Helena Ignez apresenta A Mulher da Luz Própria, de Sinai Sganzerla, e fala sobre Júlio Bressane no 8º Olhar de Cinema

por: Cinevitor

helenaignezolhar2019Helena Ignez: um dos maiores nomes do cinema brasileiro.

Considerada um ícone do Cinema Marginal, Helena Ignez, que começou sua carreira como atriz no final da década de 1950, marcou presença na oitava edição do Olhar de Cinema – Festival Internacional de Curitiba ao lado da filha Sinai Sganzerla, diretora do documentário A Mulher da Luz Própria, filme que faz parte da mostra Exibições Especiais.

O longa é um retrato documental de uma figura vibrante de resistência, Helena Ignez, renomada artista teatral e cineasta que, há mais de meio século, é também celebrada como uma das maiores atrizes do cinema mundial. Na primeira exibição, que aconteceu na quarta-feira, 06/06, no Cine Passeio, Sinai afirmou: “O meu interesse maior era contar uma história que não tinha sido contada. É um filme sobre a atriz, roteirista, diretora e produtora Helena Ignez. Apesar de ser filha dela, não é sobre a nossa relação. Ele traz a trajetória dessa mulher e sua importância para o cinema, para as artes e fala de uma mulher guerreira, que vai se transformando através de várias vidas e histórias e que vai em busca da própria luz”.

Helena Ignez é uma das principais personalidades femininas do cinema brasileiro. Inaugurou um novo estilo de interpretação e hoje dirige filmes independentes. Seu trabalho mais recente como diretora, A Moça do Calendário, foi lançado no ano passado, e conta com a filha Djin Sganzerla no elenco. Além disso, em 2013, fez parte do júri da Competição Internacional da terceira edição do Olhar de Cinema.

No dia seguinte à primeira exibição, Helena e Sinai participaram de um debate com o público no Shopping Novo Batel. “Quando a Sinai me falou dessa ideia, eu não interferi em nada. Ela me falou do projeto, disse que não era um filme sobre a mãe dela e me assegurou que era um filme sobre uma mulher, como todas as outras, que teve sua vida muito ligada ao cinema, ao teatro e a todo esse movimento da cultura feminista, desde o começo. Pois, ser feminista nos anos 1960 era dar o corpo à tiros”, disse Helena.

helenasinaiolhar2019Sinai Sganzerla e Helena Ignez no debate.

Questionada sobre o título de musa, falou: “Eu comecei muito cedo e fui denominada como musa do Cinema Novo. Isso era quase trágico pra mim. Por exemplo, no filme O Padre e a Moça [de Joaquim Pedro de Andrade, lançado em 1966] eu fiquei três meses numa locação, cercada por homens e era a única mulher da equipe. Existia essa força masculina e machista muito grande e o filme foi muito doloroso pra mim. Depois disso, tive uma necessidade orgânica de mudança, de afirmação, de criar uma nova vida pra mim. As musas são trágicas. Elas são simplesmente inspiração, não possuem vida própria. E não tem nada menos eu do que ser isso. Ao contrário, eu tenho uma personalidade viril, masculina e estou muito longe desse feminino tradicional da mãe. Esse lugar do macho, do homem, tem que ser desmanchado. Ser mulher é se reinventar o tempo todo”.

Na conversa, Sinai falou sobre as dificuldades em trabalhar com o audiovisual: “Já é difícil fazer cinema. Sendo mulher é ainda mais. Posso dizer que é bem complexo, bastante machista, não muito diferente de outras posições. Também como diretora é complexo, todo o processo. Tem que ter muita força de vontade, paciência e perseverança. Seu conhecimento é testado a todo momento. Foi por isso que me interessei em fazer esse filme para falar um pouco sobre a dificuldade de ser mulher em vários aspectos”.

Sobre a atual situação política do Brasil, Helena comentou: “Esse momento em que a gente vive, esse caos e essa ignorância que governa o país é pior do que a ditadura, que era mais óbvia. Hoje, somos tranquilamente mortos sem ninguém saber. É um momento horroroso em que vivemos”. Questionada sobre suas inspirações, revelou: Angela Davis talvez tenha sido minha primeira inspiração. As lésbicas, as trans, as pretas, as fora do normal: são essas mulheres que mais inspiram”.

helenaignezbressaneHelena Ignez em cena de A Família do Barulho, de Júlio Bressane.

Além do documentário A Mulher da Luz Própria, Helena Ignez também apresentou a primeira sessão de Memórias de um Estrangulador de Loiras, de Júlio Bressane, exibido na mostra Olhar Retrospectivo na sexta-feira, 07/06.

Ao lado de Aaron Cutler, um dos curadores do Olhar de Cinema, relembrou o filme: Júlio Bressane é o maior cineasta brasileiro vivo, com quem tive o maior prazer de fazer sete filmes, participando com ele da Bel-Air Filmes [produtora], que, de certa maneira, criamos juntos. Memórias de um Estrangulador de Loiras é exatamente o próximo filme após esse trabalho da Bel-Air, que saímos do Brasil com os filmes embaixo do braço, literalmente, saindo dessa ditadura militar, em 1970. Enquanto Júlio filmava o Estrangulador em Londres, eu viajei com o Rogério Sganzerla, companheiro dele e meu companheiro de 35 anos, para Marrocos, fugindo um pouco da civilização, dando um adeus à cultura e entrando no Deserto do Saara. Mas, de alguma maneira, o Júlio me trouxe para o filme, com imagens de A Família do Barulho [lançado em 1970]. Sentíamos muita saudade do Brasil e aquele frio de Londres nos atormentava bastante. Desejo uma boa sessão, que vocês aproveitem bem esse filme melancólico de Júlio Bressane, esse grande criador e meu amigo pessoal até hoje”.

*Para assistir ao vídeo de Helena Ignez falando de Memórias de Um Estrangulador de Loiras, clique aqui, e acompanhe os destaques no Instagram do CINEVITOR.

*O CINEVITOR está em Curitiba a convite do evento e você acompanha a cobertura do festival por aqui e pelas redes sociais: Twitter, Facebook, Instagram e YouTube.

Fotos: Giorgia Prates e Isabella Lanave.

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