Cannes 2024: A Queda do Céu, de Eryk Rocha e Gabriela Carneiro da Cunha, é selecionado para a Quinzena de Cineastas

por: Cinevitor
A Queda do Céu: documentário brasileiro selecionado

Organizada pela La Société des réalisateurs de films (la SRF), desde 1969, a Quinzena de Cineastas (Quinzaine des Cinéastes), antes chamada de Quinzena dos Realizadores, mostra paralela ao Festival de Cannes, colabora com a descoberta de novos cineastas independentes e contemporâneos.

Com o objetivo de ser eclética e receptiva a todas as formas de expressão cinematográfica, a Quinzena destaca a produção anual de filmes de ficção, curtas e documentários no cenário independente e também popular, com cineastas talentosos e originais.

Neste ano, em sua 56ª edição, que acontecerá entre os dias 15 e 25 de maio, o cinema brasileiro ganha destaque com A Queda do Céu, de Eryk Rocha e Gabriela Carneiro da Cunha, documentário que apresenta um diálogo com o livro homônimo de Davi Kopenawa, xamã Yanomami e um dos maiores líderes indígenas do mundo, e de Bruce Albert, antropólogo francês. A obra é considerada por muitos especialistas como um clássico contemporâneo

Esta não é a primeira vez de Eryk em Cannes. Em 2004, o cineasta disputou a Palma de Ouro de melhor curta-metragem por Quimera e, em 2016, recebeu o L’Œil d’or (Olho de Ouro) de melhor documentário por Cinema Novo, seu sétimo longa: “Uma alegria imensa retornar ao Festival de Cannes. Será minha terceira participação. Em 2016, Cinema Novo nasceu lá e viajou o mundo! Foi muito emocionante, ganhamos o L’Œil d’or de melhor filme documental do festival. Agora, com a A Queda do Céu na Quinzena de Cineastas será uma belíssima oportunidade e uma dupla celebração: de ver e ouvir explodir na tela o sonho e a luta do povo Yanomami e da força poética e geopolítica do xamã, filósofo e líder Davi Kopenawa. E, ainda, acompanhar a trajetória de um cinema que acreditamos e que está fora dos modismos e das convenções. De um cinema sem fórmulas, que navega no desconhecido, que transita entre a materialidade e o espírito e cuja linguagem surge da nossa relação com os Yanomamis e a comunidade de Watorikɨ, e que nasce, também, do nosso encontro com artistas Yanomamis que participaram criativamente da realização deste filme”, comentou Eryk.

O filme é uma codireção com a artista Gabriela Carneiro da Cunha: “Essa é minha estreia na direção no cinema. É uma grande emoção estar em Cannes, na Quinzena de Cineastas, em uma mostra reconhecida por sua ousadia e apuro estético. Esse é um filme que busca uma linguagem própria e essa busca foi completamente acolhida pela curadoria. De certo modo, é bonito pensar que o filme A Queda do Céu irá nascer na França, terra de Bruce Albert, um dos autores do livro homônimo e que em breve estará também circulando na Terra Indígena Yanomami”, complementou a diretora.

O longa é centrado na festa Reahu, ritual funerário e a mais importante cerimônia dos Yanomami, que reúne centenas de parentes dos falecidos com a finalidade de apagar todos os rastros daquele que se foi e assim colocá-lo em esquecimento. A partir de três eixos fundamentais do livro (Convite, Diagnóstico e Alerta), o filme apresenta a cosmologia do povo Yanomami, o mundo dos espíritos Xapiri, o trabalho dos xamãs para segurar o céu e curar o mundo das doenças produzidas pelos não-indígenas, o garimpo ilegal, o cerco promovido pelo povo da mercadoria e a vingança da Terra.

“A Queda do Céu é a expressão cinematográfica do arrebatamento que tivemos ao ler o livro. Mas principalmente da nossa relação e do que foi vivido em carne, osso e espírito ao longo dos últimos sete anos ao lado de Davi, Watorikɨ e os Yanomami. É um filme onde a câmera não olha só para os Yanomami, mas para nós não indígenas também. E isso sempre foi um fundamento do filme tanto para mim quanto para Eryk. Trabalhamos para fazer um filme que expressasse a materialidade onírica de uma relação”, explica Gabriela. O filme é produzido pela Aruac Filmes, é uma coprodução Brasil, Itália e França, da Hutukara Associação Yanomami e Stemal Entertainment com Rai Cinema e produção associada de Les Films d’ici.

