Todos os posts de Cinevitor

Esqui

por: Cinevitor

Ski

Direção: Manque La Banca

Elenco: Barbara Anguita, Matilde Apellaniz, Segundo Botti, José Alejandro Colin, Fernando Gabriel Eduard, Shaman Herrera, Manel Medina, Aixa Iara Snaidman, Antonio Snaidman, Axel Nahuel Villegas.

Ano: 2021

Sinopse: Miguel trabalha como operador de teleférico em Bariloche. Através de seus olhos, descobrimos a violência social velada por trás da maior estação de esqui da América Latina.

Crítica: Depois de realizar alguns curtas-metragens, o cineasta argentino Manque La Banca faz sua estreia na direção de um longa-metragem com Esqui, exibido na mostra Forum do Festival de Berlim. Nesta coprodução entre Brasil e Argentina, o diretor começa o filme enaltecendo as belas paisagens de Bariloche, cidade turística conhecida pela prática do esqui nas montanhas. Porém, não demora muito para perceber que o longa não é sobre isso. Aqui, La Banca vai além das belezas naturais e da aglomeração de turistas. O cartão-postal ganha outras imagens aos olhos do diretor e do elogiável trabalho de montagem (assinado por ele ao lado de Manuel Embalse). O ritmo da narrativa se desenrola entre depoimentos de moradores da região, folclore e críticas socioambientais. Há uma inquietação interessante entre o real, a ficção e o experimental, que traz um ar misterioso para a trama. Esqui também destaca lendas urbanas, coloca, literalmente, monstros em cena, e se aprofunda em registros que expõem um passado violento que assombra aquele lugar. Ao longo de seus 77 minutos, o filme passeia pela história da cidade, desde seu começo e fundadores, e chega aos dias de hoje; mas não deixa de apresentar temas como exploração, hierarquia social e conflitos territoriais. Ainda que não tenha a intenção explícita de realizar uma crítica sobre o massacre aos povos indígenas, que dominavam o local e ainda seguem na luta para manter sua cultura viva, o diretor faz muito bem ao não evitar que tais assuntos sejam narrados por quem realmente sabe o que aconteceu naquelas montanhas. Esqui poderia, sim, ser um documentário sobre Barilhoce, mas ganha ainda mais força pelas escolhas criativas da direção em retratar confissões e fatos históricos misturados com ficção. Manque La Banca realiza uma obra instigante e reflexiva ao embaralhar gêneros cinematográficos para ir além de um passeio turístico embelezado pela neve. (Vitor Búrigo)

*Filme visto no 10º Olhar de Cinema – Festival Internacional de Curitiba.

Nota do CINEVITOR:

Tzarevna Descamada

por: Cinevitor

Tzarevna Scaling

Direção: Uldus Bakhtiozina

Elenco: Viktoria Assovskaya, Uldus Bakhtiozina, Albina Berens, Alina Korol, Aleksandra Kysotskaya, Mária Pavlová, Xenia Popova-Pendereckaya, Adelia Severinova, Serafima Solovyova, Valentina Yasen.

Ano: 2020

Sinopse: Polina, uma vendedora de peixes, não tem conseguido dormir, pois está preocupada com o seu irmão. Uma estranha idosa lhe oferece um chá, transformando seu sono em um conto de fadas.

Crítica: A artista visual russa Uldus Bakhtiozina é conhecida por seu trabalho em fotografias artísticas e videoclipes. Em Tzarevna Descamada, seu primeiro longa-metragem como diretora, ela reúne todo o seu estilo e referências para narrar um conto de fadas folclórico e extravagante. Entre figurinos deslumbrantes e maquiagens impecáveis, o filme entrega um visual alegórico que lembra editorias de moda conceituados. Bakhtiozina, que bebe diretamente na fonte da cultura pop, constrói uma narrativa lúdica e visualmente impactante. Ainda que deixe a desejar no roteiro, com toques de surrealismo, Tzarevna Descamada cumpre seu papel de conto de fadas contemporâneo. Há momentos que se parecem com videoclipes (e rendem ótimas cenas), mas há também uma preocupação em retratar as personagens com dinamismo. Nessa viagem pop, colorida e moderna, o longa dialoga com o experimental e brinca com diversos elementos fashionistas para contar sua história. Uldus Bakhtiozina é, de fato, uma artista criativa para ficar de olho, que já gera curiosidade sobre seus próximos trabalhos. (Vitor Búrigo)

*Filme visto no 10º Olhar de Cinema – Festival Internacional de Curitiba.

