Anita Ekberg em La dolce vita, de 1960.
O público do CCBB, Centro Cultural Banco do Brasil São Paulo, e do CineSesc poderá rever toda a obra do mestre italiano a partir do dia 26 de fevereiro, quando começa a mostra em homenagem aos 100 anos de nascimento do mestre italiano, comemorados em 20 de janeiro de 2020. Uma oportunidade única de assistir, na sala de cinema, vários clássicos do cinema mundial, de mergulhar no mundo felliniano, com suas histórias e personagens fascinantes.
A retrospectiva Fellini, Il Maestro tem curadoria de Paulo Ricardo Gonçalves de Almeida, produção da Voa Comunicação e Cultura e apresentará 24 títulos, desde o filme de estreia de Fellini, Mulheres e Luzes (Luci del varietà), de 1950, codirigido com Alberto Lattuada, até o último deles, A Voz da Lua (La voce della luna), de 1990, incluindo obras-primas estreladas por parceiros constantes como Marcello Mastroianni e Giulietta Masina, sua esposa, e embaladas pela música de Nino Rota. A mostra exibirá também o documentário Fellini: A Director’s Notebook, de 1969, no qual o próprio Fellini comenta seu processo de trabalho e passeia por seus lugares preferidos em Roma.
O curador Paulo Ricardo Gonçalves de Almeida destaca que “Federico Fellini é reconhecido como um dos maiores e mais influentes cineastas de todos os tempos, cujos filmes, que trazem um olhar altamente pessoal e idiossincrático sobre a sociedade, são uma combinação única de memória, sonhos, fantasia e desejo. O adjetivo felliniano é sinônimo de qualquer tipo de imagem extravagante, barroca ou fantasiosa no cinema ou na arte em geral. A Doce Vida lançou um novo termo: paparazzi, derivado de paparazzo, o fotógrafo amigo do jornalista Marcello Rubini, vivido por Mastroianni”.
Abismo de Um Sonho (Lo sceicco bianco), lançado em 1952, foi o primeiro longa-metragem o qual Fellini assinou sozinho a direção. Logo depois, em 1953, ele lançou Os Boas-Vidas (I vitelloni), de 1953, que iniciou, com o Leão de Prata no Festival de Veneza, uma sucessão de prêmios em sua carreira. O primeiro Oscar de melhor filme estrangeiro veio com A Estrada da Vida (La strada). Para Noites de Cabíria (Le notti di Cabiria), Fellini se inspirou nas notícias de uma cabeça de mulher decepada e nas histórias contadas por Wanda, a prostituta que conheceu no set de A Trapaça (Il bidone), de 1955. Noites de Cabíria ganhou o Oscar de melhor filme estrangeiro e, Giuletta Masina, o prêmio de melhor atriz no Festival de Cannes.
Premiada: Giulietta Masina em Noites de Cabíria, de 1957.
O fenômeno da Hollywood no Tibre, em 1958, em que estúdios americanos lucraram com o trabalho barato em Roma, permitia que jornalistas roubassem fotos de celebridades na Via Veneto. Daí veio a inspiração para A Doce Vida (La dolce vita), de 1960, um sucesso de bilheteria que ganhou a Palma de Ouro no Festival de Cannes e eternizou a cena de Anita Ekberg na Fontana di Trevi.
Em carta a Brunello Rondi, Fellini esboçou suas ideias sobre um homem sofrendo de bloqueio criativo. Ele se decidiu pelo título auto-referencial 8 1⁄2, mas não sobre o que o personagem fazia para viver. Fellini narraria tudo o que lhe havia acontecido: faria um filme sobre um diretor que não sabe mais qual filme ele quer fazer. 8 1⁄2 ganhou o Oscar de melhor filme estrangeiro e de melhor figurino.
Julieta dos Espíritos (Giulietta degli spiriti) foi seu primeiro filme a cores. Em março de 1971, Fellini começou a produção de Roma, coleção aleatória de episódios inspirados pelas memórias e impressões do diretor sobre a cidade. Em 1973, dirigiu Amarcord, vagamente baseado em seu ensaio autobiográfico Minha Rimini. Em 1989, realizou A Voz da Luz, seu último filme. Em 1993, Fellini ganhou o Oscar honorário em reconhecimento pela sua carreira.
