Mostra Tiradentes | SP 2020: filmes, debates virtuais e homenagem ao coletivo Filmes do Caixote

por: Cinevitor

filmesdocaixotetiradentesColetivo paulista Filmes do Caixote: sessões especiais dos trabalhos do grupo.

A oitava edição da Mostra Tiradentes | SP acontecerá entre os dias e 7 de outubro, de forma gratuita, graças a parceria entre a Universo Produção e o Sesc SP, com um panorama do cinema brasileiro contemporâneo.

O evento elegeu como tema A Imaginação como Potência, mote que também norteou a 23ª Mostra de Cinema de Tiradentes. O objetivo é dar sequência e ampliar com novas vozes e olhares as reflexões e discussões iniciadas em janeiro na cidade mineira. A Mostra acontecerá no formato digital, por conta da pandemia de Covid-19, e poderá ser acessada pelos sites do Sesc e do evento.

A temática foi proposta pelo curador Francis Vogner dos Reis para reforçar que, mesmo numa época de dúvidas, o cinema brasileiro vive um momento de absoluta efervescência criativa e de recepção. O tema foi definido em janeiro, portanto, antes do cenário de pandemia que estamos vivendo, mas o enfoque está mais atual do que nunca. Francis destaca: “O que emerge na atual produção no país é o desejo de interpretar nossa experiência hoje, de projetar caminhos possíveis, de provocar imagens que nos remetam a uma perspectiva sobre o passado tendo em vista não só um olhar original sobre fraturas sociais e políticas, mas também uma superação destas num desejo de futuro. Existem filmes, documentários e ficções, que olham o presente e colocam as coisas em termos históricos, atentando para o mundo como ele é e se questionando como ele poderia ser”.

Na Mostra A Imaginação como Potência serão exibidos filmes que saíram vencedores da 23ª Mostra Tiradentes, como: Até o Fim, de Ary Rosa e Glenda Nicácio e A Parteira, de Catarina Doolan, eleitos melhor longa e curta pelo júri popular; além do longa Yãmĩyhex: as mulheres-espírito, de Sueli Maxakali e Isael Maxakali, vencedor do Prêmio Carlos Reichenbach, entregue ao melhor filme da Mostra Olhos Livres eleito pelo Júri Jovem. Os curtas A Felicidade Delas, de Carol Rodrigues; Inabitáveis, de Anderson Bardot; O Verbo Se Fez Carne, de Ziel Karapotó; e Pattaki, de Everlane Moraes completam a programação da seção.

inabitaveistiradentesspCena do curta Inabitáveis, de Anderson Bardot.

Integra a programação da 8ª Mostra Tiradentes | SP a homenagem ao coletivo paulista Filmes do Caixote, com sessões especiais do trabalho do grupo. Formado por Caetano Gotardo, João Marcos de Almeida, Juliana Rojas, Marco Dutra e Sergio Silva, o Filmes do Caixote foi uma das mais notórias experiências de coletivo cinematográfico em São Paulo, criado na primeira década do século XXI quando despontavam também em outro estados coletivos fundamentais no cinema contemporâneo brasileiro, como a Teia, em Minas Gerais, e Alumbramento, no Ceará. “Esse fenômeno dos coletivos se viabilizou como uma produção artesanal que ia, inicialmente, na contramão do cinema incentivado por editais e que demandavam uma forma de trabalho e criação profissionalizadas (ou seja, industriais)”, comenta Francis Vogner dos Reis.

O início da atuação do coletivo inclui produções pequenas e experimentais realizadas em VHS, vídeo digital e película. Curtas marcados por empreitadas estéticas mais impressionistas do que discursivas, quase sempre performáticas e que levam em consideração a criação de formas a partir de uma exploração da câmera, fazendo dela mais um instrumento de poesia do que um meio de registro de realismo narrativo. Com diversos trabalhos que não responderam a um método único e a um sistema muito rígido de realização, a liberdade sempre foi a tônica desse conjunto de filmes e realizadores.

Fizeram muitos filmes de curta-metragem experimentais com aparato parcimonioso via coletivo assinando as obras individualmente, em dupla ou em grupo. No entanto, também filmaram longas e curtas pelos meios mais oficiais, como editais e coproduções, com aparato mais robusto e circulação internacional, nos quais seus integrantes exercem diversas funções nos filmes uns dos outros. Exemplo mais bem sucedido disto, Todos os Mortos, último longa do coletivo dirigido por Marco Dutra e Caetano Gotardo e com Juliana Rojas assinando a montagem, uma coprodução Brasil e França, que concorreu ao Urso de Ouro no Festival de Berlim deste ano.

Também se destaca a rede de colaboradores que tomam parte decisiva na história do Filmes do Caixote, como as atrizes Gilda Nomace, Helena Albergaria, Helena Ignez, o ator Eduardo Gomes, o fotógrafo Matheus Rocha, a produtora Sara Silveira, entre muitos outros produtores, atores, atrizes e profissionais técnicos.

trabalharcansatiradentesSPHelena Albergaria e Gilda Nomace em Trabalhar Cansa: exibido em Cannes.

