Jesus Kid: Aly Muritiba e elenco falam sobre o filme exibido no 49º Festival de Gramado

por: Cinevitor
Sergio Marone em cena: cowboy brasileiro.

A quinta-feira, 19/08, última noite de mostras competitivas do 49º Festival de Cinema de Gramado, começou com os curtas A Fome de Lázaro, de Diego Benevides, e Da Janela Eu Vejo o Mundo, de Ana Catarina Lugarini; o argentino Planta Permanente, de Ezequiel Radusky, foi exibido na mostra de longas estrangeiros.

Entre os longas brasileiros, Jesus Kid, escrito e dirigido por Aly Muritiba, de Para Minha Amada Morta, encerrou a competição. Baseado na obra homônima de Lourenço Mutarelli, o filme é protagonizado por Paulo Miklos, que interpreta Eugênio, um escritor de pocket books de western, que atravessa uma fase difícil. Seu personagem mais famoso, Jesus Kid, está indo mal de vendas e a editora ameaça tomar-lhe o personagem e entregá-lo a outro escritor. Então, aparece o que poderia ser a sua salvação: Eugênio é contratado por um produtor e um diretor de cinema para escrever o roteiro de um filme. O único problema é que ele tem que escrever este roteiro dentro de um hotel luxuoso, do qual, por contrato, não pode sair por três meses.

Fã do gênero western desde a infância, Muritiba, que foi consagrado em Gramado, em 2018, com Ferrugem, usou diferentes referências para compor Jesus Kid, que vão de Jim Jarmusch, irmãos Coen a Tarantino. Sergio Marone, que também assina como produtor, dá vida a Jesus Kid. O elenco conta ainda com as presenças de Maureen Miranda, Leandro Daniel, Luthero Almeida, Fábio Silvestre, Otávio Linhares, entre outros.

No dia seguinte à exibição, alguns integrantes da equipe e do elenco participaram de um debate virtual, que foi mediado pelo jornalista Roger Lerina. Marcaram presença: o diretor Aly Muritiba; e os atores Paulo Miklos, Sergio Marone e Maureen Miranda.

Questionado sobre a ideia do projeto, Aly comentou: “A gênese da minha participação em Jesus Kid passa pelo Sergio Marone. A ideia de transformar esse livro num filme veio dele, que conversou comigo em 2012 quando nos conhecemos. Eu ainda não tinha feito meus longas e ele viu meu curta A Fábrica em um festival em Los Angeles. Começamos a conversar e ele me contou que tinha adquirido os direitos do livro [escrito por Lourenço Mutarelli] e tinha vontade de adaptar. Inicialmente, entrei no projeto como roteirista e no processo de adaptação foi me dando vontade de dirigir o filme. Nunca me enxerguei como diretor de um gênero só. Gosto desse ecletismo que me move e dessa vontade de habitar outros territórios. Já fiz alguns filmes dramáticos, um território que transito com conforto, e queria experimentar uma coisa nova fazendo comédia. Talvez amanhã eu faça um musical. Não quero ficar fazendo sempre o mesmo filme. Por isso, me lancei na empreitada de dirigir Jesus Kid e fazer essa comédia doida”.

Protagonista: Paulo Miklos interpreta um escritor desajeitado.

Sergio Marone, ator e produtor do filme, falou sobre sua participação: “Eu já tinha vontade de produzir alguma coisa no cinema porque nessa vida de ator ficamos na mão de oportunidades que surgem para nós. Eu queria mudar um pouco isso porque as oportunidades que tive na TV eu nunca tive no cinema; de trabalhar com outras pessoas que admiro e respeito e fazer um cinema mais autoral. Então, eu comprei esse romance com a vontade de mostrar para a turma do cinema que eu quero e posso fazer coisas diferentes, sair da prateleira que usualmente nos colocam”.

O ator também falou das referências para seu personagem: “Bebi de várias fontes, mas nenhuma específica. Vi bastante western, desde os mais antigos até os mais recentes, como Tarantino. Esse universo é muito vasto. Fiz um trabalho muito forte com uma preparadora corporal porque um cowboy tem um corpo totalmente diferente do meu. Tentei buscar uma impostação de voz diferente para causar um estranhamento. A ideia era buscar uma embocadura diferente e o personagem acabou causando essa estranheza que é muito interessante para o papel”.  

Maureen Miranda, que interpreta Nurse, falou sobre seu papel: “A minha personagem é uma femme fatale às avessas porque eu não tenho nada disso. Pra mim foi um desafio. Eu também vi o curta A Fábrica do Aly e fiquei com muita vontade de trabalhar com ele. Além disso, contracenar com o Paulo Miklos foi como um sonho e tivemos uma ótima química no set. Depois da primeira cena que filmamos, a Nurse chegou em mim e fluiu”.

Paulo Miklos, protagonista de Jesus Kid e premiado em Gramado com o kikito de melhor ator, em 2019, por O Homem Cordial, falou sobre esse novo trabalho: “Foi uma alegria fazer esse personagem. Eu conheço pessoalmente o Lourenço Mutarelli e isso serviu demais na hora de compor esse personagem porque esse escritor é o alterego do Mutarelli. Conversamos muito no set de É Proibido Fumar [filme dirigido por Anna Muylaert, de 2009] e ele me contou ótimas historias. Ele tem essa coisa maluca de falar sobre ele mesmo em um drama, que ao mesmo tempo é tragicômico. Isso me influenciou muito na montagem desse Eugênio, que também é um sujeito deslocado e desajeitado. O Aly conduziu esse filme com muita leveza”.

Sobre as coincidências com a atual realidade do Brasil, Aly comentou: “As bizarrices da realidade contemporânea superam muito a questão surreal de Jesus Kid. Meu filme foi ultrapassado por essa realidade, infelizmente. O livro do Lourenço é de 2012 e não tinha nenhuma contextualização política. Ao longo dos anos, escrevi diversos tratamentos do roteiro e, em 2018, logo depois das eleições presidenciais, saiu a grana para fazer o filme. Nisso, fui reler o roteiro e achei que estava faltando uma pegada, pois estava muito datado. Eu estava naquele momento, como mais ou menos 47 milhões de eleitores, bastante frustrado e antevendo a desgraça que viria pela frente. Então, me debrucei nesse roteiro criando todo esse contexto. Resolvi afundar o pé nisso, tentando criar uma espécie de Brasil distópico imaginando que esse seria o Brasil de 2021. Fiz um exercício de futurologia que não era complexo, não, porque já era muito óbvio. Esse contexto político veio de uma revolta e da vontade de rir da cara dessa galera”.

As exibições dos longas-metragens brasileiros acontecem entre 13 e 19 de agosto, a partir das 21h30, na grade linear do Canal Brasil, para toda a base de assinantes, e nos serviços de streaming Canais Globo e Globoplay + Canais ao Vivo somente durante o horário da exibição na TV.

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Fotos: Divulgação/Olhar Distribuição.

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