Diamantino encerra a Mostra Competitiva de longas do 28º Cine Ceará

por: Cinevitor

diamantinoceara2Equipe do filme no palco do Cineteatro São Luiz.

Vencedor do Grande Prêmio da Semana da Crítica deste ano no Festival de Cannes, Diamantino, de Gabriel Abrantes e Daniel Schmidt, encerrou a Mostra Competitiva Ibero-Americana de longa-metragem do 28º Cine Ceará na noite desta sexta-feira, 10/08.

O filme, uma coprodução entre Portugal, Brasil e França, mostra um famoso jogador de futebol, interpretado por Carloto Cotta, que ao ver sua carreira em declínio entra numa odisseia delirante em que confronta o neofascismo, se envolve com a crise de refugiados, modificação genética, até a busca pela origem da genialidade.

As atrizes Maria Leite e Cleo Tavares marcaram presença no Cineteatro São Luiz e participaram da apresentação do longa no palco. No dia seguinte, conversaram com os jornalistas acompanhadas pelo produtor brasileiro Daniel van Hoogstraten e também por Ruan Canniza, representante da distribuidora Vitrine Filmes. Confira os melhores momentos da coletiva de imprensa:

O FILME:

“Fazer o Diamantino foi uma grande alegria pra mim. Eu já conhecia o trabalho do Gabriel Abrantes e do Daniel Schmidt por conta do curta A History of Mutual Respect, filmado no Brasil e o primeiro trabalho dos dois juntos. Fiquei muito fã e logo eles estavam no topo da minha lista de diretores com os quais eu gostaria de trabalhar”, revelou Maria Leite. E completou: “Esse filme aconteceu numa fase muito feliz pra mim, onde comecei a trabalhar com linguagens que me identifico e com pessoas com quem realmente gosto de trabalhar”.

“Eu fazia teatro amador na faculdade e meu primeiro longa foi Verão Danado [de Pedro Cabeleira], que foi premiado no Festival de Locarno. Depois disso, surgiu o teste para Diamantino e eu não conhecia nada do trabalho do Gabriel e do Daniel. Eu não queria fazer o teste, mas meus amigos me convenceram. Ao longo do processo, fui conhecendo melhor os dois”, contou Cleo Tavares.

diamantinoceara3Daniel van Hoogstraten, Cleo Tavares e Maria Leite na coletiva de imprensa.

ÍCONE:

“O filme nunca quis ser só sobre um jogador de futebol. A ideia era ter um ícone da cultura pop, que hoje em dia poderia ter sido um cantor, um ator. Os realizadores queriam falar sobre ícones. Diamantino mudou muito ao longo do processo. Quando entramos no filme, em 2012, era outra história. Inicialmente, o filme se passava 70% no Brasil e acabou sendo todo filmado em Portugal”, revelou o produtor Daniel van Hoogstraten.

“Resolvemos fazer essa parceria porque gostamos muito da proposta de tratar sobre temas sociais, políticos e contemporâneos. É um risco falar desses temas tão importantes de uma forma tão rápida. Não é um documentário que tenta se aprofundar. Mas, a essência, que é jogar luz sob temas complexos, está lá para abrir uma discussão para o público”.

TEMAS:

“É o público que vai escolher o tema mais tocante. Quando fazemos arte ou qualquer outra coisa, não conseguimos controlar o que vai nos tocar mais. E o filme aborda vários temas. A questão de gênero, por exemplo, está sempre presente no trabalho dos diretores e nesse roteiro também. E é necessário que isso seja discutido. Acho que o filme, mesmo não abordando profundamente todas as questões, aborda o suficiente para que as pessoas pensem depois. É um discurso universal”, disse Cleo.

Diamantino é também uma história de amor, muito mais do que uma história sobre gênero, transexualidade. No contexto biopolítico, pra mim, acrescenta-se uma outra camada que é a autodeterminação do indivíduo sob o seu corpo. E, na minha opinião, esse assunto é ainda mais global do que a transexualidade. É um tema que transparece mais sobre duas pessoas que estão perdidas e se encontram num momento bizarro de suas vida. A forma como o Carloto [Cotta] se relaciona com seu corpo é muito bem representada e emocionalmente profunda”, reflete Maria.

diamantinoceara1A equipe reunida ao final da coletiva.

ROTEIRO E LINGUAGENS:

“A primeira vez que eu li o roteiro gostei muito dessa mistura de gêneros. Porque o cinema que eu gosto de fazer não tem gênero. A maneira como os diretores trabalham dá uma certa abertura para que o ator não fique constrangido. Eu prefiro trabalhar com linguagens mistas”, disse Maria.

“Nós tínhamos um roteiro que não era estático. Os diretores nos deram abertura para discutirmos juntos as cena antes das filmagens. Não era um roteiro fechado, tínhamos liberdade de mudar e dar nossa contribuição”, revelou Cleo.

“Eles queriam contar uma história contemporânea e o roteiro acabou mudando diversas vezes porque algumas coisas já não estavam fazendo mais sentido para a época em que seria filmado”, disse Daniel.

PÚBLICO:

“Em cada lugar que o filme passa, o público recebe de uma maneira diferente. O espectador começa esperando uma coisa e aos poucos vai sendo surpreendido. Gosto de assistir ao filme em festivais para perceber as diferentes reações”, revelou Daniel.

DISTRIBUIÇÃO:

“A Vitrine Filmes tem trabalhado bastante, nesses últimos anos, com cinema de autor, algo mais independente, desviando o foco do cinema comercial e obtendo ótimos resultados. Temos trabalhado bastante nesse nicho e fomentando o mercado de cinema independente”, finalizou Ruan Canniza.

*O CINEVITOR está em Fortaleza e você acompanha a cobertura do 28º Cine Ceará por aqui e pelas redes sociais: Twitter, Facebook e Instagram.

Fotos: Thiago Gaspar.

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