O cineasta homenageado no palco do Auditório Ibirapuera.
A 43ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo homenageia neste ano o roteirista e diretor francês Olivier Assayas. Além de ter recebido o Prêmio Leon Cakoff na abertura do evento, em que foi exibido seu filme mais recente, Wasp Network, Assayas é também protagonista de uma retrospectiva que conta com suas 15 obras mais importantes.
A seleção é composta por: A Criança do Inverno (1989), Acima das Nuvens (2014), Água Fria (1994), Carlos, O Chacal (2010), Clean (2004), Depois de Maio (2012), Desordem (1986), Eldorado (2008), Espionagem na Rede (2002), Horas de Verão (2008), Irma Vep (1996), Noise (2006), Personal Shopper (2016), Stockhausen/Preljocaj (Diálogos) (2007) e Vidas Duplas (2018).
Nascido em Paris, em 1955, Olivier Assayas é filho de Jacques Rémy, roteirista de cineastas como René Clément, Riccardo Freda e René Clair. Embora tenha crescido nos estúdios de cinema, Assayas optou por estudar, primeiro, pintura e literatura. Depois, formou-se em cinema na Escola de Belas Artes de Paris (École des Beaux-Arts). Ainda na universidade, passou a escrever para a revista Cahiers du Cinéma, onde atuou como crítico até meados da década de 1980.
Nos seus primeiros filmes é o estilo conciso, lacônico e minimalista de Robert Bresson que recai como principal influência. Obras que estão na programação da 43ª Mostra como Desordem, sua estreia na direção de longas, e A Criança do Inverno, mantêm uma construção gélida e quase distante para falar do tema que norteou o começo de sua carreira: as aflições da juventude.
A mudança na identidade de seu cinema, e a colisão entre estilo e urgência, se dá em seu quinto longa, Água Fria, ponto de virada em sua carreira. A montagem elíptica e a sensação de leveza e de captura da realidade passam a fazer parte de seus filmes subsequentes. Assayas ainda revisitaria o mesmo tema em outros trabalhos, como Depois de Maio, em que também um casal de jovens lida com a ebulição social durante o maio de 68. O drama foi premiado no Festival de Veneza na categoria de melhor roteiro.
Leonardo Sbaraglia, Edgar Ramírez, Assayas e o produtor brasileiro Rodrigo Teixeira.
Seu trabalho seguinte talvez seja o ápice da mistura de suas obsessões estilísticas e temáticas. Em Irma Vep, que foi premiado no Festival de Roterdã, um diretor de cinema decadente e em crise decide refilmar a clássica série do cinema mudo de Louis Feulidalle, Les Vampires.
Acima das Nuvens, exibido na 38ª Mostra e indicado à Palma de Ouro, em Cannes, e Vidas Duplas, exibido na Mostra do ano passado e indicado ao Leão de Ouro, em Veneza, têm a arte como ponto de partida e de conflito. Já Espionagem na Rede, destaque da Competição Oficial do Festival de Cannes, une paranoia industrial, espionagem, competição entre produtoras de pornografia e hentai de vanguarda. Personal Shopper, por sua vez, que lhe rendeu o prêmio de melhor direção no Festival de Cannes, retrata uma jovem que acredita poder se comunicar com o irmão gêmeo que morreu em Paris.
O drama musical Clean narra a história da viúva de um famoso músico que luta para retomar a custódia do filho; o filme rendeu o prêmio de melhor atriz para Maggie Cheung em Cannes. O premiado Horas de Verão, exibido na 38ª Mostra, retrata uma família disfuncional a partir da relação entre três irmãos que perderam a mãe e precisam lidar com sua herança.
Seu trabalho documental se converge com seu interesse pela música, em obras como Noise, sobre um festival de música na França do qual foi curador; Eldorado, em que acompanha o coreógrafo Angelin Preljocaj durante o processo de adaptação de uma composição de Karlheinz Stockhausen; e Stockhausen/Preljocaj (Diálogos), uma entrevista/diálogo com os dois artistas.
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Fotos: Natali Hernandes e Mario Miranda Filho/Agência Foto.