XIII Janela Internacional de Cinema do Recife divulga programação completa

por: Cinevitor

kaiquebritojanelarecifeKaique Brito no filme Eu Me Lembro: exclusivo para o festival.

O Janela Internacional de Cinema do Recife realizará sua 13ª edição entre os dias 6 e 10 de março, em formato experimental com programação concebida para o ambiente on-line. Neste ano, o Janela explora o tema Eu Me Lembro, abordando a importância das memórias individuais e coletivas, dos arquivos e da preservação das histórias filmadas. O tema está representado na vinheta especial do festival, realizada pela cineasta Nara Normande, e divulgada nas redes sociais (clique aqui).

Os diretores artísticos do festival, Kleber Mendonça Filho e Emilie Lesclaux, junto ao coordenador de programação Luís Fernando Moura e à produtora Dora Amorim, pensaram numa edição especial e experimental como uma oportunidade de conversar sobre cinema e cultura durante a pandemia, além de reunir filmes raros do século passado e um conjunto de novíssimos filmes realizados especialmente a convite do Janela, e que estreiam nesta edição.

O festival, que é normalmente realizado nos meses de outubro ou novembro, com sessões nos cinemas São Luiz e da Fundação Joaquim Nabuco, não ocorreu em 2020 devido à pandemia de Covid-19. Este ano, os encontros e as exibições serão realizadas de maneira remota e gratuita através do site. Os resumos, sinopses e descrições detalhadas de todas as atividades também estão disponíveis por lá.

Sobre esta edição, Kleber Mendonça Filho, diretor artístico do festival, disse: “Esse ano, somos levados a realizar essa edição usando o espaço da internet. Festivais irmãos no Brasil e no exterior têm se reinventado com novas ferramentas, e observamos isso com grande interesse. Nosso desejo com essa experiência é menos o de oferecer uma programação online e mais o de manter contato com todas e com todos, de poder conversar sobre o Cinema e oferecer uma troca, de talvez sugerir algumas imagens diversas que sejam de interesse”.

A programação desta edição especial é formada por: seis encontros intitulados Aulas do Janela; o programa Eu Me Lembro com filmes exclusivos criados por realizadores brasileiros e estrangeiros a convite do festival; o programa Forum 50: Episódios de Luta, recorte curatorial da primeira edição da mostra Forum, seção do Festival de Berlim que estreava 50 anos atrás, numa seleção que põe foco nas lutas anticoloniais no continente africano e nos movimentos de libertação negra intercontinental; a sessão Arquivos Brasileiros, que recupera filmes raros; e a intervenção urbana Respire, do Coquevídeo, que será realizada numa data futura, por causa da atual situação de saúde pública nesta pandemia.

Toda a programação terá acesso gratuito e os filmes da mostra Eu Me Lembro ficam acessíveis por streaming entre os dias 6 e 10 de março. Os filmes dos programas Forum 50: Episódios de Luta e Arquivos Brasileiros serão disponibilizados, também em streaming, por 24 horas. Para assistir ao programa Forum 50, é necessário fazer um cadastro gratuito no site do Janela. Na quarta (09/03), os filmes de ambos os programas terão reprise por mais 24h. Já as Aulas do Janela serão transmitidas ao vivo. Os cem primeiros inscritos em cada aula terão acesso ao encontro on-line através da plataforma Zoom; os demais interessados poderão assistir a transmissão ao vivo pelo site.

fernandamontenegrojanelaCultura e história, de dentro da cena: Fernanda Montenegro conversa com Maeve Jinkings.

O festival terá uma série de encontros para conversar sobre cinema e cultura: “As Aulas do Janela miram diferentes trajetórias – de uma artista, de um coletivo, de uma filmografia, de instituições – para propor que se note o presente como laboratório de lembrança coletiva, de percepção do tempo e de seus atores, de busca de uma medida comum para o lugar aonde vamos juntos”, detalha Luís Fernando Moura, coordenador de programação do festival.

As Aulas do Janela, contam com conversas entre as atrizes Maeve Jinkings e Fernanda Montenegro, entre a crítica de cinema e professora Kênia Freitas e a diretora de cinema e atriz francesa de origem senegalesa Mati Diop, vencedora do Grande Prêmio do Festival de Cannes, em 2019, com Atlantique, seu primeiro longa-metragem.

