Festival de Veneza 2020 anuncia seleção; documentário com Caetano Veloso será exibido fora de competição

por: Cinevitor

caetanovelosoveneza1Selecionado: documentário sobre a prisão de Caetano Veloso, em 1968.

A 77ª edição do Festival Internacional de Cinema de Veneza, que acontecerá entre os dias 2 e 12 de setembro, acaba de anunciar a lista completa com os filmes selecionados para este ano. Por conta da pandemia de Covid-19, o evento apresentará algumas mudanças necessárias de acordo com os protocolos de segurança.

Para respeitar o distanciamento social, o número total de filmes será menor e as exibições acontecerão nos tradicionais cinemas com todas as medidas estabelecidas pelas autoridades. Porém, a mostra de Realidade Virtual será realizada inteiramente on-line. Já a seção Venice Classics será apresentada no programa Il Cinema Ritrovato, uma mostra de filmes restaurados promovida pela Cineteca di Bologna, que acontecerá entre os dias 25 e 31 de agosto.

Alberto Barbera, diretor artístico do festival, falou sobre a atual situação: “Sem esquecer as inúmeras vítimas desses últimos meses, a quem prestaremos homenagem, o primeiro festival internacional após a interrupção forçada ditada pela pandemia se torna a celebração significativa da reabertura pela qual todos esperávamos, além de passar uma mensagem concreta de otimismo para todos do cinema que sofreram muito com essa crise. A seleção fornecerá sua visão tradicional do melhor que a indústria cinematográfica produziu nos últimos meses, graças à extraordinária resposta de diretores e produtores, apesar das árduas condições de trabalho nos últimos meses. Um número significativo de diretores e atores acompanhará os filmes, enquanto as conexões com a internet permitirão realizar entrevistas coletivas com todos aqueles que não puderem participar pessoalmente, devido às restrições de viagem que permanecem em vigor”.

Neste ano, o cinema brasileiro estará representado na seção Fora de Competição com o documentário Narciso em Férias, de Renato Terra e Ricardo Calil. No longa, Caetano Veloso relembra sua prisão na Ditadura Militar, quando ele e Gilberto Gil foram retirados de suas casas em São Paulo por agentes à paisana no dia 27 de dezembro de 1968, 14 dias depois de decretado o AI-5. Sem receber explicações do regime, foram levados ao Rio de Janeiro, deixados em duas solitárias por uma semana e depois transferidos para celas. A censura prévia impediu os jornais de divulgarem suas prisões. Cinquenta e dois anos depois, Caetano relata o período mais duro de sua vida e reflete sobre os 54 dias que passou encarcerado.

“Estrear o filme em Veneza é um sonho. Duas pessoas tiveram papel fundamental nesse processo: João Moreira Salles e Paula Lavigne. Conheci o João há 12 anos e, por causa dele, convivi com Eduardo Coutinho. Cada decisão que tomei no projeto veio desse aprendizado com João e Coutinho. A Paula teve a iniciativa do filme e, desde o convite, apoiou todas as decisões que tomei, confiou, me deu confiança. Narciso em Férias respeita e amplifica cada palavra, memória, gesto, silêncio de Caetano. Agora, queremos mostrar isso para o mundo”, afirma Renato Terra. “Estamos felizes e honrados de iniciar a trajetória do filme pelo Festival de Veneza, que é ao mesmo tempo o primeiro festival de cinema do mundo e o primeiro que será presencial no mundo pós-pandemia. É um evento histórico que pode apontar como será o cinema nessa nova realidade. Para nós, faz todo sentido que a estreia seja lá. É um filme que fala do passado do Brasil, por meio das memórias de Caetano Veloso sobre sua prisão na ditadura, mas também tem muito a dizer sobre o presente do país”, explica Ricardo Calil.

Por conta da pandemia, a organização de Veneza decidiu colaborar com outros festivais: “A forma de arte que amamos está em crise. Nossas próprias organizações enfrentaram desafios sem precedentes ao nosso trabalho e à nossa segurança financeira. A pandemia pegou cada um de nós quando estávamos nos preparando para o maior evento do ano no outono de 2020. Sabíamos que tínhamos que nos adaptar. Decidimos colaborar como nunca fizemos antes”, diz o comunicado oficial.

A colaboração será entre Veneza e os festivais de Toronto, New York e Telluride: “Este ano, deixamos de competir com nossos colegas e nos comprometemos com a colaboração. Estamos compartilhando ideias e informações. Estamos oferecendo nosso festival como uma plataforma unida para o melhor cinema que podemos encontrar. Estamos aqui para servir cineastas, audiências, jornalistas e membros da indústria que mantêm o ecossistema do cinema em expansão. Precisamos fazer isso juntos. Acreditamos que o cinema tem um poder único de iluminar o mundo ao nosso redor e nossas percepções mais íntimas”, finaliza o comunicado.

Neste ano, a atriz australiana Cate Blanchett presidirá o Júri Internacional, que será formado por: Veronika Franz, cineasta e roteirista austríaca; Joanna Hogg, cineasta britânica; Nicola Lagioia, escritor italiano; Christian Petzold, diretor alemão; Cristi Puiu, cineasta romeno; e Ludivine Sagnier, atriz francesa. O time será responsável pelos principais prêmios, como Leão de Ouro e Leão de Prata.

