Aeroporto Central

por: Cinevitor

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Direção: Karim Aïnouz

Elenco: Ibrahim Al Hussein, Qutaiba Nafer, Maria Alahmad, Christine Kiessig-Kämper, Olivier Bonnet, Mahmoud Sultan, Jihad Mohamad, Gert Köppe, Eva Szybalski, Sigrid Mausch.

Ano: 2018

Sinopse: O extinto Aeroporto de Tempelhof, em Berlim, foi um importante local de chegadas e partidas. Entre 2015 e 2019, seus enormes hangares foram usados como um dos maiores abrigos de emergência da Alemanha para refugiados que buscavam asilo. Ao longo de um ano, entre 2015 e 2016, o filme acompanha o estudante sírio de 18 anos Ibrahim e o fisioterapeuta iraquiano Qutaiba. À medida que se ajustam ao cotidiano transitório de entrevistas com o serviço social, aulas de alemão e exames médicos, eles tentam lidar com a saudade e a ansiedade para saber se poderão residir no país ou se serão deportados.

Crítica do CINEVITOR: Exibido na mostra Panorama do Festival de Berlim, em 2018, Aeroporto Central conquistou o prêmio da Anistia Internacional e, depois disso, rodou o mundo em mais de trinta festivais. Com estreia marcada para março deste ano nos cinemas brasileiros, o longa, dirigido por Karim Aïnouz, de A Vida Invisível e Madame Satã, chega direto às plataformas digitais por conta da pandemia do novo Coronavírus. O extinto Aeroporto de Tempelhof, em Berlim, na Alemanha, é o grande protagonista deste documentário. Construído durante o nazismo e inaugurado em 1923, era utilizado como oficina de aeronaves durante a Segunda Guerra Mundial. Já desativado, hoje é considerado o maior parque público da capital alemã. Seu passado é narrado brevemente no início do filme quando o cineasta mostra uma visita guiada pelo local. Logo, os turistas desaparecem dando espaço a novos visitantes; nesse caso, moradores. Em 2016, o Aeroporto de Tempelhof tornou-se um gigante centro de refugiados com recém-chegados da Síria, Iraque, Afeganistão e outros países. Para registrar o cotidiano dessas pessoas, Karim destaca dois personagens: o jovem Ibrahim, um estudante sírio de 18 anos, e o fisioterapeuta iraquiano Qutaiba. O longa se torna uma espécie de diário desses protagonistas e é narrado por Ibrahim. No filme, sua história começa em junho e a cada passagem de tempo, apresentada na tela com os meses escritos em árabe, gera uma lembrança de seu passado. Até maio do próximo ano, ele relembra histórias de sua vida na Síria; a relação com a família, o dia anterior à partida, a saudade das macieiras, entre outras recordações, como diz, em tom melancólico: “Sinto falta do interior. Minhas memórias de casa estão desaparecendo”. Mas, o destaque mesmo é o presente e a rotina no aeroporto. Karim não se aprofunda no passado desses refugiados e foca em registrar o dia a dia deles. Não há dados sobre a guerra, conflitos, mortos ou número de pessoas afetadas. Os diálogos, quando aparecem, são mais sobre a convivência diária e momentos de lazer improvisados nos hangares ou na parte externa. Vemos crianças jogando bola nos corredores ou participando de aulas, pessoas cortando o cabelo e levando o lixo, grupos de amigos fumando na rua e até mesmo celebração de datas como Natal e Réveillon, ainda que não tenham muito para comemorar e esbanjar felicidade. Há um choque cultural aqui, também pouco explorado. Entre tantas atividades acontecendo ao mesmo tempo, Karim preocupa-se em registrar o vazio de todas as formas; seja ele sentimental, profissional ou cultural. Porém, não mostra com tanta nitidez os percalços de adaptação destes refugiados. Os momentos do fisioterapeuta Qutaiba em sua consultas, por exemplo, ficam repetitivos, assim como diversas imagens daquele local imenso, muito bem fotografado por sinal. Ali, todos esperam uma resposta, mesmo quando dispersam em atividades de lazer nas pistas desativadas ou naquele lugar imenso, porém limitado. Essa grande comunidade apresentada em Aeroporto Central traz também uma reflexão sobre a sociedade e suas limitações. Como interagir com o novo? Como enfrentar essa nova vida? Como lidar com novas regras e, até então, desconhecidos? Fato é que esses refugiados praticam um exercício diário de adaptação em meio à tantas incertezas. Em certo momento de descontração, por exemplo, enquanto fuma narguilé, um dos personagens revela que “a melhor vista do mundo é a de Tempelhof” e completa, com gargalhadas, que “é melhor comer a comida horrível deles do que ter que cozinhar”. Ibrahim, visivelmente afetado pela atual situação, representa uma parte daquelas pessoas que residem por ali, que trazem na bagagem consequências de um passado de sofrimento, e agora projetam o futuro na esperança de uma vida melhor. Além de documentar estes personagens, Karim Aïnouz faz de Aeroporto Central um registro notável sobre novas formas de sociedade e de como ter que encarar novos desafios e adaptações neste caótico mundo atual. (Vitor Búrigo)

Nota do CINEVITOR:

nota-3,5-estrelas

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