Nota do CINEVITOR:

Rumo ao Norte

por: Cinevitor

North by Current

Direção: Angelo Madsen Minax

Ano: 2021

Sinopse: Após a morte de sua jovem sobrinha, o cineasta retorna à sua cidade natal na zona rural de Michigan para criar um retrato lírico de sua família.

Crítica: Exibido na mostra Panorama do Festival de Berlim e premiado no L.A. Outfest, Rumo ao Norte, dirigido por Angelo Madsen Minax, narra um resgate ao passado diante de uma tragédia. Depois da morte de sua sobrinha, o cineasta decide reencontrar seus familiares em sua cidade natal. Durante esse período, aos poucos o espectador é apresentado a cada integrante do clã enquanto Angelo reconstrói alguns laços rompidos. Com afeto e delicadeza, expõe corajosamente detalhes de sua vida pessoal e daqueles que o cercam. Ao mesmo tempo em que esmiúça as memórias de sua família, entre traumas e sofrimentos, procura de alguma forma uma tentativa de expressar seu amor e pedir desculpas por algo que talvez nem ele saiba o que é; provavelmente algo relacionado à sua ausência. Ainda assim, não deixa de colocar o dedo na ferida para conseguir nomear a dor que os persegue. Além dos registros atuais, o diretor também utiliza imagens de arquivo para enfrentar o passado, buscar respostas e contextualizar o desenrolar dos acontecimentos na narrativa apresentada. Há reflexões profundas sobre culpa, ressentimento, fuga e carinho. Há também uma sombra angustiante que o acompanha sobre ser e estar em um lugar que não lhe pertence mais; sobre ir e vir. Em certo momento do filme, Angelo questiona: “como você se tornou a pessoa que é?”. Não há formula perfeita, não há comparação e não há um único caminho a seguir. Há cumplicidade, admiração e identificação. Entre tantas perguntas, no fundo ele sabe que, ainda que se afaste fisicamente, é nesse berço familiar que encontrará o que procura. Como diz o velho ditado: você sai do lugar, mas o lugar não sai de você. Rumo ao Norte é uma declaração de amor e também um resgate do afeto. (Vitor Búrigo)

*Filme visto no 10º Olhar de Cinema – Festival Internacional de Curitiba.

Nota do CINEVITOR:

Filmes brasileiros são premiados no Festival de Guadalajara 2021

por: Cinevitor
Medusa, de Anita Rocha da Silveira: prêmio de melhor interpretação para Lara Tremouroux.

Foram anunciados neste sábado, 09/10, os vencedores da 36ª edição do Festival Internacional de Cine en Guadalajara, considerado um dos mais fortes da América Latina.

O longa El Comediante, de Rodrigo Guardiola e Gabriel Nuncio, recebeu o Prêmio Mezcal de melhor filme, que destaca o cinema mexicano; o drama chileno Mis Hermanos Sueñan Despiertos, de Claudia Huaiquimilla, recebeu três prêmios, entre eles, o de melhor filme ibero-americano de ficção.

Neste ano, o cinema brasileiro também se destacou na premiação: a animação Bob Cuspe – Nós Não Gostamos de Gente, de Cesar Cabral, recebeu Menção Honrosa; entre os documentários, Luiz Bolognesi levou o prêmio de melhor direção por A Última Floresta e Eryk Rocha e Jorge Chechile receberam o prêmio de melhor fotografia por Edna.

Além disso, o Prêmio Maguey, que divulga e promove um cinema que começa com histórias acompanhadas por uma orientação sexual aberta e diversa, celebrando o melhor da cinematografia LGBTQ do mundo, destacou o trabalho da atriz Lara Tremouroux em Medusa, de Anita Rocha da Silveira, com o prêmio de melhor interpretação.

O evento também apresentou a mostra Guadalajara Construye, com sete obras de ficção em andamento (works in progress) em fase de pós-produção e/ou montagem. Entre os selecionados, dois títulos brasileiros foram contemplados com prêmios especiais: Hospício Colônia, de André Ristum; e Saudade fez morada aqui dentro, de Haroldo Borges; além de Pornomelancolía, de Manuel Abramovich, uma coprodução entre Argentina, Brasil e França.

