
Depois do ocorrido envolvendo os atores Will Smith e Chris Rock na cerimônia de premiação da 94ª edição do Oscar, a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas divulgou nesta sexta-feira, 08/04, um comunicado oficial com a resolução do caso de acordo com o código de conduta da organização.
Mesmo depois de Smith ter anunciado voluntariamente sua renúncia à Academia, os conselheiros anteciparam a reunião, que estava marcada para o dia 18 de abril, e decidiram banir o ator por dez anos; isto é, ele fica proibido de participar dos eventos organizados pela Academia, incluindo o Oscar.
Confira a carta aberta, assinada por David Rubin, presidente da Academia, e Dawn Hudson, diretora executiva:
A 94ª edição do Oscar deveria ser uma celebração dos muitos indivíduos em nossa comunidade que fizeram um trabalho incrível no ano passado; no entanto, esses momentos foram ofuscados pelo comportamento inaceitável e prejudicial que vimos o Sr. Smith exibir no palco.
Durante nossa transmissão, não abordamos adequadamente a situação na sala. Por isso, lamentamos. Esta foi uma oportunidade para darmos um exemplo para nossos convidados, espectadores e nossa família da Academia em todo o mundo, e ficamos aquém – despreparados para o inédito.
Hoje, o Conselho de Governadores convocou uma reunião para discutir a melhor forma de responder às ações de Will Smith no Oscar, além de aceitar sua renúncia. O Conselho decidiu, por um período de 10 anos, a partir de 8 de abril de 2022, que o Sr. Smith não poderá participar de nenhum evento ou programa da Academia, pessoalmente ou virtualmente, incluindo, entre outros, o Oscar.
Queremos expressar nossa profunda gratidão ao Sr. Rock por manter a compostura em circunstâncias extraordinárias. Também queremos agradecer aos nossos anfitriões, indicados, apresentadores e vencedores por sua postura e graça durante nossa transmissão.
Esta ação que estamos tomando hoje em resposta ao comportamento de Will Smith é um passo em direção a um objetivo maior de proteger a segurança de nossos artistas e convidados e restaurar a confiança na Academia. Também esperamos que isso possa iniciar um tempo de cura e restauração para todos os envolvidos e impactados.
Vale destacar que a decisão não impede que Will Smith seja indicado ao Oscar neste período e nem tira sua estatueta dourada de melhor ator, entregue nesta 94ª edição, por King Richard: Criando Campeãs.
Como tudo começou: no domingo, 27/03, ao subir no palco do Oscar 2022 para apresentar a categoria de melhor documentário, Chris Rock fez uma piada com Jada Pinkett Smith, esposa de Will, sugerindo que ela fizesse uma continuação de Até o Limite da Honra, filme no qual Demi Moore aparece de cabelo raspado. Só que Jada tem uma doença autoimune chamada alopecia, que provoca queda de cabelo. Revoltado com o comentário, Smith levantou da cadeira, foi até o palco e estapeou o comediante.
O clima tenso no Dolby Theatre seguiu quando Will voltou para seu lugar e começou a gritar com Rock: “Mantenha o nome da minha esposa fora da sua boca”. Alguns minutos depois, Smith foi eleito o melhor ator por seu trabalho em King Richard: Criando Campeãs. Visivelmente tenso e nervoso, fez um discurso falando sobre defender a família, amor e se comparou ao personagem que interpretou, Richard Williams, pai das tenistas Venus e Serena: “Virei um pai maluco, um protetor feroz da família. O amor faz você fazer coisas loucas. Estou sendo chamado em minha vida para amar as pessoas e protegê-las”.
A cena que marcou o Oscar 2022.
Ainda durante sua fala, citou o que Denzel Washington falou para ele nos bastidores depois do ocorrido: “No seu momento mais alto, tenha cuidado. É quando o diabo vem para você”. E finalizou, sorrindo: “Espero que a Academia me convide de novo”.
Por conta da polêmica, especialistas da indústria começaram a cogitar a possibilidade de Will Smith ter que devolver sua estatueta devido sua atitude no palco, já que a Academia possui diretrizes rígidas em seu código de conduta, entre elas, “promover ambientes de apoio e respeito pela dignidade humana”. Segundo informações divulgadas pela Variety, o Departamento de Polícia de Los Angeles confirmou que Chris Rock se recusou a registrar um boletim de ocorrência: “Entidades investigativas da LAPD estão cientes de um incidente entre dois indivíduos durante o programa do Oscar. O incidente envolveu um indivíduo batendo em outro. O indivíduo envolvido se recusou a registrar um boletim de ocorrência. Se a parte envolvida desejar um relatório policial em uma data posterior, a LAPD estará disponível para concluir um relatório investigativo”, disse o comunicado oficial.
Depois da confusão e do momento desconfortável causado ao vivo, a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas divulgou um comunicado oficial: “A Academia não tolera violência de qualquer forma. Nesta noite temos o prazer de celebrar nossos vencedores do 94º Oscar, que merecem este momento de reconhecimento de seus colegas e amantes do cinema em todo o mundo”.
Na quarta-feira, 30/03, a Academia anunciou que tinha iniciado um processo disciplinar contra Will Smith por seu comportamento na cerimônia de premiação. A reunião virtual contou com mais de cinquenta conselheiros, entre eles, Steven Spielberg, Ava DuVernay e Rita Wilson.
Segundo o comunicado oficial, Smith foi convidado a deixar o local depois do ocorrido, mas se recusou. As ações do ator (incluindo contato físico inadequado, comportamento abusivo ou ameaçador e comprometimento da integridade da Academia) violaram o código de conduta da organização e, com isso, o vencedor do Oscar poderia enfrentar suspensão, expulsão ou outras sanções.
Por conta do ocorrido, Smith recebeu o aviso do processo disciplinar com pelo menos 15 dias de antecedência sobre suas violações e sanções. Um dia depois da premiação, o ator postou um pedido de desculpas em suas redes sociais: “A violência em todas as suas formas é venenosa e destrutiva. Meu comportamento no Oscar foi inaceitável e imperdoável”.
Segundo informações divulgadas pela imprensa internacional, Will Smith teria participado de uma reunião com Rubin e Dawn Hudson, da Academia, antes mesmo de tomar sua decisão e do encontro virtual dos conselheiros. Mesmo depois da renúncia, a reunião foi confirmada para o dia 18 de abril para encerrar o caso e anunciar as medidas em relação ao ocorrido.
Membro da Academia desde 2001, Smith foi indicado pela primeira vez em 2002 por seu trabalho em Ali, cinebiografia do pugilista Muhammad Ali; em 2007 recebeu sua segunda indicação pelo drama À Procura da Felicidade.
Fotos: Al Seib/A.M.P.A.S. e Robyn Beck/Getty Images.