Festival de Locarno 2020 anuncia exibições on-line e produções brasileiras na programação

por: Cinevitor

membylocarnoCena do curta brasileiro Memby, de Rafael Castanheira Parrode.

Em abril deste ano, a organização do Festival de Cinema de Locarno decidiu cancelar sua 73ª edição por conta da pandemia de Covid-19. O evento, que ocorre durante o verão suíço, é conhecido pelas exibições ao ar livre na icônica Piazza Grande, com um público de oito mil pessoas. Com a impossibilidade de preservar o espírito do festival, com projeções no maior espaço ao ar livre da Europa, a organização, até então, tinha optado por não realizar uma edição on-line.

Neste ano, para continuar apoiando o cinema independente, foi criada uma iniciativa chamada Locarno 2020 – For the Future of Films, com a seção The Films After Tomorrow, que consiste em prêmios monetários que serão entregues a realizadores cujos filmes e projetos foram cancelados ou adiados pela pandemia e causaram danos econômicos. O evento acontecerá entre os dias 5 e 15 de agosto.

A diretora artística Lili Hinstin e o comitê de seleção do Festival de Locarno avaliaram 545 projetos, de 101 países diferentes. A partir disso, a equipe escolheu vinte nomes que concorrerão ao prêmio Leopardo 2020: dez projetos internacionais e dez na seleção suíça. Com a proposta de colaborar financeiramente na realização dos projetos afetados pela pandemia ou na retomada das produções, os prêmios serão: 70 mil francos suíços (internacional e suíço); Prêmio Campari de 50 mil francos suíços; e Prêmio Swatch de 30 mil francos suíços (internacional). Além disso, um projeto suíço também será contemplado com uma campanha televisiva promocional.

Entre os selecionados para a mostra The Films After Tomorrow, dois projetos brasileiros se destacam: Cidade;Campo, de Juliana Rojas; e Selvajaria, de Miguel Gomes, uma coprodução entre Portugal, França, Brasil, China e Grécia.

O júri dos projetos internacionais será formado por: Kelly Reichardt, cineasta americana; Nadav Lapid, cineasta israelense; e Lemohang Jeremiah Mosese, de Lesoto, roteirista, cineasta e diretor de fotografia. O júri dos projetos suíços contará com: Alina Marazzi, cineasta italiana; Matías Piñeiro, diretor argentino; e Mohsen Makhmalbaf, cineasta iraniano.

terraemtranselocarnoPaulo Autran em Terra em Transe, de Glauber Rocha.

Além disso, a organização resolveu realizar a mostra Pardi di domani de curtas-metragens em formato on-line. Neste ano, 2.200 filmes foram inscritos e 43 selecionados (12 nacionais e 30 internacionais); os estrangeiros disputam os prêmios Pardino d’oro e o Pardino d’argento. O júri será formado por Kiri Dalena, Mamadou Dia e Claudette Godfrey. Na seleção, destaca-se o brasileiro Memby, de Rafael Castanheira Parrode. A sinopse diz: vislumbres e brilhos de luz nos levam ao caminho sonhador de um lugar atemporal, imerso na natureza antiga. Lá, os ancestrais vão além da escuridão, buscando criar outro mundo (im)possível.

Rafael Castanheira Parrode é um pesquisador, curador, produtor e cineasta nascido em Goiânia. Na Barroca Filmes, produziu vários curtas e longas-metragens, como Taego Ãwa e Mascarados, ambos de Marcela Borela e Henrique Borela. Ele é um dos diretores artísticos e programadores internacionais do Fronteira Festival. Seu primeiro curta, Bom dia Santa Maria, estreou na Mostra de Cinema de Tiradentes em janeiro deste ano.

A edição Locarno 2020 – For the Future of Films será diferente das outras. Além do formato on-line, o festival também realizará algumas exibições físicas em três cinemas da cidade e de Muralto. O longa de abertura deste ano será o drama First Cow, de Kelly Reichardt, que será exibido no cinema GranRex. Já a noite de encerramento do festival abordará o conceito de isolamento em uma série de filmes. Será exibido o curta La France contre les robots, do cineasta francês Jean-Marie Straub, homenageado em Locarno em 2017, além de nove curtas do projeto Collection Lockdown, da Swiss Filmmakers.

Com o formato virtual, será garantido um máximo de 1.590 espectadores on-line, equivalente ao número total de espectadores físicos que podem assistir às exibições de curtas-metragens em Locarno a cada ano. Essas entradas virtuais gratuitas deverão ser reservadas no site do festival pelo menos 24 horas antes da exibição. Paralelamente a esse novo modo de exibição, ainda haverá exibições teatrais clássicas. A mostra Open Doors Screenings também está garantida nesta edição, com filmes que destacam as produções da Indonésia, Filipinas, Malásia e Myanmar, focada no sudeste da Ásia e Mongólia.

A 73ª edição do Festival de Cinema de Locarno traz outra novidade: cineastas selecionados para a seção The Films After Tomorrow serão responsáveis por  uma nova mostra, chamada A Journey in the Festival’s History, que destaca a história do festival. Os realizadores escolheram vinte títulos emblemáticos para representar a trajetória do evento. Todos os filmes estarão disponíveis para visualização on-line em toda a Suíça, enquanto dez títulos serão exibidos nos cinemas de Locarno. O cineasta argentino Lisandro Alonso escolheu o longa brasileiro Terra em Transe, de Glauber Rocha, premiado em Locarno em 1967.