A edição também contou com o Prêmio Projeto Paradiso Guadalajara Construye, que consiste em um subsídio de dez mil dólares doado pelo Projeto Paradiso a um projeto cinematográfico brasileiro em fase de pós-produção escolhido pelo júri selecionado; o contemplado foi Saudade fez morada aqui dentro, de Haroldo Borges.

Conheça os vencedores do 36º Festival Internacional de Cinema de Guadalajara:

PRÊMIO MEZCAL

Melhor Filme Mexicano: El Comediante, de Rodrigo Guardiola e Gabriel Nuncio
Melhor Direção: Antonio Hernández, por Nos Hicieron Noche
Melhor Fotografia: El Comediante, por María Secco
Melhor Atriz: Ilse Salas, por Plaza Catedral
Melhor Ator: Fernando Xavier, por Plaza Catedral

MOSTRA HECHO EN JALISCO

Melhor Filme: Domingo, de Raúl López Echeverría (México/França/Áustria)
Menção Honrosa: La Llevada y la Traída, de Ofelia Medina (México)

CURTA-METRAGEM IBERO-AMERICANO DE FICÇÃO

Melhor Curta: Before I Die, de Iker Esteibarlanda (Espanha)
Menção Honrosa: Manchester Acatitla, de Selma Cervantes (México)

CURTA-METRAGEM DE ANIMAÇÃO | PRÊMIO INTERNACIONAL RIGO MORA 

Melhor Curta: Bestia, de Hugo Covarrubias (Chile)
Menção Honrosa: Steakhouse, de Špela Čadež (Eslovênia/Alemanha/França)

PRÊMIO MAGUEY

Melhor Filme: Our Bodies Are Your Battlefields, de Isabelle Solas (França)
Prêmio do Júri: Tobi Színei, de Alexa Bakony (Hungria)
Melhor Interpretação: Lara Tremouroux, por Medusa

LONGA-METRAGEM INTERNACIONAL DE ANIMAÇÃO

Melhor Filme: My Sunny Maad, de Michaela Pavlátová (República Checa/França/Eslováquia)
Menção Honrosa: Bob Cuspe – Nós Não Gostamos de Gente, de Cesar Cabral (Brasil)

LONGA-METRAGEM IBERO-AMERICANO DE DOCUMENTÁRIO

Melhor Filme: El Cielo Está Rojo, de Francina Carbonell (Chile)
Menção Honrosa: Vals de Santo Domingo, de Tatiana Fernández Geara (República Dominicana)
Melhor Direção: Luiz Bolognesi, por A Última Floresta
Melhor Fotografia: Edna, por Eryk Rocha e Jorge Chechile

LONGA-METRAGEM IBERO-AMERICANO DE FICÇÃO

Melhor Filme: Mis Hermanos Sueñan Despiertos, de Claudia Huaiquimilla (Chile)
Melhor Direção: Nicolás Postiglione, por Inmersión
Melhor Roteiro: Mis Hermanos Sueñan Despiertos, escrito por Claudia Huaiquimilla e Pablo Greene
Melhor Atriz: María Romanillos, por Las Consecuencias
Melhor Ator: Iván Cáceres, por Mis Hermanos Sueñan Despiertos
Melhor Fotografia: Inmersión, por Sergio Armstrong
Melhor Filme de Estreia: Inmersión, de Nicolás Postiglione (Chile/México)

OUTROS PRÊMIOS

Prêmio do Público: Poderoso Victoria, de Raúl Ramón (México)
Prêmio FIPRESCI: Nos Hicieron Noche, de Antonio Hernández (México)
Prêmio Jorge Cámara: Corazón Azul, de Miguel Coyula (Cuba)
Prêmio FEISAL: Nuestra Libertad, de Celina Escher (El Salvador/Suécia)
Prêmio Mezcal Jovem | Melhor Filme: Dirty Feathers, de Carlos Alfonso Corral (México/EUA)
Prêmio Mezcal Jovem | Menção Honrosa: Mostro, de José Pablo Escamilla (México)

Foto: Divulgação/Bananeira Filmes.

