Betse de Paula apresenta o documentário Vozes da Floresta no 29º Cine Ceará

por: Cinevitor

vozesflorestaceara19Filme fala sobre a preservação do meio ambiente e dos direitos das mulheres.

Na segunda-feira, 02/09, a Mostra Competitiva Ibero-americana de longa-metragem do 29º Cine Ceará começou com a exibição do documentário Vozes da Floresta, dirigido por Betse de Paula. O filme fala sobre lideranças femininas que estão à frente na luta pela preservação do meio ambiente e dos direitos das mulheres. Quilombolas, indígenas, ribeirinhas, quebradeiras de coco, extrativistas, que lutam pela manutenção dos seus modos de vida tradicionais, pela vida da floresta e de todo o planeta.

Com roteiro de Tyrell Spencer, que também assina a montagem, o filme foi exibido pela primeira vez no Brasil no Cineteatro São Luiz, em Fortaleza. A diretora subiu ao palco para apresentar o longa ao lado de três personagens do documentário: Rosenilde Gregória dos Santos CostaDorninete Serejo Morais e Maria Nice Machado Aires. O elenco conta também com Joênia Wapishana, Telma Marques Taurepang, Sonia Bone Guajajara, Maria Santana, Maria de Jesus Ferreira Bringelo, Marilene Rodrigues Rocha, Odila Duarte Godinho, Ivete Bastos e Antonia Melo.

No dia seguinte à exibição, elas participaram de um debate com o público: “Eu espero exibi-lo outras vezes, em outros lugares, em vários espaços. Não tenho ilusão de sala de cinema, não. Quero mostrar em festival, comunidades, na televisão. Os indígenas têm essa questão da invisibilidade e o [presidente] Bolsonaro quer que eles não existam mais, dizendo que não existe índio no Brasil. Mas aí temos a Sonia Guajajara, que afirma a existência de 305 tribos e o filme tem essa questão de mostrar o cotidiano dessas pessoas, os conflitos dentro da própria aldeia”, disse Betse.

Rosenilde Costa, uma das entrevistadas do filme, falou: “O filme é pra quem nunca nem foi numa roça, num babaçual, nos nosso campos. É pra saber que a gente existe, que estamos lutando e cuidando de um espaço que serve para todos nós. Isso é fundamental e muito importante, pois vai dialogar com pessoas que não tem outro caminho pra chegar até ali e levar nossa voz. É fundamental pra levar e divulgar a nossa história”.

betsepalco2Diretora e elenco no palco.

A questão sobre a Base de Alcântara, abordada no filme, foi comentada por Dorinete Morais: “O filme acontece num momento muito oportuno, sobretudo nessa questão política que o Brasil vive hoje, mas também pelo acordo. Vou sempre bater nessa questão do Acordo de Salvaguardas Tecnológicas [AST], que o Brasil assinou com os Estados Unidos em março. Alcântara teve seu território doado: foram 62 mil hectares para fins de utilidade pública no Centro de Lançamento de Alcântara [CLA]. O território geral de Alcântara é de 114 mil hectares e mais da metade foi doado. Na década de 1980, 312 famílias foram tiradas de suas comunidades que beiravam o litoral, assim como a minha. Com esses novos acordos, existe a possibilidade de aumentarem o espaço que já usam para mais de 20 mil hectares. Hoje eles ocupam 8.500 e pretendem pegar mais 12 mil e com isso tirar entre 700 e 800 famílias de suas comunidades”.

Dorinete finalizou: “É um acordo com outro país. O Brasil todo está envolvido. Nós poderemos ser alvo dos inimigos dos Estados Unidos porque não teremos controle do material que vai ser trazido para Alcântara, pois o Brasil não pode inspecionar a carga americana, o que eles vão trazer. Ficaremos à mercê de outros países nos quais os Estados Unidos compra briga. O filme foi feito há alguns anos, mas o assunto continua atual e mais agravado”.

Para encerrar o debate, Nice Machado comentou sobre a relevância da obra: “Existem três questões importantes sobre o filme: a riqueza de conhecimento natural, que muita gente não sabia e passa a conhecer; outro é a transparência, pois não vai ser divulgado só para nós, mas para o mundo; e o outro é desmascarar as grandes empresas que dizem que não existem quilombolas. Quando você divulga o filme dá pra perceber que esse povo existe. Isso nos fortalece. Quando estamos isolados é uma coisa. Mas, quando é divulgado é diferente. O filme não veio fora da hora. Tudo tem seu tempo. O filme é muito importante para mostrar quem somos, onde vivemos”.

*O CINEVITOR está em Fortaleza e você acompanha a cobertura do 29º Cine Ceará por aqui, pelo canal no YouTube e pelas redes sociais: Twitter, Facebook e Instagram.

Fotos: Rogerio Resende.

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