Pai

por: Cinevitor

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Direção: Srdan Golubovic

Elenco: Goran Bogdan, Boris Isakovic, Nada Sargin, Milica Janevski, Muharem Hamzic, Ajla Santic, Vahid Dzankovic, Milan Maric, Jovo Maksic, Ljubomir Bandovic, Marko Nikolic, Nikola Rakocevic, Izudin Bajrovic, Nikola Ilic, Igor Borojevic, Mirko Vlahovic, Slavisa Curovic, Ivan Djordjevic, Sasa Bjelic, Danijela Vranjes, Zeljko Radunovic, Hasan Cicic, Slobodan Ljubicic, Vujadin Milosevic, Nebojsa Djordjevic, Miodrag Dragicevic, Dragan Sekulic, Nikola Stankovic, Mariana Arandjelovic, Mihaela Stamenkovic, Vladislav Mihailovic, Samir Semsovic, Fehima Ibisbegovic, Milica Mandic, Nikola Markovic, Dejan Derajic, Violeta Cvijovic.

Ano: 2020

Sinopse: Em uma pequena cidade na Sérvia, vive Nikola, trabalhador temporário e pai de dois filhos. O homem se vê obrigado a entregar as crianças aos serviços sociais depois que a pobreza e a fome levam sua esposa a cometer um ato desesperado. Enquanto ele não conseguir fornecer condições adequadas para a educação das crianças, elas serão colocadas em um orfanato. Apesar dos esforços de Nikola e de constantes apelos, o chefe do centro de serviços sociais se recusa a devolver seus filhos e sua situação se torna desoladora. Quando Nikola descobre a corrupção da administração local, ele decide viajar pela Sérvia a pé e levar o caso diretamente às autoridades governamentais em Belgrado. Movido pelo amor e pelo desespero, ele se recusa a desistir da justiça e de seu direito de criar os filhos.

Crítica: Premiado no Festival de Berlim e dirigido pelo cineasta sérvio Srdan Golubovic, Pai narra a saga de Nikola, interpretado pelo talentoso Goran Bogdan, em busca de uma vida melhor para sua família. Lendo assim, parece mais uma história melodramática de superação. Porém, logo nos primeiros minutos de projeção, percebe-se que o filme caminhará para algo mais denso e não só afetivo. Com o desmoronamento estrutural da família, por conta de diversos fatores, entre eles, a fome e o desemprego, o protagonista se vê em uma situação crítica: aceitar que os filhos sejam entregues para um orfanato depois de um ato desesperador cometido pela mãe e também por não oferecer condições necessárias de educação para eles. A insistência de Nikola para recuperar a guarda das crianças é em vão; e é aqui que começa a saga do protagonista. Entre burocracias e corrupção da administração local, ele decide viajar a pé até à capital do país para pedir ajuda às autoridades. Com um semblante quase que atônito a maior parte do tempo, carregado de um olhar vagaroso que traz um desespero abafado, ele enfrenta diversos obstáculos para completar sua missão. A atuação de Goran Bogdan se destaca entre tantas adversidades no meio do caminho; sua transformação ao desenrolar da trama evidencia a engenhosa construção de seu personagem: um homem pacato que tenta manter a compostura diante das desigualdades sociais e econômicas que o atingem. O desespero desse pai é notório, mas não escancarado. Suas atitudes falam mais do que palavras grosseiras, que gerariam prováveis confusões e violência. Há, sim, um descontrole emocional, resquício de um desespero avassalador. Mas, é de maneira contundente que Srdan Golubovic retrata tais situações que potencializam a narrativa. Porém, Pai não fala só desse homem desolado. Fala também de uma sociedade tomada por interesses e sem compaixão ao próximo; um jogo de poder cruel e desumano revestido por uma falsa bondade. Não há empatia em certos personagens e muito menos preocupações socioeconômicas perante outros indivíduos que não sejam eles mesmos. Há maldade em tirar proveito daqueles mais necessitados, que, sequer, conseguem se defender honestamente. Mas há também esperança, principalmente em seu protagonista que, mesmo carregado por desventuras, enfrenta qualquer desafio (e pessoa) para atingir seu objetivo com dignidade e sem diferenças de tratamento, independente de quem for ou de qual cargo ocupa. (Vitor Búrigo)

*Filme visto na 44ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo.

Nota do CINEVITOR:

nota-4-estrelas

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