Festival de Gramado 2015: Zelito Viana recebe o Troféu Eduardo Abelin

por: Cinevitor

zelito1Zelito Viana recebe o prêmio acompanhado do filho Marcos Palmeira e da mulher Vera de Paula

A noite de quinta-feira, 13/08, foi marcada pela homenagem ao cineasta e produtor Zelito Viana, que recebeu o Troféu Eduardo Abelin, concedido a diretores, produtores e técnicos pelo trabalho desenvolvido em prol do cinema brasileiro. A família de Zelito também marcou presença no Palácio dos Festivais. Acompanhado da mulher Vera de Paula, da filha Betse de Paula, da neta Beatriz Viana e do filho Marcos Palmeira, o homenageado subiu ao palco para receber o prêmio.

Emocionado, Zelito falou: “Na verdade eu tive a chance de estar no lugar certo e na hora certa quando tive a honra de ser da geração desse pessoal do cinema novo, que me deu tudo que eu aprendi. Devo isso especialmente a três pessoas que eu gostaria de mencionar aqui: Glauber RochaLeon Hirszman e Joaquim Pedro de Andrade. São três grandes amigos que nos deixaram precocemente e que me fizeram uma falta imensa. Fico muito contente e espero estar aqui no ano que vem disputando um kikito. E espero também que o cinema brasileiro em geral vença essa burocracia infernal que se meteu. Isso tem que mudar, espero que a gente volte a fazer cinema como fazia na época que eu comecei, com grande amor, com grande vontade, pensando única e exclusivamente no filme, na obra que estava fazendo. Isso andou se perdendo pelo cinema brasileiro afora e espero que volte em breve”.

zelito5Família no palco para prestigiar o homenageado.

Antes da homenagem, Zelito participou de uma coletiva e conversou com a imprensa sobre o prêmio, seus trabalhos, cinema brasileiro e seu próximo filme. Confira os melhores momentos:

MAPA FILMES:

“Cinquenta anos de uma empresa já é algo pra comemorar. E cinquenta anos de uma empresa de cinema no Brasil não é fácil. Nesses anos a gente produziu alguns títulos importantes do cinema brasileiro como Cabra Marcado Para Morrer, Terra em Transe, O Dragão da Maldade contra o Santo Guerreiro, A Grande Cidade, filmes marcantes da historia do nosso cinema”.

CINEMA BRASILEIRO, PARTE 1:

“Quando eu entrei no cinema, o cinema brasileiro estava em crise, estava em decadência. A chanchada tinha acabado e ainda não tinha nenhum outro tipo de cinema. Ficou um vazio muito grande. Aí surgiu essa geração que eu faço parte, geração do cinema novo, que entrou com força total. Foi feito Deus e o Diabo na Terra do Sol, Vidas Secas, uma geração de filmes muito importantes que influenciaram o cinema do mundo inteiro, não só no Brasil. A entrada do cinema novo foi um momento importante para o cinema brasileiro”. 

CINEMA BRASILEIRO, PARTE 2:

“O segundo momento importante foi quando a Embrafilme se tornou distribuídora. Conseguimos atingir 50% do mercado naquele período com Bye Bye Brasil, Dona Flor e Seus Dois Maridos, Pixote: A Lei do Mais Fraco. Vários filmes que conquistaram as plateias e que ao mesmo tempo eram filmes muito importantes. O terceiro momento foi a chamada retomada, o início dela, com Central do Brasil, Carlota Joaquina, Princesa do Brazil. Ali surgiu uma coisa legal, um movimento fresco”. 

zelito2Pai e filho no palco. 

