Entrevista: Wolney Oliveira fala sobre Cine Ceará, cinema cearense e seus próximos filmes

por: Cinevitor
Wolney Oliveira, diretor executivo do Cine Ceará, no palco do Cineteatro São Luiz.

A 31ª edição do Cine Ceará – Festival Ibero-americano de Cinema terminou nesta sexta-feira, 03/12, em Fortaleza, depois de diversas exibições de curtas e longas, atividades paralelas, debates e encontros ao longo da semana.

Neste ano, 19 longas e curtas-metragens fizeram parte das mostras competitivas ibero-americana e nacional; já na Mostra Olhar do Ceará, foram 20 produções selecionados. A curadoria da competitiva de longas do festival ficou a cargo de Margarita Hernandez, diretora de programação do evento; a dos curtas foi feita pelo documentarista Vicente Ferraz Gonçalves; e a Olhar do Ceará por Desirée Langel Rondón

As exibições presenciais aconteceram no Cineteatro São Luiz e no Centro Dragão do Mar. O formato virtual foi exibido no Canal Brasil (tanto na grade linear, quanto nas plataformas Canais Globo e Globoplay + Canais ao Vivo), TV Ceará e  YouTube.

Para concluir nossa cobertura desta 31ª edição, conversamos, no último dia do evento, com o cineasta Wolney Oliveira, diretor executivo do Cine Ceará desde 1993. No bate-papo, ele fez um balanço geral deste ano, falou sobre a próxima edição, cinema cearense e revelou detalhes de seus próximos filmes.

Confira os melhores momentos:

FESTIVAL E PANDEMIA

“No ano passado, estávamos todos com muito medo. Tanto que a lotação de 1.050 lugares no São Luiz baixou para 150. E ninguém subiu ao palco. Gravamos o cerimonial e exibimos na telona. Esse ano já foi diferente. Um lance que eu acho muito legal no Cine Ceará é que você consegue ver todos os filmes da programação. Além disso, temos conseguido uma qualidade técnica muito boa com grandes filmes que escolheram ser lançados no festival, como por exemplo, A Vida Invisível, de Karim Aïnouz; O Clube, de Pablo Larraín; Uma Mulher Fantástica, de Sebastián Lelio; Diamantino, de Daniel Schmidt e Gabriel Abrantes; entre outros”.

CINEMA CEARENSE

“Neste ano, até por uma questão financeira, escolhemos apenas seis longas, dos quais dois são do Ceará. Mas, são do Ceará não por bairrismo, mas porque são dois grandes filmes de jovens cineastas cearenses que já levaram o prêmio principal no festival com Greta [de Armando Praça] e Mãe e Filha [de Petrus Cariry]. Foram dois longas cearenses na competitiva ibero-americana, três longas e 17 curtas cearenses na Olhar do Ceará. Isso tem muito a ver porque somos uma cidade universitária do cinema”.

“Na próxima edição teremos, com certeza, mais filmes da Lei Aldir Blanc na programação. Quanto mais filme cearense de qualidade, melhor. O fato de termos dois cearenses entre os seis longas da competição é porque são bons filmes. É competência e talento. Hoje, na realidade, o Ceará é um celeiro de exportação de talentos de várias gerações. Tivemos, há pouco tempo, o Allan Deberton ganhando oito prêmios no Grande Prêmio do Cinema Brasileiro com Pacarrete, por exemplo. Eu acabei de ganhar o Margarida de Prata, da CNBB [Conferência Nacional dos Bispos do Brasil], com Soldados da Borracha, que na realidade é o prêmio mais importante do cinema documental brasileiro e que surgiu na década de 1960 quando Paulo Gil Soares ganhou com Proezas de Satanás na Vila do Leva-e-Traz; Leon Hirszman, Silvio Tendler, entre outros grandes nomes, também já ganharam”.

Wolney Oliveira com os homenageados deste ano: Marta Aurélia e Halder Gomes.

CEARÁ FILMES

“Eu sou da primeira turma da EICTV [Escuela Internacional de Cine y Televisión]. Tive o prazer de inaugurar a escola de cinema de Cuba e de encontrar nos corredores Gabriel García Márquez, Fidel, Coppola cozinhando nhoque pra gente e dando curso de como escrever um roteiro em quinze dias, e por aí vai. Mas, naquela época, você tinha apenas três cursos superiores de cinema no Brasil: ECA-USP, em São Paulo; UnB, em Brasília; e a federal fluminense. Hoje, por exemplo, se o meu filho quiser estudar cinema ele pode fazer aqui em Fortaleza”. 

