Marília Pêra recebe o Troféu Oscarito no 43º Festival de Cinema de Gramado

por: Cinevitor

mariliapera6A homenageada no palco do Palácio dos Festivais.

A noite de terça-feira, 11/08, foi emocionante no 43º Festival de Cinema de Gramado. A atriz Marília Pêra recebeu o 25º Troféu Oscarito, prêmio que destaca personalidades do cinema nacional. Ovacionada pelo público, a homenageada foi surpreendida com a presença de seus três filhos, que apareceram de surpresa para entregar o prêmio a ela.

Em seu discurso, Marília agradeceu a homenagem: “É uma honra recebê-lo. Oscarito é um gênio da comédia brasileira. Vir a Gramado é sempre uma alegria. São tantas delicadezas, tanta gente gentil, tanto aconchego, tanto carinho. Sempre é bom vir aqui. Agradeço muitíssimo”. E também citou diversas pessoas importantes que fizeram parte de sua carreira: “Eu acho que a melhor coisa da vida é você ter amigos. Nesses últimos anos eu percebi o quanto eu tenho amigos queridos: os filhos, a irmã Sandra, o marido Bruno, as assessoras; aqui em Gramado tenho a Vera Carneiro [da Pauta Assessoria, responsável pela assessoria de imprensa do festival] que manda em nós (risos) e que ordenou que eu viesse pra cá com um ano de antecedência. Tem também o Rubens Ewald Filho, o Bigode [apelido do cineasta Luiz Carlos Lacerda], Bete Mendes, Marcos Santuario, enfim, tantos amigos queridos que eu gostaria de compartilhar com eles essa homenagem tão linda”.

mariliapera4Marília entre os filhos Esperança, Nina e Ricardo

Antes da homenagem, Marília participou de uma coletiva e conversou com a imprensa sobre o prêmio, seus trabalhos, planos futuros e contou algumas histórias de sua carreira. Confira os melhores momentos:

O INÍCIO

“Eu nasci atriz. Fiz balé clássico, fui bailarina em vários espetáculos e também no teatro de revista. Lembro que quando abriram teste para a mocinha de Como Vencer na Vida sem Fazer Força eu fiz e passei. Foi em 63, junto com Procópio Ferreira e Moacyr Franco. Foi ali que tudo começou mesmo como atriz”.

OSCARITO

“Meu pai trabalhou muito com o Oscarito, minha mãe, minha vó e meu tio também. Uma família de atores de teatro e de cinema também. Eu cheguei a participar de alguns filmes como bailarina com o Oscarito. Quando eu tinha doze anos, minha mãe era atriz de um dos filmes e meu pai me deixou participar como bailarina porque minha mãe estava junto. Eu tive muita proximidade com o Oscarito e nós assistimos a todas aquelas chanchadas, gostávamos muito daquele estilo. Oscarito era um gênio. Então, receber hoje, no 25º ano do Troféu Oscarito essa homenagem é uma honra. É uma volta ao passado muito bonita”. 

mariliapera5Marília no palco, ovacionada pelo público.

PROFISSÃO

“A profissão do ator é muito nobre. É uma profissão que não tem limite. Você pode fazer o que você quiser sendo ator, você pode sentir todas as emoções do universo. Você sabe tudo se você quiser e isso é uma liberdade sem fim. É claro que é uma luta pela sobrevivência, a competitividade é terrível, mas a profissão é muito divertida, muito arriscada, muito rica. Já pensei em parar umas quinhentas vezes, já declarei que ia parar não sei quantas vezes. Tem dias que eu não quero mais. Mas, num todo, eu quero mais”.

DISCIPLINA

“Eu sou uma atriz muito obediente, muito disciplinada. Respeito cada vírgula do texto, levo muito a sério. Respeito demais o texto, a marcação do diretor. Quando às vezes percebo, mas faz muitos anos que isso não acontece, que o diretor está perdido e que a obra talvez vá se perder, eu ameaço criar outras coisas pra ajudar a salvar a obra. Mas isso é raríssimo”.

ANA, A LIBERTINA

“Em Ana, a Libertina, Daniel Filho fazia meu marido ou meu amante, não lembro, dirigidos pelo Alberto Salvá. Eu fiquei sem confiança nele [no diretor] porque ele queria me desnudar. O filme se chamava Ana, a Libertina, e eu era tudo menos libertina. Na verdade eu não fiquei à vontade como eu fiquei depois no Pixote, a Lei do Mais Fraco [filme de 1981] que eu tinha plena confiança no Hector [Babenco, diretor]. Mas isso foi só uma questão de tempo. Porque depois eu encontrei com o Salvá e conversamos sobre isso e se a gente fosse fazer o filme de novo eu teria confiado nele”. 

mariliapera1Marília Pêra durante a coletiva de imprensa. 

O REI DA NOITE

“O Babenco não me olhava porque estava completamente apaixonado pelo Paulo José. Ele queria o Paulo José e a Dina Sfat no elenco, mas a Dina não podia, então ele quis a Darlene Glória, um mulherão, até que o Paulo sugeriu meu nome e ele aceitou. Mas eu não era bem quem ele queria. Ele não me tratava mal, mas ele não me tratava. Depois que montou o filme ele declarou que só foi perceber o meu trabalho depois do filme montado. O Rei da Noite é um lindo filme”.