Um Céu Tão Nublado

por: Cinevitor

So Foul a Sky

Direção: Álvaro F. Pulpeiro

Ano: 2021

Sinopse: A Venezuela se afunda cada vez mais em uma crise política e econômica enquanto cidadãos órfãos vagam pelas terras fronteiriças deste outrora poderoso petroestado.

Crítica: Exibido no IndieLisboa, Um Céu Tão Nublado, de Álvaro F. Pulpeiro, leva o espectador para a Venezuela, em uma situação complexa de conflitos, e suas fronteiras. Ainda que traga questões políticos em seu entorno, o documentário preocupa-se em retratar a realidade de seus personagens que transitam por lugares quase que esquecidos. Com uma fotografia fascinante de Mauricio Reyes Serrano, que, sem contar com a presença do sol, imprime na tela o crepúsculo naquelas paisagens, o cineasta percorre estradas e fronteiras com a intenção de que a narrativa se adapte aos acontecimentos registrados e defina seu tempo próprio. Aqui, Álvaro F. Pulpeiro propõe uma imersão sensorial ao espectador ao mesmo tempo em que contextualiza a obra em relação ao mundo lá fora. Um Céu Tão Nublado não deixa de falar sobre política, mas prefere que o diálogo parta desse registro do cotidiano de seus transeuntes nesses territórios para depois ir além com outras reflexões. (Vitor Búrigo)

*Filme visto no 10º Olhar de Cinema – Festival Internacional de Curitiba.

Nota do CINEVITOR:

Filmes paranaenses ganham destaque na programação do 10º Olhar de Cinema

por: Cinevitor
Cena do curta Meu Coração é um Pouco Mais Vazio na Cheia, de Sabrina Trentim.

A mostra Mirada Paranaense do Olhar de Cinema – Festival Internacional de Curitiba é dedicada a apresentar ao público um panorama da produção audiovisual local, do estado do Paraná. O espectador é convidado a conhecer as primeiras produções de jovens realizadores locais, bem como a acompanhar novos trabalhos de cineastas experientes.

Neste ano, além dos curtas, pela primeira vez a mostra conta com dois longas-metragens: Bia Mais Um, de Wellington Sari, que conta a história de uma garota de 17 anos que está de mudança e acaba de retornar do exterior; e Ursa, de William de Oliveira, que mostra um ataque de pit bull em um bairro periférico e seus trágicos desdobramentos. Há, todavia, um terceiro paranaense na seleção do festival: o curitibano Mirador, de Bruno Costa, que teve sua estreia na Mostra de Cinema de Tiradentes e integra a Olhares Brasil.

A seleção de curtas-metragens conta com oito produções, entre elas, Meu Coração é um Pouco Mais Vazio na Cheia, de Sabrina Trentim, um filme-ensaio que se passa no rio Araguaia, em Tocantins: “É um trabalho muito pessoal e subjetivo. Eu filmei o que me chamava atenção e o que eu achava interessante com a pretensão de jogar o filme para o mundo para mostrar a festa que acontece por lá. Fui honesta comigo e com a minha arte”, disse a diretora em entrevista ao CINEVITOR por e-mail.

Além de realizadora, Sabrina, que é natural de Araguaína, uma cidade agropecuária no norte de Tocantins, mudou-se para Curitiba para estudar cinema e construiu uma história com o Olhar de Cinema: “Eu adoro esse festival de paixão. Em 2017 foi minha primeira edição e eu, como espectadora, estava totalmente deslumbrada. Eu adorava a mostra Olhares Clássicos, que é ótima para quem está começando a graduação. Em 2018, fui voluntária e trabalhei no transporte das vans; foi uma experiência maravilhosa. No ano seguinte já assumi mais responsabilidades. Além de trabalhar, em 2019, passou um filme nosso [da faculdade] na Mirada Paranaense, que é o Criativa(mente) Destoante, de Natacha Oleinik; eu assinei as funções de produção e também fiz som direto. Já em 2020 foi aquele baque, sendo a primeira edição on-line. Acompanhei os filmes em casa”.

