27ª Mostra de Cinema de Tiradentes divulga filmes selecionados para a Mostra Olhos Livres

por: Cinevitor
Mel Lisboa no longa Foram os Sussurros que me Mataram

A 27ª edição da Mostra de Cinema de Tiradentes, que acontecerá entre os dias 19 e 27 de janeiro de 2024, anunciou a seleção da Mostra Olhos Livres, espaço de abordagens estéticas arrojadas para possibilidades lúdicas e criativas da linguagem desenvolvidas por realizadores já com alguma circulação por festivais.

São seis longas-metragens e, numa situação poucas vezes repetida nessa mostra, todos são inéditos no país. A escolha foi feita pela curadoria coordenada por Francis Vogner dos Reis e composta por Tatiana Carvalho Costa e Juliano Gomes, com assistência de Rubens Anzolin. Todos os títulos serão avaliados pelo Júri Jovem e concorrem ao Troféu Carlos Reichenbach.

Para Juliano Gomes, que estreia em 2024 na equipe de curadoria da Mostra, a escolha dos títulos a comporem a Olhos Livres seguiu alguns critérios adotados pelo grupo e sempre teve por horizonte a heterogeneização dos filmes a serem exibidos. Ou seja, fazendo jus ao conceito da seção, uma homenagem ao cineasta Carlos Reichenbach (1945-2012), que por sua vez adotava a ideia dos olhos livres a partir de escritos de Oswald de Andrade; a ideia é que o público tome contato com filmes de estilos muito distintos que forme “um conjunto de possibilidades de invenção que não se dão por repetição de procedimentos, e sim pela percepção de que não existe uma fórmula única de expressão do mundo”, conforme o curador.

“O contexto que se desenha hoje no Brasil de retomada do audiovisual produzido no país parece se demonstrar talvez refratário ao cinema independente que Tiradentes ajudou a cunhar e projetar intensamente nos últimos anos. Então a Mostra precisa, assim, afirmar e reafirmar sua história e seus marcos. Os filmes que estão na Olhos Livres de 2024 fazem parte de uma fornada de títulos inéditos que representa um índice muito pulsante e de técnicas, abordagens e tons variados e estimulantes. É uma parte muito viva da programação”, reflete Juliano Gomes.

Sobre a seleção: Aquele que Viu o Abismo tem direção de dois artistas que já passaram pela Olhos Livres: Gregorio Gananian venceu a mostra em 2017 com Inaudito, enquanto Negro Léo foi personagem-título de É Rocha e Rio, Negro Léo, de Paula Gaitán (2020). Unidos, eles desenvolvem o retrato de um sujeito paranoico diante de uma situação descrita como “escassez da civilização ingênua”.

Cena do documentário A Câmara, de Cristiane Bernardes e Tiago de Aragão

Foram os Sussurros que me Mataram é uma fábula política contemporânea protagonizada por Mel Lisboa no papel de Ingrid Savoy, celebridade prestes a entrar num reality show que passa dias confinada em um quarto de hotel. Entre visões premonitórias, um ataque de paparazzi e atentados anarquistas, ela vive  a constante iminência de um escândalo. O diretor Arthur Tuoto já esteve em Tiradentes, onde participou da Mostra Aurora em 2014 com Aquilo que Fazemos com as Nossas Desgraças.

Seu Cavalcanti é uma docficção de cunho familiar dirigida por Leonardo Lacca, que filma o próprio avô de mais de 90 anos que, depois de sofrer uma grande contrariedade, tenta reconquistar a própria independência e prestígio, num instigante jogo de indeterminação entre performance pessoal e performance artística. O filme tem produção de Kleber Mendonça Filho e Emilie Lesclaux e conta no elenco com a atriz Maeve Jinkings.

Terror Mandelão aborda o som, a tecnologia e o mercado de trabalho dos bailes funk de quebradas de São Paulo. O foco é no DJ K, um dos principais artistas do Baile do Helipa, maior comunidade da capital paulista, e seu amigo MC Zero K. O filme combina documentário, elementos ficcionais e experimentação visual e trata, com profundidade criativa, as desventuras desses jovens na luta para viver de música. O diretor GG Albuquerque, que assina com Felipe Larozza, integrou o Júri da Crítica na Mostra Aurora na edição de 2023.

A Câmara é um documentário de urgência, feito no calor político de hoje, e acompanha deputadas trabalhando no Parlamento em Brasília. Temas como direitos reprodutivos, educação, estado laico, racismo e polarização surgem nos embates e performances captados de forma límpida, transparente e rigorosa pela dupla Cristiane Bernardes e Tiago de Aragão.

SOAP é um projeto experimental nascido como uma série em seis partes, que foram expostas em galerias de exposição e agora são reunidas em um longa-metragem, criando uma outra possibilidade de apreensão. O experimento, desenvolvido pela artista plástico Tamar Guimarães, consiste na manipulação da linguagem de cinema e de telenovelas para acompanhar a tentativa de infiltração de intelectuais e agentes culturais de esquerda nas redes sociais de defensores da direita. O intuito é construir uma novela com mensagens subversivas sob a forma conservadora de um produto cultural religioso.

Em 2024, o Júri Jovem convidado a avaliar os filmes da Mostra Olhos Livres é formado por: Bárbara Mello, 24 anos, aluna de Cinema e Audiovisual no Centro de Artes, Humanidades e Letras da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB); Emmanuel Corrêa, 25, aluno do 6º período de Cinema e Audiovisual na Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF); Helena Elias, 23, aluna do 8º período de Filosofia na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG); Marina Bonifácio, 23, aluna do 4º período de Arte Dramática na Escola Técnica de Artes da Universidade Federal do Alagoas (UFAL); e Wandryu Figueiredo, 24, aluno do 7º período de Cinema e Audiovisual na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).

Conheça os filmes selecionados para a Mostra Olhos Livres da 27ª Mostra Tiradentes:

A Câmara, de Cristiane Bernardes e Tiago de Aragão (DF)
Aquele que Viu o Abismo, de Gregorio Gananian e Negro Léo (SP)
Foram os Sussurros que me Mataram, de Arhur Tuoto (PR)
Seu Cavalcanti, de Leonardo Lacca (PE)
SOAP, de Tamar Guimarães (RJ/SP)
Terror Mandelão, de Felipe Larozza e GG Albuquerque (SP)

Fotos: Divulgação.

Comentários