5ª Mostra de Cinema de Gostoso: realizadores do audiovisual brasileiro falam sobre curtas-metragens, incentivos e festivais

por: Cinevitor

realizadoresgostosoRealizadores que participaram do festival na cerimônia de premiação.

Em agosto deste ano, a ANCINE, Agência Nacional do Cinema, lançou o Edital de Fluxo Contínuo de Produção para Cinema com um processo seletivo realizado com base em critérios de pontuação calculada de forma automática.

O edital para investimento do Fundo Setorial do Audiovisual, FSA, serve para  seleção de projetos de produção de longas-metragens de ficção, documentário e animação, apresentados por produtoras brasileiras independentes e distribuidoras brasileiras independentes, com destinação inicial ao mercado de salas de exibição.

O Regulamento de Notas detalha os critérios usados para estabelecer a nota obtida por diretores e empresas produtoras e distribuidoras. Cada proponente poderá calcular a pontuação de seu projeto com base nas notas atribuídas ao diretor (desempenho comercial, quantidade de obras e desempenho artístico); à produtora (capacidade gerencial/classificação de nível, desempenho comercial e desempenho artístico); e à distribuidora (quantidade de obras, desempenho comercial e desempenho artístico).

O edital disponibiliza recursos financeiros no valor total de R$ 150 milhões, divididos em quatro modalidades. O cálculo das notas foi feito com base nos dados extraídos do sistema no dia 15/05, um dia após o encerramento das inscrições no Edital Concurso Produção para Cinema 2018. Com base na pontuação final obtida, cada projeto será enquadrado em uma faixa de pontuação que dará direito a acessar diferentes tetos de valores.

Porém, um dos critérios de avaliação diz que o proponente deverá comprovar ter realizado o lançamento comercial de, no mínimo, uma obra cinematográfica de longa-metragem, da qual não seja produtora ou coprodutora, no mercado de salas de exibição no Brasil nos doze meses anteriores à inscrição. Ou seja, curtas-metragens não somam pontos para esse edital, desconsiderando assim, tais produções dos realizadores, muitas vezes premiados em importantes festivais nacionais e internacionais.

A decisão não foi bem recebida pela classe artística, já que dificultará a inclusão de novos diretores e produtores que tenham realizado apenas curtas-metragens, por exemplo. Depois de alguns manifestos, a ANCINE, em comunicado, disse que vai avaliar o formato de pontuações. Porém, até agora, a situação continua a mesma.

Recentemente, durante a quinta edição da Mostra de Cinema de Gostoso, realizada em São Miguel do Gostoso, no Rio Grande do Norte, realizadores que marcaram presença no evento fizeram uma carta em busca de igualdade para os curtas-metragens, reivindicando direitos iguais para tais produções, e também sobre outras questões relacionadas ao audiovisual brasileiro.

Confira a carta na íntegra, lida durante a cerimônia de premiação da Mostra:

CARTA ABERTA DOS REALIZADORES DO AUDIOVISUAL NACIONAL REALIZADA NA 5ª MOSTRA DE CINEMA DE GOSTOSO

Considerando os momentos de incerteza em relação às políticas voltadas para cultura, mais especificamente para o audiovisual, as realizadoras e os realizadores manifestam seu posicionamento em defesa do Ministério da Cultura e de políticas públicas que vêm sendo construídas ao longo das últimas décadas. Esperamos que sejam mantidos os incentivos à iniciativas indispensáveis para a construção da nossa identidade. As políticas públicas para a arte e audiovisual geram inúmeros benefícios para nossa sociedade: desde a geração de emprego, geração de renda, formação de público e formação de novos técnicos. Nossa preocupação também é em relação aos festivais e mostras de cinema, que em todo país, contribuem para a troca de experiências, olhares e um dos mais importantes meios de circulação das obras produzidas no país; além de serem também um espaço que possibilita o acesso ao cinema onde não há salas de exibição ou mesmo outros espaços culturais. É importante reforçar que esses festivais e mostras são uma forma de retribuir para vocês, o dinheiro público investido em muitas dessas obras. Por fim, sublinhamos que curtas metragens existem SIM! E que devem ser valorizados como obras audiovisuais, portanto devem também fazer parte dessa nova pontuação proposta pela ANCINE. Muito obrigada pela oportunidade!

Foto: Vitor Búrigo.

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