Vera Chytilová nos bastidores do documentário televisivo Zlatá sedesátá, em 2009.
O Centro Cultural Banco do Brasil São Paulo realiza a mostra Vera Chytilová: A Grande Dama do Cinema Tcheco, entre os dias 24 de abril e 13 de maio. Serão exibidos 20 longas-metragens, a maioria inédita no Brasil, e seis curtas, em duas sessões especiais.
Com meia entrada em todas as sessões para clientes do Banco do Brasil, a programação conta ainda com debates e masterclass com profissionais convidados, além de sessões com acessibilidade (libras e audiodescrição) e gratuitas para alunos da rede pública de ensino. Antes de chegar ao CCBB São Paulo, a mostra passou pelo CCBB Brasília e está em exibição pelo CCBB Rio de Janeiro até o dia 6 de maio.
Entre os longas inéditos, destaque para Armadilhas, vencedor do prêmio Elvira Notari no Festival de Veneza, em 1998; O Chalé do Lobo, que concorreu ao Urso de Ouro no Festival de Berlim, em 1987; e Fruto do Paraíso, que foi exibido no Festival de Cannes em 1970.
A masterclass com a jornalista, professora e filmaker paulista, Joyce Pais, será realizada no dia 3 de maio, às 19h. Já no sábado, 4 de maio, haverá um debate sobre a obra da diretora, com a participação da curadora da mostra, Rosa Monteiro, de Joyce Pais e da jornalista e editora do site Mulher no Cinema, Luísa Pécora. Ambas as atividades são gratuitas e para participar é necessário retirar senha na bilheteria do cinema, uma hora antes.
Vera Chytilová foi uma revolucionária da cinematografia tcheca. O início de sua carreira foi durante o governo da União Soviética na Checoslováquia e o clima político teve forte impacto em seu trabalho. Seus filmes eram permeados por humor negro, crítica social e sátiras sobre o regime comunista, dando início ao que se chamou posteriormente de Nouvelle Vague Tcheca.
Quando a liberdade artística foi tolhida pelo governo, Vera foi uma das poucas a resistir e continuar produzindo em seu próprio país. O longa As Pequenas Margaridas, de 1966, que poderá ser conferido na mostra, foi o que a tornou conhecida internacionalmente ao fazer críticas ao regime comunista e à misoginia, temas que a acompanharam tornando-se marcas de seu trabalho.
Elenco de O Chalé do Lobo em cena: filme exibido no Festival de Berlim.
Os filmes de Chytilová não dissociam a visão subjetiva (e subjetivista) da mulher moderna de uma objetividade crítica feminista. Suas personagens são prisioneiras das palavras dos homens, da linguagem e do julgamento masculinos, nesse sentido seria uma cineasta antipatriarcal. Com o passar dos anos, suas produções se tornaram menos experimentais, mas nunca perderam as características subversivas e os elementos de paródia do estilo de vida e cotidiano da Checoslováquia. Até o fim de sua carreira, Vera lutou intensamente em sua tentativa de produzir arte dentro de um meio complexo e asfixiante de intensa censura, no qual mesmo os diretores homens mais respeitados do país sofriam. Ela resistia a rótulos e quando questionada sobre o feminismo dizia: “Eu era ousada o suficiente para querer liberdade absoluta, mesmo se isso fosse um erro”.
Vera Chytilová nasceu em 2 de fevereiro de 1929, em Ostrava, Tchecoslováquia (atualmente, República Checa). Depois de trabalhar como modelo, assistente de produção e claqueteira, foi aceita na renomada Academia Superior de Cinema de Praga, a FAMU, na qual veio a estudar com diretores como Jiří Menzel, Jan Nemec Ji e Milos Forman.
Seu primeiro filme que teve expressão internacional foi As Pequenas Margaridas, de 1966, que criticava o governo comunista e a misoginia. Após a invasão da União Soviética passou a ser impossível para Chytilová encontrar trabalho e ela passou a dirigir comerciais sob o nome de seu marido, Jaroslav Kučera. Mesmo após esse hiato, sua produção prosseguiu até os anos 2000. Até o fim de sua carreira, Vera lutou intensamente em sua tentativa de produzir arte dentro de um meio complexo e asfixiante de intensa censura no qual mesmo os diretores homens mais respeitados do país sofriam. Morreu aos 85 anos, no dia 12 de fevereiro de 2014.
Conheça os filmes que serão exibidos na mostra Vera Chytilová: A Grande Dama do Cinema Tcheco:
LONGAS-METRAGENS:
Algo Diferente (O něčem jiném) (1963)
Armadilhas (Pasti, Pasti, Pastičky) (1998)
Banidos do Paraíso (Vyhnání z Ráje) (2001)
O Bobo da Corte e a Rainha (Sasek a Kralóvna) (1987)
Calamidade (Kalamita) (1981)
O Chalé do Lobo (Vicl Bouda) (1986)
Chytilova Versus Forman (1982)
Os Cidadãos de Praga me Entendem (Mí Pražané Mi rozumějí) (1991)
Conjunto Habitacional (Panelstory aneb jak se Rodí Sídliště) (1979)
Fruto do Paraíso (Ovoce stromu rajských jíme) (1970)
A Herança (Dedictví aneb Kurvahosigutntag) (1992)
Jornada – Um Retrato de Vera Chytilová (Cesta – Portret Věra Chytilová) (2004)
Momentos Agradáveis (Hezké Chvilky bez Záruky) (2006)
As Pequenas Margaridas (Sedmikrásky) (1966)
Pérolas das Profundezas (Perlicky na dne) (1965)
Praga – O Incansável Coração da Europa (Praha – neklidné srdce Evropy) (1984)
Procurando Ester (Pátráni po Ester) (2005)
Tainted Horseplay (Kopytem Sem, kopytem tam) (1989)
Tomáš Garrigue Masaryk (TGM Osvoboditel) (1990)
Voos e Quedas (Vzlety a Pády) (2000)
CURTAS-METRAGENS:
Green Street (Zelená ulice) (1960)
Miado (Kocicina) (1960)
Teto (Strop) (1961)
Saco de Pulgas (Pytel blech) (1962)
Camarada (Kamarádi) (1971)
O Tempo é Inexorável (Cas je neúprosný) (1978)
Fotos: Divulgação.