Num dos encontros, Luís Fernando Moura, um dos curadores do Janela, conversa com integrantes do coletivo @saquinhodelixo (perfil no Instagram) sobre o tema Novos arquivos, ou como não fazer uma página de memes. Em outra aula, Luís Fernando Moura conversa com as curadoras e pesquisadoras Jacqueline Nsiah e Janaína Oliveira sobre Lutas negras 50 anos depois, ou desbravando episódios de cinema e rebelião. A conversa trará o debate sobre os filmes apresentados no programa Fórum 50: Episódios de Luta.

Colocando em debate a importância das cinematecas, Débora Butruce conversa com Tiago Baptista sobre Preservar, restaurar filmes em tempos de desmonte e de aliança. Débora é presidenta da Associação Brasileira de Preservação Audiovisual (ABPA) e Tiago é diretor do Arquivo Nacional das Imagens em Movimento, centro de conservação da Cinemateca Portuguesa.

Na última aula, Kleber Mendonça Filho conversa com as artistas e pesquisadoras Bruna Rafaella, Vi Brasil e o diretor de cinema e preparador de elenco Leonardo Lacca sobre o trabalho do coletivo Risco!, grupo de artistas que promove uma transição entre diversas linguagens a partir do princípio de desenho com modelo vivo em tempos remotos.

“Uma ideia que estamos bancando: estimular e provocar a realização de um pequeno ninho de filmes curtos e especiais que sejam frutos desse momento, e material de arquivo para o futuro. Convidamos realizadoras e realizadores brasileiros e estrangeiros para filmar ou acessar suas pastas de imagens pessoais para pensar a frase ‘Eu Me Lembro'”, explica Kleber Mendonça Filho.

O programa Eu Me Lembro reúne filmes de Anna Muylaert, Bruno Ribeiro, João Pedro Rodrigues, João Rui Guerra da Mata (Portugal), Kaique Brito, Lia Letícia, Nele Wohlatz (Alemanha) e Sergio Silva. Na segunda (08/03), às 19h, haverá um encontro on-line com as realizadoras e realizadores com mediação de Luís Fernando Moura e Kleber Mendonça Filho.

umquartocidadejanelaCena do filme Um Quarto na Cidade, de João Pedro Rodrigues e João Rui Guerra da Mata.

O Janela propôs que algumas realizadoras e realizadores criassem filmes, como e sobre o que quisessem, para serem exibidos nesta edição. Tocados e mobilizados pela grave crise que acomete a Cinemateca Brasileira, mais simbólico dos nossos arquivos, foi oferecida apenas uma ideia, Eu Me Lembro; e em troca foram enviadas imagens que, tão diversas entre si, surgem como cartas filmadas endereçadas ao presente. O que, em tempos de luto, resguardo e espera, seria filmar lembranças? Algumas e alguns miraram o oceano e a travessia, muitas e muitos voltaram às suas fotos, aos seus TikToks, aos seus filmes e brinquedos. Contam-se histórias de amor, de viagem e de recomeço. A celebração de um set de filmagem. Monumentos (entre eles, parentes e amigas e amigos). Um funcionário da Cinemateca planejando um próximo filme.

Conheça os filmes do programa Eu Me Lembro:

Um Café com meu Avô, de Anna Muylaert (Brasil)
Sinopse: Divagações sobre a função do cinema e a intoxicação de imagens que vivemos hoje.

Gargaú, de Bruno Ribeiro (Brasil)
Sinopse: Bruno entra em um carro com desconhecidos.

Um Quarto na Cidade, de João Pedro Rodrigues e João Rui Guerra da Mata (Portugal)
Sinopse: Quando fazem calar as vozes, a música vibra na memória.

Eu Me Lembro, de Kaique Brito (Brasil)
Sinopse: Kaique, um jovem de 16 anos, resolve desabafar com alguém no computador sobre sentir falta de algo recorrente da sua infância: o sentimento de admiração e entusiasmo por momentos simples do dia a dia.

Feliz Navegantes, de Lia Letícia (Brasil)
Sinopse: O sumiço de um barco mobiliza uma comunidade, e, entre um set de filmagem, coronéis e tubarões, um pescador realiza uma memorável proeza.

Turista, de Nele Wohlatz (Alemanha)
Sinopse: Mudo os vídeos de um lugar para outro, em busca de sua correlação, como se fossem a filmagem de um filme. Por enquanto, eu sabia disso: filmamos imagens para contar uma história por meio delas. Mas nenhum dos vídeos do meu celular foi feito com essa intenção. O que é que os conecta?

A Terra Segue Azul Quando Saio do Trabalho, de Sergio Silva (Brasil)
Sinopse: O funcionário de um arquivo de filmes e sua personagem imaginam um filme para fazer quando saírem do trabalho.

