
O segundo dia da 12ª edição do Circuito Penedo de Cinema contou com diversas atividades, entre elas, a oficina O Ator no Audiovisual, com Francisco Gaspar, e a Mostra Internacional de Cinema Socioambiental com a exibição de sete curtas-metragens.
No período da noite de terça-feira, 15/11, no Centro de Convenções Zeca Peixoto, a sessão começou com os filmes da mostra competitiva do Festival de Cinema Universitário de Alagoas. Na sequência, foi exibido o longa-metragem pernambucano Carro Rei, dirigido por Renata Pinheiro.
Grande vencedor do Festival de Gramado, em 2021, com cinco kikitos, entre eles, o de melhor filme e Prêmio Especial do Júri para a atuação de Matheus Nachtergaele, o longa fez sua estreia mundial no prestigiado Festival de Roterdã, também em 2021 e, desde então, acumulou ótimas críticas e participações em mais de 30 festivais nacionais e internacionais.
A trama aborda o transhumanismo dentro de uma narrativa pop, que mistura ficção científica, comédia e forte critica social. O jovem chamado Uno, interpretado por Luciano Pedro Jr., ganhou esse nome de seus pais em homenagem ao carro em que ele nasceu a caminho da maternidade. O nascimento dentro da máquina lhe deu um dom fantástico: ele consegue se comunicar com carros. Durante a infância, Uno e o carro eram melhores amigos, até que um evento trágico muda seu destino: um acidente mata a mãe de Uno e o carro é exilado no ferro-velho da família.
Quando uma nova lei proíbe a circulação de carros velhos e coloca a empresa de táxi do seu pai em perigo, o rapaz busca orientação com seu melhor amigo de infância, um carro de inteligência extraordinária. Junto com seu tio, um mecânico inventivo, eles armam um plano para burlar a lei, transformando carros velhos em novos. O carro renasce e seu nome é Carro Rei, um carro que pode falar, ouvir, se apaixonar e que tem planos para todos.
Equipe do filme conversa com o público do festival
Com Matheus Nachtergaele, Luciano Pedro Jr., Jules Elting, Clara Pinheiro, Adélio Lima, Ane Oliva e Tavinho Teixeira no elenco, o filme passou por diversos festivais e foi premiado, entre eles, Raindance, na Inglaterra, Feratum, no México, o brasileiro CINEFANTASY, entre outros.
Antes da exibição em Penedo, a diretora Renata Pinheiro conversou com o público presente ao lado do roteirista Sergio Oliveira e da atriz alagoana Ane Oliva: “Esse filme partiu muito da observação da nossa sociedade, da nossa cidade. A gente vive em Recife, um lugar que tem um trânsito absurdo, muito intenso. No cinema, costumamos fazer uma pesquisa de linguagem e estamos sempre tentando ir um pouco mais além a cada filme que se passa”, disse.
Renata destacou sua já longa parceria com Sergio Oliveira, diretor e roteirista com quem trabalhou desde seu primeiro curta, Superbarroco, e com quem codirigiu vários trabalhos, entre eles o longa Açúcar e os documentários Praça Walt Disney e Estradeiros; e também com o diretor de fotografia Fernando Lockett, com quem trabalha desde seu primeiro longa, Amor, Plástico e Barulho.
Durante o bate-papo, Sergio Oliveira falou: “Tem muito do Brasil de hoje nesse filme, principalmente pelas falas fascistas que estão no texto. Foi um roteiro muito desafiador, que teve muitas influências, mas que não podia faltar essa coisa brasileira de ser, tanto é que escolhemos Caruaru como locação do filme. Além do nascimento do fascismo no Brasil, também exploramos assuntos como agroecologia e a força reativa à mecanização”.
Matheus Nachtergaele em cena
Renata completou: “Quando nossa realidade parece se tornar cada vez menos verossímil, talvez não seja de todo absurdo a possibilidade de se vislumbrar no fantástico uma forma potente de fabulação crítica da realidade. O estranho, bizarro ou improvável, e também o que desperta o riso, são os principais aspectos políticos do meu filme. Carro Rei é um filme sobre a luta de classes, que se utiliza da fantasia para adentrar numa realidade de um país destroçado por um governo de extrema direita”.
A atriz Ane Oliva também conversou com o público: “Carro Rei é um filme muito especial pra mim porque foi a segunda produção que eu participei fora de Alagoas. Isso demonstra essa abertura para os artistas alagoanos nas produções da região. Tenho muita honra de ter trabalhado com a Renata, que é uma referência para nós mulheres que trabalhamos com cinema. Como artista, é muito importante me ver em uma tela como essa. Eu fico muito honrada em estar aqui tanto com o Carro Rei quanto com o curta Infantaria”.
A diretora finalizou o debate: “O protagonista do filme é um carro pensante. Colocamos uma premissa de um menino que nasce em Caruaru, que é interpretado por um grande ator alagoano chamado Luciano Pedro Jr. Se uma criança nasce numa cidade com habilidade de falar com máquinas… o que seria isso? O que aconteceria a partir daqui? Se ele fala com máquinas é porque existe uma vida secreta dessas máquinas”.
*O CINEVITOR está em Penedo e você acompanha a cobertura do evento por aqui, pelo canal do YouTube e pelas redes sociais: Twitter, Facebook e Instagram.
Fotos: Hygor Peixoto/Divulgação.