Cena de Libelu – Abaixo a Ditadura, de Diógenes Muniz: premiado.
Foram anunciados neste domingo, 04/10, em uma cerimônia virtual, os vencedores do 25º É Tudo Verdade – Festival Internacional de Documentários, principal evento dedicado à cultura do documentário na América Latina, fundado e dirigido por Amir Labaki.
Neste ano, realizado em formato on-line por conta da pandemia de Covid-19, o festival exibiu, entre os dias 23 de setembro e 4 de outubro, um total de 61 longas e curtas-metragens em competição e hors-concours, de forma gratuita, em plataformas de streaming.
Dirigido pelo estreante Diógenes Muniz, Libelu – Abaixo a Ditadura foi eleito o vencedor da Competição Brasileira de Longas ou Médias-Metragens e recebeu R$ 20.000,00 e o Troféu É Tudo Verdade. O filme focaliza uma tendência estudantil universitária surgida em 1976 que, impulsionada por uma organização clandestina, ganhou fama por ser o primeiro a retomar o mote abaixo a ditadura enquanto o AI-5 ainda vigorava.
Já na Competição Internacional de Longas ou Médias-Metragens o vencedor foi Colectiv, dirigido por Alexander Nanau. O filme aborda a corrupção no sistema de saúde da Romênia e recebeu R$ 12.000 e o Troféu É Tudo Verdade.
Entre os curtas, Filhas de Lavadeiras, de Edileuza Penha de Souza, venceu a competição nacional e recebeu seis mil reais, o Troféu É Tudo Verdade e o Prêmio Mistika no valor de R$ 8.000,00 em serviços de pós-produção digital. O polonês Meu País Tão Lindo, de Grzegorz Paprzycki, foi eleito o melhor curta-metragem internacional e recebeu R$ 6.000,00 e o troféu.
O júri internacional foi formado pela diretora emérita da International Documentary Association, Betsy McLane; pelo presidente e diretor-executivo do Hot Docs Canadian Festival, Chris McDonald; e pelo cineasta brasileiro Jorge Bodanzky. O júri brasileiro contou com o escritor Ignácio de Loyola Brandão; a cineasta e roteirista Cristiana Grumbach; e o cineasta e curador Francisco Cesar Filho.
Reconhecido pela Academia de Artes e Ciências Cinematográficas dos Estados Unidos como um festival classificatório para o Oscar, o evento qualifica automaticamente as produções vencedoras nas competições brasileira e internacional para inscrição direta visando a disputa da estatueta dourada para melhor documentário de longa-metragem e de documentário de curta-metragem.
Durante a cerimônia de encerramento, diretores brasileiros cujos filmes estiveram na seleção deste ano leram, em vídeo, um manifesto a favor da cultura brasileira, da Cinemateca e da preservação da memória em movimento de nosso país. O texto foi escrito por Roberto Berliner e o vídeo foi editado por Carol Garritano. Leia aqui:
“É com sentimento de pesar que nós, diretores dos filmes do 25º Festival de Documentários É Tudo Verdade, manifestamos nosso total desacordo com os rumos da política cultural do país. O governo de extrema direita do Jair Bolsonaro age desde o início para atacar e silenciar os brasileiros que fazem da cultura e da arte como seus inimigos. A atividade audiovisual está paralisada desde março, com a suspensão de todos os recursos públicos para a produção de filmes e séries. Isso tem provocado uma taxa crescente de desemprego. São muitas as empresas que estão falindo, cineastas passando necessidade e a ameaça de paralisia total do setor. Isso sem falar da Cinemateca Brasileira, com seu acervo histórico que corre o risco de total destruição. A realidade que nos cerca, gritando em meio a paisagem agônica das incêndios de setembro, não é uma mera metáfora. O fogo que destrói o Pantanal e a Amazônia, ocorre sob o mesmo governo irresponsável que ignora a tragédia da Covid-19 e que despreza as artes, cultura, a educação e a ciência. Eles têm medo de nós. A situação é gravíssima. Por isso, convidamos as realizadoras e realizadores do audiovisual a se voltarem, mais uma vez, para a realidade. E, acima de tudo, não se intimidaram. É preciso cada vez mais buscar novas formas de produzir e registrar a nossa memória. E nunca parar e nem silenciar. Um país sem imagens de si mesmo é como alguém que não sabe o que é. É um país com alzheimer”.
Os diretores que assinam: Aurélio de Michiles, Bernardo Vorobow, Bruno Moreschi, Carlos Adriano, Carol Benjamin, Clarice Saliby, Cláudio Moraes, Diógenes Muniz, Guga Millet, João Jardim, Jorge Bodanzky, Marcelo Machado, Mari Moraga, Mariana Lacerda, Paschoal Samora, Rafael Veríssimo, Roberto Berliner, Rubens Rewald, Silvio Tendler, Tali Yankelevich e Toni Venturi.
Depois da cerimônia realizada no YouTube, foi exibido como filme de encerramento o longa Wim Wenders, Desperado, dirigido por Eric Fiedler e Andreas Frege. E mais: vale lembrar que os longas-metragens vencedores das competições brasileira e internacional ganham exibição presencial no Rio de Janeiro, em salas do Grupo Estação, assim que as mesmas foram reabertas.
Conheça os vencedores do É Tudo Verdade 2020:
COMPETIÇÃO BRASILEIRA | JÚRI OFICIAL
MELHOR DOCUMENTÁRIO | LONGA OU MÉDIA-METRAGEM:
Libelu – Abaixo a Ditadura, de Diógenes Muniz (SP)
MENÇÃO HONROSA:
Segredos do Putumay, de Aurélio Michiles (SP)
Fico te Devendo uma Carta sobre o Brasil, de Carol Benjamin (RJ)
MELHOR DOCUMENTÁRIO | CURTA-METRAGEM:
Filhas de Lavadeiras, de Edileuza Penha de Souza (DF)
MENÇÃO HONROSA:
Ver a China, de Amanda Carvalho (Brasil, SP/China)
COMPETIÇÃO INTERNACIONAL | JÚRI OFICIAL:
MELHOR DOCUMENTÁRIO | LONGA OU MÉDIA-METRAGEM:
Colectiv (Collective), de Alexander Nanau (Romênia/Luxemburgo)
MENÇÃO HONROSA:
O Espião (The Mole Agent), de Maite Alberdi (Chile/EUA/Alemanha/Holanda/Espanha)
MELHOR DOCUMENTÁRIO | CURTA-METRAGEM:
Meu País Tão Lindo (Moj Kraj Taki Piekny), de Grzegorz Paprzycki (Polônia)
MENÇÃO HONROSA:
Saudade, de Denize Galiao (Alemanha)
PREMIAÇÕES PARALELAS
PRÊMIO CANAL BRASIL DE CURTAS:
Filhas de Lavadeiras, de Edileuza Penha de Souza (DF)
PRÊMIO EDT (Associação de Profissionais de Edição Audiovisual):
Melhor Montagem | Longa: A Ponte de Bambu, por André Finotti e Raimo Benedetti (SP)
Melhor Montagem | Curta: Metroréquiem, por Adalberto Oliveira (PE)
Foto: Divulgação/Boulevard Filmes.