Cine Ceará 2021: Émerson Maranhão fala sobre Transversais, documentário exibido na Mostra Olhar do Ceará

por: Cinevitor
O diretor durante o debate sobre o filme.

Primeiro longa do cineasta Émerson Maranhão, Transversais, produzido por Allan Deberton, de Pacarrete, apresenta depoimentos de quatro pessoas trans que resgatam suas histórias, seus processos de autodescoberta e de trânsitos e jornadas, além também da participação de uma mulher cisgênero, mãe de uma adolescente trans.

Depois de passar pela Mostra de São Paulo, Mix Brasil e For Rainbow, no qual ganhou dois prêmios, o longa foi exibido na Mostra Olhar do Ceará, que teve a curadoria de Desirée Langel Rondón, na 31ª edição do Cine Ceará – Festival Ibero-americano de Cinema.

As quatro pessoas que participam do filme são: Samilla Marques, funcionária pública; Érikah Alcântara, professora; Caio José, enfermeiro; e o acadêmico Kaio Lemos. Eles e elas passaram por um delicado processo de autoaceitação até compreenderem sua subjetividade. Hoje, vivenciam tecnologias de gênero, como hormônios e cirurgias, que lhe asseguram uma aparência condizente com a maneira como se veem, mas ainda sofrem com a incompreensão, o estranhamento e o preconceito.

Já a jornalista Mara Beatriz, mulher cisgênero, enfrentou a transfobia de perto e refez sua vida ao tomar conhecimento que era mãe de uma adolescente transgênero. Hoje, é uma das mais ativas militantes do grupo Mães pela Diversidade no Ceará.

Na quarta-feira, 01/12, dia seguinte à exibição no Cineteatro São Luiz, em Fortaleza, o diretor participou de um debate mediado pelo jornalista Arthur Gadelha: “Eu entendo o Transversais como um transbordamento do Aqueles Dois [curta-metragem de Émerson Maranhão selecionado para mais de 60 festivais e mostras nacionais e internacionais, que conquistou 20 prêmios]. Ao longo da pesquisa para realizar o curta, percebi que muitas histórias ficaram de fora e que valia a pena voltar ao tema em uma próxima realização. Além disso, a ideia original seria fazer uma série de TV”, revelou.

Kaio Lemos em cena do filme.

Mesmo sofrendo censura do Governo Federal, que publicamente anunciou que “não tinha cabimento fazer um filme com este tema” e declarou que ele seria “abortado” do edital da Ancine em que era finalista, o filme ganhou ainda mais força: “Em sua primeira live que anunciou a censura para obras audiovisuais no Brasil, o primeiro projeto que o inominável citou foi o Transversais. Essa tentativa de silenciamento era do filme, das pessoas trans, da diversidade sexual, da cultura, do audiovisual. Então, eu e Allan Deberton, que é meu sócio neste projeto, decidimos fazer de qualquer maneira. Foi por isso que virou um longa. Tentamos outras formas de patrocínio e conseguimos fazer via Lei Aldir Blanc aqui no Ceará”

O cineasta também falou sobre a participação de Julia Katharine como consultora de roteiro: “Como todo processo documental, existem vários roteiros. Tem o de captação, que tentamos seguir ao máximo à risca. Mas, como foi rodado no meio da pandemia, tivemos dificuldades para executar algumas sequências e, por isso, algumas foram canceladas. Já para a montagem foram vários roteiros. Quando começamos a captação, achamos que seria muito importante ter o olhar de uma pessoa do cinema e que tivesse essa intimidade com a questão da transgenarildade. Por isso, chamamos a Julia Katharine, uma cineasta, roteirista e atriz maravilhosa, para olhar para esse tema conosco. Ela acompanhou o roteiro de captação e esteve presente em todos os cortes do filme”, finalizou.

Em formato híbrido, o Cine Ceará acontece virtualmente no Canal Brasil (tanto na grade linear, quanto nas plataformas Canais Globo e Globoplay + Canais ao Vivo), TV Ceará e  YouTube; e presencial em Fortaleza, com o limite de público determinado pelo Governo do Estado por conta da pandemia de Covid-19.

*O CINEVITOR está em Fortaleza e você acompanha a cobertura do 31º Cine Ceará por aqui, pelo canal no YouTube e pelas redes sociais: Twitter, Facebook e Instagram.

Fotos: Chico Gadelha/Divulgação.

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