
Entre exibições especiais, mostra competitiva e discursos, a noite de abertura da 26ª edição do Cine PE – Festival do Audiovisual, que aconteceu no Teatro do Parque, no Recife, contou também com uma homenagem especial ao cineasta Sergio Rezende.
Nascido no Rio de Janeiro, em 9 de abril de 1951, Sergio cresceu no meio cinematográfico carioca e seus filmes começaram a ser premiados logo cedo, rodando o mundo em festivais. Estreou na ficção em 1982 com O Sonho Não Acabou. Desde então, dirigiu 16 longas metragens, marcados por um forte olhar sobre a sociedade brasileira.
Alternando o tom entre o épico, com Guerra de Canudos, O Homem da Capa Preta, Zuzu Angel e Salve Geral, com o poético, em Quase Nada, Onde Anda Você? e O Cinema é meu Jardim, seus filmes receberam acolhida popular e prêmios nacionais e internacionais. Lançou recentemente O Paciente – O Caso Tancredo Neves, protagonizado por Othon Bastos, em 2018, e O Jardim Secreto de Mariana, com Andreia Horta, em 2021.
Sua filmografia conta também com: Pra Não Dizer que Não Competi, Doida Demais, Até a Última Gota, A Child From The South, Lamarca, Mauá: O Imperador e o Rei, Em Nome da Lei, a série Questão de Família, entre outros.
No palco do Teatro do Parque, ovacionado pelo público, recebeu o troféu Calunga de Ouro das mãos do amigo, e também cineasta, Luiz Carlos Lacerda: “Vinte e cinco anos atrás começou o festival. E 25 anos atrás eu tive aqui na cidade do Recife uma das grandes emoções da minha vida, que foi a primeira sessão pública de Guerra de Canudos. Na plateia, num sábado de manhã, no Cine São Luiz, estava o grande Ariano Suassuna. Estar aqui, 25 anos depois, comemorando a volta do festival presencial e do cinema brasileiro, que sofreu tão amargamente nesses tempos sombrios, é emocionante. Eu sou do cinema, do filme, da sala escura. Eu tenho esperança que isso volte com a força que merece”, disse Rezende em seu discurso.
Na ocasião, foi exibido o curta-metragem Leila Para Sempre Diniz, realizado em 1975, em parceria com sua esposa, a produtora Mariza Leão: “Quando fizemos esse filme, ainda não tínhamos a nossa família. E quando resolvemos fazer esse curta, nós descobrimos a família do cinema. Bigode [apelido do cineasta Luiz Carlos Lacerda] foi uma das pessoas que nos ajudou e aconteceram coisas incríveis. Depois fizemos a nossa própria família, que também é do cinema. Aqui estão: minha filha Julinha [a cineasta Julia Rezende], a caçula, que também é diretora; a Maria, que é montadora; a Mariza, que produziu nossos filmes; e tem o Tiago também, que não está aqui hoje. Agradeço ao festival e por essa sensibilidade desse público de cinema. É um prazer gigantesco estar aqui”, finalizou Sergio.
Amigos no cinema e na vida: Rezende e Bigode
Luiz Carlos Lacerda também discursou: “Eu queria agradecer ao povo do Nordeste, tão querido, por ter garantido ao povo brasileiro a volta da democracia. Há muitos anos atrás, dois jovens bateram na minha porta: esse aqui e a Mariza, querendo fazer um filme sobre a Leila Diniz, que foi minha grande amiga. E eu fiquei espantado com a ousadia deles. Sergio é um grande cineasta que reescreve a história brasileira através dos seus filmes”.
No dia seguinte à homenagem, Rezende participou de uma coletiva de imprensa, que foi mediada pelo crítico Edu Fernandes: “Nos últimos tempos, eu pensei muito. Não em parar, mas em ser parado. De repente eu comecei a ver as coisas se fechando, se afunilando. Porque eu vejo que no Brasil de hoje em dia há uma coisa contraditória: o audiovisual está bombando loucamente, mas o cinema está num buraco. Para a minha geração, o telefona não toca muito. Mas, nada pode me impedir de fazer cinema. E mantenho assim. Eu farei cinema, ninguém vai me impedir. Mas, dessa maneira, eu não consigo mais fazer um Guerra de Canudos. Eu quero me expressar até o fim da vida”.
Mariza Leão, que também estava presente na coletiva, conversou com o público: “Tenho visto com muita alegria um investimento mais pensado na diversidade, pensado em corrigir essa quantidade de filmes de mulheres que é muito pequena em relação aos homens. Mas eu também estava pensando que não tem um edital para os mestres: a Tizuka [Yamasaki], o José Joffily, Hermanno Penna, os irmãos Carvalho. Isso quer dizer alguma coisa, ou seja, um certo etarismo, que eu acho muito cruel. Não será através do mercado ou plataformas que isso será corrigido. É preciso que tenha um olhar institucional, de Estado, que diga que terá um edital para os mestres, por exemplo. Os que já fizeram e querem continuar fazendo”, finalizou.
*O CINEVITOR está no Recife e você acompanha a cobertura do evento por aqui, pelo canal do YouTube e pelas redes sociais: Twitter, Facebook e Instagram.
Fotos: Felipe Souto Maior.