Em parceria com o Festival de Berlim, o Janela Internacional de Cinema do Recife apresenta o programa especial Forum 50: Episódios de Luta, um recorte da programação exibida há 50 anos, na primeira edição da mostra Forum, criada em 1971 na Berlinale, para dar vazão à ebulição política, cultural e artística que tomava o mundo e o cinema independente naquele momento. Outros recortes da mostra passaram por Nova York, Lisboa e Hong Kong.

“O programa Forum 50: Episódios de Luta destaca filmes que dão expressão a projetos antirracistas de futuro, tão solidários quanto combativos, numa indistinção nada infrequente entre cinema e rebelião. São visões que podem também nos munir, agora e no futuro”, afirma Luís Fernando Moura.

Para compor esta programação, a curadoria do Janela selecionou obras que tratam das lutas por liberdade de populações negras e dos movimentos civis e anticolonialistas nos continentes africano, norte-americano e europeu, realizadas entre os anos de 1968 e 1971. São sete filmes raros, incluindo cópias restauradas recentemente; além de permitir o acesso aos filmes no Brasil, gratuitamente e com legendas em português.

Conheça os filmes do programa Forum 50: Episódios de Luta:

Meus Vizinhos (Mes Voisins), de Med Hondo (1971)
Angela: Retrato de uma Revolucionária (Angela: Portrait of a Revolutionary), de Yolande du Luart (1971)
Monangambeee, de Sarah Maldoror (1968)
Phela-ndaba (Fim do Diálogo) (Phela-ndaba (End of the Dialogue)), de Membros do Congresso Panafricanista/Members of the Pan Africanist Congress (1970)
Festival Panafricano de Argel (Festival Panafricain d’Alger), de William Klein (1969)
Eldridge Cleaver, Pantera Negra (Eldridge Cleaver, Black Phanter), de William Klein (1969)
O Assassinato de Fred Hampton (The Murder of Fred Hampton), de Howard Alk (1971)

angelajanelarecifeCena do filme Angela: Retrato de uma Revolucionária, de Yolande DuLuart.

No contexto atual, no qual a Cinemateca Brasileira, maior arquivo audiovisual do país e um dos maiores da América Latina, permanece fechada e sem profissionais especializados há quase um ano, o Janela traz um programa de Arquivos Brasileiros, com curadoria de Débora Butruce. São três filmes de acervo do Centro Técnico Audiovisual (CTAv) e da Cinemateca do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro:

SRTV 307 – Cinemateca: Almoço na Cinédia – Nosso Cinema 80 anos, de Martha Alencar e José Carlos Asbeg (supervisão) (1978)
Pérola Negra, de Reinaldo Cozer (1979)
Viagem ao Brasil (Voyage au Brésil), de Vital Ramos de Castro (1927)

O Janela de Cinema sempre dialogou com a questão urbana em suas edições, com programações que priorizam as salas de cinema no centro da cidade. Já que nesta edição não será possível ocupar as ruas e cinemas por conta da pandemia do novo coronavírus, o festival convidou o coletivo Coquevídeo para criar uma  intervenção urbana com projeções de imagens no centro do Recife. As imagens da obra Coquevídeo: Respire serão projetadas numa data futura, que será anunciada posteriormente. O registro audiovisual da intervenção será disponibilizado no site do festival. A intervenção precisou ser adiada por causa da atual situação de saúde pública nesta pandemia.

A artista Clara Moreira assina mais uma vez a identidade visual do festival. Para esta edição, Clara criou um desenho, em lápis de cor, com uma vista da Ponte Duarte Coelho, olhando para a Ponte da Boa Vista, no centro do Recife. A obra na qual o Rio Capibaribe e o céu se emendam foi criada com inspiração na conjunção entre Mercúrio, Júpiter, Saturno e a Lua: “Fiz uma representação livre do movimento astral das noites dos dias 9 e 10 de março. A base para essa pesquisa foi feita por Rita Vênus, numa consulta astrológica”, conta Clara.

O Janela Internacional de Cinema do Recife tem incentivo da Lei Aldir Blanc, Governo Federal, via edital do Governo de Pernambuco, Fundarpe, Secult-PE, patrocínio da Prefeitura do Recife, apoio do Consulado Geral da Alemanha no Recife, do Centro Cultural Brasil Alemanha e da Embaixada da França no Brasil.

Fotos: Divulgação/Leila Fugii (Fernanda Montenegro).

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