“O trabalho da Filmes do Caixote nos coloca questões não só sobre o cinema contemporâneo, mas também sobre a produção paulista como um todo. Se historicamente São Paulo se notabiliza por uma produção de filmes realizada em um esquema industrial, é importante notar que as maiores e mais imaginativas contribuições estéticas no cinema realizado na cidade sempre vieram de pequenos grupos criativos que buscaram reinventar (ainda que provisoriamente) modos de criação. Do cinema marginal à Produtora Paraísos Artificiais, os celeiros de invenção mais efusivos surgem na contramão do esquemas de criação e trabalho mais hegemônicos”, define o curador.

O público poderá conhecer a trajetória do coletivo em filmes e debate na programação do evento. Dentre os filmes que integram a Mostra Homenagem está o longa Trabalhar Cansa, de Juliana Rojas e Marco Dutra, curtas-metragens que marcaram a carreira dos cineastas, como Desculpa, Dona Madama, único filme dirigido por todos integrantes, e A Bela P…,  de João Marcos de Almeida e que teve participação de todos os membros como elenco ou trilha sonora. “Estamos muito felizes com a homenagem e acreditamos que é uma grande oportunidade para dar destaque a nossos curtas, que é como a gente se firmou”, comenta o coletivo.

A abertura da programação será no dia 1º de outubro, às 20h, na plataforma do Sesc. Uma performance audiovisual que apresentará a temática, a programação, a homenagem e o conceito do evento dá início as atrações da noite. Na sequência, o debate inaugural vai reunir os cinco integrantes da Filmes do Caixote, homenageados desta edição do evento.

A programação do dia se completa com a pré-estreia do filme Canto dos Ossos, de Jorge Polo e Petrus de Bairros. O longa foi eleito o melhor filme da Mostra Aurora pelo Júri Oficial da 23ª Mostra Tiradentes. Após o filme, será exibido um bate-papo com a equipe do longa.

Confira a lista completa com os selecionados para a 8ª Mostra Tiradentes | SP:

MOSTRA AURORA

Cabeça de Nêgo, de Déo Cardoso (CE)
Cadê Edson?, de Dácia Ibiapina (DF)
Canto dos Ossos, de Jorge Polo e Petrus de Bairros (CE/RJ)
Mascarados, de Marcela Borela e Henrique Borela (GO)
Natureza Morta, de Clarissa Ramalho (MG)
Ontem Havia Coisas Estranhas no Céu, de Bruno Risas (SP)
Pão e Gente, de Renan Rovida (SP)
Sequizágua, de Maurício Rezende (MG)

MOSTRA FOCO

A Barca, de Nilton Resende (AL)
Aos Cuidados Dela, de Marcos Yoshi (SP)
Calmaria, de CATAPRETA (MG)
Cinema Contemporâneo, de Felipe André Silva (PE)
Egum, de Yuri Costa (RJ)
Estamos Todos na Sarjeta, Mas Alguns de Nós Olham as Estrelas, de João Marcos de Almeida e Sergio Silva (SP)
Mansão do Amor, de Renata Pinheiro (PE)
Minha História é Outra, de Mariana Campos (RJ)
Perifericu, de Nay Mendl, Rosa Caldeira, Stheffany Fernanda e Vita Pereira (SP)
Rancho da Goiabada, de Guilherme Martins (SP)

MOSTRA A IMAGINAÇÃO COMO POTÊNCIA

A Felicidade Delas, de Carol Rodrigues (SP)
A Parteira, de Catarina Doolan (RN)
Até o Fim, de Glenda Nicácio e Ary Rosa (BA)
Inabitáveis, de Anderson Bardot (ES)
O Verbo se Fez Carne, de Ziel Karapotó (PE)
Pattaki, de Everlane Moraes (SE)
Yãmĩyhex: As Mulheres-espírito, de Sueli Maxakali e Isael Maxakali (MG)

MOSTRA PAULISTA

Bonde, de Asaph Luccas
Carne, de Camila Kater
Entre Nós e o Mundo, de Fabio Rodrigo
Mona, de Luíza Zaidan e Thiago Schindler
Três Bailarinas, de Leonel Costa

MOSTRA HOMENAGEM

A Bela P…, de João Marcos de Almeida (2008)
A Criada da Condessa, de Juliana Rojas (2006)
A vida do fósforo não é bolinho, gatinho, de Sergio Silva (2014)
As Sombras, de Juliana Rojas e Marco Dutra (2009)
Carne, de Sergio Silva (2008)
Choclo, de Caetano Gotardo (2015)
Desculpa, Dona Madama, de Filmes do Caixote (2013)
Eva Nil, Cem Anos Sem Filmes, de João Marcos de Almeida (2009)
Matéria, de Caetano Gotardo (2013)
Minha Única Terra é na Lua, de Sergio Silva (2017)
Nascemos hoje, quando o céu estava carregado de ferro e veneno, de Juliana Rojas e Marco Dutra (2013)
O Papel do Manto, de Sergio Silva (2009)
O que Se Move, de Caetano Gotardo  (2012)
Os Barcos, de Caetano Gotardo e Thaís de Almeida Prado (2012)
Rede de Dormir, de Marco Dutra (2009)
Sarau na cama, de João Marcos de Almeida e Sergio Silva (2008)
Trabalhar Cansa, de Juliana Rojas e Marco Dutra (2011)

Foto: Leo Lara/Universo Produção/Divulgação.

Comentários