“Atualmente, somos um polo efervescente, não só da formação e da produção, mas da difusão. E tudo isso, quer queira ou não, 90% foi o Cine Ceará que puxou. Inclusive, ontem, no seminário da FIEC, foi anunciada a criação da Film Commission de Fortaleza, que é algo que a gente vinha cobrando há muito tempo. Com isso, o governador do Ceará [Camilo Santana] vai lançar o decreto da criação do programa Ceará Filmes, uma Lei Estadual do Audiovisual. Então, os festivais de cinema servem também para isso, para esses encontros importantes”.

KARIM AÏNOUZ

“É incrível fechar o festival com Marinheiro das Montanhas, do Karim Aïnouz, que foi muito aplaudido em Cannes. Eu quero muito ver porque o meu irmão [Eusélio Gadelha Oliveira] está fazendo um filme sobre o nosso pai [Eusélio Oliveira], que vai se chamar Saravá! Eusélio. Meu pai foi ator do segundo curta do Karim, que se chama O Preso, e era amigo da mãe dele. É um peso imenso você encerrar o festival com um filme do Karim”.

HOMENAGEADOS

“Na abertura tivemos também dois cearenses homenageados, o Halder Gomes e a Marta Aurélia. O Halder, que está filmando uma série para a Netflix aqui no Ceará, de doze capítulos, se tornou uma grife. Aliás, eu já fiz o convite para ele lançar Vermelho Monet, seu primeiro drama, no Cine Caerá, que foi filmado em Portugal. De repente, ele consegue exibir no próximo ano”.

O cineasta em frente ao Cineteatro São Luiz durante o festival.

FORMATO HÍBRIDO E CINE CEARÁ 2022

“Eu gostei muito das exibições virtuais. Por exemplo, o Canal Brasil tem quase 15 milhões de assinantes e um cara lá do Acre consegue ver o Cine Ceará. Além da visibilidade, da potencialização exponencial da visibilidade do festival. Por mim, e acredito que pelo Canal Brasil, a ideia é continuar com essas exibições. É uma coisa a se pensar com calma porque ano que vem será um ano totalmente atípico, pois o país vai pegar fogo. É um ano político e com Copa do Mundo, que acontecerá em novembro. Então, estamos trazendo o Cine Ceará para junho, entre os dias 24 e 30. Vai ser um desafio porque será daqui sete meses e o tempo de captação é bem menor”.

“Essa experiência virtual foi muito boa. Eu acho que isso democratiza, do Oiapoque ao Chuí. Agora, teremos que avaliar se as distribuidoras vão topar. No ano passado, por exemplo, perdemos vários filmes interessantes porque não quiseram exibir virtualmente. E outra coisa: eu sinto muita falta dos shows musicais na Praça do Ferreira depois das exibições, com 2 mil pessoas dançando, e dos food trucks. Chego a me arrepiar só de lembrar. Como diria Cacá Diegues: dias melhores virão!”.

WOLNEY CINEASTA

“Memórias da Chuva [que está em processo de edição] será meu próximo longa, que é resultado de um prêmio da Lei Aldir Blanc com a Secretaria da Cultura do Ceará. Esse filme tem que estar pronto em janeiro do ano que vem. E, por conta desse prêmio, estão sendo produzidos 17 longas e 13 curtas aqui”.

“Além disso, estou com um corte praticamente final do Vozão: Coração do Meu Povão, que é um filme que será lançado no dia 2 de junho lá no Cineteatro São Luiz nos 108 anos do Ceará Sporting Club, que eu espero que vá para a Libertadores. Em março eu retomo na edição do Lampião, o Governador do Sertão, que tem que estar pronto até final de junho. E no segundo semestre eu lanço o documentário Soldados da Borracha nos cinemas. Então, ano que vem será lindo. Três longas finalizados, lançando outro e trabalhando no 32º Cine Ceará”.

“Recentemente, e finalmente, a Ancine lançou um edital de 670 milhões de várias linhas. Em conversas com entidades, Alex Braga [diretor-presidente da Ancine] já adiantou que até março vai lançar outro de 500 milhões. Se a Lei Paulo Gustavo passar, seria a glória. E vai ser”.

*O CINEVITOR esteve em Fortaleza e você acompanha a cobertura do 31º Cine Ceará por aqui, pelo canal no YouTube e pelas redes sociais: Twitter, Facebook e Instagram.

Fotos: Luiz Alves e Chico Gadelha.

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