Máquinas

por: Cinevitor

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Direção: Rahul Jain

Ano: 2016

Sinopse: Um olhar imageticamente atraente por trás das portas de uma fábrica têxtil na província de Gujarat, na Índia, explorando o significado do trabalho moderno, da exploração e do valor humano na produção em massa de nosso mundo.

Crítica do CINEVITOR: Esqueça a alegria e a afetação alegórica do cinema indiano proposto por Bollywood. Aliás, as produções deste país vão além disso e Máquinas, de Rahul Jain, é prova disso. Esse documentário, exibido no Festival de Sundance e premiado por lá com excelência em fotografia para Rodrigo Trejo Villanueva, é um soco no estômago. Aqui, acompanhamos a dura realidade de trabalhadores de uma fábrica têxtil que se entregam a uma jornada escravista para sustentar suas famílias e suas vidas. Em meio a tecidos estampados, tintas e monstruosas máquinas, esses homens, visivelmente explorados, ganham espaço para desabafar e  criar coragem para lutar por seus direitos. Em situações precárias e com poucas opções de sobrevivência, eles passam até 36 horas sem descanso para ganhar um valor miserável sem reconhecimento algum. Máquinas é ainda mais pesado porque vai além dos tradicionais depoimentos vistos em documentários. São suas imagens, impecavelmente fotografadas, que nos mostram a desumana situação de seus personagens da vida real. A começar pelo belíssimo plano sequência inicial que faz um passeio pela fábrica. Parece estranho falar de beleza em uma situação como essa, mas a iluminação proposta pelo fotógrafo Rodrigo Trejo Villanueva é estupenda e imprime a frieza desse lugar imundo em uma escuridão clareada pelo colorido dos tecidos. Mas, não há alegria por aqui. Nem nas cores e nem nas estampas. Rahul Jain mostra esses trabalhadores como se estivessem em presídios. E de certa forma estão. Em Máquinas, há um discurso político onipresente. E necessário. E há também espaço para o outro lado, aquele que fica sentado na poltrona com um diálogo chulo e arrogante sobre seus funcionários, duvidando de suas angústias e reclamações por melhorias trabalhistas. É nítido que o patrão autoritário não se importa pela vida pessoal daqueles que praticamente não têm vida. Até porque nem os conhece. Sua mente só pensa em cifras e exportação. Enquanto isso, homens de todas as idades, desvalorizados, se aglomeram em um local precário para manter a mão de obra ininterrupta. Mão de obra essa que também pode ser chamada de escravidão. Máquinas é impactante e traz uma discussão sobre sobrevivência nos dias atuais. Ainda que consigam ganhar voz num filme como esse, é triste pensar que esses trabalhadores sedentos por uma vida melhor, por igualdade social e salários dignos ainda são catalogados, por pessoas sem compaixão, apenas como uma pequena ferramenta descartável dessa engrenagem toda e que não fazem mais do que a obrigação. Porém, uma máquina não funciona sozinha. Nem que seja para ligar um botão. E aqui, elas têm pernas, braços, sentimentos e uma vida para sobreviver. Diariamente. (Vitor Búrigo)

*Filme assistido no 6º Olhar de Cinema – Festival Internacional de Curitiba.

Nota do CINEVITOR:

nota-4,5-estrelas

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