Janela Internacional de Cinema do Recife realiza edição especial em julho

por: Cinevitor
Cena do longa Rio Doce, do cineasta pernambucano Fellipe Fernandes.

O festival Janela Internacional de Cinema do Recife realizará uma edição de transição entre os dias 12 e 24 de julho. A programação marca o retorno do evento às salas de cinema do Recife, com duas mostras especiais e inéditas, além de pré-estreias e atividades especiais.

Em 2021, o festival foi realizado em formato experimental e on-line, por conta da pandemia de Covid-19; a última edição presencial foi em 2019. O ciclo de atividades antecede a retomada do formato tradicional do festival, que terá sua 14ª edição em novembro deste ano, com mostras competitivas.

“No final do ano, o Janela deve retomar o formato que conhecemos antes do início da pandemia, e esta edição de agora marca um retorno do Janela à cidade, mais um experimento, e também extremamente especial, que montamos com olhos e ouvidos atentos”, disse Luís Fernando Moura.

O festival mais uma vez se dedica a trazer filmes inéditos e especiais, difundir e preservar os arquivos de cinema e promover trocas de conhecimento e experimentos sobre o audiovisual e a cultura brasileira contemporânea e mundial. As sessões e atividades do ciclo são realizadas no Cinema da Fundação (Derby) e Cineteatro do Parque, além de dois encontros on-line. Toda a programação detalhada e sinopses estarão disponíveis no site (clique aqui).

O Janela traz nesta edição especial, que teve curadoria de Luís Fernando Moura, Lorenna Rocha e Rita Vênus, uma mostra com todos os longas-metragens da cineasta estadunidense Kelly Reichardt, considerada um dos principais nomes do cinema independente mundial; a mostra Ladrões de Cinema, com curadoria dedicada à presença marcante de atores e atrizes negras na história do cinema brasileiro; as estreias dos premiados longas brasileiros Rio Doce, de Fellipe Fernandes, e Entre nós talvez estejam multidões, de Aiano Bemfica e Pedro Maia de Brito.

E mais: a pré-estreia do longa de terror Crimes of The Future, de David Cronenberg, exibido no Festival de Cannes; uma obra inédita comissionada da artista Anti Ribeiro; o programa de curtas comissionados Eu Me Lembro; cinco aulas-encontros com diferentes temas e formatos, incluindo uma conversa com Antonio Pitanga; e o workshop 2ª Janela de Criação, dedicado a se debruçar sobre arquivos fotográficos de populações trans.

Como parte da mostra Ladrões de Cinema, em parceria com a organização Cinelimite e o laboratório Link Digital, o Janela promoveu a digitalização dos negativos do filme A Rainha Diaba (1974), que será apresentado pela primeira após a ação de preservação. Estrelado pelo ator Milton Gonçalves, falecido este ano, o filme cinquentenário é dirigido por Antonio Carlos Fontoura, que estará presente no festival para debate, bem como a consultora do processo de digitalização, Débora Butruce.

Milton Gonçalves em A Rainha Diaba.

A mostra Kelly Reichardt Integral traz pela primeira vez ao país o conjunto de sete longas-metragens da cineasta estadunidense: Rio de Grama, Antiga Alegria, Wendy e Lucy, O Atalho, Movimentos Noturnos, Certas Mulheres e First Cow: A Primeira Vaca da América. Reconhecida pela crítica mundial e presente nos principais festivais, sua obra dirige um olhar contemporâneo à identidade do continente americano e particularmente dos Estados Unidos, revisitando os efeitos da colonização nos EUA e o estado de espírito de personagens forasteiras, frequentemente mulheres, através de dramas íntimos, histórias de viagem e amizade e uma versão própria de uma perspectiva sobre gêneros do cinema americano, como o western.

Outro destaque será a mostra Ladrões de Cinema, uma seleção dedicada a olhar a história do cinema brasileiro a partir do protagonismo dos artistas negros e negras. A mostra é uma pequena seleção de cinco longas-metragens, filmes de 1957 a 2018, a partir de cópias digitais disponíveis para cinema, em DCP, que investigam a ideia de Brasil com as presenças marcantes de artistas como Grande Otelo, Léa Garcia ou Antonio Pitanga. “Nesta mostra, a ideia de autoria é de certo modo subvertida, sendo que o eixo com que olhamos a história passa a ser o que e quem está em frente às câmeras, particularmente estes artistas que, através da atuação, indicam que há uma história da arte a ser contada a partir destas presenças memoráveis, incontornáveis, mobilizadoras de todo um imaginário”, disse Luís Fernando Moura

Entre os filmes da mostra Ladrões de Cinema, está A Rainha Diaba, protagonizado por Milton Gonçalves, grande talento da dramaturgia brasileira, que faleceu recentemente. Com roteiro de Plínio Marcos, Milton interpreta um personagem inspirado em João Francisco dos Santos, conhecido como Madame Satã, tornando o ator reconhecido hoje como pioneiro do cinema LGBT+. O filme ganhou sua primeira cópia digital graças a uma parceria entre o Janela, a Link Digital/Mapa Filmes e Cinelimite, com base em negativo guardado no Arquivo Nacional e em cópia positiva oferecida pelo CTAv. A mostra traz ainda a cópia recém restaurada que estreou no festival de Cannes de 2021 de Orfeu Negro (1959), de Marcel Camus, produção francesa filmada no Rio de Janeiro que conquistou a Palma de Ouro.

