Um Animal Amarelo, de Felipe Bragança, será o filme de encerramento do IndieLisboa 2020

por: Cinevitor

animalamarelolisboaProtagonista: Higor Campagnaro em cena.

Escrito e dirigido pelo carioca Felipe Bragança, de Não Devore Meu Coração e Tragam-me a Cabeça de Carmen M., Um Animal Amarelo será o filme de encerramento da 17ª edição do IndieLisboa – Festival Internacional de Cinema, que tem como objetivo promover filmes independentes e apoiar a divulgação destes títulos na capital portuguesa, sendo considerado o maior festival português de cinema.

O evento estava marcado para acontecer no final de abril, porém, por conta da pandemia mundial de Covid-19, foi adiado e confirmado entre os dias 25 de agosto e 5 de setembro. Com isso, será um dos primeiros festivais europeus a acontecer com a presença de público nas salas, que deverão cumprir novas normas de segurança e regras sanitárias.

O diretor Felipe Bragança e parte do elenco, como Catarina Wallenstein, Isabél Zuaa, Matamba Joaquim e Lucília Raimundo, representarão o filme, que teve sua estreia mundial no Festival de Roterdã, em janeiro deste ano, e deve estrear comercialmente em Portugal e no Brasil em novembro. A curadoria do IndieLisboa considerou Um Animal Amarelo como um filme que reúne de forma inovadora alguns dos principais assuntos do ano em Portugal e na Europa: questões pós-coloniais e anticoloniais; além de discutir a atual situação política e cultural no Brasil.

No longa, descrito como uma tragicômica e melancólica fábula tropical sobre as heranças do colonialismo português no Brasil de hoje, Bragança traz suas memórias e impressões de cidadão brasileiro e artista vivendo no conturbado Brasil atual: “O filme é feito no encontro misterioso entre o pesadelo político cultural que estamos vivendo e histórias muito pessoais e escondidas sobre as quais os brasileiros nem sempre gostam de falar”, explica o diretor.

Filmado no Brasil, Portugal e Moçambique, Um Animal Amarelo traz a inquietação do diretor sobre questões de identidade individual e coletiva: “Filmar nesses países não foi como filmar no estrangeiro exatamente, mas filmar ainda mais perto de mim, nesse continente cultural instalado nas minhas vísceras, como que me vendo pela nuca, reinstalado como cineasta brasileiro. E, claro, voltei desse mergulho cheio de dúvidas, com a sensação de que a própria ideia de Brasil como harmonia construída sobre as ruínas coloniais está hoje se desfazendo por completa, e se tornando uma ainda mais nova ruína. Com a sensação de que meu lugar criativo, eu, ‘branco brasileiro’, mestiço de tantos medos e fantasmas, deveria estar além do silêncio diante dos dilemas raciais e culturais que me ocupam o imaginário familiar e pessoal e suas origens ibéricas, ameríndias e africanas”.

E completou: “Porque pensar qualquer construção, ou reconstrução de um sentido de comunidade que possa enfrentar o desmonte conservador e extremista no poder agora, vamos ter de encarar de forma nova a equação da nossa antropofagia cultural para além das sínteses sonhadas no passado. E esse pensamento novo deverá passar pelo fim na crença de um futuro paraíso prometido, mas acreditar na potência de um presente sempre feito da nossa autodestruição, demolição, numa autofagia poética urgente e necessária. Talvez um Neo-Tropicalismo possível, uma nova modernidade almejada que nos tire desse atoleiro conservador, esteja na construção de uma linguagem multi-idiomática, auto-debochada, sem síntese, e que não esteja preocupada em se, e nos, salvar”.

O longa tem produção da carioca Marina Meliande e de Luis Urbano, produtor português de filmes de diretores como Miguel Gomes e Manoel de Oliveira, e traz no elenco o protagonismo de Higor Campagnaro acompanhado de nomes como Herson Capri, Thiago Lacerda, Marcio Vito, Sophie Charlotte e Tainá Medina, além de um elenco luso-africano e de portugueses como Diogo Dória e Adriano Luz.

Vale lembrar que a seleção do IndieLisboa 2020 conta com produções brasileiras em diversas mostras e que foram anunciadas em abril. Clique aqui e saiba mais.

Foto: Divulgação/Olhar Distribuição.

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