercero, virou notícia mundial por conta de uma tragédia que aterrorizou a população: uma fábrica de munições militares explodiu e disparou projéteis para todos os cantos da cidade. Naquela época, Carlos Menem era o presidente do país, a MTV fazia sucesso na TV entre os jovens e as crianças brincavam nas ruas. A cineasta Natalia Garayalde, que tinha 12 anos quando tudo aconteceu, morava com sua família perto do local do acidente. Radiante com seu novo brinquedo, uma câmera de vídeo, registrava tudo o que via pela frente. Não foi diferente com o trágico ocorrido. Enquanto tentava escapar da explosão, gravava a devastação do local sem nem imaginar para onde iriam essas imagens (ou se seriam úteis em algum momento). Vinte anos depois, cara a cara com essas fitas antigas, resolve reativar tais lembranças e transformá-las em um filme. O resultado final dessas imagens, entrelaçadas com memórias familiares, virou o documentário Estilhaços. Aqui, Natalia entrega uma obra pessoal e ao mesmo tempo instigante e universal. A maneira como cruza o contexto histórico do país com seu regaste familiar é fascinante. Além do caos causado pela explosão, a diretora encara também as dores de um passado que lhe machucou em alguns momentos. As impressionantes imagens caseiras em VHS da época mais parecem cenas de filmes de ficção científica. Há um momento, por exemplo, em que ela mostra o resgate de uma mulher que corre pelas ruas para fugir dos projéteis; algo que poderia muito bem ser visto em um desses blockbusters de Hollywood. Em outra ocasião, mais descontraída, os irmãos brincam de repórteres; e, com toda a ingenuidade de uma criança, se divertem fazendo a cobertura jornalística daquele evento catastrófico. Há delicadeza nesse resgate emocional, ainda que a tristeza permeie a narrativa entre tantas tragédias. Em meio a esse vasto e histórico material de arquivo pessoal muito bem utilizado, Garayalde aproveita também para escancarar a corrupção e a ameaça do setor industrial e militar. Não há medo, e sim coragem. Estilhaços fala de resgate emocional e mostra a força de imagens que sobrevivem a qualquer tempo. É o retorno a um passado analógico que dialoga com um futuro tecnológico impresso em uma potente, criativa e interessante obra audiovisual. (Vitor Búrigo)
*Filme visto no 10º Olhar de Cinema – Festival Internacional de Curitiba.
O filme, que faz parte da Mostra Competitiva, é uma fábula sobre o apocalipse da classe operária. Em uma velha fábrica em processo de falência, os corpos humanos quebram como se fossem máquinas, as máquinas gritam como se fossem corpos. O contraste entre a potência do inumano (as máquinas) e a fragilidade do humano (os trabalhadores). As fantasmagorias do trabalho moderno no mundo contemporâneo. Um filme de horror e amor.
Produzido por Maria Tereza Urias e Renan Rovida, o curta conta com Carolina Castanho, Glauber Amaral, Carlos Escher, Talita Araujo, Renan Rovida, Carlos Francisco, Maria Leite, Martha Guijarro, Carlota Joaquina, Luis Chierotto e Allan Petterson dos Reis no elenco.
Para falar mais sobre A Máquina Infernal, entrevistamos o diretor Francis Vogner dos Reis por e-mail. Confira:
Depois de passar pelo Festival de Locarno, na mostra Pardi di domani, A Máquina Infernal chega ao Olhar de Cinema. Para você, qual a importância de ter sido selecionado para um festival brasileiro tão prestigiado (ainda que on-line, porém com uma abrangência maior de espectadores)? Como tem sido a repercussão do público?
Foi ótimo passar o filme em Locarno, mas meu desejo era ver o filme exibido no Brasil. Talvez fale mais diretamente à inteligência e sensibilidade do público brasileiro que pode entender com mais presteza o que o filme coloca em jogo. Aqui, por exemplo, não tenho que justificar porque escolhi o horror, como também não preciso dizer para o público e para a imprensa sobre o que está acontecendo no Brasil. Os programadores de Locarno foram muito sensíveis ao escolher A Máquina Infernal para a Pardi di domani [mostra competitiva internacional de curtas] e me falaram coisas importantes sobre como o filme bateu neles. Mas no Brasil a recepção do público tem sido interessante. Acompanhei algumas coisas pelo Letterboxd, li críticas e acho que quem assistiu e decidiu falar sobre acatou as proposições que o filme faz. Fico feliz.
