Festival de Annecy 2021: filmes brasileiros são selecionados

por: Cinevitor
Meu Tio José: longa baiano, com voz de Wagner Moura, está entre os selecionados.

Criado em 1960, o Festival Internacional de Cinema de Animação de Annecy é considerado o maior e mais importante do setor no mundo. Todos os anos, o evento apresenta diversas animações, destacando o dinamismo e a riqueza criativa que este gênero representa.

Organizado pela Association d’International du Film d’Animation, a edição de 2021 recebeu mais de 2.700 filmes inscritos de quase cem países. De exibições exclusivas dos últimos trabalhos animados a manifestações das tendências mais recentes e futuras, via reuniões com diretores experientes e talentos emergentes, o festival é uma celebração emocionante em um ambiente excepcional.

Neste ano, o cinema brasileiro marca presença com três títulos, entre elas, o curta ALIMA “AFRI-CAN”, uma coprodução com a França, de Daniel Bruson e Theo Gottlieb, na mostra Commissioned Films in Competition. A trama apresenta um imaginário popular, onde a África ainda precisa da ajuda dos ocidentais para superar suas várias crises humanitárias, de saúde e até climáticas. No entanto, a África é forte o suficiente para encontrar soluções para seus problemas. 

Outro destaque brasileiro é o longa Bob Cuspe – Nós Não Gostamos de Gente, de Cesar Cabral, na mostra Feature Films Contrechamp in Competition. No longa, Bob Spit, um personagem de quadrinhos, vive em um deserto pós-apocalíptico na mente de seu criador, o lendário cartunista Angeli. Quando Angeli decide matar Bob, o velho punk deixa este deserto e encara seu criador. O filme conta com a voz do ator e cantor Paulo Miklos.

O longa-metragem baiano Meu Tio José, escrito e dirigido por Ducca Rios, também se destaca na mesma mostra. Inspirado na história da família do diretor, narra o assassinato de José Sebastião de Moura, membro do grupo de esquerda Dissidência da Guanabara e que participou do sequestro do embaixador americano Charles Burke Elbrick, em 1969, sob o olhar de uma criança, Adonias.

“É uma obra importante, cíclica. Começa num golpe e vai ser lançada durante um outro golpe. Ela toca as pessoas porque faz essa revisita, lembrando esse evento trágico da minha infância, que remete a tantas lembranças com ele. Foi meu tio que me ensinou a nadar, ele brincava muito comigo e com meu irmão”, conta o diretor. Aliando essas boas memórias afetivas ao trabalho com cinema, Ducca decidiu homenageá-lo com seu primeiro longa-metragem chamando atenção para um crime até hoje sem resposta. “Tem muita coisa ficcional, usando a simbologia da época, como o próprio ato de ilustrar, de fazer um filme todo desenhado a mão, mas boa parte é baseada em fatos reais”, revela.

Historicamente, José permaneceu exilado durante dez anos, antes de retornar ao Brasil, onde foi morto em um crime com evidências fortes de motivação político-ideológica e que permanece sem solução. Na trama, o conflito principal se dá a partir de uma redação que Adonias tem que escrever na escola, mesmo dia em que seu tio sofre o atentado, em 1983, sendo depois levado ao hospital em estado grave. Daí em diante, Adonias tem que lidar com a tristeza de sua família, com as desavenças na escola e com a angústia de ter que cumprir a tarefa pedida pela professora.   

Com produção executiva de Maria Luiza Barros e distribuição no Brasil da Tucuman, o elenco conta com grandes nomes do cinema como Wagner Moura, dando voz a José; Lorena Comparato encarna a professora Adriana; e Tonico Pereira vive o diretor da escola. Na trilha sonora, cinco canções de Chico Buarque se apresentam desconstruídas e com uma roupagem rock’n’roll em versões totalmente instrumentais, a não ser Apesar de Você, que ganha interpretação de Lirinha, vocalista do Cordel do Fogo Encantado.

O Festival Internacional de Cinema de Animação de Annecy acontecerá entre os dias 14 e 19 de junho

Foto: Divulgação.

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