Sobre participar da décima edição como realizadora, Sabrina disse: “Esse ano eu inscrevi o filme sem pretensão e quando recebi a notícia eu não acreditei. Fiquei super feliz. Passar meu primeiro filme como diretora no festival é incrível. Eu estou muito feliz de estar no Olhar de Cinema e de ter sido escolhida pela curadoria. É muito emocionante abrir o catálogo e ver o meu nome e uma foto do rio Araguaia”.

A programação de curtas continua com: A Busca do Eu e O Silêncio, de Giuliano Robert; Anamnese, de Tiago Lipka; Aquela Mesma Estação, de Luiz Lepchak; Elas São o Meu Início, de Jessica Quadros; Marcha de uma Liberdade Roubada, de Laís da Rosa Coelho; Retrato Falado, de Luiz Bonin e Oda Rodrigues; e Segunda Natureza, de Milla Jung.

*Clique aqui e acompanhe a programação do 10º Olhar de Cinema.

Foto: Divulgação.

A Máquina Infernal

por: Cinevitor

Direção: Francis Vogner dos Reis

Elenco: Carolina Castanho, Glauber Amaral, Carlos Escher, Talita Araujo, Maria Leite, Martha Guijarro, Carlos Francisco, Renan Rovida, Carlota Joaquina, Luis Chierotto, Allan Peterson dos Reis, Celina Maria dos Reis, Nilson Heleno dos Reis, Tiago A. Neves, José Faustino de Cássia, Diaulas Ullysses, Carmen de Jesus da Silva, Evandro de Souza, Francisco Glauter de Almeida Leal, Iris Junges, Maria Tereza Urias, Renato de Souza Santana, Rodrigo da Silva Rodrigues, Sara Cristiane dos Reis, Taila da Silva Albuquerque, Saulo Lima Carvalho.

Ano: 2021

Sinopse: Uma fábula sobre o apocalipse da classe operária.

*Clique aqui e leia a entrevista exclusiva com o diretor.

*Filme visto no 10º Olhar de Cinema – Festival Internacional de Curitiba.

Nota do CINEVITOR:

As Preces de Delphine

por: Cinevitor

Les prières de Delphine

Direção: Rosine Mbakam

Elenco: Delphine

Ano: 2021

Sinopse: Delphine, tal qual outras mulheres, faz parte da atual geração de jovens africanas oprimidas por nossas sociedades patriarcais, na qual a colonização sexual ocidental desponta como único meio de sobrevivência. Por meio de sua coragem e força, ela expõe esses padrões de dominação que continuam a aprisionar as mulheres africanas.

Crítica: Premiado no IndieLisboa e no Cinéma du Réel, o documentário As Preces de Delphine, dirigido pela cineasta Rosine Mbakam, destaca uma imigrante camaronesa que reside na Bélgica. Carismática, a protagonista, que aos poucos revela uma certa intimidade com a diretora, narra sua história entre altos e baixos. Neste monólogo da vida real para chamar de seu, Delphine não deixa escapar nada; ela relata com detalhes diversas situações que deixaram cicatrizes profundas. Ao contar esses traumas para a câmera, embarca em um processo doloroso, mas também de desabafo. Cara a cara com seu passado, Delphine acaba reencontrando a si mesma; fala de perdão, sobrevivência, escolhas erradas, medos. Em seu discurso, passeia por temas importantes e necessários, que merecem ainda mais atenção nos dias de hoje. Em certo momento, ela diz: “ninguém me ajudou a fazer escolhas certas”. Com isso, abre uma brecha para refletir sobre sua determinação em alcançar um futuro melhor para si e para os seus. É sobre dar a volta por cima, mas também sobre lidar com fantasmas que a assombraram por muito tempo. Para contar essas histórias, Rosine Mbakam, de No Salão Jolie, exibido no Olhar de Cinema em 2019, se aproxima ainda mais de sua protagonista com uma câmera intimista dentro de sua casa. Ainda que falte ritmo em alguns momentos, por conta de enquadramentos repetitivos, o desenrolar da narrativa se sustenta nas falas potentes de Delphine. Entende-se a intenção da diretora em chamar atenção apenas para essa mulher tão interessante, sem deixar que o externo invada tais confissões. Porém, tal escolha acaba prejudicando levemente o desdobramento das ações. Ainda assim, As Preces de Delphine se apresenta como uma obra substancial com uma protagonista que carrega uma bagagem de sofrimento, superação e sobrevivência em uma sociedade injusta e machista. (Vitor Búrigo)

*Filme visto no 10º Olhar de Cinema – Festival Internacional de Curitiba.