A Máquina Infernal retrata uma realidade metalúrgica contemporânea e uma fragmentação da classe operária. Como surgiu a ideia desse roteiro, a motivação para contar essa história em um cinema de gênero (nesse caso, o horror)?
A Máquina retrata sim uma realidade do imaginário e dos impasses derradeiros de uma parte significativa da atual classe trabalhadora da indústria. O desejo em trabalhar no registro do gênero foi meio óbvia pra mim que sempre vi o horror como uma possibilidade poética interessante para lidar com aquelas coisas para as quais ainda não temos uma elaboração. É nessa dobra – entre o que morre e o novo (que nem sempre é positivo) que surgem os monstros, né? E tem uma questão relacionada ao estranhamento da fábrica. O espaço da fábrica, os jogos de força, a violência e o irracional estão ali em sua máxima potência. Gera fantasmagorias.
Três coisas me influenciaram a pensar essa história: a primeira, as ruínas. Cresci vendo as ruínas no ABC. Elas sempre existiram, tanto em período de maior pujança quanto em ciclos de decadência. A sensação que eu tinha, quando pequeno, é que a ruína era como a velhice e a morte orgânicas. Em uma hora essas fábricas vão envelhecer e morrer, vai sobrar o esqueleto. Era a visão que eu tinha. Ou seja: era ao mesmo tempo uma ruína do presente que remetia ao passado e também a projeção de uma ruína do futuro com raízes no presente. As ruínas são assustadoras: decadência, memória das coisas mortas, desaparecimento, fantasmas do passado atuando.
Em segundo lugar, as memórias da fábrica da minha mãe e do meu pai. O demoníaco e o delírio, em alguns de seus relatos, estavam presentes ali no chão de fábrica corriqueiramente. Por exemplo, a cena da personagem Luisa, interpretada por Martha Guijarro, que vai ao chão possuída. Aquilo é memória da minha mãe. Sem tirar e nem pôr. Minha mãe e três tias, numa fábrica de embalagens trabalhando em pé dez horas por dias, viam, às vezes, isso acontecer com uma colega. Segundo minha mãe, ela ‘era possuída’. E não foi uma ou outra vez. Foram várias. Não estou dizendo que ERA possessão. A possessão era uma leitura das pessoas. Uma leitura nada desprezível, pois nos diz muito.
Em terceiro lugar, o livro A Aparição do Demônio na Fábrica, do sociólogo José de Souza Martins, me deu uma perspectiva crítica da fantasmagoria de fábrica, pois a pesquisa que deu origem ao livro investiga a realidade concreta e o imaginário do operariado do ABC nos anos 1950, a partir do caso de quatro operárias que desmaiaram em uma semana em uma fábrica de cerâmica em São Caetano e ao acordarem disseram ter visto o demônio as observando em um canto do galpão da linha de produção. Essas operárias tinham origem no universo rural e seu imaginário religioso. A questão que ele coloca é que nem a modernidade industrial apagou esse imaginário e nem esse imaginário se sobrepôs à racionalidade do trabalho moderno e industrial. Seria, não só isso mas toda a teia de relações e valores, o traço de uma modernidade anômala. Mas não queria fazer um filme de caráter mais diretamente sociológico, não saberia fazê-lo, queria um filme com uma imersão na fantasmagoria, mas que ao mesmo tempo apontasse vetores, através da fábula, de uma experiência histórica.
O filme reprisa na terça-feira, 12/10, na programação do Olhar de Cinema.
Quais foram suas referências (pessoais, filmes, memórias, textos, etc.)?
Com relação à influência de filmes acho que é evidente: filmes de horror como Terror nas Trevas [L’aldilà], do Lucio Fulci, O Príncipe das Sombras [Prince of Darkness], do John Carpenter, os filmes do David Cronenberg, Kiyoshi Kurosawa; mas também filmes que não são de terror, como os do Robert Bresson, Elio Petri, Leon Hirszman, Carlos Reichenbach. Não acho que tudo isso nos influenciou diretamente, mas são filmes e diretores que estudamos e nos inspiraram aqui e ali.