PIXOTE, A LEI DO MAIS FRACO

“Eu fazia pouco filme, até que Pixote me jogou no mundo. Quando o Babenco me chamou para fazer, ele sabia perfeitamente o que queria e eu tinha plena confiança nele, tinha plena confiança na Fátima Toledo, preparadora de elenco, e muita alegria de estar com aquelas crianças, aprendendo com eles, porque são meninos que só respondem se você falar verdadeiramente com eles, pois não dá para mentir com criança preparada pela Fátima”.

EDUARDO COUTINHO

“O Coutinho me chamou pra fazer o primeiro filme dele, O Homem que Comprou o Mundo, com Flávio Migliaccio. Um filme muito interessante e muito diferente de todos os filmes que ele fez depois. Foi o meu primeiro filme, em 68. Coutinho me ensinou a fazer menos, interiorizar mais. Ele foi um amor, um homem muito delicado. Muita alegria de ter trabalhado com Coutinho”.

mariliapera2Rubens Ewald Filho, mediador da coletiva, ao lado da grande estrela.

JOGO DE CENA

“Neste filme tem essa tênue diferença entre o que você é e o que você finge que é. O Coutinho gostava muito disso, de enganar a gente assim. Tínhamos que ser o que era a outra pessoa. Era dificílimo o que o Coutinho pedia. Quando a gente interpretava ele interrompia, pedia que não interpretássemos. Era difícil o trabalho dele com as atrizes. Eu tive medo por um momento, fiquei com taquicardia, eu fiz aquele filme com o coração na boca. Nem sei o que eu acho de mim no filme, mas eu acho que ele gostou”.

DULCINA DE MORAES

“Quando conheci Dulcina eu tinha três anos. Meu pai e minha mãe trabalhavam com ela e ela trabalhava com o marido, com a mãe e com as duas irmãs. O teatro era feito assim, era feito em família. E ela trazia os clássicos; ela interpretou todos os grandes personagens da dramaturgia universal. Ela dirigia tudo e era maravilhosa de comédia, mas também fazia tragédias. A Dulcina foi uma fada madrinha do meu teatro. Era uma brincalhona, nunca a vi chateada”. 

CARMEN MIRANDA

“Ela morreu quando eu tinha onze anos. Eu estava saindo do balé e fui ao velório dela. Tenho essa ligação com ela. A primeira vez que eu cantei Carmen Miranda eu era bailarina do Carlos Machado, no México. Eu estava lá dançando e vi uma vedete chamada Vera Regina, alta, maravilhosa e ela fazia um pot-pourri da Carmen Miranda, com aquela roupa dourada. E ela precisou voltar ao Brasil e eles precisavam de alguém para substituí-la. Eu fui escolhida. A roupa foi toda apertada pra mim e eu cantei pela primeira vez, em 63, a Carmen Miranda, ao lado de Hilton Prado, pai da [atriz] Giovanna Antonelli. Depois, em 1972, fiz A Pequena Notável, com texto de Ary Fontoura e direção de Maurício Sherman. De lá pra cá, eu interpretei Carmen Miranda mil vezes”.

mariliapera7Marília Pêra no tapete vermelho do Festival de Gramado

DIRETORA

“Não tenho prazer em dirigir, é difícil pra mim porque eu acho que não me obedecem, não tenho aquela voz ativa. Eu fico brava comigo, fico triste, vou embora, não fico brava em cima das pessoas e o espetáculo não sai como eu gostaria. O espetáculo que saiu como eu gostaria foi O Mistério de Irma Vap, que fez um sucesso de doze anos com dois atores extraordinários [Marco Nanini e Ney Latorraca]. Em 1978, o Miguel Falabella foi à minha casa com a Maria Padilha e exigiu que eu dirigisse A menina e o vento, da Maria Clara Machado. Eu não sabia, não tinha a menor ideia de como dirigir, mas eles me obrigaram e eu acabei dirigindo. Foi a primeira vez que dirigi”.

FUTURO

“Eu estou gravando um disco pela [gravadora] Biscoito Fino. Um disco de músicas românticas que deverá se transformar em um documentário dirigido pelo Daniel Filho. Estamos conversando sobre a possibilidade de fazer um docudrama musical, cantando as músicas e contando a minha história, que é boa de ser contada porque tem muita gente em volta, muitos acontecimentos. Além disso, o Jorge Clark, um diretor maravilhoso,  me convidou para fazer Longa Jornada Noite Adentro, que é uma linda história. Já estou lendo e estamos vendo a possibilidade de fazer isso ano que vem no teatro”. 

Confira um trecho da coletiva em que Marília Pêra fala de Central do Brasil, Fernanda Montenegro, Incidente em Antares e Carmen Miranda; e também trechos da homenagem recebida no Palácio dos Festivais:

O CINEVITOR está em Gramado e você acompanha a cobertura do evento por aqui e pelas redes sociais: Twitter, Facebook e Instagram.

Fotos: Cleiton Thiele, Edison Vara e Vitor Búrigo.

Texto: Vitor Búrigo

Comentários