Que Horas Ela Volta?

por: Cinevitor

quehoraselavoltaposterDiretora: Anna Muylaert

Elenco: Regina Casé, Camila Márdila, Karine Teles, Lourenço Mutarelli, Michel Joelsas, Helena Albergaria, Bete Dorgam, Luis Miranda, Theo Werneck, Luci Pereira, Anapaula Csernik, Hugo Villavicenzio, Roberto Camargo, Alex Huszar, Audrey Lima Lopes, Thaise Reis, Nilcéia Vicente.

Ano: 2015

Sinopse: Val deixa sua filha pequena no interior de Pernambuco para tentar ganhar a vida em São Paulo. Após 13 anos como babá do menino Fabinho, ela convive com a culpa de não ter participado da criação da filha. Em busca de condições melhores de estudo, Jéssica, a filha de Val, resolve ir ao encontro da mãe. Esse reencontro fará com que Val precise encontrar um novo equilíbrio na sua vida.

Crítica do CINEVITOR: Tive o prazer de assistir ao filme Que Horas Ela Volta? no Festival de Gramado deste ano, ao lado da diretora e parte de sua equipe. A emoção tomou conta do Palácio dos Festivais durante a projeção e ao final recebeu muitos aplausos. Logo, comecei a pensar no que escreveria em minha crítica e, dessa vez, resolvi fazer diferente. Optei por expressar minha opinião sobre o longa através de uma carta destinada a Anna Muylaert, diretora do filme, que diz: “Querida Anna, primeiramente queria te parabenizar por nos apresentar uma obra tão sensível e delicada, que com certeza vai mexer com muita gente. Seu filme precisa ser visto pelo maior número de pessoas possível, principalmente os brasileiros. Muitos se identificarão logo no início com alguma situação ou com algum personagem. Grande parte dos espectadores devem ter tido uma Val [personagem de Regina Casé] em sua vida. Eu tive a sorte de ter algumas, que com certeza estarão sempre em minhas lembranças. Seu filme consegue tocar as pessoas por causa da maneira como você apresenta a mistura de classes sociais e as diferenças que existem entre elas. Ao retratar o cotidiano de uma família de classe média alta que decide acolher e conviver com uma pessoa com hábitos e pensamentos completamente diferentes, a história se encaminha para um diálogo amplo, transitando entre diversos públicos com identificações distintas. A maneira como você conduz as cenas é impecável, pois mostra de uma forma realista todas as ações vividas pelos personagens. Aliás, o elenco é um show à parte. Grandes atuações, que muitas vezes nos fazem esquecer que estamos assistindo a um filme. É tudo tão forte e verdadeiro que o longa consegue humanizar seus personagens, cativando o público. No Brasil, sabemos que é muito comum que as famílias tenham uma empregada doméstica em casa. Talvez por isso, por aqui, o público receba o filme com um carinho ainda maior do que ele vem ganhando ao redor do mundo. A identificação imediata do espectador com a história narrada na telona mexe com nossos sentimentos e nos faz refletir sobre a relação que temos com aqueles que convivem conosco no dia a dia, mas que, ‘oficialmente’, não fazem parte da família, mesmo sendo (muitas vezes) mais próximos e mais íntimos do que um pai ou uma mãe. A Val representa muitos brasileiros que decidiram buscar uma nova chance para viver e tentar ser alguém na vida, seja para ajudar seus familiares ou para realizar um sonho próprio. No caso da personagem, sua força e determinação colidem com sentimentos diferentes (principalmente com a patroa) e causam atrito nas relações por serem um pouco diferentes. Mas, tais reações também causam faíscas na convivência entre familiares, como por exemplo, quando Jéssica [papel de Camila Márdila], filha de Val, chega a São Paulo para morar com a mãe na casa de seus patrões. A relação entre elas só deixa claro que as diferenças fazem parte das pessoas, independente de qualquer classe social. O pobre e o rico podem ter distinções materiais, mas o caráter, a dignidade e o respeito pelo outro estão dentro de cada um e isso o dinheiro não compra. Que Horas Ela Volta? traz diversas questões a serem refletidas, mas também mostra que o cinema brasileiro está tomando um novo rumo e graças a isso tem sido visto com outros olhos, tanto por aqui, quanto lá fora. Nossas histórias vão além de favelas e comédias, e com esse filme tão maduro, que retrata com maestria a sociedade brasileira, é possível ter a certeza de que estamos no caminho certo. Obrigado pelo filme, Anna. São histórias comoventes, cativantes e profundas como as de Que Horas Ela Volta? que nos fazem sair da sala de cinema com um sorriso no rosto e com lágrimas nos olhos. P.S.: A cena da piscina com a Regina Casé é uma das mais emocionantes dos últimos anos do cinema brasileiro. Sem exageros”. (Vitor Búrigo)

Nota do CINEVITOR:

nota-5-estrelas

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