Morre, aos 90 anos, Léa Garcia; atriz é homenageada no 51º Festival de Cinema de Gramado

por: Cinevitor
Atriz consagrada no tapete vermelho do festival

A consagrada atriz Léa Garcia, que estava em Gramado para ser homenageada, morreu na manhã desta terça-feira, 15/08, aos 90 anos, dia em que receberia o Troféu Oscarito ao lado de Laura Cardoso. Em comunicado oficial divulgado pela organização da 51ª edição do Festival de Cinema de Gramado, ela faleceu no hotel que estava hospedada e, de acordo com o Hospital Arcanjo São Miguel, a causa da morte foi um infarto agudo do miocárdio.

Dona Léa Garcia havia chegado a Gramado no último sábado, 12/08, acompanhada do filho, Marcelo Garcia. A atriz circulava diariamente pelo evento, onde acompanhou diversas sessões no Palácio dos Festivais. Em uma de suas passagens pelo tapete vermelho, disse ao portal Acontece Gramado: “É um enorme prazer estar mais uma vez em Gramado. Esse calor, essa receptividade com a qual a cidade nos recebe. Aqui tem um leve sabor de chocolate no ar. Obrigada a todos que fazem o festival, que participam e que concorrem. Aqui me sinto sempre prestigiada”.

Considerada uma das maiores atrizes brasileiras, Léa Garcia começou sua carreira na década de 1950 no Teatro Experimental do Negro, fundado por Abdias do Nascimento, um dos maiores expoentes da cultura negra no Brasil. Dos palcos, ganhou destaque nas telonas ao interpretar Serafina em Orfeu Negro, do cineasta francês Marcel Camus, uma coprodução entre Brasil, França e Itália. O longa foi premiado com a Palma de Ouro no Festival de Cannes e levou o Globo de Ouro e o Oscar de melhor filme estrangeiro.

Sua estreia na TV aconteceu no Grande Teatro, da TV Tupi, na década de 1950. Depois, atuou na novela Acorrentados, exibida na a TV Rio. Estreou na Rede Globo em 1970, na novela Assim na Terra como no Céu, de Dias Gomes. Na emissora carioca, participou de diversas produções, como: Minha Doce Namorada, O Homem que Deve Morrer, Selva de Pedra, Os Ossos do Barão, Fogo Sobre Terra, A Moreninha, Araponga, A Viagem, Anjo Mau, Suave Veneno, O Clone, Sol Nascente, entre outras. A atriz também passou pela TV Manchete, em Xica da Silva e Tocaia Grande, e outras emissoras.

A novela Escrava Isaura, exibida em 1976 na Rede Globo, foi um fenômeno de audiência no Brasil e no exterior e é considerado um dos trabalhos mais marcantes na carreira de Léa Garcia, que interpretava a vilã Rosa. Recentemente, estava em negociações com a TV Globo para atuar no remake da novela Renascer.

No cinema, a atriz também ganhou reconhecimento: foi premiada no Festival de Gramado pelo longa As Filhas do Vento e pelo curta Acalanto, que também lhe rendeu prêmios no Brazilian Film Festival of Toronto e no Festival de Cuiabá; com Memórias da Chibata foi consagrada na Jornada Internacional de Cinema da Bahia; no Festival de Natal levou o prêmio de melhor atriz por Dias Amargos. Além disso, atuou em Ganga Zumba, Ladrões de Cinema, A Deusa Negra, Quilombo, Viva Sapato!, Mulheres do Brasil, O Maior Amor do Mundo, Billi Pig, Sudoeste, Boca de Ouro, Barba, Cabelo e Bigode, Um Dia com Jerusa, Pacificado, O Pai da Rita, entre outros.

Marcelo Garcia, filho de Léa, no palco com o Troféu Oscarito

Sobre a homenagem para Léa Garcia, a organização do Festival de Cinema de Gramado informou que, a pedido da família, o Troféu Oscarito seria entregue na noite desta terça-feira no início da primeira sessão, com a presença do filho da atriz, Marcelo Garcia.

Sendo assim, a noite de terça-feira no Palácio dos Festivais começou com muita emoção. As apresentadoras Renata Boldrini e Marla Martins leram um texto sobre a atriz: “Noite que estava planejada de um jeito bem diferente. Quis o destino que Léa Garcia nos deixasse na manhã desta terça-feira. Essa grande atriz, que receberia, daqui a pouco, nesse palco, o Troféu Oscarito, ao lado de Laura Cardoso”. Léa foi peça fundamental na quebra da barreira dos personagens tradicionalmente destinados à atrizes negras e tornou-se, assim, uma referência para jovens atores e admirada pela qualidade de suas atuações.

Entre muitos aplausos, o filho Marcelo Garcia subiu ao palco para receber, em nome de sua mãe, a honraria concedida pelo Festival de Gramado: “O que falar desse momento? Para muitos, seria muito difícil. Mas uma coisa eu tenho certeza: minha mãe morreu no glamour. Eu fiz questão de vir aqui hoje porque o objetivo dela era receber esse prêmio. Dona Léa me deixou um legado muito grande. Essa homenagem foi feita em vida porque a Léa vive, ela está aqui, ela vai continuar. Ela morreu sob os holofotes e queria que eu fizesse isso aqui, tenho certeza. Eu nunca mais dormiria tranquilo se não subisse aqui, hoje, para receber esse prêmio”.

E continuou seu discurso emocionante: “Dentro dessa história toda, agradecer vocês pelo carinho e por tudo que foi feito pela Dona Léa. Minha mãe me deu essa história, da cultura, da arte. Mas, o show não pode parar. As pessoas queriam parar o festival, mas eu não aceitei. A Léa nasceu no palco, ela ama o palco. Ela deixa um legado para todos. E eu só tenho uma coisa para falar que ela falaria aqui: não desistam!”.

A entrega do Troféu Oscarito para Laura Cardoso será realizada na próxima sexta-feira, dia 18 de agosto, no Palácio dos Festivais.

*Clique aqui e relembre nossa entrevista com Léa Garcia na 23ª Mostra de Cinema de Tiradentes

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Fotos: Cleiton Thiele/Agência Pressphoto.

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