Seguindo a edição anterior, a seleção de 2024 é menos uma tentativa de traçar um mapa da produção cinematográfica global do que de criar uma linha editorial composta por apostas genuínas, favoritos e filmes que têm sido intensamente debatidos no seio da comissão. A principal bússola sempre foi a singularidade da mise-en-scène de um filme, bem como sua poesia, sua potência afetiva, seu imaginário e sua autenticidade. 

O comunicado oficial diz: “A comissão prestou igual atenção a todas as formas e estilos cinematográficos: ficção, documentário, animação, experimental, cinema de género (comédia, fantasia, terror, etc.) e filmes de ensaio. Foram considerados todos os filmes recebidos, dos mais aguardados aos mais discretos, com a mesma graciosidade. A Quinzena continuará a celebrar o cinema em toda a sua diversidade”

O pôster deste ano é assinado pelo cineasta japonês Takeshi Kitano e foi criado a partir de uma pintura dele; o design gráfico é de Michel Welfringer. Sobre o cartaz, o ator, escritor, comediante, pintor e diretor japonês de quase 20 filmes, entre eles Kids Return: De Volta às Aulas, exibido na Quinzena de 1996, disse: “Interprete-a como quiser. O título é Takeshi!”

Confira a lista completa com os filmes selecionados para a Quinzena de Cineastas 2024:

LONGA-METRAGEM

A Queda do Céu, de Eryk Rocha e Gabriela Carneiro da Cunha (Brasil)
A Savana e a Montanha, de Paulo Carneiro (Portugal)
À son image, de Thierry de Peretti (França)
Algo viejo, algo nuevo, algo prestado, de Hernán Rosselli (Argentina)
Bakeneko Anzu-chan, de Yôko Kuno e Nobuhiro Yamashita (Japão)
Christmas Eve in Miller’s Point, de Tyler Taormina (EUA)
Eat the Night, de Caroline Poggi e Jonathan Vinel (França)
Eephus, de Carson Lund (EUA)
Gazer, de Ryan J. Sloan (EUA)
Good One, de India Donaldson (EUA)
La Prisonnière de Bordeaux, de Patricia Mazuy (França)
Les Pistolets en plastique, de Jean-Christophe Meurisse (França) (filme de encerramento)
Los hiperbóreos, de Cristóbal León e Joaquín Cociña (Chile)
Ma vie Ma gueule, de Sophie Fillières (França) (filme de abertura)
Mongrel (白衣蒼狗), de Chiang Wei Liang e You Qiao Yin (Taiwan)
Namibia no sabaku, de Yôko Yamanaka (Japão)
Sharq 12, de Hala Elkoussy (Egito)
Sister Midnight, de Karan Kandhari (Índia)
To a Land Unknown, de Mahdi Fleifel (Palestina/Dinamarca)
Une langue universelle, de Matthew Rankin (Canadá)
Volveréis, de Jonás Trueba (Espanha)

CURTA-METRAGEM

Après le soleil, de Rayane Mcirdi (França/Argélia)
Immaculata, de Kim Lêa Sakkal (Líbano)
Les Météos d’Antoine, de Jules Follet (França)
Một lần dang dở, de Nguyễn Trung Nghĩa (Vietnã)
Nuestra sombra, de Agustina Sánchez Gavier (Argentina)
O Jardim em Movimento, de Inês Lima (Portugal)
Quando a Terra Foge, de Frederico Lobo (Portugal)
Totemo mijikai, de Kōji Yamamura (Japon)
Very Gentle Work, de Nate Lavey (EUA)

SESSÃO ESPECIAL
Histoires d’Amérique: Food, Family and Philosophy, de Chantal Akerman (1989) (Bélgica)

Foto: Divulgação/Aruac Filmes.

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