Documentário Libertem Angela Davis é destaque na programação do canal Curta!

por: Cinevitor

docangelaespecialAngela Davis: na luta pelos direitos das mulheres e contra a discriminação social e racial.

Na semana em que é comemorado o Dia da Consciência Negra, estreia na Sexta da Sociedade, 24/11, às 23h, no canal Curta!, o documentário Libertem Angela Davis, um dos destaques da programação de aniversário de cinco anos do canal, que fala sobre a trajetória da ativista que virou símbolo internacional na luta pela defesa dos direitos humanos, em especial dos negros e das mulheres.

Dirigido por Shola Lynch, o filme narra a história da professora de filosofia, nascida no Alabama, um dos estados mais racistas dos Estados Unidos, e reconstitui seu período de prisão na luta pelas causas sociais.

Angela Davis foi presa nos anos 1970 enquanto defendia três prisioneiros negros. A americana foi acusada de organizar uma tentativa de fuga e sequestro, que levou à morte de um juiz e quatro detentos. Por conta do ocorrido, a filósofa se tornou a terceira mulher a integrar a Lista dos Dez Fugitivos Mais Procurados do FBI. Na época, foi realizada uma grande campanha por sua libertação, que envolveu inclusive a composição de músicas em sua defesa por John Lennon e os Rolling Stones. Davis acabou sendo inocentada e, até hoje, é símbolo na luta pelos direitos civis.

Para falar mais sobre o filme e Angela Davis, convidamos Joanna Búrigo, Mestre em Gênero, Mídia e Cultura pela LSE, fundadora da Casa da Mãe Joanna e colunista da Carta Capital. Confira:

Que mulher, que raça, que classe!

Angela Davis é daquelas intelectuais que transcendem a academia, tão icônicas que são quase míticas, e que como tal são bastante citadas e reconhecidas, mas pouco lidas ou mesmo conhecidas.

O documentário Libertem Angela Davis, que veicula com exclusividade no canal Curta!, oferece a chance de saber um pouco mais sobre esta mulher extremamente inteligente, corajosa e revolucionária.

Premiada no Festival de Tribeca e dirigida por Shola Lynch, a obra salienta que tratada como mulher Angela Davis foi, mostrando que dentre as tantas acusações feitas contra ela não faltaram as construídas a partir de argumentos moralistas e do aparato retórico da irracionalidade apaixonada. Acusações que, com a especificidade certeira que o filme denota ser peculiar do raciocínio de Davis, eram por elas desarticuladas na hora.

Sua história – a de uma mulher negra, profundamente sagaz, intelectual pública desde jovem, muito bem preparada e articulada, exímia oradora e escritora potente, professora da UCLA, representante do Clube Che-Lumumba do Partido Comunista, e que nas décadas de 1960 e 1970 esteve por tudo, da lista dos dez mais procurados pelo FBI como “perigosa terrorista” aos noticiários de TV e capas de jornais e revistas – é fascinante. Assim como são a força e a lucidez que a acompanharam até nos solitários momentos de cárcere.

O documentário segue as lições de seu objeto, e trabalha tanto para desfazer mitos – como, por exemplo, o de que Davis fazia parte dos Panteras Negras – quanto para não perder o foco da luta – e é uma pena que a versão brasileira do título não siga o original, que conforme o pedido que Davis fez quando da criação do slogan da campanha por sua liberdade, sugeriu que o “Free Angela” fosse acompanhado de “and All Political Prisoners”.

Ela não é a única a compor o quadro de entrevistados, de que também participaram muitos dos que acompanharam de perto sua história de bravura e estratégias a longo prazo. E é ela mesma quem conta que estava na Alemanha quando o movimento por direitos civis eclodiu nos Estados Unidos. Ela, estudiosa de filosofia e aluna de Herbert Marcuse, decidiu que precisava de conhecimento. “O conhecimento pode mudar o mundo” ela fala no documentário. E diz ter ido atrás dele em coletividades descontentes com a supremacia branca e o papel secundário relegado às mulheres.

Lançado em 2012, pouco antes do surgimento do movimento #BlackLivesMatter, o filme mostra o contexto racial dos Estados Unidos dos anos de formação de Angela Davis, especialmente da segregação a que teve experiência na infância, e que certamente informa sua asserção de que reações violentas geralmente são isso: respostas a violências pré existentes. Angela Davis é uma pensadora constituída em contextos de racismo e machismo, cujas reflexões são tão reveladoras do poder hegemônico branco e masculino que, durante sua breve fase como fugitiva, o valor de sua captura, estipulado por homens brancos e poderosos, chegou a ser de U$100K. E no filme o que bem simboliza seu compromisso com a luta pela liberdade é o trecho que mostra que enquanto seus colegas de UCLA votavam a favor de seu afastamento, ela protestava contra os maus tratos e violências institucionais direcionados à população negra no seu país

Os registros de seu brilho como professora na UCLA são lindos, assim como são as memórias sobre as milhões de pessoas que se uniram em coro por sua liberdade, puxadas no filme por sua irmã. É também bastante emocionante o discurso sobre ela feito pelo dramaturgo francês Jean Genet que, como Angela, expressava tão bem entender muito sobre quase tudo. Felizmente Genet não é o único homem branco, neste filme, a declarar entender perfeitamente que a luta de Davis por liberdade passa pela importância de se falar abertamente sobre o fato de que alguns grupos são mais livres do que outros.

É um belíssimo documentário, feito para todas as pessoas que querem saber mais sobre o ícone Angela Davis, e também para quem se interessa por biografias de mulheres fenomenais. E fenomenal é um dos muitos adjetivos que descrevem esta mulher, bastião do pensamento feminista, antirracista e antipunitivista.

Por Joanna Búrigo.

Para saber mais sobre a programação do canal Curta!, que ao longo desses cinco anos no ar conquistou uma audiência qualificada, com espectadores que buscam conteúdo relevante e qualificado, clique aqui. Já são mais de 63 telefilmes e 639 episódios de 54 séries em diversos estágios de produção, totalizando 438 horas de conteúdos originais financiados pelo FSA, nas temáticas Música, Artes, Metacinena, Pensamento, História Política e Sociedade.

Foto: Divulgação.

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