CINEMA BRASILEIRO, PARTE 3:

“O momento atual na minha opinião é complexo. A gente virou burocrata. A gente deixou de criar. O artista cria, o cineasta presta conta. Hoje em dia é mais importante você saber preencher formulário do que você fazer um filme. Perdeu o foco e isso é grave. A gente tem que lutar contra isso. Eu acredito que os jovens vão conseguir mudar, fazendo filme com celular, de outro jeito. Vai mudar, vai implodir esse sistema atual de fazer cinema por excesso. Estamos no olho do furacão. Perdemos bastante a força internacional. Quando eu era jovem a gente queria descobrir qual filme brasileiro que ia pra Cannes, pra Berlim. Hoje em dia isso é raro. É raro o ano em que se consegue chegar com um filme em um festival, porque a gente caiu bastante de interesse, não só de qualidade. Deixou de ser prazeroso fazer um filme. Hoje em dia você morre de medo de não conseguir prestar as contas”.

FAMÍLIA:

“Minha mãe era uma musicista extraordinária, tocava piano muito bem. A veia artística vem dela, a veia cômica vem do meu pai. Ele era muito engraçado. O Chico Anysio [irmão de Zelito], aos 16 anos, era um imitador extraordinário, parecia uma entidade. Era surpreendente. Eu era engenheiro, não pensava em ser cineasta. Mas a minha casa era frequentada por Antonio Carlos Jobim, Haroldo Barbosa, Max Nunes, porque o Chico Anysio era colega deles e eu tinha essa convivência. E isso me ajudou muito a fazer cinema, por ter intimidade com esse pessoal”.

TERRA DOS ÍNDIOS:

“Os índios foram fundamentais na minha formação. Quando eu fui fazer Terra dos Índios, eu nunca tinha visto um índio na minha vida. E eu tinha que fazer um filme sobre eles. Eu não sabia nada. Fui na casa do Darcy Ribeiro e ele abriu a minha cabeça sobre os índios. Foi um choque cultural. A maneira de ver o mundo é muito diferente. Tanto que eu peguei meu filho e mandei ele pro meio dos índios. Aquilo era uma universidade mais importante do que qualquer universidade. Passar um tempo com os xavantes mudou a cabeça dele e foi muito importante”.

zelito3Zelito Viana durante a coletiva de imprensa. 

DIGITAL:

“Eu nunca tive muito preconceito com o digital. Eu estou interessado naquilo que está na frente da câmera, o que está atrás é uma questão industrial. É claro que a película dá uma sensação mais real do produto, pois você o tem na mão. O meu medo do digital é um HD que você não sabe onde ele está, de repente some e você não sabe aonde foi parar o seu filme. Isso é grave e ainda está sendo resolvido. Mas, claro que gerou uma facilidade, sobretudo aos efeitos especiais. O digital dá uma liberdade muito grande de criação, além disso a maneira de exibir ficou mais fácil”. 

FESTIVAL DE GRAMADO:

“Gramado é um festival importante do cinema brasileiro. Ele começou bem numa época que a gente estava com dificuldades políticas grandes e o festival surgiu como uma coisa bastante importante. Eu, por acaso, nunca disputei um kikito, talvez ano que vem. Mas minha família toda já participou: Marquinho [o ator Marcos Palmeira] já ganhou, minha filha Betse de Paula também. Festivais em geral são importantes para o nosso cinema, porque é uma maneira de o filme chegar ao publico, já que tem tanta dificuldade”.

NOVO PROJETO:

“Meu novo filme se chama Sedução e tem um pouco a ver com uma experiência pessoal que tive. Meu pai estava doente e eu fui visitá-lo no Maranhão. Quando eu cheguei lá encontrei uma família enorme, conheci oito irmãos que eu não sabia que tinha. A história do filme vai ser um ator famoso da televisão, que obviamente será o Marquinho (risos), mesmo que ele não queira, que recebe a notícia que o pai morreu e vai lá para ver o pai que ele não via há 20 anos. Chegando lá, encontra essa outra família. O filme é sobre essa experiência complexa. É uma história original minha, com um roteiro da Rita Toledo, uma jovem que eu chamei pra poder dar um certo ar de juventude”.

Confira um trecho da coletiva em que Zelito Viana fala sobre as comédias brasileiras, Rede Globo e beijo gay e também assista aos melhores momentos da homenagem:

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Fotos: Edison Vara e Vitor Búrigo.

Texto e vídeo: Vitor Búrigo.

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