Festival de Cannes: documentário sobre Cacá Diegues será exibido na mostra Cannes Classics 2025

por: Cinevitor
Cacá Diegues: celebrado em Cannes com Para Vigo Me Voy!

Desde o início dos anos 2000, o Festival de Cannes criou a mostra Cannes Classics, uma seleção que permite exibir o trabalho de valorização do cinema patrimonial realizado por produtoras, proprietários de direitos, cinematecas e arquivos nacionais de todo o mundo. Atualmente, faz parte da Seleção Oficial do evento e apresenta obras-primas e raridades do cinema em cópias restauradas, além de homenagens e títulos inéditos.

Nesta edição de 2025, o cinema brasileiro marca presença com Para Vigo Me Voy!, dirigido por Lírio Ferreira e Karen Harley, documentário sobre Carlos Diegues, um dos cineastas brasileiros mais queridos do festival francês. O filme é uma viagem cinematográfica pela trajetória de Cacá Diegues revelando a capacidade única de capturar o espírito do tempo presente em suas narrativas. O longa explora como as obras do cineasta refletem os traços da história brasileira nas últimas seis décadas, além de abordar aspectos íntimos de sua vida pessoal.

“O filme é uma grande aula de cinema brasileiro. São mais de 60 anos de cinema, atravessando a história do país, desde o Brasil Colônia. E não é apenas sobre Cacá. São muitos artistas que marcaram época. Para citar alguns: Antonio Pitanga, Jeanne Moreau, Zezé Motta, Marília Pêra, Sonia Braga, Antonio Fagundes, Wagner Moura e Jesuíta Barbosa; Moacir Santos, Chico Buarque, Jorge Benjor, Caetano e Gil”, afirma o produtor Diogo Dahl sobre o longa. Clique aqui e confira o pôster oficial.

A sinopse oficial diz: Para Vigo Me Voy! é um documentário que mergulha na obra de Carlos Diegues, cineasta que retratou a história e o espírito do Brasil desde 1961. O longa navega entre os filmes dele e sua trajetória pessoal. Trechos das obras são intercalados com entrevistas do diretor ao longo de 60 anos. Acompanhamos a evolução de seu cinema e de seu discurso, costurando esse diálogo com imagens inéditas da última filmagem de Diegues em Deus Ainda é Brasileiro, uma sessão de Bye Bye Brasil na Favela do Vidigal, com a presença dele, e um grande encontro de Carlos Diegues com artistas que foram companheiros de jornada.

Diegues, que faleceu em fevereiro deste ano, quando o documentário estava sendo montado, esteve no Festival de Cannes com oito dos 17 longas que dirigiu sozinho, participando três vezes da mostra competitiva com: Bye Bye Brasil, em 1980, Quilombo, em 1984, e Um Trem para as Estrelas, em 1987; e outras três vezes na Quinzena de Cineastas com: Os Herdeiros, em 1969, Joanna Francesa, em 1973, e Chuvas de Verão, em 1978. O cineasta foi membro do júri da principal da mostra competitiva em 1981 e participou também da Semana da Crítica com Ganga Zumba, em 1964. Apresentou, em 2018, fora de competição, O Grande Circo Místico, além de ter marcado presença com o longa Cinco Vezes Favela: Agora por Nós Mesmos, em 2010, do qual assinou a produção. No ano passado, Bye Bye Brasil foi exibido na mostra Cannes Classics.

Exibir Para Vigo Me Voy! no Festival de Cannes é levar novamente o espírito artístico do cineasta e celebrar sua obra, que começou nos anos de 1960 com o curta Escola de Samba, Alegria de Viver, que integrou o longa coletivo Cinco Vezes Favela, de 1962. Diegues foi um dos fundadores do movimento Cinema Novo, dirigindo ao longo de sua carreira 30 filmes entre longas e curtas, e deixando o inédito Deus Ainda é Brasileiro, continuação do sucesso de 2003.

Karen Harley, que trabalhou com o cineasta montando Tieta do Agreste (1996), conta que Diegues foi seu mestre não só no cinema, mas também na vida, e destaca a possibilidade de celebrar a obra do cineasta no documentário: “É um filme de delicada costura entre suas últimas conversas, seu último set como diretor, sua extensa e diversa filmografia e um vasto e inédito material de arquivo, no qual ele fala sobre questões relevantes sobre o Cinema e o Brasil em geral. Combina profundidade humana, relevância social e estética cinematográfica”.

Com argumento de Lucas Vasconcellos e roteiro de Lírio Ferreira, o filme é uma coprodução entre Globo Filmes e GloboNews, com produção de Diogo Dahl, da Coqueirão Pictures, em coprodução também com Raccord, Sinédoque e Dualto Produções; a produção executiva é de Maria Fernanda Miguel e a distribuição é da Gullane+. A montagem é assinada por Mair Tavares e Daniel Garcia com montagem final de Karen Black e Lucílio Jota; a fotografia é de Loiro Cunha e a música-título é interpretada por Ney Matogrosso e Pife Muderno e produzida por Carlos Malta. Waldir Xavier assina a edição de som; a mixagem é de Tiago Picado e o som direto de Valéria Ferro e Priscila Alves. A produtora Coqueirão Pictures participou em 2016 da sessão Cannes Classics com Cinema Novo, de Eryk Rocha, que recebeu o L’Œil d’or (Olho de Ouro) de melhor documentário do festival.

