Recifest – Festival de Cinema da Diversidade Sexual e de Gênero anuncia edição especial e on-line

por: Cinevitor

elaandardecimarecifestMarcélia Cartaxo e Raquel Rizzo no curta Ela que Mora no Andar de Cima.

O Recifest – Festival de Cinema da Diversidade Sexual e de Gênero, que geralmente acontece no Recife, no Cinema São Luiz, realizará uma edição especial em formato on-line. Com apoio da Lei Aldir Blanc, o evento, que não aconteceu no ano passado por conta da pandemia de Covid-19, contará com filmes e atividades paralelas entre os dias 26 e 31 de março.

Nesta edição virtual e gratuita, serão 29 curtas-metragens que estarão disponíveis para visualização e votação popular por cinco dias. Além disso, a programação contará também com o longa cearense convidado Canto dos Ossos, de Jorge Polo e Petrus de Bairros, grande vencedor da 23ª Mostra de Cinema de Tiradentes.

Para este ano, a curadoria do Recifest, formada por Anti Ribeiro, Felipe André Silva e Labelle Rainbow, convidou filmes para estimular sensações, acessar outros tempos e repensar impossibilidades. Os curtas estarão divididos em sessões temáticas: Bugs São Efeitos Não Defeitos, Breve Narrativa de Sonho, Pairando em Segredo, Só Estou Aqui Porque Já Fui Embora Faz Tempo e Portais Abertos no Quintal de Casa.

Durante uma coletiva de imprensa virtual do festival, Felipe André Silva falou sobre o trabalho de curadoria: “Quando o convite foi feito, a proposta era que não teríamos uma curadoria tradicional, no sentido de não ter abertura de seleção para os filmes. Então, seria um processo de garimpo, que é algo que eu gosto. É sempre curioso ter que adequar essa busca a uma lógica sobre o que o festival propõe como tema. Tivemos a liberdade de entender qual seria a temática. Percebemos que os filmes ditariam muito do que a gente queria falar. Começamos a pensar nesse lugar quase de estado de letargia, talvez não política, mas espiritual; um desejo de movimentação muito forte, mas também uma falta de esperança que não pode ser ignorada”.

E completou: “Focamos em filmes que tentavam falar de mundos possíveis ou estilhaçar esses mundos que vivemos. Filmes experimentais e de videoarte foram muito presentes esse ano, mas ao mesmo tempo, tivemos uma forte presença de filmes em que as narrativas são essenciais e realizadas de uma maneira muito refinada. De maneira geral, por fazer parte da curadoria de um festival nordestino, tivemos um cuidado muito grande em tentar dar uma atenção especial ao cinema nordestino. São cinco filmes do sul do Brasil, um do Norte, seis do Sudeste e dezessete do Nordeste (7 de Pernambuco, 1 de Sergipe, 4 da Bahia e 5 do Ceará), além do longa convidado que também é cearense. Não foi preciso fazer um esforço para encontrar esses filmes do Nordeste porque eles naturalmente existem; e quando olhamos o panorama geral, percebemos que são filmes muito diferentes”.

O Júri Oficial desta edição especial do Recifest será formado por Carol Almeida, Hanna Godoy e Pethrus Tibúrcio. Além dos troféus para os premiados, a edição on-line traz uma novidade: todos os curtas serão contemplados com o pagamento dos direitos pela exibição no festival.

Com direção geral e executiva de Rosinha Assis e direção geral e produção artística de Carla Francine, o Recifest também contará com três homenageadas: Elza Show, atriz, performer, mulher trans pioneira em Pernambuco e protagonista do documentário Eternamente Elza, de Alexandre Figueirôa e Paulo Feitosa; Sharlene Esse, conhecida como a primeira Dama Trans do teatro pernambucano e recentemente premiada pelo curta Os Últimos Românticos do Mundo; e Raquel Simpson, uma das maiores artistas trans do Brasil e estrela do documentário Garota, bem garota, realizado por alunos da Oficina Documentando.

Em comunicado oficial no site, a organização do Recifest diz: “Reafirmamos aqui que não estaremos nunca condenadxs ao momento em que vivemos. Acreditamos que a insistência na produção cultural e a luta coletiva já nos levou a lugares melhores antes e levará mais uma vez! Iremos todes as trans, bi, lésbicas, gays, agêneros nos unir e com apoio dos antifascistas e antirracistas negrxs, pardxs índixs e brancxs não LGBTfóbicos ou misóginos e vamos lutar! Vamos resistir!”.

raquelsimpsonrecifestdocumentandoHomenageada: Raquel Simpson no curta Garota, bem garota.

Sobre esta edição especial, Carla Francine disse, durante a coletiva virtual: “Temos uma equipe de militantes. São pessoas que prezam pela liberdade, que querem trazer essas novas narrativas de corpos dissidentes; não só narrativas sobre a temática LGBTQIA+, mas narrativas de pessoas LGBTQIA+ falando do que elas quiserem falar. É um festival de pessoas, de corpos, de mentes”.

Uma novidade na programação, anunciada durante a coletiva, é a peça teatral Salto, do Bote de Teatro, que será exibida no último dia antes da cerimônia de premiação. Na trajetória do espetáculo, quatro sujeitos usuários procuram uma forma de se descolar da realidade em que viviam. Buscam, inconscientes e inconsequentes, uma nova forma, mais justa, de se viver em sociedade. O espetáculo é uma livre adaptação do texto Os Saltimbancos, traduzido por Chico Buarque do musical italiano inspirado no conto dos Irmãos Grimm. O elenco conta com Inês Maia, Daniel Barros, Cardo Ferraz, Pedro Toscano e Una Martins.