Conheça os projetos internacionais selecionados para a mostra The Films After Tomorrow:

Chocobar, de Lucrecia Martel (Argentina/EUA/Holanda); produzido por Rei Cine: Benjamin Domenech/Louverture Films/Lemming Film

Cidade;Campo, de Juliana Rojas (Brasil); produzido por Dezenove Som e Imagens: Sara Silveira

De Humani Corporis Fabrica (The Fabric of the Human Body), de Verena Paravel e Lucien Castaing-Taylor (França/EUA); produzido por Norte Productions: Valentina Novati/Sensory Ethnography Lab: Verena Paravel/Lucien Castaing-Taylor

Eureka, de Lisandro Alonso (França/Alemanha/Portugal/México/Argentina); produzido por Luxbox: Fiorella Moretti e Hédi Zardi, Komplizen/Rosa Filmes/Mr. Woo/4L

Human Flowers of Flesh, de Helena Wittmann (Alemanha/França); produzido por Fünferfilm: Frank Scheuffele, Karsten Krause e Julia Cöllen/Tita Productions: Christophe Bouffil

I Come From Ikotun, de WANG Bing (França/China); produzido por Idéale Audience: Hélène Le Coeur e Pierre-Olivier Bardet/WIL Productions: Lihong Kong

Kapag Wala Nang Mga Alon (When The Waves Are Gone), de Lav Diaz (Filipinas/França/Portugal/Dinamarca); produzido por Films Boutique: Jean-Christophe Simon e Gabor Greiner/Epicmedia Productions: Bianca Balbuena e Bradley Liew/Rosa Filmes: Joaquim Sapinho/Snowglobe Film: Eva Jakobsen, Katrin Pors e Mikkel Jersin

Nowhere Near, de Miko Revereza (Filipinas/México/EUA); produzido por Los Otros: Shireen Seno/Cine Droga

Petite Solange (Little Solange), de Axelle Ropert (França); produzido por Aurora Films: Charlotte Vincent

Selvajaria (Savagery), de Miguel Gomes (Portugal/França/Brasil/China/Grécia); produzido por O SOM E A FÚRIA: Luís Urbano/Shellac Sud/RT Features/Rediance Films/Faliro House

A JOURNEY IN THE FESTIVAL’S HISTORY:

Alemanha, Ano Zero, de Roberto Rossellini (1948)
– vencedor do Grande Prêmio e melhor roteiro original
*escolhido por Pierre-François Sauter

Comizi d’amore, de Pier Paolo Pasolini (1964)
*escolhido por Anna Luif

Terra em Transe, de Glauber Rocha (1967)
– vencedor do Grande Prêmio, Prêmio FIPRESCI e Prêmio dos críticos da Suíça
*escolhido por Lisandro Alonso

O Último a Rir, de Alain Tanner (1969)
– vencedor do Leopardo de Ouro
*escolhido por Raphaël Dubach e Mateo Ybarra

Invasión, de Hugo Santiago (1969)
– Menção Especial do Júri
*escolhido por Andreas Fontana

Em Caso de Perigo e de Grande Risco, o Meio-Termo Leva à Morte, de Alexander Kluge e Edgar Reitz (1974)
*escolhido por Juliana Rojas

India Song, de Marguerite Duras (1975)
*escolhido por Helena Wittmann

Pesadelo Perfumado, de Kidlat Tahimik (1977)
*escolhido por Verena Paravel e Lucien Castaing-Taylor

E nachtlang Füürland, de Clemens Klopfenstein e Remo Legnazzi (1981)
*escolhido por Michael Koch

Estranhos no Paraíso, de Jim Jarmusch (1984)
– vencedor do Leopardo de Ouro e Menção Especial do júri do Prêmio Ecumênico
*escolhido por Marí Alessandrini

Os Terroristas, de Edward Yang (1986)
– vencedor do Leopardo de Prata
*escolhido por Eric Baudelaire

O Bobo, de José Álvaro Morais (1987)
– vencedor do Leopardo de Ouro
*escolhido por Miguel Gomes

O Sétimo Continente, de Michael Haneke (1989)
– vencedor do Prêmio Ernest Artaria
*escolhido por Lav Diaz

Metropolitan, de Whit Stillman (1990)
– vencedor do Leopardo de Prata
*escolhido por Axelle Ropert

Rapado, de Martín Rejtman (1992)
*escolhido por Lucrecia Martel

Au nom du Christ, de Roger Gnoan M’Bala (1993)
*escolhido por Mohammed Soudani

Um Instante de Inocência, de Mohsen Makhmalbaf (1996)
– Menção Especial do júri
*escolhido por Miko Revereza

Cavalo Dinheiro, de Pedro Costa (2014)
– vencedor do prêmio de melhor direção e Don Quixote Award
*escolhido por WANG Bing

Não é um Filme Caseiro, de Chantal Akerman (2015)
*escolhido por Cyril Schäublin

M, de Yolande Zauberman (2018)
– vencedor do Prêmio LFW
*escolhido por Elie Grappe

Confira a lista completa com os selecionados suíços e mais informações no site do evento.

Foto: Divulgação/Barroca Filmes.

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