O filme brasileiro faz parte da celebração de três nomes emblemáticos do Festival de Cannes na Cannes Classics. Além de Cacá Diegues, David Lynch e Pierre-William Glenn também serão homenageados com os títulos David Lynch, une énigme à Hollywood, de Stéphane Ghez, e Dis pas de bêtises, de Vincent Glenn.

A seleção traz também uma cópia restaurada em 4K do clássico Em Busca do Ouro, de Charles Chaplin, que celebra 100 anos de seu lançamento. Além disso, celebra também, com uma cópia restaurada, os 25 anos de Amores Brutos, de Alejandro G. Iñárritu, que marcou o cinema mexicano e foi o grande vencedor da Semana da Crítica em 2000.

A cineasta francesa Diane Kurys, que foi a primeira diretora a abrir o Festival de Cannes, em 1987, com Un homme amoureux, retorna ao evento com o drama biográfico Moi qui t’aimais sobre o mítico casal Simone Signoret e Yves Montand.

Outros destaques da programação: O Arco, que estreou mundialmente em Cannes em 1968, dirigido por T’ang Shushuen, uma das poucas cineastas independentes em Hong Kong durante as décadas de 1960 e 1970; Dogma: Resurrected (A 25th Anniversary Celebration!), de Kevin Smith, que foi exibido fora de competição em 1999; Sunshine: O Despertar de um Século, do diretor húngaro István Szabó, que será exibido como parte das comemorações do centenário da FIPRESCI, Federação Internacional de Críticos de Cinema; Fervura Máxima, de John Woo, lendário mestre do cinema de ação de Hong Kong dos anos 1990; e o premiado Um Estranho no Ninho, de Miloš Forman, com Jack Nicholson.

E mais: no 50º aniversário da morte do dramaturgo e cineasta francês Marcel Pagnol e no 130º aniversário do seu nascimento, a mostra Cannes Classics celebra o 70º aniversário da sua presidência do júri exibindo uma versão restaurada de Merlusse. Entre os documentários, vale destacar a presença do inédito My Mom Jayne, de Mariska Hargitay, sobre sua mãe, a atriz Jayne Mansfield, uma das primeiras playmates da Playboy, que morreu tragicamente em um acidente de carro aos 34 anos. A obra-prima Barry Lyndon, de Stanley Kubrick, vencedora de quatro estatuetas douradas no Oscar, será o filme de encerramento da mostra Cannes Classics.

Neste ano, Quentin Tarantino, vencedor da Palma de Ouro com Pulp Fiction: Tempo de Violência e presidente do júri em 2004, será o convidado de honra da Cannes Classics. Cineasta e cinéfilo, compartilhará sua paixão por George Sherman exibindo dois de seus westerns feitos para a Universal Pictures, um de seus períodos mais criativos: Escrava do Ódio e Terra Selvagem.

Conheça os novos filmes selecionados para o Festival de Cannes 2025:

CANNES CLASSICS

Amores Brutos (Amores perros), de Alejandro G. Iñárritu (México) (2000)
As Coisas Simples da Vida (Yi Yi), de Edward Yang (Japão/Taiwan) (2000)
Barry Lyndon, de Stanley Kubrick (Reino Unido/EUA) (1974)
Dogma, de Kevin Smith (EUA) (1999)
Em Busca do Ouro (The Gold Rush), de Charles Chaplin (EUA) (1925)
Escrava do Ódio (Red Canyon), de George Sherman (EUA) (1949)
Fervura Máxima (Lat sau san taam/Hard Boiled), de John Woo (Hong Kong) (1992)
Merlusse, de Marcel Pagnol (França) (1935)
Moi qui t’aimais, de Diane Kurys (França) (2025)
O Arco (The Arch), de T’ang Shushuen (Hong Kong) (1968)
Sunshine: O Despertar de um Século, de István Szabó (Hungria/Alemanha/Canadá/Áustria) (1999)
Terra Selvagem (Comanche Territory), de George Sherman (EUA) (1950)
Um Estranho no Ninho (One Flew Over the Cuckoo’s Nest), de Miloš Forman (EUA) (1975)

DOCUMENTÁRIOS

David Lynch, une énigme à Hollywood, de Stéphane Ghez (França)
Dis pas de bêtises!, de Vincent Glenn (França)
I huvudet på Bo (Bo Being Bo Widerberg), de Jon Asp e Mattias Nohrborg (Suécia)
I Love Peru, de Raphaël Quenard e Hugo David (França)
My Mom Jayne, de Mariska Hargitay (EUA)
Para Vigo Me Voy!, de Lírio Ferreira e Karen Harley (Brasil)
Slauson Rec, de Leo Lewis O’Neil (EUA)

CÓPIAS RESTAURADAS

Dias e Noites na Floresta (Aranyer Din Ratri), de Satyajit Ray (Índia) (1970)
Estrelas (Sterne), de Konrad Wolf (Alemanha/Bulgária) (1959)
Gehenu Lamai, de Sumitra Peries (Sri Lanka) (1978)
La course en tête, de Joël Santoni (França/Bélgica) (1974)
La paga, de Ciro Durán (Colômbia/Venezuela) (1962)
Magirama, de Abel Gance e Nelly Kaplan (França) (1956)
Más allá del olvido, de Hugo del Carril (Argentina) (1955)
Nuvens Flutuantes (Ukigumo), de Mikio Naruse (Japão) (1955)
Saïd Effendi, de Kameran Hosni (Iraque) (1955)
Waqai sinin al-djamr, de Mohamed Lakhdar Hamina (Argélia) (1975)

Foto: Divulgação.

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