Sobre a peça, Carla disse: “O Recifest sempre abrigou outras linguagens. Temos o foco no cinema, mas sempre tivemos apresentações e performances. É uma forma de trazer o espírito de congregar com quem quer passar sua mensagem”.

Além disso, a programação do festival apresentará atividades paralelas, entre elas, mesas e debates com convidados especiais, como: Anti Ribeiro, Marcos Castro, Alessandra Nilo, Indianarae Siqueira, Sra Santos, Robeyoncé Lima, Wellington Pastor, André Antônio, Fabricio Bogas Gastaldi, Mayara Santana, Julia Katharine, Manu Dias, Dália Celeste, Fabianna Oliveira, Julia Pereira, Cristiano Sousa, Rodolfo Holanda, Labelle Rainbow, Roberto Limberger, Alexander Mello e Thomas Dadam.

Outras atividades marcam esta edição especial do Recifest, como: a Oficina Drag Queen Curso, com Zé Carlos Gomes e Sheyla Müller, sua persona drag; e a Oficina Documentando, um projeto de formação audiovisual, ministrada pelo cineasta Marlom Meirelles.

Sobre as oficinas virtuais, Carla comentou: “Tanto o Marlom quanto o Zé Carlos são parceiros antigos do festival. Inclusive, uma das nossas homenageadas, a Raquel Simpson, foi personagem de um filme [Garota, bem garota] da Oficina Documentando. O Marlom nos falou sobre um material bacana que ele já tem e vem utilizando em suas oficinas durante a pandemia. Claro que as pessoas querem o presencial, pegar no equipamento, mas a ideia dessa vez foi entregar mais subsídios para que os alunos possam fazer algo mais coletivo no futuro. Por enquanto, a ideia é trazer essa nova experiência de que eles podem produzir sozinhos também”.

E completou: “O Zeca também começou a fazer oficinas durante a pandemia. Vamos produzir um desfile no final, como fazíamos presencialmente dentro do São Luiz, só que cada uma nas suas casas. Depois mostraremos para o público todo o processo da descoberta da persona drag que cada um tem dentro de si. Acreditamos que sairão coisas muito boas dessas oficinas e não foi por acaso que procuramos eles, pois temos plena confiança em seus trabalhos”.

Sobre o futuro do festival, Carla concluiu: “O Recifest já chegou a ter um público de cinco mil pessoas presencialmente. É triste não estar no Cinema São Luiz, com aquela energia toda e com o calor humano, pois desta vez estaremos cada um em suas casas e telinhas. Mas, esperamos expandir esse público de alguma forma. Essa é uma edição extra, mas queremos voltar logo, porém vacinados e seguros. Queremos muito fazer nossa edição de novembro, como de costume. Não sabemos ainda se vamos conseguir fazer presencialmente, mas vamos fazer nem que seja on-line de novo. Acreditamos que vai ter uma mudança de paradigma nos festivais. Pretendemos fazer o presencial, sim, mas vamos preservar alguma coisa on-line. Eu espero que nesta edição seja possível realmente ampliar esse público. A tendência dos festivais é ser híbrido a partir de agora”.

Conheça os filmes selecionados para o Recifest 2021:

NACIONAL

À beira do planeta mainha soprou a gente, de Bruna Barros e Bruna Castro (BA)
Abjetas 288, de Júlia da Costa Pereira e Renata Mourão (SE)
Ancestralidade de terra e planta 2021, de Keila Serruya Sankofa (AM)
Aonde Vão os Pés, de Débora Zanatta (PR)
De Vez em Quando Eu Ardo, de Carlos Segundo (MG)
Dois Homens ao Mar, de Gabriel Motta (RS)
Ela que Mora no Andar de Cima, de Amarildo Martins (PR)
Eu Te Amo, Bressan, de Gabriel Borges (PR)
Feitura, de M0XC4 (João Moxca), Laryssa Machada e Victor Mota (BA)
Fora de Época, de Drica Czech e Laís Catalano Aranha (SP)
I am Virus, de Integrante do Coletivo CH5 em Icó e do Coletivo Mandacaru em Quixadá (CE)
IAUARAETE, de Xan Marçall (BA)
Marco, de Sara Benvenuto (CE)
Nebulosa, de Bárbara Cabeça e Noá Bonoba (CE)
Letícia, Monte Bonito, 04, de Julia Regis (RS)
Preces Precipitadas de um Lugar Sagrado que não Existe Mais, de Mike Dutra e Rafael Luan (CE)
Pietà, de Pink Molotov (MG)
Primeiro Carnaval, de Alan Medina (SP)
Retorno, de Neto Asterio (BA)
SAPATÃO: uma racha/dura no sistema, de Dévora MC (MG)
Tia Iracy Futebol Clube, de Layla Sah (CE)
Uma Noite Sem Lua, de Castiel Vitorino Brasileiro (ES)

PERNAMBUCANA

Afetadas, de Jean
Ali entre nós um invisível obliterante, de Iagor Peres
Bardo do Sonho, de Letícia Barros
Inabitável, de Matheus Farias e Enock Carvalho
Notícias de São Paulo, de Priscila Nascimento
Sei de nós aquilo que você me conta, de Tiago Lima
Os Últimos Românticos do Mundo, de Henrique Arruda

Fotos: Isabella Lanave/Divulgação.

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