Nota do CINEVITOR:

Conferência

por: Cinevitor

Konferentsiya

Direção: Ivan I. Tverdovskiy

Elenco: Natalya Pavlenkova, Natalya Tsvetkova, Yan Tsapnik, Filipp Avdeev, Anna Slyu, Natalya Potapova, Aleksandr Golubkov, Kseniya Zueva, Olga Lapshina, Aleksandr Semchev, Julia Khamitova, Aleksandr Zlatopolskiy, Oleg Feoktistov, Marina Zubanova, Elena Nesterova, Roman Shmakov, Natalia Grinshpun, Sergey Petrov, Anna Galinova, Igor Vorobyov, Natalya Batrak, Viktoriya Verberg.

Ano: 2020

Sinopse: Anos depois de um ataque terrorista em um teatro de Moscou, a sobrevivente Natasha retorna ao local do crime para um evento memorial com outros participantes.

Crítica: Escrito e dirigido pelo cineasta russo Ivan I. Tverdovskiy e exibido na mostra Giornate degli Autori, em Veneza, Conferência é baseado em um ataque terrorista que aconteceu em Moscou, em 2002, quando sequestradores invadiram um teatro lotado e mantiveram os espectadores e artistas como reféns até uma intervenção militar que terminou com mais de cem mortos. Ao trazer à tona essa tragédia na ficção, o diretor opta por um caminho interessante: retratar os sobreviventes em um evento memorial no mesmo local, anos depois, com depoimentos doloridos sobre seguir em frente diante de uma situação tão traumática. A ideia do encontro surge através de Natasha, interpretada pela talentosa Natalya Pavlenkova, que reúne as pessoas. Ao mesmo tempo em que o espectador acompanha a missão da protagonista, sua vida pessoal também é colocada em evidência. Entre tantos conflitos internos e problemas familiares, Pavlenkova entrega uma atuação brilhante que carrega uma feição serena, porém prestes a entrar em ebulição; a insistência de sua personagem nada mais é do que enfrentar o medo, que ela trata como o grande pecado, e suas dores para, talvez, conseguir seguir mais aliviada. Já nas sequências dentro do teatro, com enquadramentos bem fotografados por Fedor Glazachev, o público mergulha em histórias perturbadoras e comoventes. Assim, Tverdovskiy, que conduz o longa com maestria, deixa fluir em detalhes os acontecimentos com a proposta de inserir o espectador, em um leque de imaginação, nessa história dramática repleta de sofrimentos. Há outros elementos que também chamam atenção ao desenrolar da trama e, que, obviamente, não foram inseridos por acaso: um aspirador na sequência inicial, a ficha preenchida para alugar o teatro (que revela o título do filme), uma réplica da escultura Pietà, de Michelangelo, entre outros. Com intensidade, o filme consegue conectar o lado pessoal de sua protagonista, assombrada por lembranças, com o coletivo em sua eterna busca por um respiro desafogado. Conferência fala de dor, mas também de afeto; fala de traumas do passado, mas também de esperança. (Vitor Búrigo)

*Filme visto no 10º Olhar de Cinema – Festival Internacional de Curitiba.

Nota do CINEVITOR:

3ª Mostra Cinemas do Brasil: programação exibe filmes sobre cinemas de rua do país

por: Cinevitor
Cena do documentário Vozes da Memória, de Raissa Dourado.

A terceira edição da Mostra Cinemas do Brasil, intitulada Memorabilia dos Cinemas de Rua, iniciou as exibições virtuais no dia 1º de outubro com mais de 30 produções de diversos estados do país, disponíveis no site da mostra até o final do mês (clique aqui).

Uma programação paralela será realizada promovendo encontros com realizadores, pesquisadores, coletivos/movimentos, além de uma conversa sobre literatura relacionada ao tema Cinema de Rua; a programação gratuita da mostra on-line está disponível no site. A terceira edição no formato presencial segue até 2022. Junto às edições anteriores, o site já abriga mais de 70 filmes com a temática cinemas de rua.