O Janela também apresenta, pela primeira vez em sala de cinema, o conjunto de curtas Eu me Lembro, com filmes comissionados pelo Janela que tiveram exibições on-line durante a edição de 2021. Os curtas, produzidos por realizadores brasileiros e estrangeiros, serão exibidos no Cinema da Fundação. Os filmes abordam a importância das memórias individuais e coletivas, dos arquivos e da preservação das histórias e foram realizados por cineastas como Anna Muylaert, João Pedro Rodrigues e João Rui Guerra da Matta, Kaique Brito e Bruno Ribeiro.

Além disso, o Janela exibirá filmes da mais nova safra do cinema brasileiro e estrangeiro. O filme Rio Doce, primeiro longa-metragem do realizador pernambucano Fellipe Fernandes, terá exibição no Cine Teatro do Parque seguida por debate com o diretor. A ficção ganhou o prêmio de melhor filme no Olhar de Cinema do ano passado, além de outras premiações no circuito de festivais. Outra estreia será do longa Entre nós talvez estejam multidões, documentário musical do mineiro Aiano Bemfica e do pernambucano Pedro Maia de Brito em parceria com o Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas (MLB) de Belo Horizonte. 

Viggo Mortensen e Kristen Stewart em Crimes of the Future.

Do cinema estrangeiro, o Janela promove a pré-estreia de Crimes of the Future, de David Cronenberg, em parceria com a plataforma de streaming MUBI. A história de terror/ficção científica segue Saul Tenser, interpretado por Viggo Mortensen, uma celebridade artística que junto com sua parceira Caprice, papel de Leá Seydoux, mostra publicamente a metamorfose de seus órgãos em performances de vanguarda; o elenco conta também com Kristen Stewart, Welket Bungué, Scott Speedman, Don McKellar, entre outros.

Também como parte da programação de sessões especiais, a artista Anti Ribeiro trará uma peça sonora para uma sala de cinema, em trabalho comissionado pelo festival: “A ideia é que as pessoas vão à sala de cinema para uma experiência diferente, não com a imagem propriamente, com o som, e Anti Ribeiro tem tido um trabalho artístico notável nessa pesquisa, intimamente ligada às noções de diáspora e da construção de outras percepções”, disse Luís Fernando Moura.

Na área de formação, o festival dá continuidade às Aulas do Janela, encontros e experimentações para trocas de conhecimento sobre audiovisual e cultura. Serão cinco aulas, quatro delas presenciais no Cinema da Fundação (Derby) e uma virtual, que também trazem tanto nomes consagrados pela trajetória no cinema quanto artistas e pesquisadores contemporâneos. O acesso às aulas presenciais na Fundação é gratuito, com distribuição das entradas com uma hora de antecedência na bilheteria. 

A aula on-line será com o ator e diretor Antonio Pitanga, que falará sobre sua trajetória no encontro Cinema que Ginga, com mediação de Lorenna Rocha e Gabriel Araújo, da plataforma Indeterminações, dedicada à pesquisa sobre o cinema negro brasileiro. A história e preservação da cinematografia brasileira, em torno de A Rainha Diaba, será contemplada na aula com o diretor Antônio Carlos Fontoura e a pesquisadora e conservadora Débora Brutuce, que estarão no Recife. Em outro encontro, os profissionais preservadores William M. Plotnick e Laura Batitucci, da organização Cinelimite, ministram aula sobre métodos de preservação e digitalização de filmes.

Dando continuidade às reflexões sobre a produção de imagens fora do circuito de cinema que foi realizado no ciclo de aulas anterior, a artista Lia Letícia fará uma aula-performance em torno de figurinhas de comunicação remota e das maneiras contemporâneas de criar narrativas, no entorno daquelas imagens consideradas propriamente artísticas. O jornalista e pesquisador GG Albuquerque fará um ensaio comentado com vídeos de música que circulam pela internet, particularmente de artistas negros, como uma espécie de playlist-palestra ao vivo com participação do público.

Na área de fomento à produção audiovisual e formação, será realizada a segunda edição da Janela de Criação, uma oficina para realização de filmes curtos. O workshop terá condução da curadora Rita Venus no Recife e será ministrado pelo Archivo da Memória Trans Argentina, que participará remotamente dos encontros através de videoconferência. A oficina será aberta à participação de pessoas transgêneras, que irão criar filmes a partir dos seus arquivos pessoais e de imagens do Archivo Trans. As inscrições serão anunciadas nas redes sociais do Janela.

A edição especial do Janela de Cinema é realizada pela Cinemascópio Produções com incentivo do Funcultura, Fundarpe, Secretaria de Cultura, Governo de Pernambuco e apoio da Embaixada da França. O Janela tem direção artística de Kleber Mendonça Filho e Emilie Lesclaux, coordenação de programação de Luís Fernando Moura, coordenação de produção de Dora Amorim, assistência de produção de Juliana Soares e produção executiva de Carol Ferreira.

Fotos: Divulgação.

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