Mas minha influência para o filme ser o que é foi de companheiras e companheiros de viagem: atrizes, atores, profissionais técnicos e a própria dinâmica dos produtores, Maitê Urias e Renan Rovida (e também Carlos Escher), que vem de uma larga experiência com teatro e trouxeram com eles um olhar, uma perspectiva política, um modo de trabalho, atores e atrizes. O co-roteirista Cassio Oliveira, a dupla da fotografia (Bruno Risas e Alice Andrade Drummond) foram decisivos porque além da luz fizeram a cor, assim como a direção de arte (Marcelo X) que ajudou ativamente a construir o espaço, o tempo da montagem da Cristina Amaral, o som do Guile Martins… Enfim, todo mundo. Todas as pessoas foram chamadas como colaboradores. O filme é o que é, no que ele tem de melhor, por causa de toda equipe.
Ainda que o cinema brasileiro já tenha retratado trabalhadores de fábricas em algumas obras, seu curta traz, no gênero de horror, outras identificações com elementos mais fantasmagóricos que colaboram para o desenrolar da narrativa. O fantástico está presente no imaginário, mas também no físico. Como você trabalhou, por exemplo, questões como a escolha de locação e o desenho de som?
Encontrar a locação foi a coisa mais difícil de todo o filme, pois as fábricas, muitas delas em crise, não abriam as portas à uma equipe. Chegamos a conversar e fechar com uma fábrica de peças em Ribeirão Pires. Fizemos a direção de arte dialogando com as cores dessa fábrica e reescrevemos o roteiro para se adaptar ao espaço. Deram pra trás. Nos 45 do segundo tempo, encontramos a Legas, em Diadema. Nelson e Marcelo Miyazawa, os proprietários, assim como os trabalhadores da fábrica, foram muito generosos e prestativos. Além disso, o espaço da fábrica era fantástico e nos oferecia tudo o que precisávamos. Claro que mexemos no roteiro e na direção de arte para adaptar à nova locação. O espaço muito particular determinou como poderia ser filmado. Guile Martins fez o desenho de som, árduo e complexo, o que me deixou muito feliz. A ideia era uma fábrica que alternasse silêncios, sons industriais, sons estranhos com algum comedimento, mas o difícil foi construir o monstro sonoro. Algo entre o maquínico e o orgânico, entre a edificação concreta de um prédio e o abstrato. Não foi fácil, mas está ai.
A escolha da equipe é peça fundamental para colocar um projeto em prática. Em A Máquina Infernal, além de um elenco talentoso, você trabalha também com outros profissionais consagrados, como por exemplo, a montadora Cristina Amaral. Como foi o entrosamento com a equipe e a preparação do elenco (que aliás, conta com seus pais como figurantes)?
Era um sonho trabalhar com Cristina Amaral, que acho uma das maiores artistas do cinema brasileiro. Ela imprimiu o tempo do filme. Quando eu trouxe as ideias das fusões, foi justamente porque sei que esse trabalho dela com fusões (em Carlos Reichenbach e Andrea Tonacci, principalmente) era uma coisa fina e sutil, difícil de conseguir se não for a partir de um ritmo singular. Ela, como a gente vê, fez um trabalho impressionante. Na pós-produção, todos as dicas dela foram acatadas. Ela tem olho e ouvido com uma minúcia criativa que nunca vi.
Com relação aos atores e atrizes, Renan (que também é ator no filme) e Maitê me trouxeram um modo de trabalhar em conjunto que vem da experiência deles do coletivo Tela Suja e do teatro. Me trouxeram seus parceiros no Tela Suja (Talita Oliveira), Companhia Antropofágica (Martha Guijarro) e atrizes e atores que passaram pela Companhia do Latão (Carlota Joaquina, Carlos Escher, o próprio Renan) e Carlos Francisco (que foi do Folias e fez vários filmes importantes no cinema brasileiro recente), que me ajudaram a reelaborar os personagens, os gestos e a fala política. A cena da assembleia tem intervenções diretas em falas que não estavam no roteiro, por exemplo, de Renan, Carlão e Carlota.