Para esta edição, a mostra contou com mais de 200 produções inscritas. Foram 31 filmes selecionados e uma websérie sobre cinemas de rua, personagens de cinema e ações cineclubistas, com títulos documentais, ficcionais e experimentais. A 3ª Mostra Cinemas do Brasil retoma a importância da reabertura dos espaços que trazem memórias e histórias.

As exibições em formato híbrido estão distribuídas nos recortes: Diálogos com o cinema, que faz um recorte da mostra com filmes que dialogam sobre os cinemas de rua do país; Cinema de rua e novas mídias, com filmes que expõem a resistência dos cinemas de rua do Brasil em meio ao advento das novas mídias e tecnologias tais quais VHS, DVD e streaming; Cinema em toda parte, com filmes sobre cinemas não convencionais; Memórias de Cinema, que apresenta filmes sobre cinemas memoráveis; Por trás da tela, que apresenta filmes sobre projecionistas; Protagonistas de cinema, com filmes sobre personagens e personalidades protagonistas dos cinemas de rua do país; Sessão proibida, que apresenta filmes com temática nos cinemas pornô; e Subúrbio em Transe, com filmes produzidos pelo coletivo carioca Subúrbio em Transe.

A novidade desta edição é que as televisões públicas do Nordeste, integrantes das duas edições anteriores da mostra, como TVE Bahia e TVPE, terão recortes específicos das produções dos estados; a TV Aperipê, de Sergipe, exibirá um recorte contemplando as produções nordestinas. 

Com a reabertura de espaços exibidores fechados por conta da pandemia de Covid-19, a 3ª Mostra Cinemas do Brasil irá promover sessões presenciais em diversas capitais. Já estão confirmadas: La Paz (Bolívia), Rio de Janeiro (Cinemateca do MAM), Jacobina (Cineclube Payaya), Florianópolis (MIS, Museu da Imagem e do Som de Santa Catarina), Além Paraíba (PopCine – Circuito Popular de Cinema), Guaíba (Cineclube Paradiso), Belo Horizonte (Instituto Humberto Mauro), Mateus Leme (Cineclube da Casa de Cássia), Olinda (Território Cena PE), Leme (Cine Avenida/Casa da Praça/Etec Deputado Salim Sedeh), Manaus (Cine Casarão) e Baixo Guandu (Cineclube CinemAqui). A mostra tem interesse em exibir nas cidades de Recife, Salvador, São Paulo, Aracaju e Belém; outros espaços exibidores poderão demonstrar interesse em receber o grande circuito exibidor da 3ª Mostra Cinemas do Brasil através de inscrição no site da mostra.

A terceira edição contemplou novamente a diversidade dos filmes inscritos com diferentes recortes das edições anteriores. Pensada como janela de exibição de filmes que retratam as histórias dos cinemas de rua extintos ou em processo de reabertura, personagens de cinema e ações cineclubistas, a curadoria destaca obras que exaltam as salas de cinema fundamentais para o audiovisual brasileiro, além de dialogar com a importância do retorno destes espaços; são trabalhos extremamente criativos do ponto de vista da linguagem e da estética das artes cinematográficas. A curadoria foi composta por Eudaldo Monção, realizador, idealizador e coordenador da mostra; e Priscila Urpia, especialista em cinema, jornalista, curadora e integrante do Coletivo #CineRuaPE.  

Para mais informações sobre a programação completa, clique aqui.

Foto: Divulgação.

O Protetor do Irmão

por: Cinevitor

Okul tirasi

Direção: Ferit Karahan

Elenco: Samet Yildiz, Ekin Koç, Mahir Ipek, Melih Selcuk, Cansu Firinci, Nurullah Alaca, Mert Hazir, Mustafa Halli, Münir Can Cindoruk, Umit Bayram, Dilan Parlak, Ferit Karahan, Nedim Salman, Siddik Salaz, Ertan Gul, Hamdullah Arvas, Tekin Bulut.

Ano: 2021

Sinopse: Yusuf e seu melhor amigo Memo são alunos curdos em um internato isolado nas montanhas da Anatólia. Quando Memo é acometido por uma misteriosa doença, Yusuf é forçado a superar os obstáculos burocráticos colocados pelas autoridades repressivas da escola.