“A grande descoberta de Fellini após seu período neo-realista foi o trabalho de Carl Jung. Depois de conhecer o psicanalista Ernst Bernhard, no começo dos anos 1960, Fellini leu a autobiografia de Jung, Memórias, Sonhos, Reflexões. Bernhard também recomendou que Fellini consultasse o I Ching e mantivesse um registro de seus sonhos. O foco de Bernhard na psicologia junguiana provou ser a maior influência no estilo maduro de Fellini e marcou o ponto de virada em sua obra do neo-realismo para o onírico. Como consequência, as ideias de Jung sobre o anima e o animus, o papel dos arquétipos e o inconsciente coletivo influenciou diretamente filmes como 8 1⁄2 (1962), Julieta dos Espíritos (1965), Fellini Satyricon (1969), Casanova de Fellini (1976) e Cidade das Mulheres (1980)”, comenta o curador.
Federico Fellini morreu em Roma, em 31 de outubro de 1993, ao 73 anos, de ataque cardíaco, um dia depois da celebração dos 50 anos de casamento com Giulietta Masina. O funeral, no Estúdio 5 da Cinecittà, seu favorito, atraiu 70 mil pessoas. Cinco meses depois, Giulietta faleceu de câncer no pulmão. Fellini, Masina e o filho Pier Federico estão enterrados na entrada principal do cemitério de Rimini.
Confira a lista completa com os filmes que serão exibidos:
A Voz da Lua (La voce della luna) (Itália/França, 1990)
Entrevista (Intervista) (Itália, 1987)
Ginger e Fred (Itália/França/Alemanha Ocidental, 1986)
E la Nave Va (Itália/França, 1983)
Cidade das Mulheres (La città delle donne) (Itália/França, 1980)
Ensaio de Orquestra (Prova d’orchestra) (Itália/Alemanha Ocidental, 1978)
Casanova de Fellini (Il Casanova di Federico Fellini) (Itália, 1976)
Amarcord (Itália/França, 1973)
Roma de Fellini (Roma) (Itália/França, 1972)
I Clowns (Itália/França/Alemanha Ocidental, 1970)
Satyricon de Fellini (Fellini – Satyricon) (Itália, 1969)
Fellini: A Director`s Notebook (Itália, 1969)
Histórias Extraordinárias (Histoires extraordinaires) (França/Itália, 1965)
Julieta dos Espíritos (Giulietta degli spiriti) (Itália/França, 1965)
8½ (Itália/França, 1963)
Boccacio 70 (Itália/França, 1962)
A Doce Vida (La dolce vita) (Itália/França, 1960)
Noites de Cabíria (Le notti di Cabiria) (Itália/França, 1957)
A Trapaça (Il bidone) (Itália/França, 1955)
A Estrada da Vida (La strada) (Itália, 1954)
Os Boas-Vidas (I vitelloni) (Itália/França, 1953)
Amores na Cidade (L’amore in città) (Itália, 1953)
Abismo de Um Sonho (Lo sceicco bianco) (Itália, 1952)
Mulheres e Luzes (Luci del varietà) (Itália, 1950)
A programação do CCBB São Paulo ainda oferece outras atividades gratuitas: um debate, dia 12/3 com a presença dos críticos Neusa Barbosa e Felipe Furtado, um curso de três dias (16, 18 e 19/3) ministrado por Felipe Furtado, e um super livro-catálogo de mais de 400 páginas com artigos críticos, ensaios, entrevistas, filmografia, fotos etc. Para ganhar o catálogo, basta juntar cinco ingressos de sessões da mostra. As inscrições para o curso devem ser feitas pelo e-mail cursofellinisp@gmail.com.
Datas: CCBB São Paulo – 26/02 a 23/03 e CineSesc – 12/03 a 18/03.
Após passagem pelo Rio de Janeiro, a mostra fica em cartaz até 23 de março em São Paulo e segue para o CCBB Brasília (de 24/03 a 19/04).
Fotos: Divulgação/Cineteca di Bologna/Rialto Pictures.