Glauber Amaral e Carol Castanho eu os vi no Teatro Oficina e queria ver, na contramão, esses corpos – de abertura dionisíaca – atuando no ambiente rígido de uma fábrica. O conflito seria produtivo. Glauber tem esse corpo grande e certa fragilidade que faz sentido ao personagem, Carol Castanho tem belos olhos enormes que nos traz o extracampo. Eu vejo que essas diferenças todas estabeleceram um jogo em conjunto e isso foi muito bom. Meus pais e irmãos estão no filme; os queria no filme, além do fato de terem intimidade ali com aquele universo.
O diretor durante a 74ª edição do Festival de Locarno.
Como foi a experiência de passar o filme em Locarno e a repercussão de um público internacional? Além disso, como você avalia a participação e a importância do nosso cinema nesses eventos fora do país?
Foi muito legal passar em Locarno, ocupar um espaço ali. Interessante ver que parte do público internacional aderiu à proposta do filme, parte teve dificuldade, o que é normal. Como disse, eles e elas tem muitas perguntas sobre o Brasil, pra eles uma terra muito distante e um pouco desconhecida.
Sobre os filmes fora do país, acho que os festivais internacionais precisam ser ocupados com imagens do Brasil, há nisso uma importância política, simbólica e, em poucos casos, econômica. Mas acho isso pouco. Acho que precisamos aprender a fazer circular os filmes no Brasil, inclusive, para além dos festivais. Ficarmos espremidos entre festivais e circuito exibidor não dá pé.
Seu repertório cinematográfico passa por diversas áreas (roteirista, curador, crítico). Em seu primeiro curta como diretor, como você acredita que A Máquina Infernal possa dialogar com o público e com o Brasil atual?
Eu gostaria muito que dialogasse com os públicos em geral, incluindo aquelas para além do nicho dos festivais. Sempre me preocupo muito não só como em continuar fazendo filmes, mas com qual o caminho para que possam existir efetivamente. É uma questão política, mais do que de mercado no sentido diminuto do termo. Os festivais são fundamentais, mas se queremos fazer a disputa do imaginário no país, precisamos ir além.
Acho curioso que parte do debate político sobre protagonismo no cinema brasileiro passe às vezes, restritamente, pelos festivais e pela indústria mainstream. Entendo, porque é o que há e é onde está o trabalho, mas é preciso criar outros caminhos, outras possibilidades. Se a disputa que estamos construindo é só a de ocupar os espaços que já existem ao modo tradicional, ainda que com discurso radical de nossa parte, nossa ambição tem um teto baixo, pois o mercado – tal como vigora com suas regras, hegemonias e limites claros – trata de manter as estruturas e a concentração econômica.
*A Máquina Infernal reprisa na terça-feira, 12/10, na programação do Olhar de Cinema.
Entrevista e edição: Vitor Búrigo Fotos: Divulgação/Desalambrar Filmes e Massimo Pedrazzini (Locarno)
Novas aventuras no Bairro do Limoeiro: em bleve nos cinemas!
Nesta segunda-feira, 11/10, véspera do Dia das Crianças, a Paris Filmes revelou o trailer oficial de Turma da Mônica – Lições, o aguardado novo filme com as aventuras da turminha do Bairro do Limoeiro, que estreia nos cinemas no dia 30 de dezembro.
O live-action é dirigido por Daniel Rezende, do primeiro filme e Bingo: O Rei das Manhãs, e tem produção da Biônica Filmes, em coprodução com Mauricio de Sousa Produções, Paris Entretenimento, Paramount Pictures e Globo Filmes; a Paris Filmes e a Downtown Filmes assinam a distribuição.
No trailer, Mônica (Giulia Benite), Cebolinha (Kevin Vechiatto), Magali (Laura Rauseo) e Cascão (Gabriel Moreira) se esquecem de fazer o dever de casa e fogem da escola. Mas nem tudo sai como esperado e os pais de Mônica decidem mudá-la de colégio. Mesmo fazendo novos amigos, como os personagens recém-divulgados Marina (Laís Vilella), Milena (Emilly Nayara), Humberto (Lucas Infante) e Do Contra (Vinícius Higo), a turminha sente saudade de estar sempre junta. Nessa nova e emocionante aventura, Cebolinha resolve bolar um plano infalível com Magali e Cascão para trazer a Dona da Rua de volta, mesmo que para isso precise recuperar o coelhinho Sansão para a amiga.