Crítica: Vencedor do Prêmio FIPRESCI no Festival de Berlim deste ano, o drama O Protetor do Irmão, dirigido pelo cineasta turco Ferit Karahan, narra, entre tantas camadas, uma história sobre amizade. Protagonizado pelo pequeno e talentoso Samet Yildiz, o longa mostra as dificuldades de um garoto para conseguir ajudar o melhor amigo, que está doente, dentro de um internato isolado nas montanhas da Anatólia. O filme fica ainda mais interessante e instigante ao retratar o cotidiano daquele lugar envolto em corrupção, autoritarismo e maus-tratos. A câmera de Türksoy Gölebeyi, que assina a direção de fotografia, caminha com familiaridade pelos corredores frios e retrata o dia a dia daqueles garotos com precisão. Lá, há regras que precisam ser cumpridas com disciplina e atenção. Mas, quando isso não acontece, as consequências afetam a convivência de todos. Neste cenário, Ferit Karahan retrata professores impositivos, arrogantes e egoístas. Mostra com clareza um sistema educacional ultrapassado e prepotente, que abala psicologicamente aquelas crianças. Entre os bastidores desse lugar e a situação agoniante do garoto adoentado e de seu melhor amigo, o diretor, que assina o roteiro ao lado de Gülistan Acet, cria um clima de tensão ao desenrolar da narrativa para desvendar o motivo da doença e, ao mesmo tempo, constrói um arco dramático interessante que conecta os acontecimentos. A atuação de Samet Yildiz, que carrega medo e preocupação no olhar, e também bondade e fragilidade, é primorosa. É com ele que o espectador embarca nessa bola de neve de conflitos e soberba muito bem retratada. O Protetor do Irmão vai além de um filme sobre amizade ao reproduzir um cotidiano cruel e opressor que estremece a reputação daqueles que estão no poder quando se sentem ameaçados diante de mentiras prestes a serem desmascaradas. (Vitor Búrigo)

*Filme visto no 10º Olhar de Cinema – Festival Internacional de Curitiba.

Nota do CINEVITOR:

O Marinheiro das Montanhas, de Karim Aïnouz, será o filme de encerramento do 31º Cine Ceará

por: Cinevitor
O filme será exibido no dia 3 de dezembro no Cineteatro São Luiz.

Dirigido pelo cineasta cearense Karim Aïnouz, O Marinheiro das Montanhas será o filme de encerramento do 31º Cine Ceará – Festival Ibero-americano de Cinema, que acontecerá entre os dias 27 de novembro e 3 de dezembro, com exibição hors concours, em Fortaleza, cidade natal do diretor.

O longa é um diário de viagem filmado na primeira ida de Karim à Argélia, país em que seu pai nasceu. Entre registros da viagem, filmagens caseiras, fotografias de família, arquivos históricos e trechos de super-8, o filme opera uma costura fina entre a história de amor dos pais do diretor, a Guerra de Independência Argelina, memórias de infância e os contrastes entre Cabília (região montanhosa no norte da Argélia) e Fortaleza, cidade natal de Karim e de sua mãe, Iracema. Passado, presente e futuro se entrelaçam em uma singular travessia.  

Exibido fora de competição no Festival de Cannes, o longa é todo narrado por Karim, que lê uma carta para a sua mãe, já falecida, transformada em uma companheira imaginária de viagem. Enquanto relata e comenta episódios da jornada, ele reativa memórias familiares e revela os muitos sentimentos contraditórios que marcam o seu percurso. O processo de criação se deu durante a pandemia, quando se debruçou sobre o material filmado em janeiro de 2019, época em que realizou pela primeira vez a travessia de barco pelo Mar Mediterrâneo para a Argélia e seguiu até as Montanhas Altas no norte do país.  

No 31º Cine Ceará, o filme será exibido no dia 3 de dezembro no Cineteatro São Luiz. Para a programação presencial, o festival seguirá os protocolos sanitários vigentes do setor de audiovisual/cinema, estabelecidos pelo Governo do Ceará por meio de decreto. Margarita Hernandez é a diretora de programação do evento e o cineasta Wolney Oliveira é o diretor executivo do festival desde 1993. 

*Clique aqui e confira os longas e curtas selecionados para as mostras competitivas.

*Clique aqui e confira os filmes selecionados para a Mostra Olhar do Ceará.

Foto: Reprodução YouTube.