As homenageadas desta 77ª edição, que receberão o Leão de Ouro honorário serão: Ann Hui, diretora, produtora, roteirista e atriz de Hong Kong, premiada em Veneza pelo filme Tou ze; e a atriz britânica Tilda Swinton, que recebeu o prêmio Volpi Cup de melhor atriz por Eduardo II, em 1991.

Conheça os filmes selecionados para o 77º Festival de Veneza:

VENEZIA 77 | COMPETIÇÃO INTERNACIONAL

In Between Dying, de Hilal Baydarov (Azerbaijão/EUA)
Le sorelle Macaluso, de Emma Dante (Itália)
The World To Come, de Mona Fastvold (EUA)
Nuevo orden, de Michel Franco (México/França)
Amants (Lovers), de Nicole Garcia (França)
Laila in Haifa, de Amos Gitai (Israel/França)
Und morgen die ganze Welt, de Julia von Heinz (Alemanha/França)
Dorogie Tovarischi (Dear Comrades), de Andrei Konchalovsky (Rússia)
Spy no Tsuma (Wife of a Spy), de Kiyoshi Kurosawa (Japão)
Khorshid (Sun Children), de Majid Majidi (Irã)
Pieces of a Woman, de Kornél Mundruczó (Canadá/Hungria)
Miss Marx, de Susanna Nicchiarelli (Itália/Bélgica)
Padrenostro, de Claudio Noce (Itália)
Notturno, de Gianfranco Rosi (Itália/França/Alemanha)
Śniegu już nigdy nie będzie (Never Gonna Snow Again), de Małgorzata Szumowska e Michał Englert (Polônia/Alemanha)
The Disciple, de Chaitanya Tamhane (Índia)
Quo vadis, Aida?, de Jasmila Zbanic (Bósnia e Herzegovina/Áustria/Romênia/Holanda/Alemanha/Polônia/França/Noruega)
Nomadland, de Chloé Zhao (EUA)

FORA DE COMPETIÇÃO | FICÇÃO

Mandibules, de Quentin Dupieux (França/Bélgica)
Di yi lu xiang (Love After Love), de Ann Hui (China)
Lacci, de Daniele Luchetti (Itália) (filme de abertura)
Assandira, de Salvatore Mereu (Itália)
The Duke, de Roger Michell (Reino Unido)
Lasciami andare, de Stefano Mordini (Itália)
Nak won eui bam (Night in Paradise), de Hoon-jung Park (Coreia do Sul)
Mosquito State, de Filip Jan Rymsza (Polônia)

FORA DE COMPETIÇÃO | DOCUMENTÁRIO

Sportin’ Life, de Abel Ferrara (Itália)
Crazy Not Insane, de Alex Gibney (EUA)
Greta, de Nathan Grossman (Suécia)
Salvatore – Shoemaker of Dreams, de Luca Guadagnino (Itália)
Final Account, de Luke Holland (Reino Unido)
La verità su La dolce vita, de Giuseppe Pedersoli (Itália)
Molecole, de Andrea Segre (Itália)
Narciso em Férias, de Renato Terra e Ricardo Calil (Brasil)
Paolo Conte, Via con me, de Giorgio Verdelli (Itália)
Hopper/Welles, de Orson Welles (EUA)
City Hall, de Frederick Wiseman (EUA)

EXIBIÇÕES ESPECIAIS

30 monedas – Episode 1, de Álex de la Iglesia (Espanha)
Princesse Europe, de Camille Lotteau (França)
Omelia contadina, de Alice Rohrwacher (Itália/França)

ORIZZONTI

La troisième guerre, de Giovanni Aloi (França)
Meel Patthar (Milestone), de Ivan Ayr (Índia)
Dashte Khamoush (The Wasteland), de Ahmad Bahrami (Irã)
The Man Who Sold His Skin, de Kaouther Ben Hania (Tunísia/França/Alemanha/Bélgica/Suécia)
I predatori, de Pietro Castellitto (Itália)
Mainstream, de Gia Coppola (EUA)
Lahi, Hayop (Genus Pan), de Lav Diaz (Filipinas)
Zanka Contact, de Ismaël el Iraki (França/Marrocos/Bélgica)
La nuit des rois, de Philippe Lacôte (Costa do Marfim/França/Canadá)
The Furnace, de Roderick MacKay (Austrália)
Jenayat-e bi deghat (Careless Crime), de Shahram Mokri (Irã)
Gaza mon amour, de Tarzan Nasser e Arab Nasser (Palestina/França/Alemanha/Portugal/Qatar)
Mila (Apples), de Christos Nikou (Grécia/Polônia/Eslovênia)
Selva trágica, de Yulene Olaizola (México/França/Colômbia)
Guerra e pace, de Martina Parenti e Massimo D’Anolfi (Itália/Suíça)
Nowhere Special, de Uberto Pasolini (Itália/Romênia/Reino Unido)
Listen, de Ana Rocha de Sousa (Reino Unido/Portugal)
Bu zhi bu xiu (The Best Is Yet To Come), de Jing Wang (China)
Zheltaya koshka (Yellow cat), de Adilkhan Yerzhanov (Cazaquistão/França)

Foto: Divulgação.

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