No elenco também estão Monica Iozzi e Luiz Pacini vivendo os pais de Mônica; Paulo Vilhena e Fafá Rennó interpretando os pais de Cebolinha; além das participações especiais de Malu Mader como a professora da classe de Mônica, Isabelle Drummond dando vida à Tina e Augusto Madeira que será um professor de natação.
O filme é uma adaptação da graphic novel homônima, escrita e desenhada pelos irmãos Vitor e Lu Cafaggi. O primeiro longa live-action, Turma da Mônica – Laços, levou mais de 2 milhões de espectadores ao cinema.
Elenco: Babak Karimi, Razie Mansori, Abolfazl Kahani, Mohammad Sareban, Adel Yaraghi, Mahmoud Behraznia, Behzad Dorani.
Ano: 2020
Sinopse: Em um dia muito banal, quatro pessoas comuns decidem atear fogo a um cinema lotado.
Crítica: Exibido no Festival de Veneza do ano passado, Crime Culposo, dirigido pelo cineasta iraniano Shahram Mokri, traz à tona uma tragédia que abalou a cidade de Abadan, no Irã, no final da década de 1970 quando quatro homens incendiaram o Cinema Rex matando mais de 400 pessoas. Naquele dia, estava sendo exibido o filme The Deer, de Masoud Kimiai. O crime, que gerou uma revolta popular na época, ganha uma nova versão na ficção escrita por Shahram e Nasim Ahmadpour. Para narrar tal acontecimento, o longa apresenta três camadas da história que se intercalam entre espaço e tempo. Assim, a narrativa trabalha a construção de seus personagens com o objetivo de fazer com que o passado alcance o futuro. Além disso, em Crime Culposo a sétima arte torna-se um elemento fundamental para o desenrolar da trama com um filme dentro do filme. A reconstrução da tragédia, em tempos atuais, segue um caminho interessante até seu desfecho. Fato é que a mente criativa dos roteiristas monta um quebra-cabeça para que o espectador adentre tal imaginação e reflita sobre as consequências desse crime. Com referências evidentes do cinema de gênero, e até mesmo de ficção científica quando se pensa em uma possível viagem no tempo, Crime Culposo torna-se ainda mais interessante ao brincar com esses elementos e revisitar com originalidade tal episódio já conhecido. (Vitor Búrigo)
*Filme visto no 10º Olhar de Cinema – Festival Internacional de Curitiba.
Sinopse: O filme acompanha a jornada de uma cineasta, que desembarca na impérvia terra natal de seus familiares. Ao entrelaçar a memória de seu pai, histórias de refugiados e sua própria imaginação, a diretora compõe uma Síria que se encontra em algum lugar entre a realidade e o mito, o sonho e o pesadelo.
Crítica: Nascida no Canadá, a cineasta Émilie Serri resolveu se aprofundar mais na história de sua família na Síria. Para isso, revisitou imagens de arquivo, ouviu histórias de refugiados e se debruçou em um material tão pessoal para documentar tais memórias. Em Sonhos de Damasco, exibido no Festival de Roterdã, a diretora apresenta para o espectador suas raízes ao mesmo tempo em que cria uma conexão mais forte com o país até então pouco conhecido para si. Entre fotos, vídeos e depoimentos, destaca a presença do pai para construir a narrativa. Há também histórias de desconhecidos, que foram forçados a fugir de sua terra natal. Essa ligação entre seu incógnito passado com o presente resulta em uma mistura interessante de suas próprias memórias com as lembranças dos entrevistados. De um lado temos a curiosidade de uma filha/neta em saber como viveram seus entes queridos; do outro, uma cineasta com uma ideia instigante de relatar os resquícios e as consequências de uma guerra na vida de tantos cidadãos. Com isso, Émilie consegue realizar uma obra pessoal, mas também universal. Entre relatos carregados de lembranças, fala-se sobre o sentimento de tentar pertencer a algum lugar e até de forçar um certo esquecimento de algo que já não existe mais. Sonhos de Damasco reacende memórias ao colocar em destaque o expatriado e também o repatriado em uma narrativa baseada em recordações que se conectam com o futuro. (Vitor Búrigo)
*Filme visto no 10º Olhar de Cinema – Festival Internacional de Curitiba.